Encantada escrita por SBFernanda


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Oi amores. Estive bem ausente, eu sei, ms nas duas últimas semanas algumas coisas aconteceram que viraram minha vida de cabeça para baixo e tudo ainda está assim, mas juro que me esforcei bastante para sair esse capítulo, apesar da demora. Espero, sinceramente, que gostem.

Obrigada a "hinadiva", "Petniss2", "UzumakiHyuuga17", "Jackehina", "Isa", "Fluffy Mary", "Ravena Krane" e "Emiko Nekokayo" pelos comentários. Vocês sempre me ajudam muito, juro.

Lembrando que este é o penúltimo capítulo da fanfic, entao....
Enjoy!



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Capítulo 9.

Naruto ainda não conseguia dormir. Hinata tinha conseguido que ele dirigisse até em casa, mas o rapaz não entrou imediatamente em casa. Ainda estava fora de si. Quase voltara para dentro do hospital, tamanha foi a sua revolta com aqueles dois. Ainda não compreendia como dois familiares podiam querer desligar os aparelhos. Eles não sentiam nada? Esbravejou aquilo dentro do carro, socando o volante. Apenas se acalmou um pouco quando olhou para a menina ao seu lado. Hinata parecia magoada. Ele só estava piorando enquanto gritava aquelas coisas. Queria poder abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, mas o que poderiam fazer?

Hinata ficou todo o caminho quieta, dizendo apenas uma vez que queria só ficar perto do jardim dele, se pudesse. Ele concordou, mas sua mente vagava em conversas que queria ter com Neji. A primeira seria o chamando de idiota, no mínimo, dizendo que ele não poderia desligar os aparelhos. Depois pensou em algo mais amigável, tentando convencê-lo de não o fazer. Mas em seu íntimo sabia que aquilo dependia mais do pai da Hyuuga. Apesar de Hinata ser maior de idade, como não podia responder por si, era aquele homem que o fazia. E naquele momento, Naruto o odiava com todas as forças.

Mas nada do que conseguia pensar parecia bom o suficiente para o rapaz. Bom o suficiente para convencer a qualquer um que não deveriam fazer aquilo. Na verdade, ele nem mesmo sabia o motivo de eles estarem querendo algo assim. Será que a relação da família não era boa? Ele não conseguia imaginar algo assim depois de ver como Hanabi era tratada com tantos mimos e proteções. Não, talvez pudesse haver algo mais, ele pensava.

Enquanto tinha ficado sentado no carro, olhando Hinata, sem saber o que fazer, dizer ou mesmo se a veria no outro dia, Naruto pensava no porque se sentia tão desesperado. Não era algo que ele tinha facilidade em descobrir. Naruto nunca foi o tipo de pessoa que pensava sobre tais coisas, muito menos acreditava como a maioria. Ele não acreditava que gostasse da Hyuuga de uma forma especial, mas talvez como a mais nova amiga que ela tinha se tornado. No fundo, sabia que ela era especial e ele também, para apenas ele a ver. Mas não admitiria nunca sentir algo por alguém que não conhecia há muito tempo.

Sua mãe tinha aparecido no meio de seus devaneios, batendo no vidro da janela e o fazendo pular, já que o mesmo estava virado para o lado oposto, o lado onde Hinata estava. Quando abaixou o vidro, sua mãe veio o enchendo de perguntas que nem mesmo se preocupou em lembrar. Lançou um olhar rápido para Hinata, esperando que ela entendesse e então saiu com Kushina em seu encalço. Assim que entrou anunciou o que havia acontecido, o que havia descoberto e sem dizer mais nada, subiu para o quarto. Não estava com fome e nem mesmo sua mãe insistira para que comesse, como sempre fazia. Na verdade, até mesmo estranhara que ela não tivesse ido atrás de si.

Após um banho era ali que ele se encontrava, em seu quarto, deitado na cama com as mãos atrás da cabeça e os pensamentos passando não apenas nos últimos acontecimentos como todos, desde o momento em que vira Hinata. Não havia nada que ele pudesse fazer para que eles mudasse de ideia, mas não estava disposto a desistir. Se sentou, procurando uma camisa e no mesmo instante ouviu batidas na porta. Olhou, se perguntando se era sua mãe, mas no lugar dela viu Minato, seu pai.

– Acho que agora podemos conversar, não é? - Naruto quase falou ao para contestar aquilo, mas Minato foi mais rápido ao continuar: - Antes eu do que sua mãe, não é mesmo? Não irei demorar. Vamos evitar que faça uma besteira, Naruto.

– Que besteira? - era visível que o loiro estava na defensiva.

– Ir atrás da família dela? Falar coisas que não sabe? Não sabemos quanto tempo ela está assim, certo? Você mesmo disse que só ficou sabendo agora. Talvez eles queiram evitar um sofrimento maior dela.

– Não. Pai, ela vai ficar bem, eu sei disso.

– Como pode saber, Naruto? - o mais velho perguntou e apesar de o filho abrir a boca para responder, mudou de ideia, deixando os ombros caírem. - Se for falar com eles aconselho que vá amanhã. Com calma, apenas tente entender o que se passa. Mas antes… - mais uma pausa, e Naruto ficou apreensivo. Seu pai permanecia calmo, mas estava também muito sério. - Naruto, antes precisa ter certeza do que sente.

– O que? Como assim? O que quer dizer?

– Apenas por sua reação cheia de perguntas já dá pra notar que está tentando esconder algo até de você. Você não costuma ser muito crente em… sentimentos fortes, eu sei.

– Acredito no que você e mamãe têm. - mas ele sabia o que o pai queria dizer.

– Acredita que me apaixonei por sua mãe quase no mesmo instante que a vi?

– Pai, isso é impossível. Você pode ter gostado da aparência, mas não tem como você amar alguém sem a conhecer.

– Realmente. Por isso digo que me apaixonei por ela logo na primeira vez que vi. Mas a amei a cada dia que a conheci. - um sorriso discreto estava no rosto do homem enquanto ele olhava para o filho. Naruto não poderia ter muitos argumentos contra aquilo. - Sua mãe e eu tivemos um relacionamento rápido, tudo aconteceu rápido. As pessoas tinham o mesmo olhar que você, mas uma coisa eu te afirmo… um dia todos, até você, caí nisso. Será que já não caiu, Naruto?

