República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 20
Snooker


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Tudo bem com vocês?

Esse capítulo será dedicado à leitora Gabriella Paiva (u/343921/) pela maravilhosa recomendação escrita para República Evans. Obrigada de verdade, querida, você fez o meu dia! Fiquei lendo e relendo por horas! ♥

E, agora, o capítulo:



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Capítulo 20 – Snooker

Na segunda-feira após o retorno de Oxford, Lily chegou ao Fórum um tanto receosa. Passou à tarde inteira se preparando para ser chamada à sala de Moody para ser comunicada de sua demissão. Potter a tranquilizara uma dezena de vezes, mas fora inútil. Por fim, ninguém questionou seus motivos para não terem retornado à Londres no ônibus fretado pelo Fórum e Lily finalmente pôde respirar fundo quando o expediente chegara ao fim.

E, no fim das contas, Lily até poderia dizer que aquela segunda-feira não fora um dia tenso por completo. Durante o percurso de volta para a república, no fim da tarde, ela notou que Potter parecia mais inquieto que o normal. Aliás, ela havia reparado que ele estivera assim durante o dia todo, como se estivesse querendo lhe dizer alguma coisa, mas hesitando sempre que estivesse prestes a fazê-lo.

– Desembucha, Potter.

Potter virou o rosto para encará-la, com uma expressão surpresa.

– Como você sabe que eu tenho algo para contar?

Mas Lily não encontrou uma resposta imediata para aquela pergunta. Como ela soubera? Bem, Potter certamente estava bagunçando os cabelos com mais frequência que o normal, isso era fato. Ele também estava evitando os olhos dela, o que era muito incomum.

– Você está estranho.

Ele parou de andar e abriu um sorriso. Lily também interrompeu sua caminhada para ouvir.

– Ontem à noite eu falei com meu pai. – ele contou, vagarosamente. – Ele também é advogado. Contei a ele sobre o que aconteceu com você no Coquetel. Sobre Goldfinch.

– Por que fez isso? – Lily perguntou, surpresa.

– Porque não é justo que ele saia impune assim, Evans. – Potter respondeu, assumindo subitamente uma expressão muito séria. – Meu pai me ligou de volta hoje, no horário do almoço. Ele me contou que fez uma rápida pesquisa com o nome de Goldfinch e, aparentemente, ele já está sendo processado por uma mulher de vinte e cinco anos por violação de contrato psicológico. Curioso, não? – ele soltou uma risada sarcástica. – Bom, coincidentemente um dos advogados que trabalham no escritório do meu pai está cuidando desse caso. Você sabe o que isso significa?

Lily balançou a cabeça negativamente, enquanto assimilava a informação.

– Significa que Goldfinch vai perder a causa e a mulher vai ser indenizada. Meu pai vai substituir o advogado responsável pelo caso e vai pedir para o melhor advogado dele assumir.

– Seu pai pode mesmo fazer isso?

Potter abriu mais um sorriso.

– Sim. Ele sugeriu que você prestasse testemunho, mas acho que é melhor deixarmos essa opção como último recurso. – ele continuou explicando. Lily simplesmente não podia acreditar que ele realmente estivesse falando sério. – Se Goldfinch vencer o processo, não quero que ele venha atrás de você, ou prejudique sua carreira. Esse cara com certeza é louco. Não acho que meter seu nome no meio disso seja sensato, e... Você está me ouvindo, Evans?

Lily piscou várias vezes.

– Estou! – ela respondeu na mesma hora. Mas estava sem palavras. – É que, bem... M-muito obrigada de verdade, James. Significa muito para mim.

Ele meneou a cabeça, suspirando.

– Eu só estou fazendo o que é certo.

Lily quis abraçá-lo para demonstrar devidamente sua gratidão. Mas foi repentinamente tomada por uma onda de razão, e deteve-se. Em vez de abraçá-lo, então, ela abriu um enorme sorriso e disse:

– Você vai ser um ótimo advogado, James. Tenho certeza.

–--

A mudança no relacionamento anteriormente conflituoso de James e Lily foi observada por todos os amigos que compartilhavam do mesmo convívio que os dois. Após dias sem ouvir as habituais discussões que ambos costumavam travar durante as refeições, dias sem ouvir James reclamar do cansativo mau-humor de Lily e, principalmente, dias sem ouvir a amiga em questão se queixar repetidamente dos modos irritantes de James, Sirius resolveu questionar o amigo. Afinal, algo definitivamente havia acontecido entre os dois.

Foi durante um almoço no refeitório universitário que Sirius encontrou a oportunidade que estava procurando.

– James, fala sério. – ele começou, cruzando os braços e olhando nos olhos do outro. – Você está gostando dela?

James imediatamente desviou os olhos de Lily, que almoçava com Anita a três mesas de distância.

Pois não? – James fingiu não ter compreendido a pergunta, a fim de demonstrar que o amigo havia indagado uma coisa absurda.

– Desde quando você fica trocando sorrisos a distância com a Lily? – Sirius continuou, um tanto desconfiado, semicerrando os olhos cinzentos para James. – Aliás, quando foi a última vez em que você saiu com alguém?

James revirou os olhos.

– Você é patético.

– EU? – foi a vez de Sirius fingir indignação. – Você parece ter voltado a ter doze anos, trocando sorrisinhos, e eu sou patético?

James revirou os olhos, entediado.

– Evans finalmente parou de implicar com tudo o que eu faço, cara. Depois de quase três meses de convivência! É tão estranho assim estar feliz por isso?

Sirius soltou uma risada alta e descrente.

– Você está gostando dela. – ele afirmou, depois de se recompôr.

Não estou. – James rebateu, irritado. – Quero dizer, não do jeito que você está insinuando.

Sirius virou a cabeça para observar Lily por cima do ombro. Ela conversava com Anita de forma completamente compenetrada, alheia a tudo que as rodeavam, inclusive ao fato de James não tirar os olhos dela.

– Lily é... um pouco durona, cara. – Sirius disse, voltando a olhar para a frente. – Não sei se é uma boa ideia.

James expirou sonoramente e terminou sua bebida, indiretamente comunicando a Sirius de que a conversa estava encerrada. Em seguida, Peter surgiu com sua bandeja e se acomodou para almoçar na companhia dos amigos.

