República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 17
Surpresa


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos! Tudo bem com vocês?

Esse capítulo será dedicado à Violet Evans (https://fanfiction.com.br/u/290043/), uma leitora e amiga, que não só escreveu um comentário muito legal no capítulo anterior, mas como também uma MARAVILHOSA recomendação para República Evans. Ela merecia muito mais do que isso, mas por enquanto é o que posso oferecer. Obrigada por tudo mesmo, querida!! ♥

Agora, o capítulo:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/607838/chapter/17

Capítulo 17 – Surpresa

O relógio biológico pedia por mais tempo, mas o despertador programado do celular apitava incessantemente. Lily abriu os olhos e apertou qualquer botão do aparelho para fazê-lo parar. No mesmo instante, sentiu uma profunda dor de cabeça e, completamente despenteada, ela se sentou em sua cama e olhou em volta.

Constatou que estava usando a mesma roupa que usara no dia anterior, e levou a mão a testa, sentindo um péssimo mal-estar.

Foi então que se lembrou de tudo.

Eu não creio que fiz aquilo, ela pensou, enquanto se encaminhava para o banheiro. Tomou um banho corrido, se lembrando de flashes da noite anterior. Whisky, Pink Floyd, segredos sem sentido, as amigas dançando, uma guerra de travesseiros...

Mesmo perecendo de uma forte dor de cabeça, Lily resolvera que não faltaria à aula. E talvez suas colegas de quarto também não quisessem faltar, embora não tivessem acordado com o despertador de Lily. Portanto, a ruiva se vestira rapidamente e resolveu verificar as intenções das amigas antes de ir para Hogwarts.

– Anita?

Anita estava deitada de bruços em sua cama, também com a mesma roupa da noite anterior. Ela levantou a cabeça lentamente e olhou para Lily com uma expressão doentia.

– O que é, Lily?

– Você vai perder a aula se não levantar agora. Eu já estou indo, quer que eu te espere?

Mas Anita soltou uma risadinha silenciosa e sonolenta. Virou-se na cama e puxou as cobertas, acomodando-se confortavelmente.

– Hoje eu não vou, querida. Estou morta.

– Mas...! Você vai faltar para ficar dormindo? – Lily cruzou os braços, um tanto inconformada. E se houvesse um teste surpresa? E se Anita perdesse alguma atividade que valesse nota?

– Boa noite, Lily. – ela murmurou, fechando os olhos.

Com Lorens não foi muito diferente. Desta forma, Lily desceu sozinha para tomar seu café da manhã e tomar um analgésico para eliminar sua dor de cabeça. Encontrou a caixa de remédios na dispensa e engoliu um comprimido com a ajuda de um copo d'água. Nunca mais vou beber na minha vida, ela se prometeu, mentalmente.

– Bom dia, Evans!

Lily suspirou e tentou imaginar se a presença de James Potter anularia os efeitos do remédio que havia acabado de ingerir. Continuou preparando suas torradas matinais, ignorando sua presença. Ela definitivamente não estava com humor para as ironias dele naquela manhã.

– Você está bem disposta para alguém que está de ressaca, sabe. – Potter comentou, arrastando uma cadeira para se sentar à mesa.

Lily parou tudo o que estava fazendo e virou-se para ele.

– O quê?

Foi então que ela finalmente se lembrou do desfecho da noite anterior. Mas suas lembranças estavam um tanto confusas por conta dos efeitos do álcool. Será que ela realmente se recordava de tudo? Será que os efeitos do whisky apagaram algum acontecimento?

– Potter... – Lily fraquejou. Detestou-se por não conseguir disfarçar sua preocupação.

– Sim? – ele abriu um sorriso imenso.

– O que você viu ontem... esqueça. – ela praticamente sussurrou aquela última palavra. – Por favor.

– O que você está me pedindo é impossível.

Céus, eu deitei no ombro dele, Lily se lembrou, sentindo seu rosto começar a esquentar. Forçou sua cabeça latejante a se lembrar de mais alguma coisa, mas não conseguiu. O que acontecera depois daquilo? O que eles haviam conversado?

– Potter, por acaso nós...

Ele começou a rir ao compreender sua dúvida. Lily não soube decifrar se aquilo era um bom ou mau sinal.