– Eu mal a conheço, pai… - foi tudo o que o loiro murmurou, olhando para a janela.

– Sim, mas isso não lhe impede de ter chegado arrasado e um pouco transtornado em casa por conta disso, não é? Talvez queira ter a chance de conhecê-la melhor?

– Hm… sim, isso sim. - ele concordou, ainda baixo.

– Então... por quê?

– Porque… - Naruto pensou. Sua mãe não o daria tempo para pensar e era por isso que às vezes era melhor falar com seu pai. Naruto era como a mãe, não dava certo os dois falando dessas coisas. - Porque ela é especial. Eu vi isso já e senti isso quando estava a visitando. É estranho eu… - ele parou quando percebeu que estava, enfim, verbalizando aquilo, ainda mais para seu pai. Seu pai sorria, o incentivando a continuar. - Eu quero ficar perto dela até quando não tem como falar com ela.

– Então acho que já pode conversar amanhã com a família dela. Apenas pense no que vai dizer e tente entender o que eles estão passando. - quando levantou, Minato apoiou a mão no topo da cabeça do filho e caminhou para fora do quarto.

– Pai. - Naruto o chamou e no mesmo instante ele se virou. - Como você soube o que sentia pela mamãe?

– Ah, você já sabe. - parado à porta, Minato abriu um sorriso gentil. - Eu me sentia melhor quando estava com ela. Nenhuma era mais bonita, nem mais legal… O amor é uma coisa engraçada filho, você só percebe que o sente quando já o está sentindo e aí não consegue identificar o início dele. Boa noite e boa sorte, filho. - sem mais, a porta foi fechada assim que Minato saiu e novamente Naruto se jogou na cama.

Naruto já havia ficado interessado em outras moças, ele sabia como era a sensação, mas realmente aquela era nova. Ele sabia, desde o momento que colocara seus olhos em Hinata que ela era a mais linda e mais diferente menina que já havia visto. Ainda que ela não fosse tão diferente dos padrões normais. Então por quê?, ele se perguntava agora. Sua cabeça chegava a doer tentando achar uma resposta e só então notou o quão rápido seu coração batia. Talvez ele quisesse tanto uma explicação lógica que não dava ouvido as demais, concluiu depois de enfim se render.

Ele se sentia melhor quando estava perto dela, fosse de seu corpo frágil no leito do hospital ou dela ali em seu carro ou seu jardim. Nenhuma era mais bonita, isso sempre soube e mesmo com toda aquela timidez, ele também se sentia legal ao lado dela… porque ela era legal, gentil, meiga… Com um suspiro derrotado Naruto se convenceu do que o pai dissera, admitiu o que tanto queria evitar. Passou a mão no rosto e decidiu que não poderia deixar que ela morresse antes de ter a chance de descobrirem o que era aquele sentimento e o aproveitar. Também não a deixaria sozinha aquela noite, onde sua mente deveria estar dando voltas em procurando motivos para quererem que ela morresse.

Decidido, Naruto puxou uma blusa de moleton, assim como sua calça e vestiu, calçando chinelos mesmo e descendo as escadas o mais silenciosamente que podia. Seus pais já haviam ido deitar, mas qualquer barulho sempre os acordava. Por sorte para onde ia era longe o suficiente para que não fosse ouvido. Não tinha dúvidas de que ela estaria ali ainda e não se enganou. Assim que passou pela porta e seu olhar encontrou o jardim, a viu sentada no meio dele. Não haviam mais tantas flores como antes, já que boa parte havia sido colhida e vendida naquele dia, mas as que ainda tinham ficavam ao redor da moça que ali estava, não olhando para frente ou para elas, mas para o céu escuro e sem lua.

Naruto parou a pouca distância, apenas admirando como ela ficava. Não estava chorando, mas também não estava serena como costumava sempre a ver. Havia uma preocupação ou talvez, compreensão. Ele não soube identificar, mas soube naquele momento que suas suspeitas estavam certas, mesmo que ainda não tivesse pronto para as compartilhar com ninguém. Soltou um pigarro, para chamar a atenção e não a assustar com sua aproximação e no mesmo instante Hinata virou-se na direção dele. Ela sorriu fracamente e ele acompanhou, parando na frente dela, que ainda estava sentada.

– Hey… - ele soltou, dando de ombros com o olhar curioso de Hinata sobre si. - Queria ver como está…

– Eu estou bem… - apesar da voz dela estar baixa, mais do que o normal, Naruto percebeu que ela estava sendo sincera.

– Você lembrou de alguma coisa, não é? - ela apenas acenou, afirmando. - O que? - percebendo que Hinata iria se levantar ele estendeu a mão, mas no mesmo instante recolheu e ambos trocaram um olhar triste.

– Hm… eu… bem, lembrei que quando fomos no hospital vimos que minha atividade estava diminuindo. - só após ele a ouvir foi que Naruto também se lembrou. Lembrou da tentativa falha dos dois e de como subira um pouco, quase nada. - Eu não queria estar assim. Lembro que falei em casa que se algum dia eu ficasse em um estado vegetativo durante muito tempo que não prolongassem a minha vida.

– Mas agora você sabe que pode voltar. A gente não sabe como, mas a gente pode tentar, Hinata.

– Em breve minha atividade cerebral vai acabar e eu vou morrer. Meus órgãos ainda podem ser doados se nós fizermos isso da forma certa, entende?

– Não acredito que vai desistir. Você está aqui, está viva, só temos de descobrir como você pode voltar para o seu corpo. - mas via o leve aceno de cabeça dela. - Por que você está desistindo?

– Eu não posso… - ela comentou, sem o olhar. - Não vai ser a mesma coisa se eu acordar e lembrar de tudo isso que está acontecendo agora.

– Pode até ser, mas… espera, por que não quer se arriscar? Hinata, o que foi? - e nada, ela não disse. Agora fitava o chão. Não, não o chão, mas as flores que tinham ali. As flores “dela” - Por que não quer me contar?

– Porque… - ela engoliu em seco e parou. - Será que podemos apenas aproveitar um pouco? - ele negou. - Naruto, por favor… se ainda quiser saber, ao nascer do dia eu lhe contarei.

– Por que esperar isso tudo? - ela deu um pequeno sorriso, mas nada disse. Naruto percebeu então que não haveria outro modo se não aceitar aquilo. Afirmou então e olhou para o banco onde tinham sentado outro dia. No mesmo instante os dois se sentaram ali. - Mas eu estava pensando em falar com sua família.