–--

Com o avançar de novembro, a temperatura em Londres passou a diminuir gradativamente. E a proximidade do campeonato de futebol inter-universidades trouxe consigo treinos constantes no período noturno, no centro esportivo de Hogwarts. James, Sirius e Remus eram titulares do time, portanto tiveram de abrir mão das noites de descanso em casa para voltarem à Hogwarts e comparecerem aos treinos.

No mesmo dia em que Narcissa finalmente voltara para seu apartamento – para o alívio de Alice e Marlene –, Helena, que tinha ido assistir ao treino de Remus, chegou em casa com os olhos vermelhos, como se estivesse chorando pouco antes de entrar na sala.

Marlene estava assistindo a um filme com Alice, ambas esparramadas no sofá. As duas se viraram para olhar a amiga recém-chegada, intrigadas com o olhar intimidante que Helena direcionava a elas.

– Marlene, eu preciso falar com você. É muito importante.

Marlene sentiu seus músculos ficarem tensos. Fazia semanas desde a última vez em que Helena falara com ela. Será que a amiga finalmente descobrira que não havia necessidade para continuar com aquela situação desconfortável?

– Diga, Helena.

Helena deu alguns passos na direção do sofá e parou diante de Marlene.

– Eu cansei de ver as pessoas rindo de você, Marlene. Já está na hora de você parar de fazer esse papel de trouxa!

Marlene ficou perplexa com a agressividade gratuita da amiga. Independente de quais fossem suas intenções, Helena não tinha o direito de ofendê-la daquela maneira. Alice, ao seu lado, pausou o filme e preparou-se para interferir na discussão caso esta se tornasse realmente séria.

– O que você quis dizer com isso, Helena?

– Você sabe muito bem do que eu estou falando, Marlene! – Helena tinha um tom muito aborrecido. – Até quando você vai permitir que o Black te faça de idiota?

– Olha aqui, Helena, o Sirius e eu–

– Até quando, Marlene? – Helena fingiu que a amiga não a havia interrompido. – Veja bem, dessa vez eu vi. Eu não ouvi todo mundo em Hogwarts comentar, como sempre, mas eu vi. Infelizmente, Lene, Black faz parte do mesmo time que o meu namorado, então eu tive de encontrá-lo no treino noturno de hoje. E eu vi o seu amado Black, a quem você sempre defende, indo embora com Elisabeth Weiss depois que o treino acabou! Abraçados!

Marlene não pôde evitar uma expressão surpresa. Depois de absorver a informação, ela concluiu que Helena não inventaria uma coisa daquelas. No entanto, embora Marlene estivesse ciente de que ela e Sirius nunca haviam tido uma conversa definitiva a respeito do relacionamento deles, ela não acreditava que ele estivesse saindo às escondidas com outras mulheres. Afinal, por que ele faria aquilo? Sirius Black nunca tivera problemas para terminar com alguém, pelo contrário. Portanto, Marlene tinha certeza de que, se Sirius não estivesse feliz com a situação, ele já teria terminado com ela e voltado a ter sua antiga vida.

– Sinceramente, Helena, você pode ter se confundido. – Marlene concluiu, por fim.

– Me confundido? Como você pode achar isso, Marlene?

– Você usa óculos, é bem provável que tenha se enganado!

– Marlene, você tem algum problema? O que não está entendendo? – Helena secou a lágrima que estava escapando pelo canto do olho e abafou um soluço. Após a pausa, continuou: – Tudo bem, então! É assim que você prefere lidar com a situação? ÓTIMO. Continue sendo trouxa!

– Chega, Helena! – Marlene finalmente se colocou de pé. – Não quero que você continue me chamando assim! Sirius não é obrigado a estar comigo, então, se ele está, é porque gosta de mim! Você não o viu beijando aquela garota, não é? E daí que eles foram embora abraçados? Isso não quer dizer nada, Helena!

– Como você é cega, Marlene! – Helena exclamou, exasperada. Subitamente, virou-se para Alice e apontou o dedo indicador para ela. – Alice, o que você acha? Vai dizer que não sabe de alguma coisa sobre o Black? Você é da sala daquela Violet fofoqueira, com certeza deve estar sabendo de algo!

O fato era que Alice não estava nem um pouco afim de se meter naquela conversa. Ela evidentemente já ouvira alguns comentários sobre as saídas de Sirius, mas nunca ouvira nada que a fizesse ter certeza de que tal evento acontecera naquelas últimas semanas, depois que ele começara a sair com Marlene. Outro motivo para não querer opinar a respeito era que havia ainda outra amiga que gostava do mesmo sujeito: Anita. Portanto, em relação a Sirius Black, Alice preferia ficar sempre de fora da conversa.

– E-eu... – começou ela. – Eu quase nunca falo com a Violet, Helena.

– Viu, Helena? – Marlene disse, arqueando as sobrancelhas. – Esqueça o Sirius e pare de ficar insinuando essas coisas! Eu estou muito bem com ele!

– Por Deus, Marlene! Abra os olhos! Por acaso vocês já falaram sobre isso? Ele já te pediu em namoro? Vocês já conversaram sobre a existência da monogamia no relacionamento?

Marlene bufou e cruzou os braços.

– Não, Helena, nós ainda não conversamos sobre nada disso. Mas quer saber? Não precisamos! – Marlene afirmou, levantando ligeiramente o tom de voz. – Para mim, é um namoro. Nós fazemos várias coisas juntos e nos falamos todos os dias! Sirius nunca esteve tanto tempo com alguém como está comigo, então eu suponho que se ele quisesse continuar saindo com com várias garotas, como antes, ele não estaria comigo! Por que é tão difícil você acreditar que ele gosta de mim?

– Ele não gosta de você, Marlene, ele gosta de transar com você.

Helena! – Alice a repreendeu.

O queixo de Marlene despencou. Até aquele instante, nunca havia ouvido algo tão grosseiro proveniente da amiga. Por que Helena estava agindo daquela forma? O que ela ganhava sendo tão insensível?

– Sirius tem mais sentimentos que você, Helena. – Marlene murmurou, sentindo os olhos marejarem. Helena a encarava com raiva. – E eu gostaria que você parasse de se meter no nosso relacionamento.

