The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 1
Incógnita


Notas iniciais do capítulo

Oi, já fazia um tempo que eu queria postar essa história e só agora tive tempo, espero que gostem, beijos!



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Incógnita, é a palavra que me define. Segundo a minha mãe herdei esta tosca personalidade do meu pai, que a propósito morreu há cinco anos. Sobre mim vejamos o que eu posso afirmar com convicção, tenho dezoito anos, sou introvertida, irônica e imperfeita como qualquer outro ser humano, ponto. Neste exato momento da minha vida moro em Lexington, Ohio com minha mãe, minha avó paterna e minha irmã de treze anos no bairro mais deprimente da cidade.

Não conheço meus vizinhos e a rotina é repetitiva e enfadonha, pela manhã homens e mulheres saem para o trabalho, alguns deixam as crianças na escola outros caminham pela calçada, adolescentes vão para o colégio etc. Ao cair da noite todos os moradores se escondem em suas tocas e voltam a viver suas vidas taciturnas. Em dias de inverno tudo fica tão sombrio que o cenário se torna perfeito para um filme de terror ou o ataque de um serial killer.

Mas isso não é um dos pontos de tanta importância na minha vida, há coisas mais relevantes como o fato de eu estar na última semana do segundo grau e até agora não ter a mínima ideia do que fazer depois. Nunca trabalhei nem absorvi experiência suficiente para isso, minha mãe nunca foi dessas muito liberais para permitir que eu me ocupasse com esse tipo de coisa, mas agora se esforçava ao máximo para mudar depois que bati o pé e exigi não ser mais tratada como criança. Desde que meu pai faleceu ela ficou mais reservada e alheia à realidade do que antes e desde então vivemos uma vida monótona demais para o meu gosto. Com o passar dos anos fui me acomodando a isso e aos poucos virando o que sou hoje, antipática, desanimada e sarcástica. Não sou do tipo que faz por que todos estão fazendo, minhas atitudes são baseadas no meu bom senso, as críticas são inevitáveis, obviamente, mas nunca abri mão de dizer ao mundo que se dane ele com suas manias de padronizar tudo.

Eu tenho amigos, por mais estranho que possa parecer, poucos, mas tenho. São os únicos que conheço acostumados e conformados com meu jeito, saímos pouco e quando isso acontece geralmente fico excluída dos assuntos que eles conversam simplesmente por não me interessarem ou por que eu não saiba. E além disso também tenho um namorado, o nome dele é Brad e nossa relação é tão instável quanto qualquer outra coisa. A maior parte do meu tempo passo lendo, - às vezes o mesmo livro várias vezes - estudando ou escutando músicas, as indie e rock são minhas preferidas, quanto mais depressiva melhor. Meu guarda roupa não segue um padrão, gosto de um pouco de vários estilos e moda não é meu ponto forte embora eu me esforce.

Hoje, por exemplo, acordei sem ânimo algum, peguei uma calça jeans comum, uma blusa preta - minha cor favorita - de manga longa por cima e para completar uma botina escura que mais parecia ter vindo de um regimento militar. Minha aparência é o que passa às pessoas, na maioria das vezes, a mensagem errada sobre minha personalidade, ou quem sabe a certa. Altura mediana, longos cabelos castanho-avermelhados que prefiro abreviar para ruivos, olhos de um cinza escuro que se assemelham a um céu nublado e um semblante mal-humorado. A mochila estava no chão, onde eu sempre a deixava, passei uma das alças pelo ombro direito e desci para a sala de jantar. Na mesa estava todo o resto das mulheres da casa, também havia panquecas, ovos, bacon e café. Mais um detalhe, aqui não falamos bom dia ou boa tarde nem boa noite, mais uma das heranças dos maus costumes da família.

— Grace, me passa as panquecas — pedi para minha irmã e ela o fez sem esboçar nenhuma reação.

A minha relação com Grace é uma linha tênue entre amor e ódio, é algo intermediário que prefiro definir como neutro.

— Aurora, seus tios ligaram de novo perguntando quando você irá visita-los em Nova Iorque — falou minha mãe distraída enquanto balançava a xícara.