Não. – ele finalmente respondeu, ainda aparentando bastante divertimento.

Lily respirou aliviada, embora a sensação de que algo estivesse faltando ainda pairasse no ar.

– E como foi que eu fui para o meu quarto? – ela questionou, temendo pela resposta.

Mas Potter se levantou e andou em sua direção, semicerrando os olhos e fitando-a com bastante atenção.

– Eu te levei para lá. – ele respondeu, simplesmente.

Sério?

Ele riu da expressão desacreditada que Lily ostentava. Ela corou ainda mais ao perceber que Potter não parava de se aproximar. Mais uma vez, ele demonstrou ignorar o limite aceitável de aproximação estabelecido pelas regras sociais. Precisava mesmo chegar tão perto assim?

– Você dormiu... Bem aqui. – e Potter colocou a mão sobre o ombro.

Lily deu um passo para trás e seu quadril encontrou a bancada da pia. Potter, abrindo um sorriso, deu um passo a frente.

– Desculpe por isso. – Lily se esquivou para o lado e se encaminhou até a porta da cozinha. Algo lhe dizia que aquela proximidade não era segura. Seu coração estava disparado e suas bochechas estavam muito quentes, portanto ela precisava recobrar a postura e, para conseguir isso, uma certa distância precisava ser restabelecida.

– Não tem necessidade de se desculpar.

Subitamente, Lily se lembrou de algo.

– Você me pediu desculpas pelo que me disse ontem no Fórum? Ou eu imaginei isso?

– Sim, eu pedi desculpas. – Potter respondeu, suspirando, um pouco decepcionado com o afastamento repentino dela.

Lily estava realmente surpresa com todas as coisas que haviam acontecido no dia anterior. Pela tarde, no Fórum, Potter havia se provado o cara mais imaturo do mundo ao exigir que ela desmentisse os boatos para Violet Brown, com o argumento ilógico de que ele nunca tivera a intenção de realmente sair com ela, mas apenas de irritá-la ao fazer aqueles convites. Preocupado somente com o que os outros poderiam pensar dele, mais nada. No entanto, durante a madrugada, Potter se provara o cara mais maduro do mundo ao lidar com ela pacientemente, apesar de seu estado ébrio, e levá-la para seu quarto, sem tirar nenhum proveito da situação.

– Bem maduro, Potter. – Lily disse, por fim, abrindo um sorriso tímido. – Continue assim.

– Ontem você me chamou de James, aliás.

– Bem maduro, Evans. – ela brincou, fazendo Potter rir. Lily tentou se lembrar daquela cena, mas não conseguiu. E, inesperadamente, lamentou-se por não se recordar.

– Continue assim. – ele completou a brincadeira e Lily sentiu o rubor voltar a dominar seu rosto. Droga, droga.

Potter começou a caminhar na sua direção mais uma vez. Lily olhou para o relógio preso junto à parede oposta e resolveu ir embora, antes que ele estivesse consideravelmente perto.

– Bom, eu... tenho que ir. Estou atrasada. Até mais tarde.

Lily se retirou da cozinha o mais rápido possível, perguntando-se ininterruptamente o por que de estar agindo como uma idiota completa. Até três dias atrás, a presença e as piadas de Potter apenas a incomodavam e a faziam querer manter distância. Mas desde o momento em que ele a convidara para sair de verdade, na saída do Salão Principal dois dias antes, algo havia mudado.

Mas Lily não sabia dizer o quê.

–--

Mais tarde naquela manhã de sexta-feira, houve um grande alvoroço no Salão Principal durante o horário do almoço. O motivo para aquilo eram as notas das provas bimestrais, realizadas semanas antes, estarem expostas nos murais de cortiça logo na entrada. James, Sirius, Remus e Peter abriram passagem entre os demais estudantes que estavam a sua frente para poderem conferir seus resultados. Depararam-se com uma lista enorme, que se dividia por curso, em ordem alfabética. Remus se dirigiu para o final do mural para poder encontrar a lista de Psicologia.

James não se surpreendeu ao descobrir que suas notas estavam acima da média se comparado aos colegas de seu ano. Subiu os olhos para espiar a lista do segundo ano a fim de encontrar os resultados de Evans.

Dez. Em todas as disciplinas.