Helena respirou fundo sonoramente, baixando o olhar, claramente inconformada.

– Certo. – ela disse, com a voz rouca. – Mas depois não diga que eu não avisei, Lene.

Após dizer aquilo, Helena deu meia volta e se dirigiu às escadas. Alice virou-se para Marlene e colocou uma das mãos nas costas da amiga, consolando-a silenciosamente.

– Está tudo bem?

– Acho que sim. – respondeu Marlene, baixinho. Em seguida, ela abaixou o olhar e continuou, num tom pensativo: – Sabe, Alice, ela nunca foi tão implicante com alguém como ela é com Sirius. Não entendo, de verdade.

– Helena passou um pouco dos limites hoje. Mas... Eu acho que ela falou uma coisa certa. – Alice disse. Marlene ergueu os olhos para ouvi-la com atenção, um pouco receosa. – Você precisa conversar com o Sirius, Lene. Vocês precisam deixar as coisas entre vocês o mais claras possível.

Marlene confirmou com um aceno.

– Eu sei. Mas o problema é que eu tenho medo de que ele se sinta pressionado e resolva terminar, Alice. Sirius é um pouco problemático com essas questões... Sentimentais. – ela confessou, baixinho. Sacudiu a cabeça. – Mas você está certa. Vou parar de enrolar e vou conversar com ele.

– Ótimo! – Alice voltou a se jogar no sofá e apanhou o controle remoto. – Mas primeiro vamos terminar de assistir a esse filme!

–--

Numa manhã particularmente gelada de meados de novembro, Lily descera mais cedo para o refeitório no Salão Principal durante uma aula vaga. Pensara em estudar na biblioteca, mas como faltava pouco tempo para começarem a servir o almoço, achou melhor ir direto para o Salão.

Para sua surpresa, ela encontrou Lorens e Anita conversando, sentadas à uma mesa perto da entrada. A ruiva rapidamente se aproximou das amigas e logo se deu conta de que as duas estavam falando sobre algum assunto secreto, pois se calaram assim que a viram. Antes, porém, que Lily pudesse questionar o motivo para tal atitude, Lorens pigarreou e perguntou:

– Oi, Lily! E aí, suas aulas foram boas?

– Sim. – respondeu Lily, muito desconfiada. Afinal, Lorens nunca perguntava sobre suas aulas. – E as suas?

– Ótimas! Tive uma aula maravilhosa sobre Brecht hoje.

O silêncio incômodo que se seguiu intensificou a teoria de Lily. Sobre o que as amigas estariam conversando, segundos antes de sua chegada? Anita e Lorens trocaram um olhar certamente cúmplice.

– O que vocês estão me escondendo? – Lily finalmente perguntou.

– Nada! – Lorens respondeu. Olhou para Lily com uma expressão de desentendimento. – Por quê?

Mais uma vez, Anita e Lorens trocaram um olhar. Lily estava começando a se irritar.

– Ah! – fez Anita, como se estivesse se lembrando de algo muito importante. – Lily, adivinhe só o que a Lorens andou aprontando!

Lily arqueou a sobrancelha esquerda e analisou Lorens brevemente.

– Você só quer mudar de assunto, Anita. – Lily sugeriu, num tom monótono.

– Não! Claro que não! Lorens acabou de dar uns beijos no Christopher! – Anita cantarolou, esfregando as mãos uma na outra.

– Que Christopher? – Lily definitivamente não conseguia se lembrar de quem era o sujeito.

Lorens rolou os olhos e apoiou o queixo na palma da mão.

– O cara cabeludo que peguei na Festa de Halloween.

– Mas é claro que ela já arranjou um defeito para ele, como sempre. – Anita continuou, fazendo uma careta.

– E qual é o defeito dessa vez, Lorens? – Lily perguntou, esquecendo-se momentaneamente do comportamento suspeito das amigas.

– Não é bem um defeito... – Lorens se defendeu. – Bom, na verdade, é. Mas é reversível. Ele é fumante, beijar ele é como lamber um cinzeiro.

Lily e Anita não puderam evitar as risadas.

– Lorens, não é possível que você não tenha percebido que ele fumava antes. Você vivia trocando olhares com ele! – Anita comentou, entre risos.

– Mas eu nunca tinha reparado!

– Você sempre arranja um defeito para não se prender, não é? – Lily indagou, olhando divertida para a morena.

– Você não pode falar nada, Lily! – Lorens continuou na defensiva. – Pelo menos eu arranjo o defeito depois de pegar o cara, você já arranja antes!

Murmurando algo como "Me poupe, Lorens", Lily consultou o celular, que havia vibrado em seu bolso. Era uma mensagem de Louis, convidando-a para almoçar. Após enviar a ele uma resposta positiva, Lily ergueu os olhos e flagrou Anita olhando atentamente para a boca de Lorens, como se estivesse fazendo uma leitura labial.

– Do que é que vocês estão falando? – Lily questionou, impaciente.

– N-nada, Lily. – Anita respondeu, abrindo-lhe um enorme sorriso.

– Lily! – Lorens a chamou, animada. – Disfarça e olha para a esquerda. O Louis está olhando para você!

– O quê? Onde? – Lily virou-se imediatamente para procurá-lo com os olhos. Então ele estivera observando-a responder sua mensagem? Lily sentiu suas bochechas se esquentarem na mesma hora.

Lily encontrou os olhos azuis de Louis fixos em sua direção. Ele ergueu o celular para ela e sorriu, como se estivesse comunicando-lhe para verificar seu próprio aparelho. Lily meneou a cabeça, totalmente sem jeito, e voltou a se virar para as amigas, que naturalmente estavam rindo do desconcerto dela.

– Eu falei para você disfarçar! – Lorens exclamou, rindo ainda mais alto.

Lily abriu um meio sorriso, desbloqueou o celular e leu a última mensagem recebida:

Louis: Estou a duas mesas de distância. Quando quiser almoçar, estarei aqui ;) (11:49 AM)

– Lily, você e ele estão enrolando demais pro meu gosto. Já era para vocês terem voltado faz tempo! – Anita falou, espiando o celular de Lily por cima do ombro da ruiva.

