República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 16
Efeito Whisky de Fogo


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!

O capítulo com mais interação Jily até o momento será dedicado à leitora Hariye (http://fanfiction.com.br/u/361131/), que escreveu uma LINDA recomendação para mim semana passada. Querida, muito obrigada, você me deixou super feliz! :) ♥

Bom, agora, o capítulo:



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Capítulo 16 – Efeito Whisky de Fogo

No início de novembro, Lily Evans já havia dado dois conselhos muito importantes para James Potter. O primeiro foi dado durante a Festa de Halloween: "se você não mudar suas atitudes, Potter, você vai acabar afastando todas as pessoas boas de você". E o segundo, na noite anterior: "demonstre amadurecimento, Potter". Em ambas as vezes, de formas diferentes, Lily pediu a James para que ele amadurecesse.

E James acreditava estar pronto para isso. Mas não estava.

–--

Lily tivera um dia agitado durantes as aulas, completamente ocupada com as suas anotações. Mas a cada cinco minutos, seus pensamentos eram invadidos com a proximidade da convenção anual, na qual os melhores advogados, promotores e juízes do país se juntavam para discutir novos artigos e emendas para o ano seguinte e alguns deles eram homenageados pelo trabalho do ano anterior. Portanto, para Lily era uma imensa honra participar, uma vez que ainda não havia concluído a graduação.

No ano anterior, Lily também tinha sido convidada por seu chefe. Quando retornara, os outros alunos de Direito de todos os anos lhe fizeram um monte de perguntas. A maioria dos professores já havia comparecido, ou continuava comparecendo, sempre exaltando o fato de lecionarem uma das únicas pessoas que recebeu o convite antes de terminar o curso.

Quando a última aula finalmente terminara, Lily começou a juntar seus livros mais uma vez perdida em pensamentos sobre a convenção. Alice se despediu rapidamente e Violet aproveitou a oportunidade e se aproximou.

– Lily, é verdade o que estão comentando por aí?

Lily suspirou.

– O que é que estão comentando por aí?

– Você não sabe? - Violet arregalou os olhos. - Em que mundo você vive? Enfim, estão dizendo que o James te chamou para sair e você recusou!

Lily arqueou a sobrancelha esquerda, intrigada. Haviam colocado escutas por sua casa? Como Violet poderia saber disso?

– Quem te contou isso?

A morena suspirou, impaciente.

– Não importa quem contou, Lily, a questão é que o James já tem uma certa fama entre as garotas, então o fato de ele ter sido recusado por uma mulher que mora com ele significa muita coisa. Por isso queremos saber se é verdade, entendeu? – Violet explicou.

– Hã... não, não entendi a relação das coisas.

Violet revirou os olhos e continuou:

– Vou ser mais clara, querida. Você mora com o James e, portanto, conhece todos os hábitos dele, correto? Se você, que conhece ele de verdade, não quis sair com ele, então deve ser porque você sabe de alguma coisa que nós não sabemos, não é? Por exemplo, ele toma banho todos os dias? Ele come com as mãos e as limpa na toalha de mesa? Ele não consegue acertar o vaso sanitário? - os olhos dela brilhavam de curiosidade, enquanto Lily ficava ainda mais perplexa a cada pergunta. - Qual o motivo para não aceitar, Lily? Nós precisamos saber!

– Não, Violet, ele não é um porco. - Lily respondeu, simplesmente.

– Então por que você o recusou? Afinal, você é a maior encalhada, com todo respeito, é claro.

Lily respirou fundo, impaciente. Já ia começar a falar que não devia satisfações a ninguém e que precisava ir embora dali. Estava atrasada para almoçar. Mas por que não contar a verdade à pobre Violet? Afinal, a garota não passava de uma pessoa extremamente curiosa e, naquele momento, sua vida aparentemente dependia daquela informação. Aliás, Potter não se importaria se todas as pessoas soubessem que ele não era tão irresistível assim, mesmo não possuindo todos os defeitos citados por Violet, não é?

– Veja bem, Violet, o Potter não me atrai e ponto. Eu sei que ele é bonito, eu não sou cega, mas o jeito dele é simplesmente o oposto do que agrada. Para mim, a aparência não é tudo, então eu jamais vou cogitar os convites dele.

O queixo da morena despencou.

– Espera. Lily, ele já te chamou para sair outras vezes? Você tem algum problema?

– Não, Violet, eu não tenho. - Lily rebateu, jogando a bolsa sobre o ombro. - Agora eu tenho que ir, tchau.