– Qual o problema dessa garota? – James não pôde evitar a pergunta, olhando embasbacado para o mural.

Sirius, que havia acabado de verificar que também havia sido aprovado em tudo, seguiu o olhar de James e compreendeu o que o amigo quisera dizer.

– Ah, Lily. – ele suspirou. – Ano passado ela ganhou uma menção honrosa por ter tirado dez o ano inteiro.

Mais uma vez, James tentou imaginar por que Evans sempre fazia questão de ser a melhor em tudo o que fazia. Por que ela se dedicava tanto em todas as suas responsabilidades? O que ela queria alcançar com isso? Por que ela sacrificava sua juventude daquela maneira para conseguir seus objetivos?

– Peter, você conseguiu tirar vermelha em tudo? – Remus questionava, indignado. Os dois vinham ao encontro de James e Sirius.

– Pois é, não acredito! Pensei que tinha ido bem! – Peter lamentou.

Os quatro se afastaram da aglomeração de pessoas e se dirigiram ao refeitório para almoçarem. Sirius, totalmente compenetrado em uma conversa com James, esbarrou em alguém e virou-se para se desculpar.

– Não vê por onde anda? – perguntou uma garota, num tom agressivo.

Sirius lançou-lhe seu melhor olhar e ela sorriu. Era Justine Molloy, a garota com quem passara o final da festa de Halloween algumas semanas antes.

– Desculpe, querida. – Sirius lhe disse, com gentileza demais.

Justine riu.

– Não tem problema, Sirius! Foi bem nas provas?

– Sim, e você?

– Fiquei com uma recuperação. – ela chacoalhou os ombros, como se não desse importância, e passou a mão pelos cabelos castanhos, jogando a franja para trás. – Mas e aí, vai fazer alguma coisa mais tarde?

Sirius arqueou uma sobrancelha e ponderou por alguns segundos. Ele e Justine já haviam saído duas vezes e a química entre os dois era incrível. Outro ponto positivo de sair com Justine era que ela também era adepta à falta de compromisso e nunca ficava cobrando satisfações ou esperando novos convites.

– Três Vassouras às nove, o que acha? – Sirius devolveu-lhe a pergunta em resposta. Se ela quisera mostrar que era uma pessoa direta, ele fazia questão de responder-lhe à altura.

Justine piscou com um olho só e continuou seu caminho. Sirius a seguiu com os olhos para poder dar uma última checada em suas pernas. Maravilha.

– Mandou bem, hein. – James o parabenizou, dando-lhe palmadas no ombro.

– E o que é que você esperava?

James trocou um olhar entediado com Remus e Peter e os quatro continuaram com a caminhada até o local no qual a comida estava servida.

– Sirius!

Novamente, eles foram interrompidos. Mas daquela vez, era Marlene com um sorriso radiante. James e Remus se entreolharam mais uma vez, enquanto a recém-chegada cumprimentava Sirius com um beijo carinhoso.

– Eu passei em tudo! – Marlene contou-lhe, após o beijo. – E a Sarah não! – ela riu, divertida. – Mas e você, foi bem nas provas?

– Fui.

– Só eu que não fui bem. – contou Peter, suspirando.

Marlene o olhou com piedade. Voltou a olhar para Sirius e seu sorriso se reabriu.

– Precisamos comemorar hoje à noite, Sirius!

Sirius olhou para ela do modo mais sedutor que podia. Tinha de ser consistente na desculpa que ia inventar.

– Desculpe, querida, mas hoje à noite não vai dar. Estou enrolando há dias para limpar a sala lá de casa, essa é a minha semana de limpar e já é sexta-feira.

– Ah, deixa para amanhã!

– Não posso, amanhã já começa a semana da Anita. – ele lamentou, convincente. – A Lily já está furiosa comigo, faz quase duas semanas que a sala foi limpa pela última vez.

James tinha certeza absoluta de que vira Evans tirando pó da sala dois dias antes, mas obviamente ficou quieto. Marlene colocou os braços em volta do pescoço de Sirius.

– Quer que eu fale com a Lily? Sabe, acho que ela entenderia se eu dissesse que você quer sair para namorar.

A Lily? – Sirius riu. – Você conhece a sua amiga... ela não sabe o que é sair para namorar.

– É, você tem razão. – Marlene concordou, rindo. – Então vamos deixar para amanhã mesmo. Depois combinamos.

