ΔlwΔys escrita por SweetFantine


Capítulo 1
O infinito dos nossos dias


Notas iniciais do capítulo

Notem: Eu comecei pelo raciocínio do final.
Há tempos eu estava com essa ideia na cabeça (e com a música também). Aliás, a inspiração para essa história veio de várias influências.
A música (talvez desconhecida por muitos), pode parecer ter uma letra simples, e um toque nostálgico; mas por ser simples e dizer tanto, deu que se encaixaria com perfeição neste conto.
Muito drama...? Obviamente que sim (se vocês me conhecem, sabem que sou uma verdadeira rainha do drama).
Portanto, é fone no ouvido, play na música e bom proveito!


música -----> http://www.vagalume.com.br/panama/always.html



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– Espera aí! Eu... Não consigo... Te alcançar. – joelhos tortos cederam.

– Vem logo, seu frouxo! – riu um moleque mestiço, tomando impulso e trepando qual um macaco no cajueiro secular.

Ainda que ofegante, o menino de feição angelical juntou forças o suficiente para alcançar o primeiro galho.

O caboclinho sorriu de escanteio, almejando os galhos mais elevados. Deteve a escalada, porém. Os feixes derradeiros do Sol descobriram seus olhos esverdeados. Ao perceber que, do galho baixo, seu amigo não enxergava nada, ofereceu-lhe um braço para auxiliá-lo a subir com ele.

E lá estavam, sentados ambos, um ao lado do outro, a apreciar a vista do poente a se derramar sobre os cafezais.

O caboclinho, porém, desviava o olhar a todo momento; achava o seu amigo calado por demais. Até que não se voltou mais para observar o ocaso, vislumbrava somente o rosto de seu colega. Vislumbrava a sua face (a qual achava demasiado pálida) tingida de alaranjado, os anéis acobreados que moldavam seu cabelo e esvoaçavam com a mínima brisa, vislumbrava, sobretudo, os olhos cintilantes e expressivos vidrados no horizonte. Estava descrente. Como alguém do mesmo gênero conseguia ser tão fascinante?

– Fê... – balbuciou. – O... O que você quer ser quando crescer?

Perguntou distraído, apenas para que não permanecessem calados. O seu amigo, também distraído, respondeu sem muito refletir:

– Eu quero ser que nem você...

O mestiço, meio bobo pela resposta, desatou a rir nervoso:

– I-Idiota! – beliscou o braço do branco. – Eu perguntei o quê você quer ser, e não como você quer ser!

Só depois de uma pausa, Fernandinho percebeu a sua falta, e quis se corrigir:

– D-Digo! E-eu acho... Eu acho que quero ser artista! – apesar do laranja, o rubor do garoto se realçava.

O moreno riu mais uma vez, um riso cômodo. Fitava até com certa ternura a inocência do seu colega, apesar de ambos não passarem de uma década de vivência.

– Artista combina contigo... Você faz uns desenhos batutas... Mas me diz, Fê... Por que eu?

– Porque... Porque sim... – não achou os adjetivos certos, embora eles estivessem na ponta de sua língua. Era demasiado tímido para declarar que admirava seu colega pela sua personalidade. “Um verdadeiro fera, isso sim. Astuto. Corajoso.” Nada parecia sair de sua boca. – E-eu só sei que sempre penso em você... Antes mesmo da gente se encontrar...

– Sempre?! – o moleque ergueu a sobrancelha, descrente. Suspirou. – O pai disse que nada é para sempre...

Fernando refletiu acerca do assunto, buscando nos resquícios do Sol a sua resposta:

– Rick, quanto você acha que o Sol irá durar?

– Huh?! – desconcertou-se. – Eu acho... Pra sempre, oras!

Um sorriso singelo desenhou os lábios rosados de Fernandinho. Ricardo captou a mensagem. Embirrou-se, cruzando os braços.

– Asneira!



Uma réstia de raio fulgurou, nos olhos de ambos, antes do Sol desaparecer atrás dos cafezais.





– Rick...? É você?

O encontro foi marcado para Segunda. O local designado, um nostálgico botequim de esquina.

A idéia, obviamente, havia partido de Fernando, de longe, o mais entusiasmado a reencontrar os colegas de seis anos atrás.