– Não tem que fazer isso… - ele deu de ombros após a ouvir. Sua recente decisão era que faria aquilo se ela quisesse, mas se o que ela tinha a dizer o convencesse, aceitaria a decisão de Hinata.

– Bem, o que você quer fazer agora? O sol vai demorar a nascer ainda. - ele não tinha muitas ideias, mas se estava ali, então que fizesse o que ela desejava.

– Quero que me conte uma história. - ela comentou, fechando os olhos e ficando visivelmente mais relaxada. - Eu gosto de histórias.

– Não conheço histórias. - ele comentou um pouco desconfortável. - E as que tinha sobre mim já contei. Mas não adianta, as mais constrangedoras nunca revelarei.

– Tudo bem, eu conto. - ela comentou e desta vez Naruto se sentiu ainda melhor. Era a primeira vez que Hinata não estava com mais vergonha do que vontade de contar as coisas e isso o fez se sentir melhor, mais especial. Além do mais, significava que ela tinha lembrado de algo. - Era uma vez…

– Ah, não… - mas mesmo dizendo algo contrário, o loiro riu e Hinata o acompanhou.

– Ah sim! As melhores histórias começam com Era uma vez…

– Não, os contos de fadas começam com Era uma vez e sempre tem alguma lição nisso tudo.

– Naruto, eu acredito que essa histórias se basearam em algo e há um motivo de terem uma lição. Não quer ouvir a minha?

Ele se rendeu, afirmando e dando um sorriso meio sem graça. Hinata, por outro lado, deu um lindo sorriso, esse que quase o hipnotizou. Hinata olhou então para o céu, mirando os pequenos pontos de luz ali a vista, as estrelas e começou novamente:

– Era uma vez uma menina. Ela se sentia uma princesa quando estava com os pais, mesmo depois de já estar com idade para parar de acreditar em contos de fadas. Sua vida era linda, perfeita, ela tinha pais amorosos e compreensivos. Mas como sempre, alguma coisa ruim precisava acontecer para a verdadeira história começar. A mãe da menina morreu, deixando ela, a irmã e o pai da mesma completamente desnorteados. Foi uma grave doença que chegou quieta e explodiu, levando a alegria da família. Mas com o passar dos anos essa alegria e união foi voltando, mesmo ainda faltando uma parte para ser completa. A menina, agora uma jovem, não se sentia segura perto de ninguém, por mais que tentasse ser como seus primos e até sua irmã. Ela se fechou, e isso a tornou alguém não muito bem vista em sua família.

Naruto sabia, naquele momento, que Hinata estava contando sua história. Ela podia não estar dando muitos detalhes, mas mesmo assim dava uma ideia a ele de como era a relação daquela família. Não tinha ideia de como Hinata se lembrou daquilo, mas esperaria toda a história para poder perguntar, estava curioso com a parte que ela realmente queria chegar.

– Na família havia uma idade em que as moças deveriam se casar, os homens eram uma idade um pouco maior. Essa idade era estimada, podendo variar, mas caso não houvesse nem mesmo a possibilidade de a moça se casar perto da idade desejada, um casamento seria arranjado pela família. Tudo isso era feito para que nunca faltassem herdeiros. Assim, com todo o seu jeito fechado, tímido e introvertido, a menina-moça encaixou-se na categoria sozinha. A família arrumou um casamento com o único com quem viam a moça, o seu adorável primo. O problema é que eles se viam como irmãos, haviam sido criados como tal e, inclusive, ele seria o herdeiro. Nenhum dos dois estava satisfeito com isso, mas fora aceito por ser o melhor a ser feito.

A Hyuuga olhou para o loiro, apenas para ter certeza que ele compreendia o que ela dizia. Naruto entendia muito bem. Não achava certo, não achava que algo assim ainda pudesse existir, mas acabava de ter certeza que sim. Estava surpreso e um pouco revoltado com isso, mas aguardava ansioso pela continuação, pois pelo olhar de Hinata a história não acabava ali. Ela suspirou e seu olhar foi para longe do dele, em direção as estrelas.

– Não querendo se prender ao seu irmão de coração, primo de sangue e melhor amigo, a menina resolveu acreditar mais uma vez. Sua mãe sempre dissera que sua crença poderia a salvar e ela precisava disso. Acreditava no amor com todas as forças, sabia que um dia o encontraria, mas não tinha tempo. Como uma ação desesperada, ela foi ao encontro daquela que todos diziam saber como trazer o amor, o descobrir mesmo quando ele aparentemente não existia. Os contos de fadas nunca foram tão reais. Passou por um muro fechado por plantas, arranhou-se, quase ficou presa, mas quando pediu ajuda, viu-se perto de um pequeno chalé, cercado por aqueles muros. De lá de dentro uma senhora muito elegante saiu. A menina não sabia se ela era velha ou não, sua visão parecia a enganar, mas aquela senhora sabia o que a menina precisava.

Naruto estava achando aquilo muito estranho. Por mais que tentasse imaginar o que Hinata contava naquele momento não conseguia ver um lugar assim, não conseguia nem mesmo acreditar. Estaria ela divagando? Juntando sua própria história com um conto de fadas.

– Aquela senhora explicou então que o amor verdadeiro era possível, ele era especial e difícil de ser encontrado em momentos onde havia desespero e carência, mas que podia ajudar. Porém nem todos acreditavam e se isso acontecesse, a menina nunca mais acordaria. Os dois lados precisariam não apenas lembrar, mas acreditar. Se isso acontecesse, um encontraria o outro verdadeiramente, se não, apenas um permaneceria, ainda que sozinho. Sabendo todos os riscos que correria, explicados diversas vezes pela senhora, a menina quis se arriscar. Saiu do local carregando apenas o que ela lhe entregou, para usar no momento que achasse estar pronta. E quando o fez, tinha em mente apenas a frase proferida pela senhora: “A verá aquele que está destinado a ter o seu coração. Apenas ele a verá, como realmente é.”

Hinata não olhou para Naruto depois que terminou de contar, seu olhar ainda estava fixo nas estrelas, mas ela estava atenta ao som da respiração dele. Naruto tinha a respiração muito mais lenta do que o normal, ele estava a fitando com os olhos demonstrando toda a sua surpresa e mais do que isso, dúvida. Não tinha certeza se acreditava nela, ainda desconfiava que Hinata poderia estar começando a divagar, tentando achar uma resposta para tudo aquilo.

