The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 16
Lista




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Voltei para casa, mas não dirigi a palavra aos meus tios, a mala que fiz na noite anterior ainda se encontrava cheia posta ao lado da minha cama. Sentei e observei-a por um tempo, minha cabeça doía como se tivesse sido esmagada por uma montanha de rochas gigantes. Ouvi algumas batidas na porta e sem necessitar de uma resposta minha, Roger entrou com um copo d’água e um comprimido para dor de cabeça.

— Você teve uma noite bem cheia — ele disse estendo a medicação para mim.

— Obrigada — murmurei e tomei o remédio.

Ele se sentou ao meu lado na cama e suspirou.

— Eu e seu pai éramos amigos desde a adolescência. Eu sei que não quer ouvir esse tipo de história e eu concordo que é chato, mas quando você nasceu ele parecia ter realizado o maior sonho da vida dele. Porém antes disso éramos apenas dois idiotas da faculdade, os menos populares e mais inteligentes. John sempre teve um espírito livre e você herdou isto dele. Acho que já disse isto a você.

— Por que estamos falando do meu pai?

— Por que ele morreu. E entendo tudo pelo que está passando. Eu fiquei bastante triste, é claro, mas não saí à noite para fumar baseado e beber até cair. Sim, seu namorado me contou. Sua vó morreu de um ataque fulminante enquanto dormia, eu e sua tia estávamos abalados e queríamos resgatar forças para contar a notícia a você. Dói em nós também.

Continuei calada, meu tio continuou:

— Edith não queria que John fosse antes dela, não é essa a ordem das coisas, mas ela se manteve forte todo esse tempo. Joyce e eu sempre quisemos que você nos visitasse, mas sempre estava ocupada estudando ou fazendo algo com o seu outro namorado. Mas, este tempo que você passou aqui iluminou um pouco a casa, entende?

— Por que nunca tiveram filhos?

— Joyce é estéril. Tentamos de tudo, mas chega uma hora em que a única saída é aceitar. Mas voltando o assunto, eu quero saber, o que você quer? No que podemos ajudar você agora?

Só havia uma resposta para essa indagação.

— Eu quero ir para casa.

— Bom — Roger pigarreou — Passagens de avião são caras.

— Eu tenho algum dinheiro guardado, só preciso de mais um pouco. — Resultado do pé-de-meia que eu andava fazendo com o salário da Book’s.

— Aqui, tome — ele tirou uma pequeno rolo de dinheiro do bolso amarrado em uma liga. — Para você.

— Obrigada — me senti extremamente grata por isso.

— Você merece, é uma garota incrível. Não ligue para o que os outros dizem, nós, os incógnitos, somos o que há de mais próximo do mundo real.

Foi uma frase sábia, mas meu astral estava submerso e sem previsão de quando voltaria à superfície. Quem sabe ele se afogasse e morresse de vez.

— Bom, a conversa foi boa — ele se levantou xingando a dor nas costas — Não diga á sua tia, mas quem está envelhecendo mais rápido sou eu.

— Tudo bem, e obrigada de novo, tio Roger — tornei a agradecer.

— Não há de quê. — ele se dirigiu à porta mas parou na soleira — Ah, e quanto ao Jimmy…

— Dean — corrigi. Qual o problema com esse nome?

— Ele é um bom rapaz, não seja uma tola orgulhosa a ponto de não se despedir dele, certo?

— Sim, eu farei isso.

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Dois dias depois.

Ainda tive que arrumar o resto das coisas, até o momento não havia percebido que tinha trazido tantas peças de roupa quando usei apenas dez por cento delas. Quando a dor de cabeça se livrou de mim pensei com mais clareza. Tive de ir até a biblioteca para me demitir, chegando lá a senhora Lourien foi complacente, talvez o motivo da viagem a tenha sensibilizado. No fim das contas ela disse que eu havia superado suas expectativas e desejou sucesso nos próximos empregos. A partir daí comecei a gostar mais dela. No caminho de volta passei na casa dos O’Conner e toquei a campainha.

— Aurora! — saudou a senhora O’Conner.

— Oi, eu passei para saber se o Dean está em casa.

— Ah, querida, não, ele saiu e não disse para onde ia. Você quer esperar?

— Não, eu… Na verdade vou partir amanhã para Lexington. — O sorriso dela diminuiu gradativamente. — Eu vim me despedir.

Falei o que havia acontecido com Edith e a mãe de Dean me abraçou maternalmente, foi estranho mas bom. Assim aconteceu também com o senhor O’Conner e Lisa, com esta última me demorei mais, eu havia me afeiçoado à ela e sentiria saudade com certeza.