“O rosa do seu rosto, seus cachos, seu sorriso.”, era disto que Ricardo viera em busca. Estas imagens que o atormentaram há anos.

O filho abastado dos Streva estava ali, de pé, postura impecável. Ligeiramente mais alto e esguio que da última vez na qual se viram, dava ares de um francês esnobado, mas o seu rosto rosado e os olhos claros cobertos pelos seus cachos, que lhe caiam desordenadamente sobre as têmporas, selvagens, não negavam o seu caráter, o Fernandinho em si.

“Estonteante”, foi a primeira palavra que veio à mente de Ricardo.

Fernando já havia reservado uma mesa num local agradável e isolado. Pediram dois Martinis, o coquetel “sensação” na Europa, de acordo com o recém chegado.

– E então, como vai da vida? – Fernando debruçou-se na mesa com um sorriso carinhoso nos lábios.

– Me conte sobre você primeiro. – o moreno bebericou um pouco da taça. – Afinal, quem foi que viajou metade da vida pela Europa e só se lembrou que existe um país chamado Brasil assim que ouviu falar na Semana de Arte Moderna?

– Como assim, Rick...? – o garoto sorriu meio desengonçado. – Do jeito que você colocou, parece até que eu havia me esquecido de você.

– E não é verdade, ? – destacou a alcunha, levantando uma sobrancelha. – Esqueça, eu quero saber de você. Agora é a sua vez de contar façanhas.


Ricardo pareceu notar nos olhos de seu amigo uma súbita cintilação. A partir deste momento, percebeu o grande erro que cometeu ao incentivar Fernando.

O jovem, já eufórico por natureza, não conteve seu gênio tagarela e se pôs a falar pelos cotovelos (Ricardo jurou que Fernando já fora mais tímido). Fazia inúmeras menções a artistas franceses, alemães, holandeses; os relacionava com artistas nacionais; ria de piadas que ele mesmo contava; criticava o fascismo; narrava suas aventuras na universidade; argumentava sobre o modernismo; e principalmente, sempre achava uma brecha para enaltecer as “curvas” francesas.

O moreno, por sua vez, não desgrudava os olhos da sua taça de Martini. O que era aquela sensação? Sentia ânsia, vertigem.

Nada é para sempre, huh? E nem você papai.”

Mais uma vez, sentiu o desapontamento.

Descolou os olhos do seu Martini e fitou os lábios rosados de Fernando. A água subia à sua boca.

“Bem,” refletia, “se eu vomitar, tanto melhor. Assim eu dou uma desculpa de estar doente e digo que venho na sexta sem falta. Com mais gente, é possível que o Fê nem perceba a minha ausência...”

– Rick...? Você está se sentindo bem? – Fernando se viu na necessidade de interromper as suas anedotas eróticas assim que notou a terceira careta que seu amigo fazia naquela noite.

– Não, eu... – Ricardo estava prestes a contradizê-lo, mas, “pensando bem” – Na verdade, eu acho que eu não estou...

Fernando saltou da cadeira, tão bruscamente que chegou a assustar o amigo.

– Por que não falou antes?! Venha, eu te acompanho até a sua casa.

Ricardo ia recusar veementemente a oferta, contudo, as pupilas do burguês eram por demais pungentes, não só lhe perfuravam, como chegavam a lhe rasgar a carne.

A principio, pensou que a vertigem tivesse sido passageira, bem como o desprezo, mas foi só reparar em quem lhe acompanhava que as sensações regrediam.

Já não via mais o sorriso, as covinhas, nem o cabelo cacheado. Via apenas uma cópia mais jovem do pai. Estava abismado, desejava mais que nunca voltar por si só.

Após quinze sôfregos minutos, ambos se encontravam em frente ao portão do sobradinho.


– É aqui, não é? – o burguês era o único a se esforçar para manter o mínimo de comunicação. – Uou, não mudou nada mesmo!

Os olhos irrequietos do menor recaíram sobre um secular cajueiro em frente ao sobrado.

– Rick, você se lembra de quando a gente se pendurava aqui e fazia competição de quem chegava no topo? – perguntava eufórico, arrebatado pela nostalgia. – Você sempre subia mais e mais alto...