Não conseguindo se conter muito mais tempo ela virou o rosto na direção dele e viu toda aquela dúvida estampada em seus olhos, em cada pequena expressão de seu rosto. Toda a sua esperança se fora, ficando uma dor profunda que Naruto viu, mesmo se sentindo culpado, não teve reação para conseguir afastar aquilo.

– Você não acredita, não é mesmo? - ela perguntou, um tom de voz baixo, como se tivesse medo de quebrar aquele silêncio. Naruto não sabia dizer, por isso demorou um pouco mais do que alguns segundos para responder.

– Isso é meio estranho. Fica como se fosse um conto de fadas ou sei lá.

– E você não acredita em nada disso.

– São contos de fadas, afinal. - ele tentou fazer com que ela visse isso também, mas pelo olhar de Hinata percebeu que ela tinha certeza no que acreditava. - Como se lembrou? - mesmo querendo que a pergunta saísse como algo simples, percebeu, tarde demais, que saíra em um tom descrente.

– Eu quis lembrar. Quis lembrar porque estou assim e porque estou perdendo a minha vida. Minha atividade cerebral está diminuindo, porque não tenho toda a eternidade. Minha família quer desligar os aparelhos porque eu disse que queria assim, pois sabia que se minha atividade cerebral acabasse, eu nunca mais acordaria.

– Hinata, isso não faz sentido… - Naruto murmurou tentando rir, mas até mesmo sua risada saiu sem forças.

– E estarmos conversando agora quando na verdade estou em um quarto, prestes a morrer faz sentido? - mesmo com todo o tom de Naruto, Hinata ainda era gentil, porém muito mais firme.

– Não, não faz… eu sempre achei que estivesse mesmo ficando louco…

– É melhor acreditar que está ficando louco do que nisso? - os olhos de Hinata lacrimejaram, mas ela respirou fundo para não deixar as lágrimas caírem.

– Sim! Ou então tudo que sempre acreditei e defendi irá por água abaixo e se isso acontecer, o que me sobra? - a resposta não veio em palavras. Hinata apenas olhou pra baixo, deixando um curto suspiro sair.

– Você encontrou o endereço, na minha mão. O deixei lá para caso alguém quisesse saber, caso você quisesse conhecer. Mas meu tempo acabou. Eu apenas lembrei, acredito, porque eu precisava lembrar. E você não acredita…

– Não, ainda não acabou. Olha, amanhã irei falar com sua família. Sou bom em convencer as pessoas…

– Isso não vai adiantar. Eu irei mesmo assim, agora sei disso. - a morena passou as mãos pelo rosto, dando um pequeno sorriso triste. - Você queria saber porque estou desistindo, por que não seria a mesma coisa. A resposta é por sua causa. Eu não poderia acordar sem você, realmente não. E não posso o obrigar a acreditar. A me amar…

Aquelas palavras simples tinham um peso maior do que Naruto poderia aguentar. Enquanto Hinata se levantava ele se escorava no banco, permanecendo encostado ali a olhando surpreso. Um breve olhar da Hyuuga foi o suficiente para ele perceber que ela realmente estava indo. Haviam estrelas nos olhos dela, mesmo que esta não olhasse para elas naquele momento.

– Hinata… isso não faz sentido… não precisa… - ele tentou, uma última vez.

– Eu fiz minha escolha antes de te conhecer. - ela sorriu de maneira gentil. - Obrigada, Naruto-kun… apesar do pouco tempo, as coisas que aprendi e senti foram únicas.

Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa a menina levantou a barra do longo vestido e pôs-se a correr em direção a saída da fazenda. De imediato Naruto levantou, pensou em segui-la, mas se lembrou que ela não podia sair dali sozinha. Antes que esses pensamentos se concretizassem, antes mesmo que ela atingisse os limites da fazenda, uma breve luz, como um flash, impediu a visão de Naruto de continuar a observando. No segundo seguinte, ele não a via mais. Ela nem mesmo apareceu do seu lado, como dizia que acontecia.

Em um ato desesperado, sem pensar muito sobre aquilo, Naruto começou a correr. Talvez agora que já havia saído uma vez ela pudesse sair sempre. Não gritava para não acordar os pais, não acordar ninguém, mas a cada passo que dava seu coração parecia querer saltar para fora, correr antes dele. Ela não podia realmente ter ido. Será que teriam desligado os aparelhos? Correu além dos limites da fazenda, mas não havia nem sinal de Hinata. Onde ela estava? Ela não era assim tão rápida, ainda mais com a roupa que estava. Mas, definitivamente, ela não estava mais por perto.

Voltou correndo ainda mais rápido para casa, se é que ainda podia ser mais rápido. Desta vez não se importou com barulho, subindo as escadas o mais rápido que podia e tirando toda a roupa que vestia assim que entrara no quarto. Imediatamente começou a vestir outra, uma que pudesse ser visto na rua. Quando desceu as escadas ouviu um som no quarto dos pais. Não parou, não tinha tempo. Correu para o carro, ligando e imediatamente pisando fundo no acelerador.

Naruto nunca dirigira tão rápido, mas também nunca sentira como se seu coração fosse pular para fora do peito, como naquele momento. Ele precisava chegar no hospital. Era madrugada, mas a família de Hinata poderia ter escolhido aquele momento, para não deixar que a irmã mais nova da moça ficasse sabendo o que tinham feito. Parou em uma vaga qualquer e pulou do carro, empurrando a porta para que ela se fechasse com certa violência e correu para dentro do hospital.

A enfermeira na recepção, junto a recepcionista, estava apoiada ali no balcão despreocupadamente. Era a mesma que tinha feito o comentário malicioso quando Naruto visitava Hinata e ela o reconheceu assim que o mesmo parou derrapando em sua frente.

– Querido… o que faz aqui? Olhe a hora! - amorosa, percebeu como Naruto estava ofegante e o olhava preocupada.

– Hinata… ela está bem? Ela está… viva? - a voz saía com dificuldade, mas nada se comparava ao desespero de perguntar se ela estava viva e receber uma resposta negativa.

– Sim querido, claro que ela está. Por que está perguntando isso? O que faz aqui a essa hora?

– Quando a senhora a viu? A família dela está aqui? Posso ir a ver?