– Maravilha. Já almoçou? Nós estávamos indo agora.

– Acabei de comer. – Marlene respondeu, em tom de desculpas. – Preciso pegar um livro na biblioteca antes de ir para o laboratório. – ela se virou para os demais e acrescentou: – Vejo vocês depois!

Em seguida, Marlene depositou um beijo breve nos lábios de Sirius e se virou para sair. Assim que ela virou-lhe as costas, Sirius soltou um suspiro sonoramente aliviado e quase foi pego. Marlene voltou-se novamente para os quatro.

– Esqueci de dizer uma coisa! – ela deu um tapinha na própria testa. – Remus. – ela o chamou. – Você podia... bem, você podia conversar com a Helena? Ela não fala mais comigo direito desde a festa de Halloween.

Remus desviou o olhar, um tanto desconcertado.

– Posso tentar. Mas você sabe como ela é, não é? – respondeu ele, com sinceridade.

Marlene concordou com a cabeça.

– Mas se puder conversar, por favor, tente. – ela lhe pediu mais uma vez. – O clima lá em casa está péssimo, sabe? Bom, preciso ir, bom almoço para vocês!

E ela finalmente se afastou.

– Será que podemos comer logo? – Peter perguntou, faminto.

– Sirius, por que é que você ainda está com a Marlene? – Remus, revirando os olhos.

– Como assim, por quê? – Sirius franziu as sobrancelhas. – Porque ela é legal e bonita, por que mais seria?

– Exatamente! – Remus continuou, num tom cansado. – Ela é legal, cara. Legal demais para você.

– Aliás. – James interveio. – O que vocês têm combinado, afinal?

Sirius semicerrou os olhos para os amigos.

– Eu e a Marlene não estamos namorando. – ele se explicou, abrindo um sorriso malicioso. – Ela também pode sair com quem quiser.

– Duvido que ela saia. – Remus retrucou, num tom desaprovador.

– Eu não quero saber se ela sai ou não. – Sirius disse, voltando a andar na direção da comida. – E vamos comer logo, não queremos ver o Peter desmaiar de novo, não é?

Os outros três amigos o seguiram. Peter estava faminto demais para se importar com o que diziam; Remus, com base no que Helena lhe contara, sabia que Marlene acreditava que seu relacionamento com Sirius fosse exclusivo; e James ainda estava preocupado demais com as notas de Evans para julgar se Sirius estava certo ou não.

–--

Depois do almoço, James, Sirius, Remus e Peter acabaram se separando. Helena não demorou para aparecer e arrastar Remus para longe, Peter resolveu repetir a refeição, Sirius foi direto para a academia e, sozinho, James resolveu dar uma volta pelos jardins.

O céu estava cinzento, indicando a chegada do inverno em poucas semanas. James fechou o casaco ao sentir a temperatura do vento soprando em seu rosto e pescoço. Sentou-se num banco qualquer para aproveitar os últimos minutos livres antes de ter de se dirigir ao Fórum para trabalhar. Lembrou-se de que, naquela mesma noite, ele e alguns outros funcionários haviam sido convidados para viajar até Oxford para a convenção anual de Direito.

Obviamente, a ideia de participar de um evento daqueles não era o acontecimento mais esperado da vida de James. Ao contrário do que este representava para Evans, que estava contando os dias para aquele final de semana. Mesmo ciente da importância de comparecer à convenção antes de estar graduado – para conhecer pessoas importantes e ouvir bons conselhos dos mais experientes –, James não estava minimamente ansioso para o evento em si. Afinal, ele havia crescido cercado de pessoas daquele tipo por conta de seus pais, que eram advogados renomados na Inglaterra.

Mas James estava particularmente ansioso por finalmente poder demonstrar sua maturidade para Evans. Afinal, ela parecia estar se abrindo para ele e seu comportamento durante o evento seria crucial para que pudesse derrubar de vez a muralha que ela havia construído entre os dois.

Enquanto refletia sobre suas chances com Evans após aquele final de semana, James a avistou ao lado de Renoir, caminhando do outro lado do jardim. Quase não acreditou quando viu os sorrisos estampados nos rostos dos dois. Não era possível que o francês mal-humorado tivesse resolvido atacar justo agora que James havia admitido para si mesmo que...

