Avatar: A lenda de Mira - Livro 2 Ar escrita por Sah


Capítulo 17
Reeducação


Notas iniciais do capítulo

Com a manutenção do Nyah, eu tive que atrasar o capítulo. Assim eu compensei fazendo esse capítulo maior que o normal.



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Mira

Eu estava atônita com as imagens que eles me mostravam. Um garoto de aparentemente 17 anos sendo forçado a fazer coisas tão degradantes que me davam enjoo.

— Por que vocês estão me mostrando isso? – perguntei logo no início.

— Isso? Isso é o que esse governo irá fazer com você. Essas são as últimas imagens do Avatar Haru.

Senti um mal estar instantâneo.

Em um dos vídeos o garoto estava com o olhar perdido, as olheiras profundas e os ossos da face aparentes. Tubos estavam ligados as suas costas, de repente seus olhos começaram a brilhar. O teto desabou e uma coluna de fogo atingiu a câmera, depois só estática.

— O que aconteceu? – Perguntei apesar de enjoada , queria saber o que tinha acontecido.

— Essas foram às últimas imagens gravadas, Haru nunca mais foi visto depois daquilo, e agora sabemos bem o porque.

Eles haviam me levado para uma sala, ela era ampla e até que confortável, comparando com todo o prédio, eu imagino que aqui ficava a sala do diretor da prisão. O ar condicionado era barulhento e um discreto cheiro de gasolina era percebível. Apesar do prédio não possuir janelas, nessa sala havia uma falsa com uma imagem estática de uma praia.

Meu pai não veio conosco, ele não me olhou direito nenhuma vez desde que eu cheguei.

Um silêncio profundo se instaurou depois que as filmagens acabaram.

— O que você espera de mim? – Falei quebrando aquele silêncio desconfortável.

— Apenas que você cumpra o seu papel como Avatar.

— E qual é esse papel?

— Apenas queremos liberdade e paz. O seu papel é trazê-los para nós.

Eu não estava convencida. Eles compactuaram com a União do fogo, machucaram inocentes no festival, e agora vem com esse papo de paz? Quem eles querem enganar?

— Você deve estar imaginando, que nossos métodos não são tão pacíficos. Mas acredite o único meio para alcançarmos a paz é por meio da revolução, e revoluções requerem mártires.

— Você fala como se aquelas pessoas tivessem opção.

Ele suspirou.

— Sim, algumas coisas não saíram como planejado.

Ele parecia afetado, pela primeira vez eu vi um pouco de sinceridade nele.

— Como eu ia dizendo, a UCG é contra os métodos que o governo usa para nos dominar. O governo não é só formado pelo presidente, existe um conselho secreto que decide os rumos de Republic City, quando não influenciam as outras nações.

Eu sabia muito bem o que ele estava dizendo.

— Temos algumas notícias que a União do fogo finalmente começará os ataques, e a condição para que isso não aconteça é que Republic City entregue todos os dobradores de fogo restantes, inclusive você.

— Eles não irão fazer isso.

— Sim, eles não vão, mas pense bem. Se a vida de milhões dependesse da vida de apenas cem, o que você escolheria?

Eu pensei e repensei, não havia muitas saídas, mas eu não cederei tão facilmente, eu vou lutar até o fim.

— Eu escolheria lutar, eu não sou tão altruísta a ponto de trocar a vida das pessoas que eu gosto por outras que não fariam falta para mim.

— Você é corajosa por pensar assim. Quando você tiver que cumprir o seu papel, nada disso ira importar.

Ele saiu da sala e me deixou sozinha.

Eu estava relaxada, eu não sentia mais a tensão por estar aqui.

Percebi que fui trancada, isso não era uma surpresa. Peguei uma garrafa de água que estava sobre uma mesa e joguei na fechadura, a congelei logo em seguida. Com um chute, o metal já antigo, se despedaçou.

Andei livremente pelo prédio sem encontrar ninguém. Como o meu pai está bem, eu acho que posso ir embora, não há nada que o fará desistir disso por agora. A teimosia é um dos nossos traços mais parecidos.

Me deparei com uma escada em espiral que descia para uma espécie de subsolo. Desci com cuidado. Eu podia ouvir uma voz exaltada, gritando ordens, e um coro de vozes respondendo.

Era um galpão lotado. Havia pelo menos mil pessoas ali. Esse lugar ultrapassava os limites do prédio, possivelmente duas quadras. O que o governo faria se descobrisse que a UCG tomou conta do Subsolo? As pessoas começam a olhar para mim e cochichar, Zun não está por aqui.

Eu reconheci vizinhos da cidade da Fuligem. O moço da padaria, o motorista do ônibus e até alguns daqueles garotos que foram queimados pelo Riku. Eles estão formando um exército.

— Isso é lindo não é? – Viro para trás, e vejo o meu pai. Posso finalmente perceber o seu estado. Seus olhos estão fundos, e as olheiras bem aparentes. A barba está por fazer e as roupas bem sujas.

Sinto vontade de abraça-lo. Mas me contenho.

— Você ainda pensa em fazer parte de tudo isso?

— Eu sou parte de tudo isso. – Ele finalmente olha diretamente para mim. – Zun me pediu para falar com você. Nós precisamos que você faça uma coisa.

Eles ainda têm a audácia de me pedir algo. Mas ao olhar para o rosto de expectativa do meu pai, e ao lembrar de tudo o que o governo fez, eu realmente fico balançada.

— O que é?

— Um dos nossos mais importantes líderes foi preso.

— Isso não é surpresa.

— Ele está em uma prisão especial localizada no deserto. Ele é um dobrador de água.

Saber que a pessoa é um dobrador me deu um incentivo a mais.

— Por que você acha que eu farei qualquer coisa pela UCG?

— Zun disse que esse é o seu destino.

— O que eu terei que fazer?

— Você levará uma mensagem a ele.

— Uma mensagem? Que tipo de mensagem?

— Você. Ele precisa te conhecer.

— Essa será a sua chance de provar que pode ser útil, que acredita na nossa causa. Assim poderemos ser uma família de novo. Wana não vai nos atrapalhar. Será somente eu, você e seus irmãos.

Assim ele me abraçou. Lágrimas salgadas começaram a descer pelo meu rosto.

Todas as pessoas viram o que havia acabado de acontecer, ela começaram a aplaudir. Naquele momento eu me senti querida, eu me senti em casa pela primeira vez em anos.

— Eu farei isso. Eu o encontrarei.

Zun havia arrumado tudo, como se soubesse que eu iria aceitar tudo isso. A prisão ficava no deserto de Laogai, a maior nação proveniente do reino da terra. O maior parceiro comercial de Republic City.

Ele havia enviado mensagens à prisão, eles saberiam que eu estaria indo lá, pelo jeito eles têm gente infiltrada em todo o lugar.

— Eu irei sozinha?

— Eles não confiam em ninguém, nem nos próprios funcionários. Sozinha você terá uma melhor chance.

— Mas eu poderia levar alguém comigo?

— Talvez, mas nenhum dos nossos está disponível, cada um tem a própria missão.

— E se fosse alguém de fora, alguém que não pertença a UCG?

— Se ele acreditar na nossa causa, eu não vejo problemas.

Eu havia pensado em Meelo, ele saberia o que fazer. Mas ele e Suni ficariam presos por suas honras, eles não trairiam a própria família. Assim eu pensei em uma pessoa, uma que não tem vínculos morais com esse governo. Riku, onde eu posso te encontrar?

— Riku? Aquele seu amigo? – Meu pai perguntou quando eu sugeri.

— Sim.

— Ele parece ser uma boa pessoa, uma que lutaria por alguma causa. — Meu pai realmente havia tido uma boa impressão dele.

O Riku normal vai hesitar, mas acho que o outro, o verdadeiro, insano e maluco vai querer fazer isso com certeza.

— Certo, Riku, seja quem for esse. Eu pedirei para alguém trazê-lo aqui – Falou Zun

— OK.

— Será a sua responsabilidade, se ele nos trair, é você que terá que dar um jeito nele.

Eu me sentia parte do grupo, eu estava abraçando essa causa, a tensão e o desconforto que eu sentia quando estava com qualquer pessoa do governo, foi substituída por uma ansiedade que estava começando a me consumir.

Eu fiquei assistindo enquanto Zun dava ordens a um grupo de pessoas. Eu não sei por que eu tive uma primeira impressão tão ruim dele. Ele é simplesmente inspirador. Suas palavras dão forças a esse pequeno exercito e me deixa cada vez mais empolgada.

Depois de um tempo eles me pediram para ir até uma sala, o meu amigo havia chegado.

Eles o trouxeram com um saco de pano na cabeça, ele estava imobilizado, pelo jeito havia tido luta, mas agora ele parecia conformado.

Eles não me disseram nada, fiquei tentada a perguntar o que havia acontecido, mas eu precisava conversar antes com o Riku. Assim fui deixada sozinha com ele.

— Riku?

Ele levantou a cabeça.

— Deixe que eu tiro isso de você. – Delicadamente eu tirei o saco de sua cabeça.

Seus olhos azuis estavam vermelhos. Ele me encarou por um tempo, assim seu rosto baixou em alívio.

— Que porcaria está acontecendo Mira? – Ele falou alto, mas logo se controlou.

Ele estava sob os efeitos dos inibidores.

— Posso soltar os seus braços?

Ele se ajeitou e me deixou soltá-lo. Ele massageou os pulsos, eles estavam vermelhos.

— Eu pedi que te trouxessem aqui.

— Você? Por quê?

— Eu preciso de alguém conhecido, que me ajude.

— Mas por que eu? Cadê o Meelo? Ou mesmo a Suni?

— Eles não poderiam me ajudar. Por que eu vou te pedir para trair Republic City.

Eu achei que ele teria uma reação diferente, que ele iria discordar no início, mas um brilho passou pelos seus olhos, um resquício do outro Riku.

— O que eu preciso fazer?

— Primeiro eu tenho que te explicar, tenho que te contar o que é a UCG

—Eu conheço a UCG. Um conhecido meu já trabalhou para eles antes. – Ele disse calmamente.

— Trabalhou?

— Minha vida é um pouco pior do que parece.

Pior? Tomar remédios para se controlar, para as pessoas não terem medo de você, aceitar tudo de cabeça baixa e ainda ser julgado por isso, não ter ninguém em se apoiar, a vida dele já é pior que a minha, e a minha vida não é fácil.

— Certo. – Falei sem graça. —Então posso contar com você?

— Sim, não há nada melhor que fazer, as aulas foram suspensas mesmo.

Eu expliquei o plano para ele, para onde iríamos, e o que teríamos que fazer.

Ele ficou pensativo.

— E o que você vai fazer com os rastreadores? -- Ele perguntou

— Rastreadores? Que rastreadores?

— Meelo me contou que o Sina também colocou rastreadores em você.

— O Sina colocou rastreadores em mim? E em você também?

Eu estava ficando transtornada. O Sina sabe o que eu estou fazendo?

— Sim, depois que eu fugi, quando eu fui ao hospital para pegar mais remédios, Sina pediu para os médicos incluírem rastreadores nas minhas doses. Assim em quanto eu estiver sob os efeitos dos remédios, eles saberão onde eu estou.

— E eu? Eu não tomo nenhum remédio.

— Pelo o que o Meelo me disse, foi quando você estava em coma.

Eu nunca me senti tão invadida. Essa revolta só me fez mais acreditar na causa da UCG.

—Tenho que contar isso para o Zun.

— Quem é Zun? – Riku me perguntou.

— Eu sou Zun. – Ele entra na sala, usando o seu sorriso mais compreensivo.

— Me perdoe por essa invasão de privacidade, mas todas as nossas salas são monitoradas. Eu ouvi o que vocês falaram.

— E o que faremos?

— Não temos tempo, mas assim que você chegar nós removeremos esse rastreador de você.

— Mas eles vão atrás de mim assim que souberem que eu cruzei a fronteira.

— Realmente, mas pelo menos teremos uma vantagem. Eles não sabem o que estamos fazendo, no mínimo vão achar que você está fugindo das suas responsabilidades para com o governo.

— Será?

— Pode confiar em mim. Eu sei como eles agem, temos gente infiltrada no mais alto escalão do governo, quando alguma coisa acontecer entraremos em contato com você.

Eu me senti aliviada, as palavras dele me deixaram tranquila.

— E quanto a ele? -- Falei apontando para o Riku.

— Ele só não tomara mais os remédios. Assim acho que eles ficaram menos preocupados se apenas souberem que você está fugindo.

— Está tudo bem para você, Riku?

— Na verdade, isso nem me afeta tanto, o problema vai ser para você, eu não sei se eu ainda irei concordar com tudo isso depois.

— Acho que teremos que arriscar.

Teríamos que sair hoje. Pelo jeito o aeroporto estava fechado, a guerra finalmente estava afetando os cidadãos de Republic City.

— Vocês terão que ir de ônibus pela fronteira. Laogai é um país grande, assim que chegarem a capital, Multar, no aeroporto alguém estará os esperando, você vão de jato até o deserto.

Zun explicava tudo com muitos detalhes, ele já havia planejado isso há muito tempo. Acho que até antes de eu descobrir ser a avatar, fiquei tentada em perguntar como ele previu tudo isso.

— Lá em Laogai, vocês deverão se passar por nativos, não sei como está a situação para dobradores de fogo, por isso Riku você terá que tomar cuidado, e você Mira, que parece uma legitima cidadã da União do fogo, mais cuidado ainda.

Ele nos entregou duas mochilas.

— Aqui tem dinheiro, comida, roupa, água, passaportes. O seu Mira está no nome da sua mãe, Kirina.

Olhei para aquele passaporte segurando o choro, esse será o meu nome em Laogai.

— E você Riku, temos que te dar um nome.

— Azur – Ele disse rapidamente.

— Certo. Azur. – Zun confirmou.

Depois de tudo arrumado. Nós seriamos deixados na fronteira, nosso único trabalho será passar pela barricada sem sermos reconhecidos.

Riku foi vendado ao sair. Fomos colocados em uma van. Meu pai estava dirigindo. Demorou 30 minutos para chegarmos à fronteira.

— Tenha cuidado. – Foi à única coisa que meu pai disse antes de me abraçar.

Tentei segurar as lágrimas, mas eu não conseguia mais. Acenei várias vezes quando ele ia embora.

Riku olhou para mim pensativo.

— O que foi?

— Há quanto tempo você está sofrendo lavagem cerebral por parte da UCG? – Ele perguntou sem cerimônias.


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