– Desculpe querido, mas não posso deixar ninguém entrar no quarto agora. Tente se acalmar, por favor. - ela indicou uma poltrona a uma curta distância de onde ele estava, mas Naruto ignorou. - Eu a vi há alguns instantes, não tinha ninguém lá.

– Ninguém? Espera… - Naruto respirou fundo, tentando organizar os pensamentos que vinham todos de uma vez. - Ninguém assinou os papeis?

– Papeis? Que papeis?

– Os… - ele parou ao notar que ela não sabia mesmo do que ele falava e isso significava que não havia perigo. - Nada, nada não… Eu não posso mesmo a ver? Dois segundos que seja… Por favor?

– Eu não… - mas então os olhos daquela senhora encontraram os de Naruto e ela percebeu o desespero que se passava ali. Rendida, talvez tocada por algum sentimento, ela suspirou e acenou para que ele a acompanhasse. - Eu não deveria estar fazendo isso, então, por favor, quando o chamar você vem, ok?

– Claro, claro… Muito obrigado! - ele se apressou. Quando a enfermeira abriu a porta, Naruto foi para dentro, olhando tudo em volta em busca de Hinata, mas ela não estava ali. Se Hinata não estava ao lado de seu corpo, talvez tivesse ido ver a família e por mais que quisesse ele não poderia aparecer na casa dos Hyuuga àquela hora sem uma boa desculpa, coisa que não tinha ainda.

Sob o olhar curioso da enfermeira, Naruto caminhou até a jovem na cama e apenas pegou a mão dela, fitando o rosto tranquilo que parecia apenas estar dormindo. Era como se ela fosse acordar a qualquer instante e ele realmente queria aquilo. Mas era justo? Hinata tinha dito que não poderia acordar e saber que ele não a amava. Isso significava que apesar de toda aquela loucura ela o amava? A simples ideia de tal coisa o fez sentir-se entranho. Não era algo que lhe fazia mal, mas que o deixava ansioso para encontrar a menina, para dizer que deveriam tentar. Sim, mesmo que ele ainda não a amasse, então eles poderiam se conhecer e isso seria melhor do que a perder sem ter qualquer chances.

Foi então que ele lembrou do endereço. Enfiou as mãos nos bolsos, um pouco apressado demais. Aquela era a calça que estivera durante o dia, se bem se lembrava, afinal a tinha jogado de qualquer jeito no quarto e agora a tinha vestido porque fora a primeira que vira. E não se enganou. Após tatear dentro do bolso esquerdo tirou de lá o papel com o endereço escrito em uma letra muito bem desenha. Ele sorriu ao lembrar-se que aquela era a letra de Hinata.

– Vou te achar. - ele sussurrou, dando um rápido beijo na testa da menina na cama e se apressou para fora do quarto. - Muito obrigado. Vou tentar voltar amanhã em um horário melhor. Mas muito obrigado mesmo. - sem esperar sequer uma resposta da enfermeira ele se apressou em sair do hospital, não correndo, é claro, mas o mais rápido que podia.

Assim que alcançou o carro, pulou para dentro dele e observou melhor o mapa da cidade que tinha guardado ali. Apesar de ser uma cidade pequena, sempre haviam alguns lugares que não se costumava ir e Naruto percebeu que aquele era um deles. Após memorizar as rotas que deveria tomar para chegar ao local deu partida com o carro, dirigindo o mais rápido que podia e que não lhe complicaria depois. Parou apenas uma vez em um posto 24h, apenas para não correr o risco de ficar sem combustível. Se arrependeu de não ter comprado chocolates para se manter acordado, mas apesar do corpo o pedir para dormir, ele se sentia bem elétrico para conseguir o fazer.

Viu o sol nascer enquanto dirigia e foi pouco depois disso que parou o carro no lugar onde deveria ser o endereço indicado, mas tudo que via era um paredão de plantas. Por um instante apenas conferiu o mapa novamente, andou de um lado ao outro daquela rua, percebendo que estava sim no endereço certo. Então por que ali não tinha nem mesmo uma casa? Um muro de plantas. Pulou do carro, o trancando e jogando a chave no bolso e começou a andar em volta do muro. Havia algo errado com aquilo. Não era algo que surgia no Japão. Não era normal ter algo assim no Japão, então, se perguntava, o que era aquilo?

Curioso, Naruto levou a mão, buscando o muro e talvez lugares onde pudesse apoiar as mãos e pés e pular. Talvez até um portão escondido, mas conforme abria espaço para suas mãos entre as plantas, percebia que não havia nada sólido. Seu braço já estava quase inteiramente dentro daquele muro e nada. Parou, exatamente como estava e olhou em volta assustado. Que lugar era aquele? Tentou puxar o braço para fora, mas não conseguiu. Estava preso. Em um momento de desespero, começou a puxar os braços e sentir leves fisgadas. Provavelmente haveriam espinhos ali, sentia arranhar em seu braço e mesmo não tendo nada o prendendo, sentia que estava preso.

Tentou então ir mais fundo em vez de voltar e qual foi sua surpresa quando conseguiu. Agora estava com o corpo colado ao paredão de plantas, os braços completamente para dentro e seu rosto colado ali também. Respirava com dificuldade, um pouco entre o desespero e a excitação. Poderia ir adiante, sem saber se ficaria preso ali para sempre, ou poderia perder os braços tentando sair. Lembrou-se de Hinata. Se ela tinha mesmo ido ali, então tinha passado por tal muro. Ele precisava saber o que tinha além dali. Com essa escolha, essa determinação, Naruto continuo. Tentou abrir espaço para que pudesse entrar, mas as folhas e galhos não se moviam a não ser que ele entrasse.

Por mais estranho que achasse toda aquela situação, não conseguia pensar em nada, não conseguia tentar arrumar uma desculpa lógica para aquilo e muito menos cogitava acreditar nas coisas absurdas. Ele apenas tinha em mente continuar. Continuar para encontrar Hinata ou, ao menos, respostas. Ali era o lugar e a cada passo que dava ele tinha mais certeza. A cada passo, mais o ar parecia se comprimir. Mais arranhões marcavam sua pele exposta e até a que estava coberta pela roupa. Naruto sentia fisgadas e cortes e por vezes chegava a sentir os espinhos perfurando sua pele, mas não tinha como voltar, mesmo que quisesse. Tinha de seguir adiante.