— Se ainda lembra da minha última resposta, mãe, vai saber o que dizer a eles — ironizei enquanto mordia a panqueca.

— Posso ir no lugar dela? — Grace se manifestou.

Minha avó Edith, que vinha da cozinha com um bule de chá se adiantou a responder por mim.

— Não seja intrometida, Grace — falou em tom reprovativo — O convite não foi feito a você.

Minha irmã fez uma careta "discreta" e se voltou para o café. Dei um leve sinal de agradecimento para Edith e esta correspondeu. De todas ali, é da minha avó de quem sou mais próxima, não só nesta ocasião de há poucos segundos atrás mas até alguns traços de nossa personalidade são parecidos.

— Quem deveria aceitar esta viajem é você Rachel — Edith se referiu à minha mãe e esta lançou um olhar incrédulo para minha avó, como se isto a tivesse ofendido profundamente — Fica tanto em casa, daqui a pouco fará parte da mobília.

— A última vez que saí assim foi com John, que Deus o tenha — ela fez sinal da cruz — E não tenho mais ânimo nem idade para esse tipo de coisa.

Óbvio que todas nós discordávamos disto, ela está no auge dos 45 e ainda conserva uma aparência que mente a sua idade, para melhor é claro. Desde a morte do meu pai ela nunca mais se interessou por nada e poucos meses depois do enterro ficou à beira de uma depressão profunda. John faz falta, e como, mas enquanto eu, Edith e Grace nos conformamos com a perda, Rachel ainda permanece em estado de luto.

O resto do café-da-manhã foi calado, só se ouvia o tilintar dos talheres nos pratos e o tic-tac do relógio. Fui a primeira a me levantar e dar um "Até mais" antes de sair porta afora. O clima estava razoável embora escuro, nem quente nem frio, trânsito calmo, o que facilitou muito o caminho. No colégio não se falava em outra coisa a não ser na festa de formatura, quanto às provas finais não me preocupei, já havia estudado o suficiente. Na hora do almoço eu e os meus únicos-amigos-que-me-suportam nos sentamos em uma mesa qualquer e eles começaram a tagarelar coisas que eu não tinha a menor ideia.

— Terra para Aurora — Jasmine, a de cabelos loiros, me chamou a atenção.

— O quê? — voltei à realidade, irritada.

— Vai para a festa? — a expressão dela era uma mistura de expectativa e frustação. Ergui uma sobrancelha e lancei um olhar presunçoso.

— Um bando de idiotas reunidos naquele lugar patético e sujo fazendo tudo o que der na telha como se esse fosse "o melhor momento da vida deles", não é para mim — tomei um gole de refrigerante da lata.

— O que você quis dizer? — Brian, o moreno de cabelo afro franziu o cenho.

— Que não vou a essa convenção de babacas — respondi um pouco ríspida demais.

— Bom, eu vou — Oliver, o cara alto, magro e com cara de doente como o mordomo da família Addams levantou a mão — Qual é, Aurora, é o nosso último ano.

— Mas não será a última vez que vamos nos ver — retruquei.

— Disto eu não tenho tanta certeza. — Jasmine balançou a cabeça — Vou me mudar para San Diego. Desculpe, eu devia ter dito isso antes para vocês, mas... Enfim, agora já sabem.

— E eu vou participar de um campeonato de basquete na Flórida — Oliver falou contente.

— Sua vez, Brian — estendi a mão para ele.

— Universidade de Brighton — ele disse convencido, ignorou os olhares pasmos dos outros na mesa e voltou-se para mim — E você, Aurora?

Aqui vão todos esses meses desde o começo do ano tentando evitar responder a esta pergunta, se um asteroide caísse em cima de mim agora mesmo eu aceitaria meu fim com um sorriso satisfeito. Em todo esse tempo eu pensei em todas as possibilidades do meu futuro e não cheguei a lugar algum nisso, não me inscrevi em nenhuma faculdade por que não decidi qual área cursar, que carreira seguir, nem mesmo sei o que eu quero de verdade. Meus planos são uma folha de papel em branco ansiosa para ser rabiscada, neste momento não precisei nem fazer esforços, a verdade saiu naturalmente da minha boca:

— Eu não sei.


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Notas finais do capítulo

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