Pov. Bellamy Blake

Por insistência de Clarke eu volto aquele casebre sozinho na mesma noite: encontro Lexa de saída.

— Eu sabia que Clarke seria capaz de convencê-lo. Obrigada.

— Não se esqueça do seu acordo. Se ele for quebrado tudo isso acaba.

— Clarke já deixou isso bem claro.

— E o que eu devo fazer quanto ao bebê?

— Além de criá-lo? Me ajudar a tirá-lo de Tondc antes que seja tarde demais.

— E como pretende fazer isso? - Pergunto sem nem sequer olhar nos olhos dela.

— Não temos um plano ainda. Assim que tivermos entramos em contato.

Quando retorno o dia já amanheceu, e a maior parte das pessoas já está acordada. Pelo desespero e pressa em cada atitude imagino que Clarke já tenha contado a eles a novidade. Quando entro na tenda principal utilizada como refeitório levo um susto, a mesma agora é algum tipo de centro de criação de bombas: Raven, Wick e Monty trabalham em algo tão importante que sequer me olham.

— São as novas bombas. Caso você esteja se perguntando. - Diz Raven sem perder o foco em seu trabalho.

Saio de lá ainda perdido, queria ter mais tempo para lidar com a ideia de salvar o filho de Lexa antes de ter que lutar em uma batalha, mas quando é que as coisas na Terra saem como o planejado. Percorro o restante de Jaha e encontro Clarke dando ordens aos soldados, ela nunca mudará.

— Então, qual é nosso plano?

— Por enquanto só mandei eles cercarem o Acampamento com armadilhas. Nada demais. Pensei que você pudesse me ajudar nisso.

— Claro. Nenhuma ideia pra começarmos mesmo?

— Não, a única coisa que consigo pensar é que eles vão estar num número muito maior que o nosso.

— Sabe, Clarke, isso não precisa ser algo bom. Podemos usar isso contra eles.

— Mas como?

— Não sei se é uma boa ideia, mas e se nós nos vestíssemos e pintássemos como Grounders? Já que são muitos eles não saberão a diferença entre os deles dos nossos.

— Sim, mas e se eles perceberem?

— É um risco que corremos. - Levamos a ideia ao que resta do Conselho que acaba concordando. Talvez fosse a nossa melhor chance. Desde que os soldados tomem cuidado, nós estaremos atacando os de tão perto que eles nem saberão o que os atingiu.

O resto do dia passa com pressa, arrumando as armas e a munição. Por mais que estivéssemos preparados para uma guerra antes, o tempo nos fez dispersar um pouco, o que torna necessário toda essa reorganização.

— Já fizemos bastante por hoje, Bell. Hora de descansar.- Fala Octavia.

— Como se você tivesse parado por um segundo hoje.

— Está certo. Não parei, mas vou parar agora. Terminamos tudo amanhã.

— E se o ataque for amanhã? Por que todos vocês insistem em acreditar tanto na Lexa.

— Se for amanhã, Bellamy, é importante nós termos a oportunidade de descansar. Clarke me contou sobre o acordo de vocês. Você fez o certo.

— Ela te contou? Clarke não consegue manter um segredo - Digo irritado. Custava ela manter isso entre nós?

— Eu insisti em saber como o acordo tinha sido feito. Não sou idiota a ponto de acreditar na historinha que ela inventou. Além do mais Clarke quer algumas informações do Lincoln, foi fácil trocar uma coisa pela outra, por isso ela pediu que eu viesse te buscar. Parece importante, algo com a guerra.

Saio dali com Octavia e entro na tenda que minha irmã vem dividindo com Lincoln, tentando não pensar em tudo que eles devem fazer ali quando não tem ninguém presente. É demais pra mim, pensar que a minha irmãzinha, a menina que eu criei com tanto carinho…

— Vocês demoraram. - Diz Clarke.

— Seu namorado pode ser um pouco difícil de convencer.

— Nós não…- Falamos juntos e rimos. Seguro sua mão e rio, talvez seja exatamente isso que nos tornamos.

— Posso saber o que nos traz aqui?

— Na primeira visita que eu fiz a Lexa, ela disse que eu devia perguntar a Lincoln o que acontece com os filhos dos traidores.

— Já temos informação suficiente; Tá tá, talvez não.- Falo, quando Clarke me olha nos olhos. Tenho que aprender como dizer não pra ela imediatamente.