Ricardo, no entanto, já remexia nos bolsos a chave de casa, deixando o outro plantado ali, falando com o nada. Fernando notou o vácuo assim que escutou o ranger enferrujado do portão.

– Hey, e é assim é? – sorria brincalhão. – Não vai nem ao menos convidar um amigo de infância para entrar?!

– Fê, se você não se importa, eu gostaria... Não, eu necessito de um momento só, compreende? – fez menção de fechar o portão, mas foi impedido pelo pé do burguês.

– Quantas... – a voz de Fernando saiu inesperadamente abalada. – E quantas vezes mais você deseja se isolar, hein, Ricardo?!

– O quanto for preciso até que você resolva ser honesto...

Embora Ricardo fosse visivelmente mais alto, os olhos de Fernando o confrontavam, paralelos. O moreno lia, mesmo que na penumbra, o desespero nos olhos claros de Fernando.

– O que aconteceu com você? Você não era assim! – exclamava o de cabelos cacheados.

– E nem você! Agora, faça o favor... – indicou a saída.


No fundo, Ricardo acrescentou um: “Eu quero o Fê de antigamente de volta. Porém, talvez ele nunca tenha existido.”



* * *


– Rick... – forçou Ricardo a encarar-lhe nos olhos. – Não podemos mais continuar assim. Eu pretendo reatar a nossa relação.

Acabavam de se topar no bar, por coincidência.

O caboclo, por sua vez, levantou a sobrancelha.

– Venha comigo até minha casa... – Fernando murmurava de olhos baixos. – Eu quero convencê-lo da verdade...

– Verdade...?

– ... Da verdade sobre mim! –ergueu a cabeça, uma chama decisiva a lhe consumir a menina dos olhos.





Ricardo nem se recordava da última vez em que estivera naquela suíte. “Do tamanho de uma sala”, repetia a si mesmo o caipira, moldado nos padrões interioranos.

O moreno, impacientado pela irresolução e gestos vacilantes do amigo, o sacudiu levemente pelos ombros:

– Hey! – exigiu uma atitude do rapaz.

Fernando se sobressaltou como quem acaba de ser despertado de uma soneca clandestina.

Procurou as palavras certas. Já não estivera numa situação semelhante?

– Lembra-se de quando a gente era criança? E você era sempre mais forte, rápido e decidido que eu. O seu caráter era tão inflamável que chegava a me ofuscar, enquanto a minha chama nunca passou de faísca. Eu o admirava. E quis ter a capacidade de incendiar também!



– Por que você está me contando isso agora? – Ricardo inquiriu brusco.

– Porque... Apesar de tanto esforço, parece que tudo o que fiz através destes anos foi em vão... Sabe, eu me esforcei muito para me adequar, afinal, você sempre reclamava que eu era tímido demais com os outros garotos... Então, eu...

– Calma... O que especificamente você quer me contar? – retomou, sinceramente confuso.

– Eu queria estar a sua altura, Rick! Antes de... Antes... Bem... – embolou-se com as sílabas.

– Tudo por minha causa?

– Como... Como sempre. – gaguejou. – Você é a minha inspiração, afinal.


Com um sorriso fechado, Ricardo negava com a cabeça.

– Eu não sou mais o mesmo, Fê. Eu amadureci. Eu conheci o amor. - Não foi muito mais especifico que isso.

Fernando deixou novamente a sua cabeça tombar.

– Sabe... – utilizava um tom reflexivo. – Dizem que o amor é como um império. Desaparecida a ideia sobre a qual foi construído, morre com ela.

Ricardo abrandou o franzir das suas sobrancelhas. E o Streva prosseguiu:



– E se eu ainda sinto o mesmo por você apesar de tudo que lhe aconteceu, então... – a voz de Fernando foi se extinguindo.



Algo dentro de Ricardo pulsou. Seria seu coração? Ou um mero impulso de fúria? Resolveu seguir a segunda opção. Marchou até o seu amigo e ergueu à força o queixo deste com o polegar.