– Verdade, Lily. – Lorens concordou. – Agarra ele logo! Aliás, quantos séculos faz que você não sai com alguém mesmo?

– Eu não estou com pressa, Lorens. – Lily respondeu-lhe, categoricamente. – E não sei se realmente quero voltar com ele. Se não deu certo antes, talvez não dê certo nunca.

– Depois sou eu quem põe defeito! – Lorens disse, revirando os olhos.

–--

Às sextas-feiras não haviam treinos noturnos obrigatórios, portanto James voltara para casa com Lily naquela noite, depois do Fórum. Assim que chegaram na república, Lily se jogou no sofá, sentindo seus músculos relaxarem. Lorens e Anita estavam ali também, assistindo a um seriado, e Remus estava lendo, acomodado numa poltrona mais afastada.

Sirius fora o último a voltar do trabalho. No entanto, quando chegou, Sirius abriu a porta, mas não entrou. Apenas colocou a cabeça para dentro da sala e avistou James conversando com Lily sobre o que fariam para o jantar.

– James! – chamou ele. – Vem aqui fora!

– O que aconteceu?

– Venha ver.

Todos, menos Remus, encaravam Sirius sem piscar. As três garotas se entreolharam confusas, enquanto James se dirigia até o amigo. Quando ele atravessou a passagem, Sirius bateu a porta.

– O que será? – Anita perguntou, muito curiosa.

– Para ele ter chamado o Potter, certamente deve ser algo muito idiota. – Lily palpitou, fingindo desinteresse.

– Aposto que é mulher. Deve estar passando uma bem gostosa na rua. – Anita sugeriu.

– Ou então eles estão conversando sobre alguma mulher. – Lily continuou e Anita balançou a cabeça positivamente.

Lorens riu.

– Vocês têm uma imaginação impressionante. – ela comentou, despreocupada.

– Talvez. – Anita respondeu, sem tirar os olhos da porta.

– Ou não. – Lily acrescentou, abrindo um sorriso amarelo.

E então, as três puderam ouvir voz de Potter exclamar, do lado de fora:

– Maravilha, Sirius!

Lily, Anita e Lorens se entreolharam novamente.

– Ok, deve ser mulher mesmo. – Lorens cedeu, suspirando.

– Acho que vocês estão erradas.

Remus finalmente fechou o livro e mirou as amigas, ostentando um olhar divertido.

– Ora, Remus, estamos falando do Potter e do Sirius! – Lily justificou-se.

Ele riu sob os olhares curiosos das garotas.

– Tenho certeza de que é outra coisa. E se o Sirius chamou o James lá fora, é bem provável que seja por sua causa, Lily.

– Minha causa? Por quê?

Remus mirou-a com um olhar misterioso.

– Para você não ouvir. – ele respondeu, simplesmente.

– Ouvir? Mas...

– Remus, esse seu jeito me dá medo. – Lorens comentou, encolhendo-se no sofá.

E então, a porta se abriu novamente. Sirius e Potter entraram com sorrisos de orelha a orelha e pararam no centro da sala, diante de todos os amigos.

– Tenho uma novidade. – anunciou Sirius.

– E que novidade! – Potter enfatizou, voltando a se sentar ao lado de Lily.

– Eu tenho certeza de que todos aqui vão concordar com isso. – Sirius continuou, sorridente. Depois, virou-se para Lily. – Menos você.

A primeira coisa que Lily fez foi olhar para Remus, mais confusa do que nunca. Mas Remus ignorou seu olhar de espanto e permaneceu encarando Sirius, esperando pela explicação.

– O que foi que você aprontou, Sirius? – Lily indagou, embora temesse a reposta que estava prestes a receber.

– Primeiro, deixe-me explicar. – Sirius endireitou-se e respirou fundo. – Tudo começou com uma aposta que fiz com meus colegas lá da academia e, quem vencesse a aposta–

– Explique a aposta. – mandou Lily, olhando-o severamente.

– Ah, Lily, a aposta não importa! – Sirius fez um gesto impaciente. – Então, o prêmio era–

– Sirius, fale da aposta. – Lily repetiu, séria.

Ele abriu um sorriso encantador, mas Lily não se deixou afetar. Ela era imune a seus sorrisos derretedores de gelo.

– Ok. – o rapaz cedeu, sem perder o bom-humor. – Nós só apostamos para ver quem conseguia alguma coisa primeiro com uma novata, que começou a fazer musculação semana retrasada.

Naquele momento, Lily rolou os olhos de tédio. Anita, por sua vez, fechou a cara e nem notou que estava sendo atentamente observada por Remus, enquanto Lorens falava:

– Seus amigos são muito idiotas de apostar uma coisa dessas com você.

– Você pensa que foi fácil? – Sirius perguntou, indignado. – Aquela mulher é casada!

– Já não gostei dessa aposta, Sirius, então provavelmente não vou concordar com o que você tem para falar. – Lily concluiu, cruzando os braços.

– Evans, deixe o Sirius terminar. – pediu Potter, lançando uma charmosa piscada para a ruiva.

Todos fizeram silêncio e Sirius prosseguiu:

– Então, quem conseguisse alguma coisa com a casada primeiro ficaria com a antiga mesa de snooker da sala de jogos da academia. Os donos compraram uma nova e iam jogar a antiga fora.

– Espera! – Lorens pulou do sofá, não podendo conter sua empolgação. – Você ganhou uma mesa de snooker?

– Exatamente. – e Sirius abriu mais um sorriso incrível.

– E onde está ela? – Lily perguntou, começando a entender as coisas.

Sirius e Potter trocaram mais um olhar espirituoso.

– Lá fora, querida.

Lily se levantou do sofá, estreitando os olhos verdes para Sirius.

– Então você pretende colocar uma mesa de snooker dentro desta casa?

– Lily, eu sei que a casa não tem tanto espaço livre, mas dá para espremer um pouco os móveis lá do canto...

– Você sabe que não cabe, Sirius!

– Lily! – Lorens a chamou e parou ao lado de Sirius. – Uma mesa de snooker de graça, você sabe o que é isso? Ninguém abre mão de uma coisa dessas!

– Mas não tem espaço nessa sala. – foi a resposta definitiva de Lily.

E então, Potter também se levantou e se posicionou ao lado da ruiva.