Poderia ser noite e ele não saberia dizer. No meio daquelas plantas, folhas e espinhos era tão escuro quanto. Tão claustofóbico quanto estar preso em uma caixa fechada. E quando seu cérebro começou a pedir ar, causando-lhe tonturas, sentiu seu corpo desabar no chão. Estava longe das plantas, agora em uma campina limpa a com o sol brilhando. Respirou diversas vezes, pegando o máximo de ar que podia e depois disso se afastou do muro com rapidez e certo desespero. Virou-se, ficando de barriga para cima e só então abriu os olhos. Não acreditava onde estava.

Era exatamente como Hinata havia descrito. Um chalé não muito grande, apesar de ela não ter dado esse detalhe, no meio de uma campina que era cercada por nada mais, nada menos, do que o mudo de plantas. Olhando ali, Naruto percebeu que era um lugar pouco explorado, apesar de grande e que o muro era incrivelmente grosso. Não tinha ideia de quanto tempo passara o atravessando, mas soube que não fora pouco. Como conseguira, era o que se perguntava.

Assim que ouviu o barulho da porta se abrindo o Uzumaki se levantou apressado e ficou observando a figura que saía de lá. Primeiro viu apenas a barra do longo vestido preto, esvoaçando. Depois, enfim, seu contorno ganhou forma e seu rosto ficou completamente visível sob a luz do sol. Lá estava uma senhora que Naruto não sabia se era muito idosa ou não. A cada vez que olhava ou que fixava seu olhar no rosto dela, lhe aparentava algo diferente. Ele não se moveu conforme ela se aproximava, sua curiosidade era maior do que seu receio. Seria aquela a mulher que Hinata falara na história? Bem, até aquele momento tudo era exatamente igual, ainda que não fizesse nenhum sentido.

– Ora, acho que você finalmente veio pagar pra ver, não é assim que falam?

– O- O que? A senhora me conhece? Quem é você?

– Vamos com calma. Uma pergunta de cada vez é melhor. Não quer entrar? Acho que passou por um aperto agora a pouco, não é mesmo? - ela abriu um sorriso sarcástico. Naruto não gostou nenhum pouco disso, mas realmente não se sentia confortável com todos aqueles arranhões. - Mantenho a porta aberta se não estiver confiante. Não que tenha como passar de volta pelo muro sem a minha permissão, mas…

– Resumindo, estou preso aqui com você.

– Apenas por enquanto. Afinal, veio aqui por algum motivo, certo? Vamos apenas resolver isso e logo poderá ir, acreditando em mim ou não.

– Assim, na boa?

– Sim. Por que não seria na boa? - ela realmente parecia confusa com a pergunta de Naruto, mas sem dizer mais nada, no segundo seguinte estava caminhando para dentro da casa. Por mais desconfortável que se sentisse, Naruto se viu a seguindo, curioso pelas respostas que ela poderia lhe dar.

Assim que entrou, percebeu que deveria haver alguma coisa de errado. O lugar era maior do que imaginava e muito antigo também. Todos os móveis eram rúticos e apesar de não terem poeira, também não havia sinais de que estavam sempre em uso ou mesmo que alguém tocasse nos mesmo há muito tempo. Aquilo lhe fez ficar desconfiado e, percebeu, era do pior jeito possível. Apesar disso, a lareira estava acesa e um pequeno fogo ardia ali.

– Sente-se. Fique a vontade. - ela indicou um poltrona na frente da qual sentara. - Gostaria de um chá, um suco… ou uma água?

– Não, obrigado. Gostaria apenas de resolver isso para ir embora.

– Assim não resolveremos nada. Sente-se. - e pelo tom mais sério, Naruto acabou fazendo o que ela dissera. - Vou pegar algo para esses cortes e então poderemos conversar com calma, sim? - novamente o tom de voz voltou ao gentil e amável e aquilo deixou Naruto um tanto assustado. Nem mesmo sua mãe mudava de humor assim tão rapidamente.

Olhando melhor aquela sala de estar antiga, Naruto percebeu um pequeno altar com imagens tipicamente japonesas. Algumas pequenas velas estavam acesas, mas sentia que faltava alguma coisa ali, também. Seus pensamentos foram interrompidos quando a senhora entrou novamente, agora carregando uma bandeja com xícaras e biscoitos. Apesar de estar bem na sua frente, Naruto não pegou até que a mulher colocasse em suas mãos. Não queria comer ou beber ali, mas pelo olhar da mulher sobre si, não tinha outra escolha.

No mesmo instante que bebeu sentiu um calor se espalhar pelo seu corpo, como se caminhasse por todo ele, buscando algo. E de fato buscava. Quando olhou para suas mãos elas não estavam mais com grandes arranhados, mas sim finas e levem marcas que só ficariam assim depois de vários dias. Assustado o loiro praticamente jogou a xícara sobre a mesa e se levantou.

– Que merda é essa?

– Oh, que linguajar feio. - ela o repreendeu, como uma avó faria. - Estou apenas lhe ajudando. Não queremos que saia por aí dizendo que o machuquei, não é mesmo?

– A senhora é louca. O que fez com a Hinata? Vou cair em coma aqui também?

– Me diga, o que sente por aquela menina?

– O que? Não mude de assunto! - ele a acusou, erguendo um pouco a voz. Aquela mulher o deixava muito nervoso. Queria pegar respostas e sair, achar Hinata e resolver tudo aquilo.

– Não estou mudando de assunto. Minha resposta depende do que sente e no que acredita. Ela deve ter lhe dito alguma coisa, para estar aqui. - Naruto ficou quieto e então um sorriso triunfante apareceu nos lábios da mulher. - E você acredita no que ela disse?

– Não faz sentido…

– Mas está aqui e está vendo tudo com os próprios olhos.

– Ou estou imaginando. Vai saber…

– Acha mesmo que a mente humana é tão criativa assim? E se for… você imaginou que fala com uma menina que está em coma? Querido, você que não está mais fazendo sentido tentando ser racional.

– Quer o quê? Que eu diga que sim, é verdade que essa maluquice estranha existe? O que vai mudar?

– Muita coisa. - novamente se fez o silêncio e Naruto se sentou. - Se você não acreditasse em nada, não estaria aqui. Você a viu por um motivo.

– E qual seria esse motivo? - ele cruzou os braços a encarando entre o ceticismo e a curiosidade.