– Tolo! Você tem idéia do que está insinuando?! – rugia. – E o que um burguesinho promíscuo como você sabe sobre amor? Por acaso alguma francesinha já lhe partiu o coração? Já o fez chorar? Já o fez se arrepender de alguma ação? Hein? Alguém já o fez chorar, Fernando?


Ricardo afastou-se minimamente do amigo para analisar o semblante deste.

Pálido. As bochechas antes tão rubras agora haviam sido drenadas até a lividez. Com as poucas forças que ainda possuía, Fernando tentou sorrir aquele sorriso tranqüilo e comedido, que lhe desenhava o rosto em qualquer ocasião. Entretanto, os músculos da sua face franziram, e o seu sorriso morreu na metade do caminho. Um cristal cintilou no canto do seu olho. E não era o brilho das suas pupilas.

O moreno estremeceu. A gotícula saltou sem vida do olho de Fernando e trilhou um caminho lúgubre até encontrar um fim fronteiriço.



– Você... – afastou-se do amigo. Uma pulsação desenfreada o ensurdecia. – Você está procurando pela pessoa errada!




Alcançou num pulo a maçaneta da porta e se retirou dos aposentos alheios. Ainda com as costas apoiadas no lado externo, o caboclo retomou o fôlego. Ele tinha medo. Medo de perder aquele rosto suplicante e desesperado. Medo de perder aquelas lágrimas para alguém. E, sobretudo, perder a confiança a qual pertencia exclusivamente a ele.


Mas temia acima de tudo o amor.





Foi direto para casa.

Notou que mais uma lâmpada havia queimado.


– Diabo! – praguejou, se jogando sobre a poltrona de couro. Massageava as têmporas.



– Ora essa... Veja só quem resolveu aparecer... – uma voz feminina, rouca pelo fumo, rompeu da escuridão. – Isso são horas, pivete?



Um calafrio percorreu a espinha de Ricardo. Ou estava louco ou aquela era a voz da falecida mãe. Deveras, ambas as opções eram compatíveis.



– M-mãe...? Que faz aqui? – “Isto só pode ser um sonho”. A mulher indicou uma cadeira ao lado da sua, insinuando que o filho viesse se sentar ao seu lado.

“Sonho ou não...”

Ricardo simplesmente não poderia contrariar a mãe naquelas ocasiões. Ela tinha algo a dizer.


– Vejo que você ainda tem essa bebida obsoleta... – comentou a mãe acerca da garrafa de uísque em cima da mesa.

– Ora, se foi a senhora mesmo que a colocou aí... – argumentou o filho, tomando um lugar de frente à sua mãe.

– Umn? – a senhora ofereceu um cigarro da sua caixa que carregava sempre consigo.

O rapaz aceitou. Ao acender, os olhos oblíquos da mulher notaram que os gestos do filho vacilavam.


– Que se passou? – questionou seca, cruzando as pernas.

– Nada... – fingiu estabilidade.

–Anda, cospe, que tu não engana a ninguém, pivete.

– É o Fê... – foi tudo que conseguiu balbuciar.

– Que tem ele?

– As palavras dele... Ele disse coisas absurdas! Aliás, ele sempre as diz...

– Minha cria... Todos dizemos coisas absurdas quando estamos apaixonados. – as palavras da senhora vieram com uma golfada de fumo.

– Ele se diz inspirado por mim... – um sorriso amargou nos lábios do rapaz. – Ele sempre me admirou, concordo. Mas temo não ser o que ele idealiza. Eu sempre temi o amor. Parte disso, é culpa sua.


A mulher permaneceu impassível, de pálpebras caídas, como se já estivesse aguardando pelas acusações.

– Só de ver o seu estado, mãe, meus olhos lacrimejavam. E eu exclamava sempre comigo: Deus, eu não quero acabar assim! – o riso do garoto era perfeitamente confundível com um choro. – E agora... Isso!

Ricardo pressionava o punho no seu peito, tentando conter a vertigem cardíaca.

– Todos somos covardes...– a mãe do garoto extinguiu a ponta do cigarro no cinzeiro. – Mas nesse estado, meu filho, não há mais volta. Você inevitavelmente irá sofrer. – jogou na cara do filho a verdade. – Independente do caminho que escolher.

Abriu a garrafa de uísque e inalou seu conteúdo.

