Aquela sala nunca tinha sido vista por nenhum bruxo – pelo menos nunca houve relatos disso em nenhum livro lido por Hermione – e Harry tinha conseguido encontrá-la. Hermione havia contado a história daquela sala para os meninos no segundo ano, após ler sobre ela em “Hogwarts - Uma História”, depois de terem resolvido os mistérios da Camâra Secreta. A história era mais ou menos a seguinte:

Ao deixar a escola, Salazar Sonserina havia prometido deixar um meio de seu herdeiro vingá-lo deixando um basilisco enorme na Camâra Secreta. Ao saber disso o fundador da Grifinória também deixou uma sala escondida a ser encontrada apenas por um de seus herdeiros, a fim de que pudesse reverter todo o mal que o herdeiro da Sonserina havia causado. Ninguém sabia o que havia na sala escondida de Godric Griffindor. Na verdade, ninguém tinha muita esperança de que ela realmente existisse, afinal algumas bruxas fofoqueiras na época da fundação da escola diziam que Godric havia inventado toda aquela história para tentar assustar Salazar.

– Reverter todo o mal causado pelo herdeiro da Sonserina... – Harry disse num sussuro e sorriu. – Hogwarts realmente está do meu lado.

Harry começou a analisar a tal sala escondida de Griffindor, tentando descobrir a sua utilidade. Era redonda e no centro tinha um palco dourado de um metro de altura e uns 3 metros de diâmetro. Esse palco possuía 12 divisões douradas, lembrando um relógio, e no centro existia uma pequena mesa circular com uma ampulheta em cima.

–Um relógio e uma ampulheta... – Harry disse sussurando.

As paredes eram todas douradas, com cortinas vermelhas (claro, as cores da Grifinória) e na parede do fundo se encontrava um busto de um poderoso leão. E então o leão se mexeu e disse:

– Tem muito tempo que estou te esperando, herdeiro. – E bocejou.

– E-eu... – Harry gaguejou. Nunca tinha visto nada parecido com aquele leão.

– Então você é o herdeiro de Godric.

– Não sou...

– Pode até não ser de sangue, mas é de coração. – Harry ficou calado, não conseguiria expressar nenhuma frase inteligente naquele momento - Godric não é como Salazar, entende? O herdeiro escolhido para encontrar essa sala não seria necessáriamente um dos netos dos seus netos. O verdadeiro herdeiro da Grifinória tem que partilhar da mesma fibra que Godric tinha no coração. E, por ter achado esta sala, você é esse herdeiro.

– Eu?

– Você. Qual é seu nome?

– Harry Potter...

– E agora, Harry, é a hora de decidir como você vai reparar todo o mal causado pelo... quem é o herdeiro da Sonserina? Fiquei mais de mil anos nessa sala, não faço ideia...

– Voldemort.

– Que nome mais pretencioso. A cara da Sonserina. Mas enfim, Godric me colocou aqui para te ajudar com meus conselhos, caso você os deseje.

Harry decidiu que aceitaria a ajuda do leão, afinal Godric enfeitiçou o chapéu seletor e deu tudo certo. O chapéu era um bom chapéu. Então o leão devia ser um bom leão. Então foi sincero e disse:

– O que essa sala faz?

– Bom, você já percebeu que tem um relógio e uma ampulheta. Isso te lembra algum artefato em especial?

– Um vira-tempo...

– Exatamente. Essa sala se assemelha ao vira tempo.

– Mas... se eu usá-la pra voltar no tempo vou ficar preso no passado... – Harry começou a pensar se teria que se sacrificar mais uma vez.

– Essa sala é diferente do vira-tempo exatamente nesse aspecto. Ela também vai para o futuro Harry. Você e quem mais você levar não vão ficar presos no passado.

Harry estava impressionado, seu coração começou a bater mais rápido. Ele finalmente viu uma forma de reverter tudo. Tudo mesmo. Não apenas Fred e Remo, mas Lily e James poderiam estar vivos... Os pais de Neville poderiam ter sua sanidade de volta... E então pensou nos amigos que sempre faziam os melhores planos, afinal Harry não era muito bom em planejar nada, e para conseguir fazer isso tudo ele precisaria de um ótimo plano.