– Hinata veio até mim pois acredita no amor. Ela veio até mim acreditando que eu conseguiria lhe mostrar o amor, lhe apresentar a ele. - Naruto continuava a olhando da mesma forma, como se esperasse a hora que ela esclareceria as coisas e não que continuasse complicando. - Ela lhe contou o que lhe falei?

– Apenas a veria quem… - ele parou, sem se lembrar exatamente das palavras. Fechou os olhos, buscando a hora em que Hinata disse aquilo, no jardim, ainda de noite. - Que a veria a quem estivesse o coração dela destinado. - ele se lembrou, abrindo os olhos um pouco assustado. Era aquilo que aquela senhora sugeria? - Oh, não, não… ta dizendo que eu sou “dono” do coração de Hinata?

– Ainda não. - se possível Naruto pareceu ainda mais surpreso. Estava prestes a falar algo quando a mulher continuou: - Disse que o coração dela está destinado a você. Pode chamar de almas gêmeas ou qualquer outra coisa, eu prefiro ver como pessoas que estão mais propensas a se amar verdadeiramente. Vocês podem encontrar e ficar com outras pessoas, mas nunca será como um com o outro. Juntos e o mais verdadeiro que pode ser.

– Você é o que? Uma bruxa?

– Ah, não. - desta vez a senhora gargalhou. - Eu prometo que logo vai saber o que e quem sou, mas por enquanto… Hinata. Voltemos a ela, não é mesmo? Afinal, o tempo dela está acabando.

– Por quê? - o loiro perguntou desesperado.

– Porque ela acredita que você não a ama. - Naruto ficou desconfortável quando ouviu aquilo. - Sabe, amor não é apenas você querer se casar com ela agora, ele cresce, ele muda… Eu arriscaria dizer que a ama, ou não estaria aqui. Mas… ela acredita que você não a ama, mais ainda… que você não acredita nela. Você acredita?

– Eu não sei… - murmurou um pouco incerto, olhando para o chão. - Se eu não acreditasse não estaria aqui, certo? - ele a olhou e ela acenou. - Mas também não faz sentido.

– Qual o sentido de uma pequena semente virar um grande planta? Como se explica um pouco de terra, água e luz fazer essa mudança?

– Não é a mesma coisa…

– Ah, não? - ela o desafiou e ele se sentiu um pouco intimidado por isso. - Precisa se decidir. Hinata veio até mim para encontrar o amor, ela estava disposta a perder a vida por isso, por você, já que foi quem a viu de verdade.

– Mas por que ela precisaria perder a vida?

Com um suspiro, a senhora se ajeitou em sua poltrona e o encarou por longos segundos. Naruto se perguntava se ela o responderia ou continuaria insistindo em dizer que ele precisava acreditar.

– Você conhece a história dos deuses Izagami e Izanami? - Naruto acenou, afirmando. - Como sabe então, eles são deuses menores, responsáveis pela criação. - ela testava o conhecimento de Naruto, que apenas acenava, confirmando. - Sabe então que Izanami morreu ao dar a luz à Kagutsuchi e com raiva, Izagami matou o novo filho. - novamente Naruto acenou, afirmando, tentando entender onde chegariam com aquela história. - Da morte e nascimento de um deus nascem mais deuses, mas nem todos são adorados ou mesmo conhecidos. - novamente, e agora impaciente, Naruto afirmou. - Deve estar se perguntando onde quero chegar. - e um novo aceno. - A deusa do amor, da luxúria e da paixão foi criada com a morte de Kagutsuchi, isto porque Izagmi o matou movido a esses sentimentos também. Mas Izamani tornou-se a deusa do mundo inferior após morrer e não podendo ficar com seu marido, amaldiçoou o amor e consequentemente, a deusa.

– Ok, isso já está ficando loucura. Mas não quero saber, quero saber onde Hinata e o que ela está passando e a senhora se encaixam nisso.

– Estou condenada a passar todos os dias de minha eternidade na Terra, unindo casais. - Naruto parou até de respirar naquele momento. - Tenho um corpo, tenho uma casa e tenho uma prisão. A cada vez que um lugar precisa muito de mim é pra lá que me mudo e ao redor dele se forma o muro de plantas pelo qual teve de passar. Esse, por sorte, foi algo que Izagami me deu, para que pudesse evitar grandes catástrofes. Nem todos estão prontos para acreditar e se não acreditar, não se está pronto para amar também.

– Não entendo…

– Sou a deusa do amor, da paixão e da luxúria. Não possuo um nome fixo, pois fui amada e odiada desde a minha criação. Posso fazer com que qualquer pessoa encontre seu amor verdadeiro, mas como preço, a pessoa dormirá. Sua alma precisa encontrar o amor e é isso que acontece. Apenas a quem o coração se destina será capaz de ver tal alma e a encontrar. Mas caso não se acredite, um dos dois deverá seguir para Izanami. Não é algo que me orgulhe, mas não posso evitar, ainda sou uma deusa menor do que ela.

– Isso é loucura. A senhora está muito louca. - Naruto ria, porque não podia acreditar que aquela mulher era mesmo uma deusa. Uma de verdade e que ainda podia ter a vida de Hinata nas mãos. - Isso tudo é uma loucura.

– Como explica ver Hinata?

– Eu… eu não sei, ta legal? Mas não pode ser isso!

– Você já ouviu aquele conto americano? Como é mesmo o nome que deram? Ah, sim, A Bela Adormecida…?

– Ah não, não me venha com isso não! - novamente Naruto estava de pé, perdendo o controle de si.

– Aurora foi uma doce menina, mas não tinha certeza de o príncipe era mesmo o que seria certo e me procurou. Todos me colocaram como a vilã por ela ter dormido, mas ninguém sabe que ela que me pediu. Ela me implorou na verdade. E foi assim que o príncipe descobriu o que acontecia e onde ela estava, ou acha mesmo que ele pararia lá atoa? Ele acreditou nela e a amou de verdade. Foi um bom final, na verdade. Nem todos tiveram a mesma sorte. Alguns enlouqueceram depois que não viram mais suas metades.

– A senhora só pode estar de brincadeira. - o loiro ria, um pouco nervoso. - Hinata não pode acordar com um beijo. Isso é ridículo demais. É…

– É mentira, claro. Teve o beijo, mas foi o sentimento do príncipe que a acordou. Ele acreditou nela, lembra? Ela soube disso e não havia mais por que continuarem separados. Não sou eu quem decido quando ela acorda ou não.