Faltavam duas horas para ir até o aeroporto, eu ainda tinha tempo então resolvi ir a um lugar em especial. Fui ao prédio, subi pelo elevador com inúmeros andares e cheguei ao andar que queria, poucas pessoas se encontravam espalhadas pelo lugar, mas um certo alguém parado diante do janela de vidro do Empire State chamou minha atenção. Eu reconheci aquele suéter, o cabelo pouco ondulado e curto, a estatura alta e ereta, o típico gesto de pôr as mãos nos bolsos.

Aproximei-me receosa e parei ao lado dele sem arriscar um único olhar para a direita. Ele não se moveu um centímetro e ficamos ali apreciando mais um fim de tarde.

— Eu vou estar bem longe amanhã — falei. Dean não respondeu — Eu não sabia que estava aqui, mas fazer o quê, acasos acontecem.

"Eu... Eu... Eu te devo desculpas, desculpas por ter te tratado daquela maneira, você não merecia aquilo. E eu fui uma burra em dizer tudo aquilo quando você só estava tentando me ajudar."

Diante do silêncio de Dean, continuei.

— Eu nunca vou ser boa o bastante para você, acredite. Problemática e arrogante. Ainda não sei como me aturou tanto tempo.

“Dean, fala alguma coisa.”

Ele continuou fingindo estar distraído demais para me dar atenção.

— Tudo bem, é uma boa vingança depois do que houve. Eu só vim dizer que estou indo embora e que nada do que aconteceu entre nós dois foi insignificante para mim. Então... Até... Quer dizer. Adeus.

Saí em disparada até o elevador, algo dentro de mim doía como se eu tivesse ingerido vidro e este agora cortava todo o caminho que percorria por meu corpo deixando rastros de sangue e morte. Não sou boa com despedidas, não gosto de momentos no qual as pessoas são postas diante de um dilema que é: “Será que vou vê-lo novamente?”.

Alcançando o elevador, coincidentemente duas senhoras entraram junto comigo. Apertei o botão para o térreo e observei as portas se moverem e sendo impedidas de se fecharem quando uma mão se pôs na fenda aberta que ainda restava. Dean entrou, parecia agitado e segurava um papel numa das mãos.

— Você não pode ir assim. — Ele disse, as duas senhoras o contemplaram desconfiadas e assustadas. — Desculpe.

— O que você quis dizer com isso? — perguntei.

— Olhe isso.

Ele estendeu o papel e eu o peguei. Era um maço grosso de folhas grampeadas no canto da parte superior. A primeira continha um título escrito:

MIL COISAS PARA FAZER ANTES DE MORRER

Por Dean O'Conner

Lancei um olhar para ele e recebi um sorriso em troca. Passei a folha de rosto e dei de cara com uma lista numerada de coisas, a caligrafia de Dean é uma das coisas admiráveis nele e lendo as primeiras frases notei que se tratavam de ocasiões, passeios, até assuntos de conversa. Folheei o resto das páginas para me certificar de que realmente haviam mil coisas e surpreendi-me ao ver que era verdade.

Tudo, exatamente tudo escrito naquelas mais de cinqüenta páginas frente-e-verso continham meu nome.

— Se eu vou passar o resto dos meus dias tentando cumprir o que está na lista, não poderia escolher outra pessoa para compartilhar a sentença. — Dean falou.

— Então não está furioso comigo?

— Leia o item número um.

1 - Ignorar desculpas desnecessárias por mais ou menos cinco minutos.

— Entendi — isso explicou o jeito dele há alguns momentos atrás.

Um alívio foi bem-vindo à minha consciência neste momento. O'Conner me puxou para um abraço macio e reconfortante seguido de um beijo depositado em meus lábios. Nos afastamos e vimos as duas senhoras um pouco constrangidas com a cena. Por pouco o elevador chegou ao andar térreo e saímos atrás da dupla que cochichava algo, com certeza, reprovativo relacionado à liberdade e falta de pudor juvenil dos tempos modernos.

— E com relação ao que você disse, eu já sabia que ia viajar — afirmou Dean enquanto saíamos do prédio. — Por isso, pedi um adiantamento à senhora Lourien ontem, ela me devia muito e o dinheiro rendeu para uma passagem de ida e volta para Lexington.

— Lexington?

— Eu não quero que você segure essa barra sozinha, entende? E além disso ainda tenho que conhecer o resto da sua família.

Infelizmente um dos membros da família, que sempre julguei ser o mais importante, não estava mais lá.

— Tudo bem. — falei — Agora, tenho que ir para o aeroporto. E quanto a você?

— Segundo item da lista.

Abri o papel e li o número 2:

2 - Reservar uma cadeira no mesmo voo da Aurora.


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