Lily começou a caminhar para longe de Violet, olhando para o relógio em seu pulso. Quando saiu da sala, encontrou um grupo de garotas a encarando e as reconheceu: eram do mesmo grupinho de Violet e Sarah. Era só o que me faltava. Virou o corredor e avistou Louis, que se apressou em vir em sua direção. Seu coração disparou e ela rapidamente acelerou sua respiração.

– Lil!

– Faz tempo que eu não te vejo, Louis! – Lily comentou e sua voz saiu aguda demais. – Aliás, você sumiu na festa depois... depois daquela hora.

– Eu fui embora cedo, na verdade.

– Ah, entendi. - Lily abaixou os olhos. - E os resultados da festa, foram positivos?

Louis estava prestes a responder, mas foi interrompido pela balbúrdia causada por um grupo escandaloso que se aproximava. Lily virou-se para ver e observou que o grupo era, na verdade, Potter, Sirius e Remus, seguidos por Peter. Remus e Sirius acenaram para ela, enquanto Potter lhe lançou um olhar sério. Ela esperou que eles se afastassem para continuar.

– Aliás, Louis, me desculpe por não ter te dado atenção na festa, quando a minha amiga chegou, ela-

– Quando o Potter chegou. – ele corrigiu, sério, apontando para Potter com o queixo.

– É... Mas então, minha amiga estava tão mal, não deu para–

– Tudo bem, Lily. Mais tarde voltamos a esse assunto, agora o Potter poderia nos interromper pela milésima vez. – Louis tinha um tom ferido. – Vai fazer alguma coisa nesse final de semana?

Lily sentiu suas pernas amolecerem a ponto de perder o equilíbrio. Pela primeira vez em sua vida, odiou ter sido convidada para a convenção.

– Eu tenho um compromisso inadiável, Louis. A convenção anual vai ser em Oxford esse ano, vou ter que passar o final de semana inteiro fora. Aliás, eu tenho que chegar no Fórum mais cedo para resolver umas coisas sobre a viagem.

– Você já tem que ir? – ele perguntou, desapontado.

Lily assentiu com a cabeça e olhou no seu relógio de pulso.

– Tenho pouco tempo para almoçar e chegar ao Fórum, mas nós podemos conversar amanhã, pode ser? – Lily começou a se afastar dele, um tanto relutante.

Mas ele a segurou pelo braço.

– Espere. Lily, eu não quero dar uma de intrometido, nem nada, mas hoje uma amiga minha veio me contar que o Potter dá em cima de você. É verdade?

Antes de responder, Lily se perguntou como é que uma fofoca como aquela poderia ter se espalhado tão rápido. Louis parecia bem chateado com a informação.

– Sim, é verdade. Mas no fundo ele só quer me irritar, é sério.

– Mas vocês têm algu-

– Não! É claro que não!

– Mas ele tenta alguma coisa? – Louis insistiu, desviando os olhos. – Até na sua casa?

A ruiva parou para pensar. Realmente, soava um absurdo quando a situação era vista daquele ângulo.

– Louis, o Potter só não se conforma que eu o veja como ele realmente é, por isso inventou de me convidar para sair. Agora eu tenho mesmo que ir, depois nos falamos, pode ser?

Louis não teve tempo de responder, Lily se afastou quase que correndo. Encaminhou-se para o Salão Principal, tentando imaginar como todo mundo já estava sabendo sobre aquilo.

–--

Durante o almoço, Anita contou que Lily se tornara o assunto entre as estudantes de Moda.

– Elas me fizeram um monte de perguntas! – contava a loira. – Antes, elas já viviam me perguntando sobre o Sirius e sobre o James, o que eles comem, se estão com alguém... Mas hoje só perguntaram de você.

Lily fez um gesto impaciente.

– Ridículo. Não sei como as pessoas se importam tanto com a vida alheia, e sei menos ainda como fofocas se espalham tão rápido.

– Mas não vai dizer que você não está gostando nem um pouquinho de ter todo mundo falando de você! – Anita bagunçou os cabelos ruivos de Lily. – Falando que você foi a única que rejeitou o James até hoje...

Lily rolou os olhos e voltou a comer apressadamente. Sua pressa se intensificou quando ela percebeu um grupo de alunos aos cochichos, apontando para ela, mais adiante. Tudo o que ela desejou foi que se esquecessem daquela fofoca o mais rápido possível.

–--

James chegou trinta minutos atrasado no Fórum. Entrou em sua sala e encontrou Evans escrevendo caprichosamente em sua mesa. Ela levantou os olhos verdes para encará-lo.