Não, James não havia admitido nada. Afinal, não havia nada para ser admitido.

E, naturalmente, James não pôde resistir. Tampouco ele faria algum esforço para tal. Começou a caminhar na direção do casal assim que pensara em algo bom para dizer. Renoir tomara as mãos de Evans e a puxara para mais perto. Ela estava sorrindo largamente e James sabia que ela raramente distribuía sorrisos como aquele.

– Evans. – James a chamou quando se aproximou.

Renoir virou a cabeça lentamente para olhá-lo e James reconheceu o olhar de desprezo. Ótimo. Então ele havia chegado na hora certa.

– Aconteceu alguma coisa? – Evans lhe perguntou, confusa.

– Temos que chegar mais cedo no Fórum hoje. Moody precisa de nós com urgência para resolver umas coisas sobre a viagem, ele acabou de me ligar.

Evans levou as mãos à boca, balançando a cabeça afirmativamente.

– Claro. Moody é muito atrapalhado com detalhes. – e, voltando-se para Renoir, acrescentou: – Louis, depois nos falamos. Preciso ir.

James gargalhou internamente enquanto assistia à Evans despedir-se do francês com um beijo no rosto e um olhar de desculpas. Durante o percurso até o Fórum, ela não parou de falar sobre a quantidade de tarefas que teriam naquela tarde e James fez o possível para demonstrar um imenso interesse em todas.

–--

Anita chegou mais cedo do trabalho naquele dia, uma vez que sua chefe havia notado que ela não estava se sentindo muito bem. Evidentemente, Anita não lhe contara que seu problema se chamava ressaca, mas mesmo assim conseguira ser dispensada mais cedo para poder descansar.

Quando entrou na república, encontrou Lorens dormindo no sofá, preguiçosamente. Ao lado da morena, uma garrafa de gatorade estava vazia. Anita presumiu que a morena também compartilhara do mesmo mal-estar e provavelmente havia faltado ao ensaio por conta da ressaca.

Retirou o celular do bolso traseiro da calça e colocou-o sobre a mesa de centro antes de se jogar no sofá. Foi tomada por uma crescente sensação de alívio por finalmente ter chegado em casa.

– Olá, querida. – Sirius saiu da cozinha e entrou na sala. – Voltou mais cedo hoje?

Anita se virou para ele e sorriu.

– Pois é, acabei o trabalho mais cedo e minha chefe me liberou. – ela mentiu, afinal, prometera à Lily que não contaria a ninguém sobre a bebedeira da noite anterior.

Sirius resmungou alguma coisa ininteligível e se sentou no sofá perpendicular àquele no qual Lorens estava dormindo, ao lado de Anita. Ele olhou para a morena adormecida e, arqueando uma sobrancelha, perguntou:

– O que houve com a Lorens?

– Não faço ideia, sabe. – Anita continuou se fazendo de desentendida.

Em seguida, seu celular começou a tocar e rodopiar sobre a mesa de centro. Anita fez menção de se inclinar para pegá-lo, mas Sirius foi mais rápido e o apanhou primeiro.

– Quem é Henry? – ele perguntou, olhando para o nome que o visor exibia.

Henry? Anita demorou alguns segundos para finalmente se lembrar do rapaz que conhecera no Três Vassouras havia pouco mais de um mês. Eles haviam saído duas vezes desde então.

– Me dá isso, Sirius. – Anita tomou o aparelho das mãos de Sirius, que começara a rir da reação dela, e o levou à orelha direita. – Alô?

E aí, sumida.

Sirius assistiu à loira a falar toda risonha ao telefone, um tanto curioso.

– Gostei muito da ideia. – Anita respondeu, enrolando a ponta do cabelo com o dedo indicador. – Mas é claro! – ela riu. – Melhor oito e meia. Pode ser?

Em seguida, ela encerrou a ligação.

– Então Henry é seu affair do momento. – Sirius concluiu, num tom ambíguo que poderia implicar tanto malícia quanto uma simples curiosidade.

– Pode-se dizer que sim. – Anita tentou lhe responder no mesmo tom, com um sorrisinho brincando nos lábios.

Houve um silêncio durante o qual Anita ficou mexendo em alguma rede social pelo celular. Sirius definitivamente detestava ficar em silêncio.