– Sirius, a Evans é minoria. Por que é ela quem decide?

– Potter, não comece. – Lily exigiu, sem sequer olhá-lo. – Sirius, olhe bem à sua volta. Onde você pretendia colocar aquela mesa?

Sirius sorriu e passou a mão pelos cabelos.

– Eu já pensei em tudo, querida. Podemos tirar aquela estante de livros daquela parede e dar um fim naquela mesinha com aquele vaso de flores. – Sirius explicou, apontando para um canto mais vazio, ao lado das escadas.

Lily seguiu o dedo do amigo e analisou o espaço por alguns segundos.

– Nem pensar. – ela negou. – Aquela estante tem livros meus e de Remus e aquela mesinha com o vaso de flores... Não. Eu comprei as duas ano passado exatamente para colocar naquele canto, para que elas cobrissem uma mancha na pintura da parede! E eu cuido daquelas flores desde que comecei a morar aqui, Sirius! Ninguém vai dar um fim nelas!

– Lily, nós não precisamos jogar os seus livros no lixo e nem necessariamente matar as suas flores. – Sirius retrucou, perdendo um pouco a paciência.

– Eu não me importo em guardar meus livros no meu guarda-roupa. – Remus se pronunciou, ainda acomodado na poltrona.

– É, Lily, você guarda seus livros em outro lugar e põe esse vaso na cozinha! – Lorens apoiou, prontamente. – E fique tranquila que ninguém vai reparar na mancha da pintura tendo uma mesa de snooker bem na frente. Prometo.

Lily hesitou por um momento. Virou-se para os amigos e os contemplou. Lily definitivamente adorava o fato de que os amigos reconheciam que ela possuísse a palavra final. Tal reconhecimento a amolecera consideravelmente e, juntamente aos olhares pidões de Potter, Sirius e Lorens, Lily viu-se sem outra alternativa, senão ceder.

– Tudo bem... – ela assentiu, murchando os ombros.

Os três soltaram várias exclamações de vitória.

– Vamos carregar a mesa para dentro, Sirius! – Potter se adiantou animadamente na direção da porta.

Entrementes, Anita permanecia de cara fechada, sentada no sofá, como se não tivesse ouvido qualquer coisa. Lorens correu alegre até a estante de livros e começou a retirá-los dali agilmente, um a um.

– Lorens, cuidado com eles! – Lily gritou para a amiga, do outro lado do aposento. – Espera, espera! Deixa que eu faço isso, você é muito descuidada.

– Ok.

Remus também se levantou para separar seus livros. Ele e Lily começaram a empilhá-los sobre a mesma mesa que servia de suporte para o vaso de flores de Lily. Lorens havia saído da casa para ajudar Sirius e Potter a carregarem a mesa para dentro.

– Remus, você sabia da mesa? – Lily perguntou, lembrando-se do que ele lhe dissera antes mesmo que Sirius contasse as novidades.

– Não.

– Mas... Como você sabia que o Sirius não queria que eu ouvisse? Como você sabia que eu não ia gostar?

Após colocar outro livro sobre a mesa, Remus voltou-se para Lily e, abrindo um sorriso tímido, respondeu:

– Acho que eu conheço vocês muito bem.

– Se você realmente não sabia, então conhece mesmo. – Lily concordou, voltando olhar para os livros.

– Conheço o suficiente para já ter percebido que a Anita gosta do Sirius.

Lily parou imediatamente o que estava fazendo e o olhou confusa, sem saber ao certo o que responder. Tinha de negar, naturalmente. Anita dissera milhares de vezes que pretendia esquecer Sirius, portanto, Remus não precisava ter suas suspeitas confirmadas.

– De onde você tirou isso, Remm? – Lily forçou uma risada, que saiu um tanto esganiçada demais. – Não viaja, sério.

Ele riu.

– Mas eu não estou perguntando, Lily, eu estou afirmando. E fique tranquila que eu não pretendo me meter. Eu só queria te mostrar que conheço vocês muito bem, só isso.

Lily coçou a cabeça e deu uma olhada de esguelha para Anita, que estava espantosamente séria, e resolveu manter-se em silêncio. Em seguida, Sirius e James surgiram à porta, carregando a mesa de lado, cuidadosamente, para que ela pudesse passar pela passagem sem sofrer quaisquer danos.

– Vamos acabar logo com isso, eles já estão trazendo a maldita mesa de snooker para cá. – Lily sugeriu, não perdendo oportunidade de encerrar o assunto.

–--

A manhã seguinte estava mais fria e mais cinzenta que a manhã de sexta-feira. Mas apenas Lily e Anita dormiram, os outros quatro moradores da república passaram a noite em claro, jogando snooker. Lily acordara várias vezes no meio da noite por conta das risadas e exclamações vindas do andar de baixo.

Depois do almoço, Anita convidou Lily para ir ao centro da cidade fazer compras. A ruiva concordou na hora, pois fazia algum tempo desde que Lily comprara algo para si. Àquela altura, a casa já estava demasiadamente silenciosa, uma vez que os demais moradores finalmente haviam ido dormir. Portanto, o convite viera em muito boa hora.

– Você quer comprar o quê, Anita? – perguntou Lily, enquanto elas caminhavam até o ponto de ônibus.

– Tecidos. Eu desenhei umas blusas bonitas, quero mandar fazer. – ela respondeu, abrindo um sorriso fraco, mas sua voz estava inegavelmente desanimada.

Lily sabia que Anita ainda estava chateada; e talvez fora exatamente por isso que resolvera fazer compras. Isto era absolutamente típico de Anita: fazer compras para melhorar o humor. Não era à toa que a loira estava sempre com a conta bancária negativa.

As duas tiveram uma tarde muito agradável. Lily se divertiu muito ouvindo Anita reclamar do preço de todos tecidos pelos quais se interessava em comprar. Por fim, Lily resolvera comprar livros e não roupas e, por conta desta decisão, teve de ouvir Anita reclamar ainda mais com ela. Mais tarde, quando o sol já havia se posto atrás do horizonte dos prédios de Londres, as duas tomaram o ônibus de volta, segurando as sacolas com certa dificuldade, mas, sem dúvida, se divertindo muito.