– Então por que está dizendo que Hinata não vai acordar?

– Não presta atenção não é mesmo? Acabei de dizer que você não acreditou e ela sabe disso. Ela está desistindo. Isso é o que muda tudo.

– Não posso me obrigar a acreditar.

– Na verdade, você pode se permitir. - agora ela estava gentil, como uma avó tentando fazer o neto compreender as coisas simples, como o porque de o bolo crescer.

– Eu não… - Naruto começou, mas parou. Ele queria acreditar em todas aquelas coisas? Como poderia? Sua vida era boa da maneira simples que era e se tudo mudasse? Como se soubesse que todas aquelas perguntas lhe rondavam a mente, a senhora se levantou sem qualquer dificuldades e apenas apoiou a mão no topo da cabeça loira.

No mesmo instante as imagens vinham a mente de Naruto uma de cada vez, sem dar tempo para que ele pensasse muito sobre elas. Primeiro, Hinata parada com aquele lindo vestido no meio de seu jardim, era a primeira vez que a tinha visto. Depois, seus olhos perolados, únicos, brilhando sob a luz da lua e na direção dele. Logo em seguida, seu sorriso, doce e tímido que fez com que o loiro fraquejasse onde estava. A voz, os gestos, as risadas e a forma como ela parecia sempre atenta. Hinata era uma menina doce e gentil, delicada demais pra ser qualquer coisa menos que uma princesa. Era por isso que ela estava com aquela roupa, ele percebeu em meio as suas lembranças, porque ele a via como ela era: uma verdadeira princesa.

Como começou, acabou. As lembranças passaram assim que a mulher tirou a mão de sua cabeça e ela tinha um sorriso irônico nos lábios, o desafiando a não acreditar mais. Mas ele não podia mais fazer. Não tinha certeza se ela estava certa, se eles realmente estavam destinados a ficar juntos. Não se importava também o que as pessoas iriam dizer por ele estar tão interessado em alguém que não conhecia, que na verdade ele conhecia bem demais em tão pouco tempo… Ele apenas precisava dizer a ela que queria tentar, que queria ela ao seu lado para tentarem. Com uma breve troca de olhar com a “deusa” ele se levantou e começou a correr. Ao parar em frente ao muro ela acenou, confirmando para ele continuar e desta vez nenhuma planta, galho ou espinho lhe arranhou.

Naruto não soube como conseguiu dirigir com sua cabeça tão cheia e tão longe. Ele não tinha certeza se era para aquele lugar que deveria ir, mas precisava ir para algum. Não sabia se veria Hinata ali, afinal, não era ali que ela tinha ido depois de sumir de sua casa, de seu jardim. Mas lá estava ele, parando o carro no estacionamento do hospital e caminhando para o mesmo em passos rápidos mais não desesperados.

A mesma enfermeira estava na recepção, não era aquela que tinha lhe deixado entrar, ele percebeu, era apenas a recepcionista. Perguntou se podia ver Hinata e ela ficou apreensiva. Naruto não gostou daquilo. Gostou menos ainda quando ela pegou o telefone e falou alguma coisa incompreensível. Após alguns instantes a enfermeira da noite chegou, apressada, o puxando para o lado.

– A família de Hinata está lá dentro, não posso deixá-lo entrar agora. Mas…

– Eles vão desligar tudo não é mesmo? Não podem fazer! - sem perceber, Naruto estava aumentando o tom de voz.

– Foi um pedido dela. Eu achei que vocês…

– Ainda não. Não, eles não podem atrapalhar, não podem.. - o loiro começou a andar para a direção do quarto, por mais que a enfermeira tentasse, não conseguia acompanhá-lo e na verdade, ela não queria também.

Assim que entrou no quarto Neji e o Sr.Hyuuga se viraram na direção dele. Havia um médico perto do corpo de Hinata. Ignorando os dois homens ele se aproximou da menina, percebendo só então que ela, a que só ele via, estava ali também, surpresa com sua presença.

– Você é maluco? Quem pensa que é? - Neji parecia outro, se aproximando dele com uma fúria que não imaginava em outra pessoa se não em Hiashi.

– Não podem desligar. Não podem matá-la! - sem pensar muito, o loiro pegou a mão de Hinata.

– Como você…? - Neji começou, mas Hiashi o impediu de continuar.

– O que é da minha filha, afinal, garoto? - seco, frio. Até mesmo Hinata estrecemeu com a frieza no olhar do pai para Naruto.

– Alguém que aprendeu a gostar de sua filha em um pequeno tempo e que agora… gostaria de ter ela por perto para poder aprender a gostar dela da forma como ela merece. - dizendo aquilo, ele se virou para Hinata, para aquela que apenas ele via. - Não vai, não… - ele pediu em um sussurro.

Antes que tudo se complicasse ele a viu sorrir, ele a viu chorar, se emocionar. Mas então veio o que lhe parou o coração. O som do coração de Hinata parando e ela sumindo, bem na sua frente.

– Não! Não, Hinata! - e sem pensar, em meio ao seu desespero, ele se abaixou, apoiando as duas mãos no rosto macio e a beijou.

Não durou mais que alguns segundos, pois logo tanto o Sr. Hyuuga quando Neji estavam afastando Naruto da menina e o médico pedia que trouxessem o desfibrilador. Tudo acontecia muito rápido, as pessoas corriam afoitas na direção do quarto e Naruto tentava se soltar dos dois homens que pareciam não se importar se a menina sobrevivesse. Antes porém que o médico pudesse usar o aparelho, um som interrompeu todo o movimento. O leve e vibrante “bip” do aparelho mostravam o coração de Hinata forte, voltando a bater.

O aperto no braço de Naruto foi solto e logo o loiro cambaleou na direção da cama, onde enfim viu os olhos perolados reais, vivos. E também confusos. Hinata olhava em volta assustada e parou seus olhos nos do pai. Mas este não disse nada. Estava em choque e se sentindo culpado por quase a ter matado, assim como Neji. Então pérola e azul de encontraram. Naruto levou a mão até a dela, mas Hinata a afastou, o olhando assustada.

– Que-Quem é você?

– Naruto. Você… você não lembra de mim? - e ao olhar nos olhos incertos, inocentes, ele soube que ela não se lembrava mesmo. Todo seu mundo desabou em um breve aceno.


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