– Mas e aí. – ele voltou a falar.

– E aí o quê? – Anita não desviou os olhos do aparelho.

– Vocês vão sair hoje?

– Vamos! – ela respondeu, contente. – Combinamos de ir ao lugar onde nos conhecemos, o Três Vassouras. Eu adoro lá! – e, bloqueando o celular, ela se colocou de pé e abriu outro sorriso. – Vou subir para escolher minha roupa. Até mais, Sirius!

Sirius parou de ouvi-la no instante em que ouvira o nome do bar. Ele mal podia acreditar em seu azar. Não que ele estivesse errado em ter um encontro, mas a ideia ser visto com Justine por Anita, uma das melhores amigas de Marlene, não parecia que daria muito certo.

No entanto, Anita era uma de suas melhores amigas também. Sirius sabia que ela entenderia seu lado se ele lhe explicasse devidamente a situação entre ele e Marlene. Portanto, tentou não pensar no assunto. Até porque ele sequer tinha o número de Justine para poder alterar o local do encontro.

–--

Uma hora depois de Anita ter encerrado aquela ligação, Lily entrou no quarto feminino. Lorens estava acordada e lia o roteiro de sua nova peça pela milésima vez, sentada em sua cama. Anita trajava um vestido curto e preto e se olhava no espelho, sorridente.

– Você não ia viajar hoje? – perguntou Lorens, virando-se para a ruiva.

– Eu vou. O ônibus fretado vai sair da porta do Fórum em quarenta minutos. – Lily explicou, enquanto pegava a mala que havia deixado simetricamente ao lado de sua cama que, por sua vez, estava simetricamente arrumada.

– Quanto tempo de Londres até Oxford? – Anita perguntou, levantando o cabelo e segurando-o no alto da cabeça para verificar se ficava melhor preso. Decidiu mantê-lo solto.

– Uma hora e meia, mais ou menos. – Lily disse, ansiosa. – Vai sair, Anita?

– Vou! – ela respondeu prontamente. – Com aquele Henry, se lembra?

– Lembro, sim! – Lily confirmou, olhando para o relógio de pulso. Depois, ergueu o puxador da mala e se virou para as amigas. – Eu tenho que ir, ou vou me atrasar. Um advogado escocês famosíssimo foi convidado. Espero poder falar com ele, nem que seja por cinco minutos. Me desejem boa sorte?

Lorens revirou os olhos e Anita soltou um suspiro emocionada.

– Boa sorte, Lily! – a loira atravessou o quarto para lhe dar um abraço. – Você vai arrasar nessa convenção.

Boa sorte. – Lorens cedeu, abrindo um sorriso de lado. – Mas você não precisará dela.

Lily agradeceu, despediu-se das amigas e, um tanto apressada, saiu do quarto arrastando sua mala. No andar de baixo, Potter esperava por ela ao pé da escada.

– O táxi já está lá fora nos esperando.

–--

Eram quase nove horas da noite quando o ônibus fretado do Fórum St. Mungus estacionou em frente a um hotel grande de decoração luxuosa, em frente à bela igreja Churchil Christ. Lily olhava admirada para a construção que ficava ao longe, imaginando se sobraria tempo para dar uma rápida passada por lá.

Durante a viagem, Lily conseguira conversar um pouco com o velho promotor Crouch e a bondosa juíza Sprout, enquanto James viera batendo papo com uma bela advogada loira chamada Emmeline Vance, que aparentava ser poucos anos mais velha do que ele. Quando desceu do ônibus, ele recebeu um olhar um tanto estranho de Lily, mas não entendeu o por quê. O que ele havia feito, afinal?

– A recepcionista do hotel pediu para fazermos uma fila. – Emmeline Vance informou assim que Lily entrou no hotel. – Quando você chegar à mesa, é só falar o seu sobrenome e ela te entregará a chave do quarto.

– Obrigada. – Lily agradeceu.

Lily se encaminhou para o final da fila, sendo seguida por Vance. Potter havia sido o último a chegar e Lily parou atrás dele. Ele obviamente não poderia ignorar aquele fato e com certeza não demoraria para puxar assunto.

Mas, para a sua surpresa, a pergunta que ele fez não foi dirigida à Lily.