O ônibus parou a alguns metros da república. Da rua, elas podiam ouvir um ruído de música alta abafada.

– Você sabe se está tendo festa na Whisky de Fogo hoje? – perguntou Lily.

– Não estou sabendo de nada.

Mas não demorou muito para que as duas percebessem que a festa não era na República Whisky de Fogo. O barulho provinha da república delas. Receosas, Lily e Anita pararam diante da porta da casa e olharam uma para a outra.

– Relaxa, Lil, Sirius e James devem ter colocado essa música alta para jogar. – Anita palpitou, não muito segura.

Lily abriu a porta. Estava praticamente impossível enxergar um metro a frente por conta da fumaça de cigarro que pairava no ar. Lily paralisou à entrada quando se deu conta da quantidade de pessoas desconhecidas andando pela sala, muitas delas fumando.

– I-isto é um pesadelo, Anita?

– N-não, Lily.

Lily entrou e soltou suas sacolas no chão. Mas antes de continuar seguindo em frente, ela paralisou novamente ao ver um rapaz embriagado com os pés em cima do sofá branco, rindo sem parar de algo que uma garota estava lhe dizendo.

– Anita, o meu sofá! – Lily exclamou, horrorizada, mas a música alta abafou sua voz.

Não demorou muito para Lily reparar em um alvoroço em torno da mesa de snooker. Toda aquela bagunça, provavelmente, era por conta da mesa. Quando ela decidiu ir até lá, esbarrou em alguém, que perguntou:

– Hey, você tem um isqueiro?

Lily apenas revirou os olhos e não respondeu. Continuou andando, abriu passagem por um grupo de jovens que rodeavam a mesa e finalmente pôde ver o que todos estavam assistindo.

No instante em que Lily chegou, Potter estava debruçado sobre a mesa, mirando a bola branca com a ponta do taco. Quando Lily entrou em seu campo de visão, ele se interrompeu e levantou os olhos para ela.

– Evans, essa é pra você. – e piscou com um olho só.

Num movimento rápido, ele encaçapou duas bolinhas em uma só tacada. As pessoas em volta soltaram exclamações de espanto.

Marlene também estava ali por perto, assistindo a Sirius jogar. Ele e Potter aparentemente eram parceiros contra mais dois rapazes que Lily jamais havia visto na vida.

– James, você é o melhor! – Sarah Adams surgiu ao lado de Potter e o abraçou. Mas ele continuou olhando para a disposições das bolas sobre a mesa, ignorando-a, e se preparou para jogar novamente.

Lily simplesmente não sabia como reagir. Evidentemente, ela estava muito furiosa por encontrar uma festa acontecendo em sua própria casa, sem que os amigos tivessem tido a bondade de comunicá-la sobre seus planos. Mas o que ela deveria fazer agora? Expulsar todo mundo, gritando que a festa havia acabado? Subir para o quarto e se jogar da janela?

Não havia nada que ela pudesse fazer. Extremamente aborrecida, Lily deu meia volta, passou pelo mesmo grupo de jovens e se afastou da aglomeração em volta da mesa. Anita ainda estava parada no mesmo local, olhando estagnada para a bagunça que a sala se tornara.

– Anita, você estava sabendo dessa festa?

– Claro que não!

– Eu vou matar o Potter!

– Isso não deve ser só ideia dele, Lily! – Anita balançou a cabeça. – O Sirius também mora nessa casa!

– Eles vão limpar tudo!

– E, é claro, a Lorens também deve ter um dedo nisso. – Anita acrescentou, indicando a amiga com o queixo.

Lily virou-se para ver e encontrou Lorens, sentada nos primeiros degraus da escada, aos beijos com um rapaz de cabelos longos e escuros, presos atrás da nuca. Depois que eles se soltaram, o rapaz acendeu um cigarro charmosamente.

– Anita, estou quase sem ar! – Lily se queixou, olhando para a névoa de fumaça, desnorteada.

– Eu também!

– Quer saber? Eu vou falar com o Potter agora! A casa é minha e eu não quero ninguém sujando ela assim, ele vai ter que dar um jeito nisso!

Lily fez menção de voltar a se aproximar da mesa de snooker, mas Anita a segurou pelo braço.

– Não perca seu tempo, Lily. Vai por mim, você não vai conseguir acabar com essa zona. Olha o tanto de gente que tem aqui!

– E qual é a sua sugestão?

– Esperar a festa acabar, ué. Não vai demorar muito, já que começou cedo. Tenha paciência.

– Como você consegue ficar tão tranquila, Anita? Olha aquele casal se espremendo na minha parede! Olha aquele Pettigrew derrubando farelo de pão no meu tapete! – Lily estava prestes a um ataque de nervos.

Anita caiu na risada.

– Lily, vamos subir. Acho que lá em cima não vai estar tão barulhento. Depois que você se acalmar, nós descemos de novo, ok?

Lily tentou respirar fundo, mas não conseguiu por conta da densa fumaça de cigarro que pairava no ar. Anita a puxou em direção às escadas antes que a ruiva protestasse de novo.

– Oi, meninas! – Lorens sorriu ao vê-las. O rapaz ao seu lado acenou, simpático. – Esse é o Christopher.

– Lorens, que bagunça é essa? – Lily vociferou, irritada.

– Ah, Lily, é só uma pequena comemoração... Não é todo dia que ganhamos uma mesa de snooker, não é?

– PEQUENA COMEMORAÇÃO?

– Lily, se acalme! – Anita sussurrou.

– Você viu a sujeira que estão fazendo? – Lily continuou, olhando fixamente para Lorens. – E por que não me avisaram sobre a festa?

– Eu juro que eu vou te ajudar a limpar! – Lorens prometeu, unindo as sobrancelhas numa clara expressão de piedade.

– Me ajudar? Eu não vou limpar nada! Vocês vão! – Lily sentenciou, embora soubesse que não aguentaria e acabaria limpando também.

– Eu também posso ajudar. – Christopher falou.

– É o mínimo!

– Ela quis dizer 'obrigada', Chris. – Lorens disse a ele, num tom divertido.

– Vamos subir, Lily. Você está surtando. – Anita resolveu intervir. – Você precisa se acalmar.

