The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 17
Fim do ato


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, eu estava com tantas coisas para fazer, mas enfim concluí este capítulo, espero que gostem! :3



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— Tem certeza de que não esqueceu nada? — perguntou tia Joyce pela centésima vez quando chegamos ao aeroporto.

— Sim, eu tenho plena certeza. — repeti pela centésima vez.

— Mande lembranças e nossos pêsames à Rachel. — disse tio Roger com certa seriedade. — Para sua irmã também.

— Tudo bem — respondi acenando com a cabeça.

— Aurora, que esta não seja uma despedida definitiva, visite-nos quando quiser, está bem? — Joyce me abraçou rapidamente.

— Eu farei o possível — falei quando nos afastamos.

Dean estava um pouco afastado de nós segurando sua única mala pela alça. Depois da despedida me juntei à ele e obedecemos a chamada do nosso voo. As comissárias de bordo eram mulheres altas, corpulentas e, apesar da maquiagem excessiva, de extraordinária beleza. Sempre que passavam por nossa fileira todas elas faziam questão de perguntar se desejávamos alguma coisa, embora isso tenha se repetido sete vezes nos primeiros vinte minutos da viagem, eu tinha plena consciência de que a pergunta era especialmente direcionada à Dean.

Passei o resto do trajeto dormindo, o ombro de O’Conner era um pouco ossudo demais então precisei pedir um pequeno travesseiro para apoiar a cabeça. Não foi o melhor cochilo que já tirei, mas ajudou a amenizar o tédio e o estresse.

Depois que desembarcamos, procuramos um táxi vago e não obtivemos nenhum sucesso nisso. As pessoas corriam para alcançá-los e perdiam para outro passageiro mais rápido e apressado que se intrometia no caminho. Mas quando as esperanças pareciam perdidas um carro vermelho e polido um pouco ultrapassado parou diante de nós, quando o vidro abaixou revelou a pessoa que eu jamais imaginaria ver ali naquele momento.

— Jasmine!

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They say I'm too young to love you; You say I'm too dumb to see; They judge me like a picture book…

Uma das coisas que sempre gostei em Jasmine é o gosto musical, que por mais incrível que possa parecer é bem semelhante ao meu. Apesar de aquela ser uma das minhas músicas prediletas eu queria algo um pouco menos deprimente antes de enfrentar uma situação literalmente deprimente que viria a seguir.

— Podemos mudar de estação? — perguntei.

Ela me olhou um pouco aturdida, mas mexeu no player e logo depois uma música mais agitada começou a tocar.

— Dessa vez você acertou — aprovou Dean do banco de trás, então lembrei que aquela canção fazia parte do CD que dei para ele de aniversário.

— Vai me dizer como conseguiu esse carro? — indaguei. — E por que ainda não se mudou?

— Meu pai me deu essa porcaria, na verdade é usado. — explicou ela — Uma belo dia ele começou a falar sobre responsabilidades e disse que isto era uma motivação para eu estudar, trabalhar e comprar algo melhor com meu próprio dinheiro suado. E quanto à mudança, foi adiada, problemas no trabalho dele.

Ponderei sobre aquilo um momento, não que fosse da minha conta, mas o pai de Jasmine sempre tinha problemas com a polícia, se ainda não se mudaram deve ter acontecido algo a ver com isto.

— O resto da galera está louca para ver você. — anunciou entusiasmada.

— Eu também, quer dizer, eu gostaria muito de rever todo mundo.

— Acho que você não vai gostar muito daqui, Dean — ela falou com ele olhando pelo retrovisor interno — Já fui à Nova York, é um mundo totalmente diferente de Ohio.

— Não se preocupe, eu não vim à passeio para reparar nisso — respondeu ele.

Jasmine virou o rosto discretamente para mim e gesticulou com a boca uma frase meio difícil de decifrar. Sorri para ela sem nada entender.

Quando chegamos próximo ao meu antigo bairro falei para ela que queria ir ao cemitério antes de qualquer coisa. Jamine assentiu, ela realmente tinha uma noção do que aquela situação significava, afinal, ela perdera os avós também e eu fui bastante útil em ajudá-la a superar a perda.

Falei com um homem do Eden's Garden e ele me deixou passar com Dean, Jasmine ficou esperando no carro fazendo algumas ligações. Dentre diversos, milhares de túmulos o senhor de idade com cabelos grisalhos e coluna curvada encontrou de primeira o de Edith, ele disse que por experiência sabia a localização exata das covas. Sem que eu pedisse ele se retirou.

— Vou esperar lá fora — falou Dean.

— Tudo bem — eu disse sem olhar para ele.

Ele depositou um beijo em minha testa e saiu.

Olhando bem para a sepultura de minha avó era difícil acreditar que ela estivesse ali a palmos e palmos debaixo da terra e não em casa fazendo uma torta de frango para o fim de semana. Senti que deveria ter trazido rosas ou algo do tipo, mas não possuía nada, apenas palavras entaladas na garganta e uma vontade incomum de pôr algo para fora.

Fiquei imaginando o momento do enterro, aquela cena melancólica do último adeus. Agora minha avó jaz dentro de um caixote envernizado. Logo me lembrei de um fato da minha infância quando encontrei um passarinho no jardim e Edith me ajudou a capturá-lo e colocá-lo dentro de uma caixa de madeira. Ali estava ela agora, dentro de uma caixa de madeira, mas ao contrário de um pássaro, se eu quisesse libertá-la ela não sairia voando nem muito menos voltaria para casa. Também imaginei o momento em que jogaram pás e mais pás de terra sobre o túmulo, disto eu me confortei um pouco, não era algo que eu quisesse ver quando uma das poucas pessoas de quem eu era mais próxima estava ali dentro.

A dor me consumia por dentro como um câncer, mas mantive minha postura inabalável, a mesma que venho fingindo a quase uma vida inteira. Só consegui notar que havia falhado em minha atuação quando senti algo úmido descer por minha bochecha, olhei para o céu mas não haviam nuvens, o azul era intenso e zombeteiro. Mas eu logo soube o que era, a fortaleza impenetrável rachou.


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