– Emmeline, você se formou em Hogwarts?

Vance sorriu graciosamente antes de responder:

– Sim, faz três anos. Você e a Evans estudam lá, não é?

Lily acenou com a cabeça, enquanto observava os dois conversando. Mas o que Potter estava pensando? Por que é que ele estava cheio de sorrisos para cima daquela advogada?

– Sim, mas antes eu estudava aqui mesmo em Oxford. – ele respondeu, sorrindo.

– A faculdade daqui é uma das melhores do país, James! – Vance falou, muito simpática. – Claro que perde para Hogwarts, mas...

Lily esticou o pescoço para ver o comprimento da fila. Ela mal podia esperar para pegar sua chave, subir para seu quarto, ler um pouco antes de dormir e acordar muito disposta para a palestra de abertura na manhã seguinte. Já havia decorado toda a programação, estava muitíssimo ansiosa.

Cinco minutos depois, Potter alcançou o balcão.

– Sobrenome? – perguntou a mulher atrás da mesa da recepção.

– Potter. – ele respondeu.

A mulher digitou o nome rapidamente.

– Quarto quinhentos e um. – falou ela, estendendo a mão para lhe entregar uma chave.

– Obrigado.

Potter se afastou um pouco e parou a alguns metros dali, como se estivesse esperando por Lily para subirem juntos.

– Próxima!

Lily acordou de seus devaneios e se aproximou da mesa.

– Sobrenome?

– Evans.

Mais uma vez, a mulher digitou o nome no computador e resmungou:

– Quarto quinhentos e um, pode subir.

Mas Lily não se mexeu.

– E a chave?

– Já foi dada ao seu companheiro de quarto.

– Mas eu achei que os quartos fossem individuais. – Lily comentou, estranhando.

– Quase todos são, senhora.

– Então por que o meu não é? – Lily estava perdendo a paciência.

A mulher voltou os olhos para o computador, respirando pesarosamente.

– Senhora, todos os quartos deste hotel foram reservados pelo Fórum St. Mungus. Nas observações da reserva com o seu sobrenome, consta que você e o senhor James Potter possuem o mesmo endereço, portanto poderiam permanecer no mesmo quarto.

Ao ouvir seu nome, Potter voltou a se aproximar do balcão. Lily estava tão pasma com o que acabara de ouvir que não conseguira formular uma resposta.

– Você tem certeza disso? – Lily perguntou, por fim.

– Absoluta, senhora. – respondeu a mulher. – Se esta informação estiver errada, sugiro que a senhora converse com algum colega para trocar de quarto com a senhora, senhora.

– Algum problema aqui? – Potter perguntou, tentando entender.

– Nós estamos no mesmo quarto, Potter, esse é o problema! – Lily respondeu, tentando manter a calma. Voltou a encarar a recepcionista. – Não tem nenhum outro quarto vago?

– Não, senhora, todos os quartos já estão reservados para este final de semana. Sinto muito. Agora, por favor, poderia dar licença para que eu possa atender os outros hóspedes que estão aguardando na fila?

Ainda totalmente perplexa, Lily balançou a cabeça e saiu do caminho. Pelo canto do olho, pôde ver Emmeline Vance se apoiar no balcão e dizer seu sobrenome.

– Calma, Evans, não vai ser o fim do mundo. – Potter começou, num tom sereno. – Nós já moramos juntos mesmo, que diferença vai fazer?

Lily fechou os olhos com força e respirou fundo. Nada iria atrapalhar a perfeição daquele final de semana. Nada. Tudo daria certo, independentemente de qualquer desacerto como aquele. A convenção seria um sucesso e dividir o quarto com Potter não alteraria o andamento de seus planos em absolutamente nada. Nada.

– Não, não vai fazer nenhuma diferença. – Lily murmurou, por fim. – Mas você vai ter que se comportar muito bem. Estamos combinados, Potter?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pois é, eu sei que é maldade acabar nessa parte! Mas é o que teremos para hoje!

E aí, o que vocês esperam dessa convivência? Parece que existe uma força maior que obriga James e Lily a ficarem sempre juntos, não é? Será que o James vai se comportar? Será que a Lily vai sobreviver? Ai, me contem! ♥

Beijos para todos,
Carol Lair
(tt: @carollairr | ask: carollair)