Harry nunca esteve totalmente sozinho ao se aventurar contra Voldemort. Até quando foi ao seu encontro na Floresta Negra, tinha acabado de estar com o vulto de James, Lily, Sirius e Remo... Ele nunca esteve realmente sozinho, e tinha medo disso. Mas não sabia se teria a coragem de arriscar mais uma vez a vida dos amigos.

– Eu não sei se chamo meus amigos. Eu já precisei da ajuda deles várias vezes em missões quase suicidas... e se essa sala faz o que eu acho que faz, eu provavelmente terei que enfrentar Voldemort outra vez. E essa seria mais uma missão suicida...

– Um grifinório nunca está sozinho, Harry... Godric mesmo dizia isso. Ele proteje seus amigos a todo custo, mas sempre pode contar com eles quando precisa. Além disso, não é possível viajar sozinho nesta sala. – O leão olhou no fundo dos olhos de Harry e sorriu. – Você precisa dos seus amigos. Traga-os.

– Mas e se eu não achar o caminho de volta?

– Primeira porta à direita, depois da saída da passagem da bruxa de um olho só. Você agora é o fiel deste segredo. Para os outros encontrarem esta sala, você tem que contar pra eles onde ela é. Agora vá.

Harry saiu da sala ainda assustado com o leão falante e se dirigiu ao Grande Salão. Os Weasleys ainda estavam lá, junto com Hermione, Neville e Luna. Hagrid, Mcgonagall e outros membros da Ordem da Fênix estavam juntos no fim do salão, conversando. Nisso Harry começou a pensar que levar todos seria muito útil, mas talvez não fosse prudente. Se, por algum acaso, uma pessoa encontrasse com sua versão do futuro, ela podia muito bem ir direto para o St. Mungus. Então Harry decidiu levar só quem não teve uma participação direta na guerra antiga (a qual Voldemort matou seus pais).

Puxou Hermione para um canto e disse a ela para ajuda-lo a trazer Luna, Neville, Ron, Gina e Jorge até a Sala Comunal da Grifinória. E assim eles fizeram. Jorge não queria ir, mas Molly insistiu para que ele fosse (tentar encher sua cabeça com outras coisas que não fosse Fred) e ele acabou indo. Quando chegaram lá cada um sentou em um sofá e olharam para Harry, que disse:

– Bom, vou direto ao assunto. Vocês já ouviram falar da sala escondida de Godric Griffindor?

– Não é possível que você me trouxe aqui para falar de lendas. – Jorge disse olhando para Harry.

– Não é uma lenda. Acabei de encontrá-la.

Harry então tinha a atenção de todos. Hermione disse, citando “Hogwarts – Uma História”:

–“... o fundador da Grifinória também deixou uma sala escondida a ser encontrada apenas por um de seus herdeiros, a fim de que pudesse reverter todo o mal que o herdeiro da Sonserina havia causado.”

– Você quer dizer que é possível desfazer tudo o que Voldemort fez? – Gina perguntou – Reverter a morte de Fred, de Remo, de Tonks...

– Estou dizendo muito mais do que isso. Podemos parar a morte dos meus pais e tudo o que aconteceu com os pais de Neville. – Harry disse olhando para cada um deles com calma. – Mas não posso fazer isso sozinho.

Hermione foi a primeira que compreendeu tudo aquilo e então conseguiu sorrir pela primeira vez naquele dia. Ela perguntou:

– Será que a Armada de Dumbledore se uniria mais uma vez para lutar contra Voldemort?

Todos deram um sorriso. Jorge foi o primeiro a se levantar e disse num tom sério ao secar as ultimas lagrimas que caiam:

– Vamos reverter tudo o que ele fez. Estou com você Harry. – Nisso todos se levantaram e disseram a mesma coisa. A Armada de Dumbledore estava reunida mais uma vez para mais uma missão suicida. Era uma ótima sensação.

– Ótimo. – Harry disse aliviado – Mas vocês estão acabados, acho que teria que carregar cada um nas costas se partíssemos agora. - Todos riram a caçoaram de Harry, que era quem parecia mais cansado. – Vamos descansar um pouco, tomar banho e dormir. Amanha depois do almoço mostro a sala escondida de Godric para vocês.

Todos concordaram e subiram para os dormitórios da Grifinória. Tomaram banho, jantaram e dormiram... Apenas um certo trio não havia dormido ainda. Eles ainda planejavam tudo.