– Está atrasado. Moody já perguntou de você.

James se virou e praticamente jogou suas coisas sobre sua cadeira. Evans voltou a encará-lo com aqueles olhos julgadores. Ainda sem dizer qualquer coisa, James andou em sua direção, apoiou suas mãos sobre sua mesa e se inclinou sobre ela.

– Golpe baixo, Evans.

– O quê?

– Isso mesmo que você ouviu.

Evans largou sua caneta e semicerrou os olhos para ele, séria.

– Pode ser mais claro? Ainda não aprendi a ler pensamentos.

Como ela ainda tinha a coragem de se fazer de desentendida? James realmente acreditara que Evans fosse uma pessoa diferente e, principalmente, justa. Ela não fazia o tipo de quem se divertia às custas dos outros, pelo contrário: ela adorava condená-lo por fazer isso com ela.

– Você espalhou para a faculdade inteira que me rejeita. – o tom de James era uma mistura de raiva com decepção. – Eu só não consigo entender o que você poderia ganhar com isso, status, talvez? Mas você não adora dizer por aí que não se import–

– Pode parar por aí. Eu não espalhei nada, sou tão vítima desses boatos quanto você!

– Ah, sim, mas você confirmou tudo para a Violet, não é mesmo?

Evans vacilou antes de responder.

– Pare de ser infantil. Você acha que pode simplesmente chegar aqui e jogar a culpa toda para mim? – Evans abriu um sorriso maldoso. – Veja, se você nunca tivesse começado com essababaquice de me convidar para sair, Hogwarts estaria falando sobre o cabelo novo de alguém. A culpa é toda sua, Potter. Lide com isso!

Como assim ela se atrevia a fazer piada? James se inclinou ainda mais sobre a mesa e seus rostos ficaram a um palmo de distância.

– Você poderia ter mentido.

– Que diferença faz?

– A diferença, Evans, é que você me fez parecer um apaixonado rejeitado. – James desabafou, lembrando-se dos olhares de piedade que recebera o dia inteiro. – Hoje me perguntaram por que eu gosto de você, por que eu insisto tanto em você. E eu sequer te convido para sair de verdade! Você realmente levou meus convites a sério? Jura, Evans? – ele riu pelo nariz, num tom de desdém. – Desculpe por isso. Essa só foi a única maneira que eu encontrei para que você parasse de fingir que eu não existo. Eu nunca pensei que você fosse levar a sério, mas eu deveria ter imaginado, não é? Afinal, você não recebe muitos convites por aí.

James estava com o orgulho ferido e isso o fazia agir por impulso. Naturalmente, ele estava ciente de que Evans estava certa no que se referia à sua insistência, mas ele jamais teria imaginado que tal brincadeira o levaria àquela situação ridícula. Afinal, ele nunca a convidara para sair de verdade. Nunca. Exceto, infelizmente, pelo dia anterior, quando a interceptara a caminho da biblioteca. Automaticamente, James lembrou-se da primeira resposta não-negativa que recebera, antes de dormir. E soube que, naquele momento, ele definitivamente arruinara aquelas poucas chances que ela havia lhe oferecido.

Evans não lhe respondeu de imediato. James esperou que ela explodisse e o mandasse à merda, até porque ele admitira internamente que sua atitude não fora das mais maduras, porém ela apenas recuperou a caneta e voltou a baixar os olhos para o papel.

– Volte para sua mesa, Potter. Eu tenho muito trabalho e você também.

Ele já havia arruinado tudo, afinal. O olhar dela emitia essa mensagem nitidamente. Então que diferença faria se ele insistisse mais um pouco?

– Eu gostaria que você retirasse o que disse para a Violet.

O quê?

James endireitou-se e cruzou os braços.

– Eu quero que você fale para a Violet que você não me deu um fora porque, afinal, os convites não eram sérios.

Evans abriu a boca para responder, mas nenhum som saiu de sua boca. Seus olhos passearam por seu rosto, procurando sinais de que ele estivesse brincando, mas seguramente não os achou.

– Você só pode estar de brincadeira, Potter. – Evans finalmente conseguiu dizer alguma coisa. – Eu não posso acreditar que você se importe tanto com o que pensam de você.

– Posso dizer o mesmo. – James respondeu, andando até sua mesa e contornando-a para se sentar. – Afinal, para quem não se importa com status, você não parece estar odiando estar no posto de a única que não aceitou um convite meu, não é?