Lily concordou com a cabeça, fracamente. Anita agarrou o braço da amiga e conduziu-a escada acima. No corredor entre os dois quartos, a música alta parecia bem mais distante. Suspirando pesarosamente, Lily entrou em seu quarto e soltou um grito agudo.

Bellatrix Black e Frank Longbottom estavam quase nos finalmentes quando a porta se abriu. Mas, para a sorte das recém-chegadas, Frank ainda trajava uma cueca boxer e Bellatrix estava apenas com o vestido escuro levantado, com as pernas enroscadas na cintura dele. O pior, para o horror de Lily, era que eles estavam precisamente sobre sua cama.

– Mas o quê...

Frank imediatamente saiu de cima da namorada e correu apanhar suas roupas no chão. Bellatrix, por sua vez, espreguiçou-se e colocou-se de pé lentamente, demonstrando absoluto descaso.

– Por acaso você me persegue, Evans? – a morena perguntou, com a voz arrastada.

Eu? Você está no MEU quarto, Black!

Bellatrix se aproximou das duas, junto à porta, sorrindo de lado. Frank estava na outra extremidade do quarto, vestindo as calças, portanto não ouviu o comentário da namorada que se seguiu:

– Foi a Alice que mandou você me vigiar, Evans? – ela alargou o sorriso. – Só porque eu faço com Frank tudo o que ela sempre quis fazer?

Lily definitivamente não estava esperando ouvir aquilo.

– Cale essa boca. – Anita deu um passo à frente, encarando Bellatrix com seu olhar mais furioso.

– Saia do meu quarto agora. – Lily murmurou, entredentes.

E então, Frank apareceu ao lado de Bellatrix, impedindo-a de devolver-lhes uma resposta ácida. O rapaz estava completamente desconcertado e evitava o contato visual com todas as presentes.

– Desculpe, Lily. – ele falou, em voz baixa.

Lily sequer tinha forças para responder, estava ocupada demais absorvendo tudo o que acontecera nos últimos dez minutos. Bellatrix quebrou o silêncio e a trouxe de volta à realidade ao acionar o isqueiro, acendendo seu inseparável cigarro.

– O que está fazendo? Não fume dentro do meu quarto, Black. – Lily ordenou, sentindo a raiva voltar a crescer dentro de seu peito.

– Vamos, Bellatrix. – Frank a puxou pela mão.

Ela passou por Lily exalando a fumaça, sorrindo em deboche. Quando o casal finalmente saiu do quarto, Lily explodiu:

– O que esses dois idiotas estavam pensando em fazer na minha cama?

Lily apressou-se em arrancar os lençóis de sua cama com ferocidade, deixando Anita um pouco assustada com a violência. Lily jogou o edredom e o lençol no chão, o rosto vermelho de raiva. Nesse instante, Anita chegou a cogitar a possibilidade da amiga enfartar a qualquer momento.

– Lily, fique calma! Respira! – Anita segurou-a pelos ombros, obrigando-a a parar de atirar as coisas no chão. – E você não precisa trocar o lençol, aparentemente eles não chegaram a fazer... o serviço completo.

– Não importa! – Lily rebateu, um pouco mais calma, mas ainda muito afetada. – Como a dúvida ainda existe, eu não vou conseguir dormir com isso. – Lily fechou os olhos com força e suspirou. Seu rosto foi moldado por uma expressão de puro sofrimento. - Ai, Anita, não acredito que isso está acontecendo...

– C-calma, Lily... Eu ajudo você. Respira fundo.

Anita nunca havia visto Lily tão desequilibrada antes. Ajudou a amiga a trocar os lençóis e, quando a cama de Lily estava novamente bem feita, Anita sentou-se ao seu lado e ouviu os desabafos da ruiva por quase uma hora, pacientemente.

–--

Acalmar Lily não foi uma tarefa fácil, mas Anita conseguiu. Obviamente, tal missão só foi possível depois de prometer à amiga mil vezes que a ajudaria na limpeza e que a bagunça da sala não estaria tão ruim. Quando eram quase onze horas, Lily voltou ao andar inferior. Anita havia descido já havia algum tempo e Lily a encontrou conversando com Lorens e Christopher. Era notável que o número de pessoas havia diminuído e a ruiva agradeceu aos céus pela nevoa de cigarro ter diminuído também.

Lily se sentou ao lado de Lorens, olhando minuciosamente para todos os cantos, observando que vários objetos estavam fora de lugar e que haviam garrafas de cerveja espalhadas por todas as superfícies.

– E aí, Lily, melhorou da neura? – Lorens indagou, bem-humorada.

– Enquanto essa bagunça não acabar, eu não vou melhorar. – Lily respondeu mais para si mesma do que para os outros.

– Relaxa, Lily. – Christopher falou, simpático. – Você precisa se divertir. Por que não vai assistir ao meu show hoje?

Hoje?

– Sim, começa à meia noite. Daqui a pouco eu tenho que ir, senão o baixista me mata. Eu sempre me atraso.

– Eu vou, Lily! – Lorens contou, animada. – Vamos, o Chris vai tocar com a banda dele!

– Eu acho que vou ficar limpando aqui, mas obrigada. – Lily respondeu, olhando para a bagunça sobre a pequena mesa de centro diante dela.

– Uma pena. – lamentou Christopher. E então, ele se levantou. – Eu já volto, vou pegar minha guitarra que ficou na cozinha.

Quando ele se afastou consideravelmente, Anita se inclinou para as amigas e cochichou:

– O Bill não pára de olhar para você, Lorens.

– Eu vi. – ela revirou os olhos. – Babaca, como sempre. O Christopher é bem melhor que ele. Sabiam que ele conhece um monte de músicos famosos? Dane-se o bafo de cigarro, ele é muito legal!

Lily e Anita riram.

Naquele momento, Bill estava jogando sinuca contra James e Sirius – eles quase não perdiam, portanto não precisavam dar a vez para outra dupla –, tendo Peter como seu parceiro. De fato, os dois não estavam jogando nada bem, principalmente porque Peter mal sabia as regras do jogo e estava consideravelmente ébrio.

Subitamente, Lorens cutucou as amigas e apontou para Remus com o queixo. Ele assistia de perto aos amigos jogando, possivelmente aguardando sua vez de jogar, quando Helena surgiu ao seu lado com os olhos cheios de lágrimas.

