The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 18
Relato




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/608633/chapter/18

Meus joelhos desabaram, era como se meu ser se retraísse por dentro, estivesse sendo rasgado, estilhaçado sem pudor por uma força maior. As lágrimas agora jorravam, meus gritos tornaram-se mais estridentes e mesmo assim era como se milhares de pedras estivessem sobre mim, me machucando e me mantendo no chão sangrando lamúria.

— Vó! — berrei embora soubesse que ela não podia me escutar, não mais, minha voz então perdeu a força para gritar, tudo o que soprava de minha boca agora eram murmúrios roucos. — Eu estou aqui, por favor, me perdoa.

Me curvei sobre a sepultura e deitei na grama verde agarrando a vegetação entre os dedos, regando o solo com minhas torneiras lacrimais.

— Eu não deveria ter te deixado aqui sozinha. Eu… — engoli a saliva — Todo esse tempo eu achava que o problema era o mundo, mas eu não precisava ter ido tão longe. Bastava ter olhado para o meu próprio umbigo.

Respirei o ar que me faltava.

— Eu senti tanto a sua falta... Por que eu fui tão idiota e egoísta? Eu ficaria bem melhor se você me desse um daqueles sermões, sabe?”, exprimi um sorriso com esforço. “Eu sei que se você estivesse aqui, não ia querer me ver assim, mas eu guardei essas lágrimas por tanto tempo e só agora estou compartilhando com você, porém não deveria ser assim. Nada deveria ser assim.

“Você se tornou minha mãe depois da morte do papai, eu não sei bem se vocês dois estão orgulhosos de mim agora, mas eu quero dizer tudo o que você perdeu enquanto… enquanto… eu… estive longe.”

Levantei e me sentei diante da lápide de Edith, a dor ainda latejava forte, mas eu tive de arrancar forças de onde não tinha para contar a história.

— Quando cheguei à Nova York fui recebida como se estivesse em um planeta novo, lá é tão iluminado, você gostaria de lá, eu sei que sim. Arranjei um trabalho em uma biblioteca e não pude me conter para lhe contar. Que bom que você ficou feliz. — A lembrança da voz dela me doía aos ouvidos agora. —Conheci Dean e... Sabe quando você disse que eu estava gostando dele? Tinha razão, me apaixonei desde o momento em que o conheci, e mesmo eu agindo de uma maneira horrível ele continuou comigo. Fomos felizes lá, não sei como serão as coisas agora. Mas continuando, eu encontrei Brad lá, sim, dá para acreditar? Ele já estava com outra garota. Confesso que no começo me senti estranha, eu ainda tinha alguma coisa guardada por ele devido ao término recente. Mas isso se evaporou de mim quando O’Conner e eu começamos algo sério um tempo depois. Ele é incrível, tudo o que eu sempre quis em um namorado, mas nada do que eu mereça como pessoa. Sou ruim. Desculpe, vó, eu tenho de dizer isto.

Passei a mãos na base dos olhos onde um rio havia deixado rastros de umidade. Desta vez me contive para não chorar novamente.

— Enfim, nós passeamos muito, e conheci a irmã dele, Lisa, ela tem esquizofrenia. Mas é tão bela e engraçada que me apaixonei por ela, brincávamos de boneca sempre que eu ia visitar Dean. Esta é mais uma pessoa que você gostaria de conhecer, mas infelizmente… Enfim. Quando eu recebi a notícia sobre seu ataque, Joyce e Roger estavam escondendo isso há um tempo, fiquei com raiva e saí de casa, fiz aquelas coisas erradas das quais você teve tanto trabalho em tirar de mim, lembra? Na época que conheci Brad eu era outra Aurora, comecei com o álcool, continuei no pó e quando estava quase inserindo a seringa em meus braços você me impediu. Me mandou para uma clínica de reabilitação e passei meses longe de Brad, a partir daí nosso relacionamento desandou. Ele deve ter ficado com vergonha do pai por ter uma namorada drogada e problemática, por isso rejeitava minhas ligações e evitava me encontrar. Eu lembro que quando eu voltei para casa e Rachel me virou as costas você me disse ‘Não ligue para ela, já lida com coisas mais cruéis’.

“Mesmo assim tentei me reaproximar dela, você me ajudou, vó. Mas mamãe estava sempre ocupada demais vendo coisas e conversando sozinha. Nunca entendi o porquê de ela ter mudado tanto.

“Continuando, eu queria voltar para casa, tio Roger me ajudou com uma quantia para inteirar minha passagem, ele e Joyce mandaram lembranças. Agora estou aqui. Por que dói tanto?”

As lágrimas voltaram, senti uma mão sobre meu ombro e um braço me levantando. Sem olhar quem era me aninhei ao peito da pessoa.

— Amor, não podemos ficar mais — Dean disse.

— Eu não quero deixar ela aqui.

— Eu tenho uma coisa para ela.

Me afastei um pouco e percebi um escasso ramalhete de rosas brancas na mão de O’Conner. Dei espaço e ele o colocou diante da lápide de Edith.

— Olá, dona Edith — ele disse agachado perto da pedra de mármore branco. — Meu nome é Dean, aposto que a Aurora já falou de mim para a senhora. Eu gostaria muito de tê-la conhecido melhor e poder provar uma de suas tortas e lasanhas das quais sua neta sempre se gabava.

Não consegui reprimir um sorriso.

— Aposto que a senhora não queria vê-la nesse estado, mas não se preocupe, ela não vai ficar assim por muito tempo. Eu prometo cuidar dela durante todo o tempo que ela tiver antes de se juntar à senhora. — ele piscou para mim — Ela vai estar segura comigo.

Ele se levantou e fez um sinal da cruz.

— Você não existe — eu disse quando Dean se aproximou de mim.

— Eu falei sério cada palavra — ele me abraçou — Agora vamos, já vai anoitecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The place that never sleeps" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.