Evans parecia ofendida, mas não estava disposta a continuar com aquela discussão. Ignorou completamente sua última sentença, terminou de escrever o que estava escrevendo antes de sua chegada e, apanhando todos os papéis, saiu da sala.

James, porém, soube que era melhor assim. Afastá-la de uma vez. Assim ambos se poupariam de mais brigas no futuro, afinal, o que Lily Evans tinha em comum com ele? Se algum dia chegassem a sair – o que, agora, ele duvidava muito que acontecesse –, as brigas poderiam se tornar tão graves a ponto de obrigar um deles a deixar a república. E James definitivamente não estava disposto a isso.

–--

Mais tarde naquele dia, Anita e Lorens estavam estrategicamente posicionadas no sofá da sala da república, esperando Lily chegar do Fórum. No andar de cima, no dormitório feminino, jazia uma lustrosa garrafa de whisky de fogo, esperando para ser bebida.

– Mal posso esperar para vê-la sob os efeitos do whisky. – Lorens confessou, esfregando as mãos uma na outra.

– Hoje ela não nos escapa! – Anita falou, animada. – Aliás, já manda uma mensagem para a Alice–

Anita se interrompeu ao ouvir os passos de Sirius pelas escadas. Ao chegar à sala, ele abriu um sorriso para elas e, pelas roupas que vestia, parecia que estava pronto para sair.

– Vou sair para jogar poker com os caras da Whisky de Fogo. Não me esperem acordadas. – acrescentou, num tom divertido.

– Ah, não pretendia esperar mesmo. – Anita respondeu, abrindo um sorriso pelo canto da boca.

Anita gostara da ideia de que Sirius fosse sair. Talvez James e Remus também fossem com ele e as garotas poderiam ter a casa só para elas. Sirius pegou seu casaco, que estava pendurado atrás da porta, e começou a procurar suas chaves.

– Ah! – Sirius parecia ter se lembrado de alguma coisa. – Anita, faz tempo que estou para te perguntar isso. Você está saindo com alguém fixo?

Certamente a loira não estava esperando ouvir aquela pergunta. Se ele a tivesse feito alguns meses atrás, ela responderia um curto "não" com a maior naturalidade do universo. Mas naquele momento, ela simplesmente não soube o quê esperar ou responder. Ele estaria perguntando por pura curiosidade? Ele teria interesse na informação?

– Não. - respondeu ela, trocando um olhar com Lorens.

– Ótimo!

– Posso saber por quê?

– Tenho um cara lá de Hogwarts que arrasta um caminhão por você. – Sirius explicou, encurvando as laterais da boca. – Já é a segunda vez que ele me pergunta se você tem namorado. Não se preocupe, ele é um cara legal, você vai gostar de conhecê-lo.

Anita respirou pesarosamente. Mereço, pensou ela, chateada. Lorens lançou-lhe um olhar como se dissesse: "Pare de fazer essa cara!". Anita rolou os olhos.

– Bom, vou nessa. – Sirius abriu a porta, e virou-se para as duas antes de sair. – Até amanhã.

Anita imaginou se Marlene também iria junto com ele. Odiou-se por ter pensado neles juntos, ainda mais depois daquela conversa. Além do mais, aquilo não era de sua conta.

– Sirius! – Anita o chamou, subitamente. Sirius parou de fechar a porta atrás de si, e a encarou com uma expressão interrogativa. Anita continuou: – Hum... bem, a Marlene vai com você?

Mas obviamente Anita não conseguiria ficar sem perguntar.

– Não! Claro que não. – Sirius respondeu, num tom de obviedade. E, lançando uma piscadela para as amigas, completou: – Cuidem-se, queridas.

Quando Anita teve certeza de que Sirius já havia se afastado o suficiente da porta, desabafou:

– Mereço, Lorens? E ele ainda quer me juntar com um amigo dele.

Lorens suspirou.

– Anita, faça como eu. Esqueça.

– Acontece que eu não sou que nem você, Lorens! Esquecer alguém nunca foi fácil para mim e tudo fica ainda mais difícil quando sou obrigada a conviver com esse alguém. Mas acho que você não conseguiria entender.

– Do que é que você está falando? – Lorens cruzou os braços e estreitou os olhos para a amiga.

– Bem, você nem parece ter ficado triste quando o Bill terminou com você, entre outros. Eu não sou assim.

Lorens riu alto.