— Pode nos dizer o que sabe, Lincoln.

— O que Lexa disse a vocês?

— Que eles não tinham bons finais, que eram mortos antes do primeiro mês de vida, de modos não piedosos.- Eu falo, tentando me manter frio, o que não consigo. Pela primeira vez me dou conta do que realmente se trata isso: assassinato.

— Não que eu concorde, mas isso é um ritual de Tondc. Uma forma de manter as pessoas na linha. Tudo o que ela disse é verdade.

— E o que seriam mortes não piedosas?

— Existe um Conselho só pra isso. Geralmente tem a ver com o que o pai fez, já vi mulheres serem obrigadas a alimentar os filhos com veneno por semanas até que ele morresse. Crianças serem jogadas de uma altura considerável…

— E você nunca fez nada?- Pergunto irritado. São apenas crianças. Quantos já não devem ter morrido assim?

— Não é como se eu pudesse. Sempre esteve acima de mim esse tipo de coisa.

— Pode nos ajudar? - Fala Clarke.

— Com o que estiver ao meu alcance.

— Tem outra coisa que eu gostaria de perguntar. Nós fizemos um acordo com Lexa, mas com tudo que está acontecendo, não acho que o poder dela esteja estável. Talvez seja mais seguro para todos nós: encontrar um novo aliado em Tondc, alguém com quem possamos ter um novo acordo. Lexa com certeza tem inimigos, pessoas querendo tomar seu poder. Se escolhermos certo quem apoiar podemos finalmente ter um acordo de paz. E aí que você entra, você deve conhecer alguém.

— Lexa nunca foi adorada. Sempre teve diversos inimigos, mas muitos deles não ousariam nos trair quando fosse necessário. A maior parte pelo menos…

— Lembou de algum nome?- Questiona Clarke.

— Luís, seria uma boa opção, costumávamos ser amigos. Talvez ele me escute.

— Como acha que ele governaria?

— Se os massacrarmos como pretendemos. Um acordo de paz vai ser a coisa mais sensata a fazer e a última que Lexa pode fazer, sem parecer que ela está de algum modo favorecendo Bellamy. Ele é o nosso cara, contudo teríamos que dar algo em troca.

— A cabeça de Lexa não seria o suficiente?

— O quê? - Digo assustado, não que eu não queira Lexa morta, mas não esperava que esse seria o plano.

— Ela precisa morrer pra que outra pessoa entre no poder.

— Como faríamos isso? E o bebê?

— Pensei em capturarmos ela na luta de depois de amanhã.E fazemos o acordo com ele através de Lincoln. Podemos mantê-la presa até o bebê nascer.

— Isso parece cruel.- Diz Octavia.

— Não sei se temos outra opção. Não faríamos nada que Lexa já não fez a nenhum de nós. Sem tortura ou maus tratos. E sequer quebraríamos o acordo com ela. Bell prometeu ajudá-la com o resgate e cuidados do bebê, não dissemos como ajudaríamos. Daremos a ela uma morte digna.

— Não tem nenhuma chance de o povo se virar contra nós se a matarmos?- Pergunta Octavia.

— É difícil adivinhar como realmente vai ser, mas se ela está sendo odiada como Clarke disse. Tudo vai depender de como Luís os conduzir. É uma ótima ideia na verdade.

— Teremos que nos planejar é claro. Capturar Lexa não vai ser fácil.

Saio ainda atordoado, Clarke pensou em tudo aquilo sozinha?

Perguntar minha opinião era o mínimo que ela poderia ter feito.

— O que foi, Bellamy?

— Quando ia me contar tudo aquilo?

— Queria realmente te contar primeiro, mas senti que não tínhamos tempo.

— A única coisa que consigo pensar é que matar Lexa desse jeito. É só… cruel.

— A ideia também não me agrada, Bellamy, mas você sabe que não podemos confiar em Lexa. Não confio em seu poder, nem em sua palavra. Ao fazermos isso podermos conseguir a paz que precisamos dos Grounders. Mantemos o segredo que é English Town e ainda conseguimos garantir que o bebê ficará bem. Não é o melhor modo, mas sem dúvida o mais eficiente.

— Não quero que a gente faça isso só por vingança.

— Não é, Bell. Refleti muito a respeito. Pode ser nossa única chance.