– Aliás, você já está nessa há anos, e nem percebeu. Desde o momento em que decidiu, quando moleque, jamais decepcionar o seu amigo. Sabe, o seu pai estava enganado sobre uma coisa. Ele declara que nada é eterno, pois bem, eu digo que há eternidade, sim. Há uma eternidade em cada segundo, em cada caju, em cada grão de café...

– Mas o Sol... Não é eterno. Eu aprendi no ginásio.

– Neste mundo, nada é eterno. Os responsáveis por eternizar as coisas somos nós mesmos. - Para o nosso próprio bem ou mal. – acrescentou com um sussurro.


O filho abaixou a cabeça. A mulata lhe acariciou o cabelo.


– Agora, cabe a você, Ricardinho. Está disposto a eternizar este amor?







* * *

A madrugada já reunia algumas centenas de passageiros e tripulantes.

Após a sua breve estadia de um mês, o filho do fazendeiro partia, e levava consigo nada além de remorsos.


– Fê!

Balançou a cabeça, descrente. O que Ricardo fazia ali?


Ergueu o braço para que o amigo o encontrasse.


– Que bom que te encontrei! – o caboclo respirou aliviado. – Seu navio parte daqui a pouco, certo?


Esperaram pelo cruzeiro juntos. Aos poucos, os passageiros subiam pela rampa, em uma marcha preguiçosa e contínua.



– Então... Acho que isso é um adeus... – as covinhas de Fernando surgiram, embora o sorriso fosse forçado.


Ricardo assentiu com a cabeça. Viera não para ver o amigo partir. Tinha algo a dizer. Mas se manteve estático, hesitou. Como qualquer um hesita ao confessar.


Foi com espanto que viu o vulto de Fernando ser engolido pela massa.


Não, não deveria refletir. Deveria, ao menos naquela vez, agir por impulso, como o fazia quando moleque, caboclinho.


– Fê...! – a exclamação travou na sua garganta. O amigo se voltou.

– Que há?

– Quando você volta?

– Não sei, por que?

Ricardo foi por fim tomado pelo impulso da coragem, e apertou o pulso do menor.

– Fique comigo. – Sim, estava sendo egoísta.

– Como...?

– Fique.

– Somos amigos, manterei contato. – assegurou, inseguro.

Ricardo aproximou o rosto, repousando a cabeça na curva do pescoço do burguês:

– Não... Não como amigos. – a respiração morna fez contanto, instigante.

O rosto de Fernando trocou de gradações: do pálido ao carmim, do carmim ao pálido.


– Meu pai me arranjou um casamento, sabia? –sussurrou, constrangido.


– Que me importa. Concluo meu curso, trabalho, ganho o suficiente para arcar com as despesas, e fugiremos. Vamos forjar sua morte. – a sua proposta soou quase como uma ordem.


Fernando desatou a rir, sem prévias. O caboclo se zangou, pensando que não havia sido levado a sério.

Mas logo o sorriso natural do menino dos cafezais o tranquilizou.


– Você está de volta, Rick... – pousou a mão no rosto harmonicamente imperfeito do moreno.

– Por você... Sempre.

– Sou um homem, e isso não parece certo... - suspirou - Você se enjoará, eventualmente, se decepcionará... Não foi você mesmo que disse que nada é para sempre?

– Meu pai estava enganado. – a confissão fez com que Fernando erguesse a cabeça. Era a primeira vez que Ricardo contrariava o pai.

– Mas, se nem o Sol é eterno, quem dirá nossa paixão... – relembrou o menor.

– Nada foi feito para ser eterno... Cabe a nós eternizar...


Uma corrente de êxtase percorreu o pulso de Fernando. Era Ricardo, que sussurrava no seu ouvido:

– Fê, você aceita fazer parte do meu pequeno infinito?




A pausa não durou muito:

– Do nosso pequeno infinito, Rick.

– Enquanto ele durar, lembre-se de mim.

– Sempre. – assegurou Fernando.

– Sempre. – retrucou o caboclo.




Uma réstia de raio fulgurou, nos olhos de ambos, assim que o Sol surgiu atrás dos cafezais.











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Notas finais do capítulo

Espero que tenham apreciado ^___^