– Por que eu ficaria chateada se um cara que mal consegue compreender a minha profissão terminasse comigo? Lógico que fiquei triste, mas eu sei que foi a melhor coisa que aconteceu. Você deveria pensar o mesmo, Anita. Você tem certeza de que gostaria de estar com o Sirius? Gostaria de estar no lugar da Marlene, nesse momento? Algo me diz que ela sequer sabe que o Sirius vai passar a noite fora. Não que isso signifique ele vá transar com outra, claro. Quero dizer, não sei. É o Sirius, não é?

– Eu não sei como a Marlene conseguiu relevar a festa de Halloween. – Anita acrescentou, indiretamente concordando com a amiga. – Você tem razão, Lorens. Isso é perda de tempo.

–--

Lily chegara dez minutos depois. Cumprimentou as amigas, que ainda a esperavam no sofá, de modo absolutamente desanimado.

– Que cara é essa, Lily? – Lorens perguntou. – Não que você seja a pessoa mais bem humorada desse mundo, mas hoje você parece pior.

– Quanta delicadeza. – Lily lhe devolveu a ironia.

– Bom. – Anita tomou a palavra, sorrindo. – Nós temos algo para te animar.

Anita e Lorens trocaram um olhar definitivamente cúmplice.

– Mande uma mensagem para a Alice. – Lorens falou para Anita, que rapidamente puxou o celular do bolso e começou a digitar.

– A Alice? – Lily indagou, claramente confusa. – Mas aconteceu alguma coisa?

A única resposta que Lily obteve foi um sorriso exageradamente grande das amigas. Poucos minutos depois, a campainha quebrou o silêncio que irrompera entre as três. Anita atendeu a porta e Alice entrou. Lily observou que a recém-chegada ostentava exatamente o mesmo sorriso maligno.

– Boa noite, Lily.

– O que é que vocês estão me escondendo? – perguntou Lily, estreitando os olhos para as amigas.

Mas antes que Anita pudesse responder e fechar a porta, alguém a impediu e a reabriu pelo outro lado.

– Ah, oi, James! – a loira o cumprimentou, um tanto sem graça. – Não tinha visto que você estava vindo.

– Achei que você iria direto para o jogo de poker encontrar o Sirius e os outros. – Lorens comentou.

Potter suspirou e se jogou no sofá.

– Não estou afim de jogar poker hoje. – disse, simplesmente.

Lily teve certeza de que realmente havia algo estranho. Já Anita não gostara da ideia de ter James ali: tinha imaginado que a casa ficaria livre para as quatro garotas e a garrafa de whisky.

– Bom, então vamos subir, Lily. – Anita concluiu. E, virando-se para a ruiva, acrescentou: – Temos uma surpresinha para você.

Mesmo ainda aborrecida com o que havia acontecido no Fórum, Lily havia ficado indiscutivelmente curiosa com todo o mistério que as amigas estavam fazendo. As quatro garotas se encaminharam para as escadas, deixando Potter sozinho no sofá.

James, porém, não havia se esquecido da rápida conversa que tivera com Lorens na noite anterior. Nada no mundo o faria perder a chance de poder ver Lily Evans bêbada.

–--

– Três palavrinhas, querida: Whisky de Fogo! – Anita anunciou assim que as quatro já se encontravam no quarto feminino.

O queixo de Lily despencou.

– Eu não acreito nisso! Vocês sabem que não foi culpa minha!

– Mas você teve o resto da festa para agarrar o Louis. E já que não encontrou, deveria ter agarrado qualquer outro. – Lorens rebateu, prontamente.

Lily franziu as sobrancelhas.

– Mas eu não queria agarrar outro. Quem eu queria foi embora cedo! Esse argumento não faz sentido, Lorens.

– Então você não deveria ter entrado na aposta, Lily. – Lorens sorriu.

– Lily, não faça drama! – Alice quis tranquilizá-la. – Não vai ser o fim do mundo, vai ser divertido! Aliás, você sabe que desde o ensino médio eu sempre quis te ver bêbada!

– Espera. – Lorens interrompeu a conversa. – Você nunca ficou bêbada, Lily?

Lily negou com a cabeça.

– Nem na sua formatura? – Anita também estava indignada.

Lily negou mais uma vez, sentindo suas bochechas começarem a esquentar.

– Espera! – a ruiva parecia ter se lembrado de algo. – Eu já fiquei bêbada sim. Uma vez, no ano novo, bebi duas taças de champagne e dei um abraço na Petunia na hora da virada. Eu só podia estar bêbada para ter feito isso, não é?

As três amigas riram.

– