República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 4
A Festa de Frank




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Capítulo 4 – A Festa de Frank

No final da tarde da sexta-feira, Alice Flynn chegou em sua república após o trabalho, muito aliviada pelo término da semana. Entrou em sua casa e a primeira cena com a qual se deparou foi a de Sarah dormindo, esticada no sofá, com a revista Vanity Fair aberta e esquecida em seu colo. Alice revirou os olhos. Era realmente desanimador chegar em casa todos os dias após o estágio precedido pelas aulas matutinas e ter de encontrar a prima sempre dormindo no sofá.

Sarah não trabalhava. Não precisava. Seu pai lhe mandava uma quantia confortável todos os meses e, portanto, a jovem não precisava trabalhar para ajudar nas despesas da república. O sonho do Sr. Adams, o tio de Alice, era ter uma filha médica, portanto, tendo Sarah cursando Medicina era o suficiente para conceder-lhe aquela acolhedora mesada. Da sobrinha cursando Direito ele não tem orgulho, não é?, ela pensou, a caminho das escadas.

Alice dividia o quarto com Marlene e Helena. Marlene estava sentada em sua cama, com os cabelos molhados. Helena aparentemente ainda não havia chegado.

– Alice, corre se arrumar porque nós vamos sair hoje. – avisou Marlene, sorrindo.

– Vamos, é?

– A Sarah quer que a gente saia, ela tem visita, você sabe. E hoje é sexta-feira! Unir o útil ao agradável, o que acha?

Alice coçou o queixo e largou sua bolsa sobre sua cama.

– Por que a Sarah quer que a gente saia? Aliás, por que ela não vai morar sozinha logo?

Marlene riu tímida, como se concordasse intimamente. Mas ela jamais reclamava das colegas de república. Marlene jamais reclamava de qualquer coisa.

– Ela disse que terá visita hoje. E quer estar sozinha. Ela não foi tão grossa.

Alice revirou os olhos, cansada.

– A vontade que eu tenho é de ficar só para atrapalhar! Aliás, como se eu ficasse aqui no meu quarto pudesse atrapalhar alguma coisa!

– Alice, sair hoje não é má ideia. Hoje é o aniversário do Frank, aquele que cursa Engenharia com a Helena. Ele convidou todas nós, se lembra?

– O que mora na República Whisky de Fogo? Só conheço de vista, não sei se devo ir. – Alice retrucou, mal-humorada.

– Vamos! Aliás, ele também chamou todo pessoal do Comitê de Eventos! Vai ser divertido!

Alice se animou ligeiramente. Os alunos do famoso Comitê de Eventos de Hogwarts eram conhecidos por saberem organizar qualquer tipo de festa.

– É... Mais uma vez, terei de fazer a vontade da rainha Sarah.

Marlene sorriu e começou a pentear os cabelos enquanto Alice permaneceu imóvel em sua cama, um tanto emburrada.

– A Lily comentou que ia nessa festa hoje. – Alice comentou, distraída.

– Todos os nossos vizinhos vão, Alice.

Só depois de vinte minutos, Alice realmente decidiu que iria. Começou a escolher sua roupa com a ajuda de Marlene, que tentava animá-la. Mas simplesmente não conseguia ignorar sua raiva por Sarah. As coisas não podiam continuar assim. Não mesmo.

–--

A rua das repúblicas era peculiarmente uma das mais agitadas do bairro. Naquela mesma rua, havia ainda outra república muito barulhenta, coincidentemente a que era habitada exclusivamente por seres humanos do sexo masculino. Esta continha uma placa sobre a porta da frente, com o nome "República Whisky de Fogo", apelido que recebeu devido à presença desta bebida em todas as festas – praticamente semanais – da moradia.

As três casas se localizavam uma ao lado da outra, sendo a república de Lily a que se situava no meio. Os outros vizinhos da rua odiavam as sextas-feiras e os sábados à noite. Naquela noite, Frank Longbottom completaria vinte anos. E os vizinhos não iriam dormir - mais uma vez.

A República Whisky de Fogo era habitada por quatro rapazes: Peter Pettigrew, Frank Longbottom, Amos Diggory e Bill Jones. E, aos fins de semana, por dez vezes mais pessoas.

–--

A semana na república de Lily fora, para ela, particularmente estranha. Ainda não havia se acostumado com James Potter morando ali. Não sabia exatamente o motivo, mas ele não lhe parecia uma pessoa confiável. Eles mal se falavam, toda vez que se encontravam no trabalho agiam como se não se conhecessem, e Lily achava que tinha alguma coisa estranha com o olhar dele. Pelo menos, ele a olhava de um modo um tanto constrangedor e parecia sempre querer rir ou debochar de tudo o que ela falava.

Foi na quinta-feira à noite que Lily decidira manter distância dele. Ela estava em seu quarto, procurando seu pijama. Depois de finalmente encontrá-lo, fez menção de tirar a blusa que estava vestindo a fim de trocá-la, quando percebeu a porta entreaberta. E Potter a observando do corredor. Ela imediatamente interrompeu o movimento e estreitou os olhos na direção dele. Mal pôde acreditar que ele permanecera imóvel, como se esperasse pela continuação do show. O que ele está pensando?, Lily imaginou, enquanto andava até a porta, formulando inúmeras formas de enxotá-lo.

Mas ao alcançar a maçaneta, ela ficou momentaneamente sem reação, sem saber se precisava dizer alguma coisa. Na verdade, esperava um pedido de desculpas, mas Potter simplesmente sorriu, piscou um olho e desceu as escadas, suspirando, fazendo questão de aparentar grande desapontamento. Lily bateu a porta, ainda indignada.

No entanto, a ruiva não compartilhou a estranha experiência com as amigas. Talvez porque nem ela quisesse acreditar que Potter pudesse ter sido tão absurdamente infantil.

Lily voltou à realidade quando colocou um vestido verde esmeralda. Querendo se esquecer da noite anterior, a ruiva balançou a cabeça, e mirou-se no espelho. Os cabelos soltos e a maquiagem leve estavam conforme ela gostava. Àquela hora, ela provavelmente estava sozinha em casa, enquanto todos já estavam na República Whisky de Fogo. Só iria para a festa para se desestressar da longa semana que havia se passado.

Ao descer as escadas, Lily encontrou Potter na sala, sorrindo. Ela odiava aquele sorriso cínico. Era muita presunção para uma pessoa só, não podia ser possível. De qualquer modo, se ele quisesse irritá-la, não conseguiria daquela vez. Apostava que ele tinha uma piadinha indecente na ponta da língua.

– Vai ficar aqui? – Perguntou ela, enquanto passava por ele, sem olhá-lo.

–--

James olhou-a de cima abaixo, um tanto absorto na aparência de Lily Evans arrumada para um festa. Ele não se importava com a possibilidade dela se incomodar com o modo com o qual ele olhava para suas pernas, seus ombros, seu rosto. Afinal, Evans não usava muitos vestidos. James sentiu uma repentina vontade de dizer-lhe que ela estava linda, mas conteve-se.

– Estava te esperando para irmos juntos. – ele respondeu, enquanto seus olhos voltavam a encarar os dela. - Todos já foram.

– Me poupe, Potter. - Ela deu-lhe as costas, andando em direção à saída.

– Um cavalheiro não deixa uma dama sozinha, oras. – James lembrou-se da pequena caminhada para o trabalho ao lado de Evans, o que fez muito sentido. Ele fazia questão de andar, ao menos, bem próximo dela, mesmo que ela o ignorasse completamente. E como aquilo a deixava furiosa!

Os dois foram para a casa ao lado, que já exalava um certo barulho de música alta e conversas.

–--

Ao chegar, Lily encontrou Anita e Lorens sentadas próximas a Remus e Amos Diggory. Ela correu juntar-se a eles, para sair de perto de Potter. Este se encaminhou para onde Sirius o estava chamando, acenando, perto de Frank e Peter.

Lily sentou-se entre Lorens e Amos.

– Amos, onde está o Bill? – Perguntava Lorens, olhando a sua volta.

– Eu não sei, ele deve estar na cozinha. – Respondeu Amos. E virou-se para Lily – Lily, você quer uma cerveja?

– Agora não, obrigada.

Amos Diggory cursava o quarto ano de Astronomia. Tinha os cabelos ondulados e castanhos, olhos cor de avelã, e era, segundo a maioria da população feminina, muito bonito. Ele estava com uma garrafa de cerveja na mão esquerda, sentado em uma cadeira, displicente.

Lorens foi atrás de Bill. A campainha tocara mais uma vez e Frank fora receber os novos convidados, acompanhado por Sirius. A primeira a aparecer foi Marlene McKinnon, que estava elegantemente vestida de preto.

– Parabéns, Frank! - Ela o cumprimentou, sorrindo. - Oi, Sirius!

– Você está... - Sirius começou, olhando admirado para ela. - Magnífica, Marlene.

Marlene soltou uma risada tímida.

– Ok, ok, Sirius. Obrigada.

Logo atrás de Marlene, estava Helena. Sirius já tinha se afastado da porta, seguindo Marlene, tentando convencê-la de que ela estava realmente maravilhosa.

– Oi, Frank! Parabéns de novo!

– Obrigado.

Depois que Helena entrou, Frank notou Alice distraída, olhando para o céu, ainda na varanda. Parecia estar viajando tanto que nem notara que ele já havia aberto a porta e que suas amigas já haviam entrado.

– Hum... Alice? – Ele a chamou, incerto se esse era mesmo o nome dela.

Ela deu um leve salto e sorriu.

– Olá, Frank! Desculpe, eu estava distraída. Aliás, parabéns!

– Obrigado... ah, entre!

Alice sorriu e passou por ele, entrando na casa. Ainda estava aborrecida com Sarah, principalmente porque haviam discutido pouco antes de Alice sair. Frank observava o olhar distante de Alice, e Helena explicou baixinho:

– Não se preocupe, Frank, a Alice está chateada mesmo. Bom, vou atrás da Lene!

Helena infiltrou-se pela aglomeração de jovens, desaparecendo de vista.

– Com o que você está chateada? – Frank quis saber.

– Eu não estou chateada. – Alice respondeu, voltando à realidade.

– Não está mais aqui quem falou, então.

A consciência de Alice pesou com o tom de voz do rapaz. Ele só estava querendo ser gentil, afinal.

– Desculpe, eu fui grossa com você e você não tem culpa. - Ela admitiu. - E hoje é seu o aniversário, eu sei. - Frank franziu o cenho, não entendendo muito bem a relação das coisas. Ela continuou: - Quero dizer, ninguém deveria ser chato com a gente no dia do nosso aniversário, não é? – Ela suspirou e Frank riu, divertido.

Alice abriu um sorriso, tentando se redimir.

– Então, o que houve com você?

– Eu estou muito irritada com a minha prima. Sabe quem é a Sarah Adams?

– Sei.

– Ah, é claro que você sabe... – Ela revirou os olhos. – Todos os homens a conhecem. Mas mesmo que você não acredite, Frank, ela é insuportável!

– Então você está irritada com ela porque ela é insuportável? – Ele perguntou, como se estivesse falando com uma criança.

– Não é só isso. Ela quer mandar na nossa república! Só porque ela vai receber uma visita hoje à noite, ela exige que todo mundo saia de casa. Isso quando ela não nos manda falar bem dela, ou decorar algumas falas idiotas para dizer ao visitante. Acredita? – Alice respirou fundo e continuou a falar muito rápido, mas sem atropelar as palavras: – Ainda bem que tinha sua festa hoje, bendito seja você, senão eu teria que andar sem rumo por aí, ou ir à casa da Lily encher o saco. Não que sua festa seja um quebra-galho para mim, claro. – acrescentou rapidamente. - Não entenda errado. Está tudo muito legal, aliás. Perfeita. Oh, aquilo ali é um sofá? Err... Eu vou ali falar com a Lily, até mais!

Alice falou tudo tão rápido que Frank não entendeu de imediato. Ele não teve tempo nem de responder, uma vez que ela se afastou rápida e desajeitadamente, sorrindo sem-graça.

–--

Sirius continuou seguindo Marlene até ela finalmente parar, agora em frente à porta do toalete de um corredor menos movimentado, e virar-se para ele lentamente.

– Vai continuar me seguindo, Sirius? Quer entrar comigo no toalete também? – Ela perguntou.

– Se você permitir, por que não?

Ele jogou os cabelos negros e lisos para trás, realizando um movimento realmente encantador na opinião de Marlene; contudo, ela cruzou os braços, como se nem tivesse reparado. Marlene naturalmente sempre achara Sirius bonito, mas nunca tinha pensado no quanto ele era bonito. Eram vizinhos havia pouco mais de um ano. Ele estava sempre lhe lançando elogios, mas ela sempre os recebera como brincadeira.

– Nem tente. – Ela riu, um tanto desafiadoramente. – O que você quer?

– Não sei. - Ele se fingiu de desentendido, discretamente chegando mais perto. - Você tem alguma ideia?

Marlene riu. Sirius Black tinha um jeito próprio de dar em cima das mulheres. Ela mesma conhecia várias com as quais o próprio já havia saído, todas sempre falando bem dele, nunca tristes por terem terminado, mas sempre satisfeitas por terem tido uma chance. Mas e agora, ele a queria para ser mais uma delas também?

– Saber, eu sei. - Marlene respondeu.

– E quer.

– Não responda por mim, Sirius Black!

– Então deixa que eu faço por você.

Ele se inclinou para beijá-la, mas ela segurou o rosto dele a milímetros do dela.

– Eu não tenho interesse em entrar para a sua lista, Sirius. - Marlene realmente não se imaginava no seu grupo de fãs.

– Mas eu não tenho uma lista.

Ela sorriu, pronta para replicar, mas Sirius a beijou antes, encurralando-a contra porta fechada do toalete. Marlene não cedera tão rápido, até conseguira empurrá-lo, mas ele, de alguma maneira, conseguira fazer com que ela quisesse continuar beijando-o. Ela o afastou, mas o cheiro dele, o olhar intenso, e a proximidade praticamente obrigaram-na a puxá-lo de volta.

Segundos depois, a porta sobre a qual o casal estava apoiado se abriu e eles caíram para trás.

– AI!

Anita havia aberto a porta pela parte interior do toalete. A princípio, não reconhecera o casal e se assustara quando duas pessoas caíram praticamente em cima dela, derrubando-a.

– Me desculpe! – Marlene se recompôs rapidamente, levantando-se de cima da amiga. - Anita?

– Sirius e Marlene? – Anita perguntou como resposta. Continuara no chão, tentando raciocinar.

Marlene já estava em pé, vermelha de vergonha. Anita se levantou com a ajuda de Sirius.

– Eu nem imaginei que pudesse ter alguém aqui. – Sirius disse, rindo da situação.

– É, eu também! – Acrescentou Marlene. - você está bem, Anita?

– N-não se preocupem. – Foi tudo o que Anita conseguira responder, seu coração pulsava rápido demais para que ela pudesse respirar direito.

Ela jogou os cabelos para trás, tentando ter a atenção de Sirius, pois sabia que ele sempre prestava atenção quando ela fazia isso - e balançava a cabeça, como se estivesse tentando se controlar. Porém, naquele momento, ele nem reparara: estava verificando preocupadamente se Marlene havia se machucado com a queda. Era tão estranho vê-lo com outra garota, como nunca fora antes.

– Bem... – Começou Anita, tentando parecer ótima, abrindo um falso sorriso. – Vou voltar para a festa. Aproveitem.

Ela saiu e Marlene respirou fundo, aliviada.

– Ainda bem que era a Anita e não uma das suas fãs malucas. Eu poderia ter morrido, sabia?

Sirius riu e se inclinou mais uma vez para beijar Marlene, mas ela deu um passo para trás, graciosamente.

– Nós não vamos continuar?

– Eu não quero entrar para o grupo das suas fãs malucas, Sirius.

Marlene acenou e fez o mesmo caminho que Anita, se direcionando para a sala.

–--

Anita parou ao lado da rodinha de amigos formada por Lily, Amos, Remus e Alice, mas eles estavam entretidos numa conversa sobre a situação econômica da Irlanda e não notaram sua presença. Olhou a sua volta, seus olhos atravessaram um monte de cabeças, seus ouvidos não captavam a música animada que tocava. Avistou quem procurava, Frank, enxugou os olhos e foi até ele.

– Frank!

Ele se virou para ela, desviando a atenção de James, Peter e outras pessoas com quem conversava.

– Sim?

– Onde está o Whisky de Fogo? – Ela perguntou, prontamente.

– Naquela mesa ali tem copos, a garrafa e o gelo, mas...

Anita não ouviu o resto, foi rapidamente na direção da mesinha, junto à qual um garoto bêbado já estava sentado, falando sozinho.

–--

Dez para as onze da noite. Lily já estava sentindo fome. Não havia comido, nem bebido nada durante a festa, então resolvera ir até a cozinha para ver se tinha alguma coisa.

Ela pediu licença para os amigos e se desvencilhou de muitas pessoas. Havia gente demais, em sua opinião. Finalmente conseguiu chegar à cozinha, onde encontrou Sirius e Potter bebendo whisky, rindo como loucos. Ela revirou os olhos.

– Lily! – Chamou Sirius, ao vê-la.

– Oi. – Lily respondeu, de longe, quase dando meia volta, mas Sirius a puxou para perto dele e de Potter.

– Já te disse que você está linda hoje? – Ele começou, rindo.

Lily sorriu, sentindo o rosto esquentar. Não esperava ouvir aquilo.

Obrigada, Sirius.

– Vamos beber, Lily. O que você quer? Eu faço um drink para você.

Lily riu sinceramente ao reparar o grau de embriaguez do amigo. Potter observou-a: sabia que aquelas risadas eram raras.

– Sirius, eu não bebo e você sabe disso!

– James, convença essa teimosa a beber! – Disse Sirius, dando uma cotovelada em Potter.

–--

James sorriu. Como assim, ela não bebia? Foi assim que ele teve certeza de que Evans não poderia ser um ser humano normal.

– Evans, já experimentou esse Whisky de Fogo?

– Não, Potter. E não vou experimentar se você pedir. – Seu tom de voz, de amigável, caiu para o seco.

– Sabia que eu nunca vi uma pessoa mais estranha do que você?

No entanto, Evans pareceu se ofender com aquilo. Seus olhos verdes miraram o chão e ela não devolveu uma resposta ríspida, conforme o esperado.

– Lily, você é estranha? – Sirius indagou, embriagadamente confuso.

– Quem acha isso é o seu amigo, Sirius. - Ela respondeu, tentando recuperar a postura.

– Acho mesmo. E muito. – James reforçou.

– Não espere que eu vá me desculpar por não ser capaz de tolerar sua infantilidade, não é? – Evans retorquiu.

– Não espero nem um "bom dia" de você, Evans. Você é estranha, já disse.

– Hey, vocês dois! – Sirius interveio. – Parem de brigar! O que está acontecendo?

– Sirius, como você aguenta morar com a Evans há tanto tempo? Não sei se eu vou aguentar.

O queixo de Evans simplesmente despencou. Ao observar a reação dela, James se arrependeu de ter dito aquilo. Pode ser que dessa vez eu TALVEZ tenha exagerado.

– Ótimo, se você não aguentar, será muito bem-vindo a se retirar! Eu vou adorar!

– Infelizmente, eu não saio daquele lugar.

– Hey, hey! James, a Lily é legal! – Sirius estava um tanto desnorteado. Até aquele momento, ele não havia percebido que os dois não tinham se dado bem. - Lily, beba umas com a gente, assim você fará amizade com o James. Que tal?

– Não, Sirius, obrigada. Não quero fazer amizade com o seu amiguinho.

James revirou os olhos e achou melhor se apressar para ir à casa de Sarah, que já estava esperando por ele. Despediu-se rapidamente de Sirius e acenou para Evans.

– Tchau, Evans.

Mas ela não respondeu.

–--

– Por que ele te chama de Evans? – Sirius perguntou, quando Potter saiu da cozinha. - O que há entre vocês?

Lily o olhou perplexa.

– Nada! Nós não nos demos muito bem, só isso. - Na verdade, Lily estava morrendo de vontade de perguntar para Sirius se Potter era algum maníaco ou algo do tipo, mas sabia que o amigo iria rir de sua pergunta. - Diferenças ideológicas, eu diria.

– Como assim?

– Nós temos concepções diferentes sobre a ideia de socializar. Seu amigo fica me provocando, ri de absolutamente tudo o que eu falo. E me olha estranho, também.

Sirius tinha uma expressão definitivamente aturdido. Ele conhecia James havia anos e nunca vira o amigo agir assim com alguém, principalmente quando se tratava de uma mulher atraente. Pelo contrário, em casos como aquele, James sempre agia de modo intencionalmente gentil.

– Não vai beber comigo então, Lily?

– Não dessa vez, Sirius. – Lily declinou, sorrindo.

–--

A festa de Frank estava muito divertida para uns. Remus, Frank, Peter e Sirius riam o tempo todo. Durante o resto da festa, Marlene e Sirius trocaram olhares de longe o tempo todo. Marlene conversou boa parte tempo com Lily, mas não lhe contara sobre o incidente com Sirius. Mais adiante, Amos e seus amigos jogavam poker na mesa de jantar com muita gente os observando em volta.

A festa de Frank estava um tanto triste para outros. Anita bebera algumas doses seguidas de whisky e se encontrava jogada sobre uma poltrona, embriagada demais para continuar em pé.

A festa de Frank era indiferente para outros. Alice estava sozinha num canto, ainda pensando no que fazer para mudar a situação em sua república. Helena estava sentada num dos degraus da escada e somente quem a observasse bem poderia notar que estava chorando. Bellatrix se sentara ao lado de Lily e Marlene, mas não ouvia o que elas falavam, estava se sentindo totalmente entediada. Ela não gostava muito de Lily e odiava ter de estar perto dela para não ter de ficar sozinha.

– Ainda aborrecida? – Frank perguntou após se aproximar sorrateiramente de Alice.

A morena balançou a cabeça e forçou um sorriso.

– Mas não tem nada a ver com a sua festa, viu? Ela está ótima!

– É aquilo que você me contou?

Alice fez uma pausa pensativa e respondeu sem olhar para ele.

– É. Odeio ter de ser marionete da Sarah.

– Quer se mudar para cá? – Frank perguntou, num tom de brincadeira. - Tenho certeza de que os outros moradores aqui da Whisky de Fogo não se oporiam à ideia.

Alice caiu na risada, a primeira risada sincera da noite. Pela primeira vez, a jovem começou a reparar no rosto dele.

– Sabe, Frank, o ideal seria tirar ela de a minha casa! Eu sei que isso soa malvado, mas ela é muito chata. Eu sair da casa não resolveria a situação. Até a mal-humorada da Bellatrix não é tão irritante quanto a Sarah, de verdade.

Frank riu.

– Sabe qual é a verdade, Alice? Você tem algo que as duas não têm. Você tem carisma, é engraçada. Eu acho que você não deveria se importar com o que elas te pedem, ou te exigem, de verdade. Você tem mais a oferecer do que elas.

Após ter dito aquilo, Frank considerou a possibilidade de ter bebido um pouco a mais. Afinal, de onde aquelas palavras poderiam ter surgido?

– Hum... Obrigada, Frank. - Alice agradeceu, olhando-o nos olhos.

–--

Remus estava distraído, conversando com Sirius e Peter, quando seus olhos começaram a passear pelo lugar. Eles se fixaram na escada, onde Helena estava sentada, com a cabeça baixa. Achou aquilo muito estranho. Notou que ela estava chorando.

– Helena...? – Remus a chamou, tocando o ombro dela e se acomodando ao seu lado.

Ela levantou a cabeça, seus os olhos grandes e castanhos estavam arregalados, parecendo ainda maiores. Ela tirou os óculos e enxugou os olhos com as costas das mãos.

– Ah, oi, Remus. - Ela limpou a garganta. - Tudo bem?

– O que aconteceu?

Enquanto ela não respondia, Remus começou a observá-la.

– Nada... eu só... estou aqui.

– Helena, por favor, eu estou vendo que você está chorando.

Helena passou as mãos pelos cabelos vermelhos, fechou os olhos e mais lágrimas rolaram por seu rosto.

– Sabe o que é estranho, Remus? Eu estava bem. Essa tristeza veio do nada, e e-eu não aguentei. - Ela fez uma pequena pausa antes de continuar. - O Frank é um dos meus melhores amigos, era para eu estar comemorando. Vários dos meus amigos estão aqui, eu deveria estar me divertindo.

– Mas você não consegue? Sente que falta alguma coisa? – Ele perguntou, porque não era a primeira vez que via Helena isolada em uma festa.

– Mais ou menos. Eu t-tenho alguns problemas. Às vezes, eu tenho vontade de chorar s-sem motivo nenhum, sabe?

Helena piscou os olhos com força e algumas lágrimas escaparam pelos cantos.

– Você está assim agora sem motivo?

– Hoje não. Vai parecer ridículo, mas eu est-tou assim porque... Ah, Remus! - Ela suspirou, secando as lágrimas de novo. - Eu vejo todo esse povo bebendo aqui, se estragando por dentro, sem motivo! Como isso me deixa mal! Agora mesmo, um amigo meu acabou de me pedir ajuda pra ir vomitar no banheiro! - Ela desabafou de uma vez, voltando a chorar.

Remus passou um braço em volta do pescoço de Helena. O motivo dela soara extremamente dramático, mas o suficientemente informativo para Remus concluir uma coisa:

– Você tem trauma com álcool.

Lentamente, Helena virou seu rosto para mirá-lo. Franziu as sobrancelhas.

– C-como você sabe?

– Foi fácil. - Ele respondeu. - Quero dizer, ninguém chora por um motivo desses sem ter um motivo pessoal muito forte.

Helena voltou a chorar, inconsolável. Remus automaticamente se lembrou de James comentando que a achara depressiva. Ela chorou por um longo momento, enquanto Remus esperou.

– Bem, o m-meu pai... ele ... ele é alcoólatra. - Helena desabafou, soluçando. - Eu não consigo superar isso, desde a minha infância... Ah, como era horrível!

Ele a abraçou. Não esperava, quando subira as escadas, que ela estaria chorando por isso, embora fizesse todo o sentido.

– Remus... o álcool acabou com a minha família! Meu pai o colocou meu irmão mais velho para fora de casa quando ele tinha dezesseis anos. Eu fiquei quase cinco anos sem vê-lo depois. - Ela respirou fundo, tristemente. - Meu pai bateu na minha mãe e meu irmão tentou impedir. Não tem um dia em que eu não me lembre dela chorando. E se eu vejo alguém bêbado pelas ruas, ou nas festas... eu sempre me lembro dos gritos dela e do dia em que meu irmão saiu de casa. Eu não consigo controlar o meu maldito choro, já não sei o que fazer!

– O primeiro passo é evitar esse tipo de festa. Já pensou em terapia?

Ela meneou a cabeça, indiferente.

– Quando eu tinha quinze anos, e-eu entrei em depressão profunda e minha mãe me colocou numa terapia. Eu melhorei bastante, só que ela não pôde mais pagar... Meu p-pai nos deixou m-muito endividados quando sumiu com outra mulher. E depois, tudo voltou de n-novo!

Remus estava sem reação. Talvez nunca tivesse ouvido uma história tão triste ser desabafada com tamanha facilidade em toda a sua vida. Porém, consolá-la não resolveria nada. Até que teve uma ideia.

– Calma, Helena. Veja, eu estou no terceiro ano de psicologia. Se quiser, eu posso tentar te ajudar.

– Mas eu não vou poder te pagar! – Ela voltou a soluçar. – Eu mando metade do que ganho para a minha mãe, q-que mora em Leeds.

– Quem falou em pagar, Helena? – Ele finalmente a viu sorrir. – Eu quero te ajudar, e vou aprender muito com isso.

Ela o abraçou. Remus sentiu-se ligeiramente sem reação, mas a abraçou também. Nunca havia conversado com Helena direito e ela se abrira tão rapidamente para ele, sem qualquer receio ou cerimônia. De fato, ela deveria estar realmente precisando de ajuda.

– Acho que... acho que vou aceitar sua proposta, Remm.

–--

Lily se levantou do sofá onde estivera conversando com Marlene. Elas discutiram sobre livros que haviam lido em comum, mas era impossível não notar o incômodo de Bellatrix por ela estar por perto. Portanto, resolveu circular pela casa e pegar mais um sanduíche vegetariano. Estavam realmente deliciosos.

Enquanto se desvencilhava das pessoas, Lily voltou a pensar em seu mais novo e atual problema. O novo morador. Havia decidido ignorar a presença de James Potter a partir daquele momento. Se ele queria provocá-la e tirá-la do sério por ela simplesmente não atender às expectativas dele, então ele não conseguiria mais. Nunca mais.

Lily divagava em seus pensamentos quando passou ao lado de uma loira, pendurada no pescoço de um rapaz alto e esquisito, que a abraçava pela cintura.

– Anita? – Lily a chamou.

Anita virou o rosto para a amiga. A ruiva notou que ela segurava um copo contendo um líquido alaranjado. Contendo Whisky de Fogo.

– Lily, minha musa! Hic! – Ela deu uma risadinha breve, completamente ébria e soltou o rapaz. – Esse é o Marte, meu amigo-planeta novo.

– É Martin, Anita. – Ele corrigiu, bondosamente.

O garoto olhou para Lily e sorriu para ela. Lily nunca o havia visto na vida. E não gostara dele. Anita não conseguiu se manter em pé sem se apoiar em alguém e rapidamente perdeu o equilíbrio, sendo amparada por Lily.

– Anita? – Lily a cutucou, preocupada. – Quer ir para casa?

– NÃO! - A loira tentou se equilibrar novamente. - O Marte me convidou para uma festa na casa dele agora... o que você acha? Parece que vai ser legal! Quer vir também?

Lily virou o rosto lentamente na direção do rapaz a fim de analisá-lo.

– Eu acho que nós devíamos ir para a nossa casa. - Respondeu, por fim, percebendo que tinha que dar um jeito de tirá-la de perto do tal Martin.

Anita deu um passo para trás, se afastando de Lily.

– Não, Lily. Nós já estávamos de saída! - Ela chacoalhou os ombros. - Vamos, Marte?

– Não, Anita, você não vai para lugar nenhum. - Lily interveio. Aquela história estava muito estranha.

Martin entrou na frente de Anita e encarou Lily. Ele era realmente alto.

– Seu nome é Lily, não é? – Ele perguntou, educadamente.

– Sim. Obrigada por ter cuidado da minha amiga, pode deixar que eu cuido dela daqui para frente, nós moramos juntas.

– Calma, querida. Eu só a convidei para ir à minha casa e ela aceitou. Não estou forçando-a a nada.

– Você realmente acha que ela está em condições de saber para onde vai? - Lily argumentou, sem nenhuma sutileza. Martin estreitou os olhos, pronto para responder, mas Anita interrompeu-os com uma risada alcoolizada.

– Lily, eu estou ótima, okay? E não brigue com o Marte. Ele foi o único que me fez companhia hoje. – E ela voltou a rir.

Anita terminou de beber a dose que segurava em suas mãos, quase caindo para trás, mas foi a vez de Martin segurá-la.

– Anita, você não está ótima. Venha comigo. – Lily insistiu, em tom de conselho.

Lily tentou puxar a amiga pelo braço, mas ela resistiu e Martin interveio novamente.

– Lily, não a obrigue a fazer nada. A Anita quem decide.

– Exato! Lily, você não manda em mim! - Ela bufou. - Vamos embora, Marte, eu quero conhecer a sua casa.

Martin concordou com a cabeça e passou um braço de Anita por cima de seu ombro. Lily os olhava inconformada. Virou-se para a amiga, implorando com olhar para que ela ficasse.

– Anita, vamos combinar uma coisa... - Lily tentou abordar outra forma para convencê-la, mas a amiga não estava prestando a mínima atenção.

Anita simplesmente puxou Martin pelo colarinho e o beijou. Lily aproveitou aquele momento de distração dos dois e chamou o primeiro conhecido que avistou: Sirius, que estava passando por ali.

– Sirius!

– Pois não, Lily?

– Você pode me ajudar aqui?

Lily indicou o casal com a cabeça. Anita havia acabado de soltar o rapaz e estava rindo, sem notar a presença de Sirius, que ainda não havia entendido o que Lily quisera dizer.

– Eu quero mais um whisky!

– Vamos, querida, em casa tem mais. - Martin respondeu-lhe, numa voz carinhosa.

– Anita, você não vai! – Lily se colocou na frente dos dois. – Você nem conhece esse cara!

– Olha aqui, você não tem o direito de falar assim com ela! – Martin empurrou Lily para o lado, sem delicadeza alguma. – A Anita tem plena consciência do que quer, então ela vai comigo!

Martin, ainda segurando Anita pelo braço, fez menção de sair, mas Sirius se colocou em seu caminho.

– Solta ela agora, cara.

Martin o olhou com desprezo.

– Quem é você?

– Ele é um idiota, Marte! Ignore! – Anita falou, com a voz arrastada.

– Martin é o seu nome, não é? - Sirius começou. - Eu sei que eu não te conheço, mas você também não conhece a Anita. - Ele transparecia muita calma. - Saia daqui. Desista dela, arranje outra, mas que esteja sóbria e que seja do seu nível. Eu não estou pedindo.

Martin praticamente jogou Anita em cima de Sirius e finalmente saiu, abrindo caminho por entre as pessoas. Ele afastou os cabelos da amiga da frente de seus olhos, com um olhar preocupado.

– Você está bem? - Sirius perguntou.

– S-sim.

– Anita, vamos para casa. – Lily disse, passando um braço de Anita por cima dos seus ombros.

– Temos mesmo que ir? - Ela perguntou de volta, confusa. - Aonde foi o Marte?

– Ele foi embora.

– Sabe, Lily, eu não estou me sentindo muito bem.

Anita encostou sua cabeça no ombro de Lily e fechou os olhos, sonolenta.

– Obrigada, Sirius. - Lily agradeceu, aliviada.

– Sem problemas. – Ele disse, com uma expressão apreensiva no rosto, sem tirar os olhos de Anita. – Quer ajuda pra levá-la para casa?

– Não precisa. Aproveite o resto da festa... vou ficar por lá depois. Boa noite.

– Cuide bem dela, Lily. – Sirius pediu, antes de se virar e sair.

–--

Por volta das três horas da manhã, Alice decidira que já podia voltar para casa. Sarah tivera tempo o suficiente para aproveitar seu encontro e ela já estava com muito sono - já que, ao contrário da prima, Alice não dormira à tarde inteira. Ela se despediu dos amigos que estavam por perto e se dirigiu à saída.

Alice estava quase alcançando a maçaneta da porta quando Frank surgiu diante de seus olhos:

– Não vai se despedir do aniversariante?

– Desculpe, Frank! Não tinha te visto! Obrigada por tudo!

Ela o abraçou e ele sorriu.

– Alice, espero que você se resolva com a sua prima.

Alice riu.

– Curioso. Qualquer outro homem iria me dizer que a Sarah é maravilhosa e que eu não devia mais incomodá-la.

Foi a vez de Frank rir. Ele realmente havia gostado do jeito espontâneo de Alice.

– Não, Alice. Você quem não merece passar por tantos constrangimentos. Falo sério.

Alice colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha, sentindo o rosto ruborizar.

– Bom... eu... vou para casa, Frank.

– Sem nem me dar um presente?

Os olhos de Alice se arregalaram.

– Oh, eu não sabia q-

Mas Frank fora mais ágil e a interrompeu para roubar-lhe um beijo. O coração de Alice se acelerou tanto que ela mal conseguiu falar quando ele a soltou.

– Frank, eu achei que... quero dizer, você-

– Alice, você não pode ser grossa com as pessoas quando é aniversário delas, sabe. Você mesma quem disse isso. - Ele brincou. - Espero ver você em breve.

– Somos vizinhos, não é?

Alice finalmente conseguiu voltar a se estabilizar. E antes de ir embora, ela o puxou para mais um beijo.


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Notas finais do capítulo

Oi, queridos! :)
Não sei se já falei para vocês, mas eu AMO Fralice! Essa fic vai ter bastante deles também!

Espero que vocês gostem desse capítulo! Beijos e até breve!



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