– Qual é a dessa vez, Helena? – perguntou ele, entediado, sem tirar os olhos da partida.

– Que pergunta é essa, Remus?

– Você tinha dito que não viria para cá de jeito nenhum. O que a fez mudar de ideia?

Ela esfregou os olhos e falou:

– Olha esse tanto de gente enchendo a cara aqui, na sua casa! Você sabe que eu não gosto disso!

– Helena, você já percebeu que eu não moro sozinho?

– Pare com suas ironias!

Remus respirou fundo, pacientemente.

– Helena, hoje não, por favor. Você não estava tentando melhorar? O que aconteceu nessas últimas semanas?

Helena repentinamente desabou em lágrimas, escondendo o rosto atrás das palmas das mãos. Algumas pessoas próximas ao casal começaram a olhá-los, curiosas.

– Eu realmente tentei, Remus! Mas aí você me aparece com uma festa dessas, cheia de bebida! Como você acha que eu fiquei ao saber disso? E olhe para todos esses jovens, Remus, olhe como eles se afogam no álcool, graças a você! Você não sente nenhum pingo de remorso por isso?

– Não, nenhum. – Remus continuava calmo. – Aqui não tem nenhuma criança que não saiba o que está fazendo. E foram os convidados que trouxeram as bebidas, eu não estou incentivando ninguém a "se afogar no álcool", Helena.

– Não concordo!

– Não me importo.

Helena parecia ter sido insultada.

– Ah, não? Então você não se importa comigo? Com minha opinião?

– Eu só estou participando da festa, do jeito de sempre. O máximo que eu fiz aqui foi jogar algumas partidas de snooker. Por que você faz tanta questão de brigar?

– Essa maldita mesa é igual às dos botecos que o meu pai frequenta. – Helena sussurrou, olhando enojada para a mesa. – Esse cheiro, esse ambiente... Tudo isso me lembra ele e você sabe muito bem disso!

– Eu não sou o seu pai, Lena. – Remus lembrou-a, pacificamente.

Helena fechou os olhos com força e lágrimas grossas escaparam deles.

– O problema, Remus, é que você nunca pensa em mim! Custava ter me chamado para fazer outra coisa hoje? – ela estava muito chateada. – Você sabe de todos os meus traumas e problemas, então por que insiste em me meter em eventos como esse?

– Mas você não era obrigada a vir. Está aqui porque quer.

Diante da resposta impassível e fria de Remus, Helena deu-lhe as costas e saiu correndo em direção à saída. Quando ela bateu a porta, atraindo ainda mais a atenção alheia, Remus suspirou e se dirigiu ao andar superior, a fim de fugir dos olhares curiosos.

– Helena é insuportável. – Lorens comentou, quando Remus desapareceu escada acima. – Se eu fosse ele, já tinha explodido há anos!

– Eu realmente não conhecia esse lado da Helena, antes de eles começarem a namorar. – Anita falou, preocupada.

– E eu vou arrumar a cozinha. – Lily concluiu, por fim.

–--

Lily acordou todos os moradores às sete horas da manhã, no dia seguinte. Obrigou todos a se sentarem um ao lado do outro no sofá da sala. Potter continuou dormindo quando se sentou. Lorens reclamava repetidamente, pois havia chegado por volta das cinco horas da manhã do show de Christopher e mal pudera dormir.

– Pra quê tudo isso, Lily, eu mal me deitei e–

– Escutem. – Lily a interrompeu, olhando para os cinco amigos severamente. – Limpeza completa na casa hoje. E isso inclui o quarto masculino.

– Ah, Lily! – Sirius reclamou, sonolento. – O quarto não está pior do que sempre foi.

– Não importa. – Lily cruzou os braços na frente do peito, inflexível. – E, antes de começarmos a limpar, quero dar uns avisos. Na próxima festinha que vocês resolverem fazer, por favor, pelo menos me comuniquem. – ela fez uma pausa para receber um olhar apoiador de Anita. – Não foi nada legal entrar aqui e encontrar um monte monte de gente pisando no sofá, derrubando bebida por toda parte e vomitando no meu banheiro! Se vocês tivessem me avisado, eu poderia ter colocado um forro no sofá, poderia ter retirado o tapete daqui e ter adaptado a casa inteira para que não chegasse a esse ponto.

– Pode deixar. – Remus concordou, apressadamente. – Não vai acontecer de novo.

– Obrigada. – Lily agradeceu, sem amolecer. – Outra coisa: se resolverem fazer outra festa aqui, por favor, deixem claro que não quero ninguém transando na minha cama. Estamos entendidos?

– Como assim? – Potter finalmente acordou do cochilo, interessando-se pela história imediatamente.

Anita apressou-se em contar aos amigos sobre o que ela e Lily presenciaram ao chegarem ao quarto. Todos, incluindo Lily, acabaram rindo da situação inusitada.

– Foi bem horrível presenciar aquela cena. – Anita concluiu, risonha. – Se tivéssemos chegado um minuto mais tarde...

– Tenho um último aviso. – Lily voltou a falar. – Na próxima festa, se houver, lembrem-se também de avisar aos colegas fumantes para fumarem do lado de fora da casa. O cheiro de cigarro está aqui até agora, caso não tenham percebido!

Sim, Lily. – os quatro, exceto por Potter, que cochilara novamente, concordaram em uníssono.

– Ótimo! Eu vou cuidar da cozinha, porque ninguém sabe limpar lá direito. Anita, como você não participou da conspiração, você não precisa ajudar, se não quiser. Lorens e Remus, vocês cuidam da sala. Sirius, você cuida da bagunça do quarto masculino. Potter. Potter!

Potter acordou assustado.

– O quê?

– Você cuida dos banheiros. – Lily concluiu. Dirigindo-se a todos, completou: – Podem começar!


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? ♥
Os últimos capítulos tiveram poucas interações entre todos os moradores, então nesse capítulo abordei mais o relacionamento harmonioso (ou nem tanto) entre os habitantes da República Evans! HAHAHAH, espero que tenham gostado, me diverti muuuuuuito escrevendo! ♥

Beijos, até o próximo!
Carol Lair (Twitter novo: @carollairr)



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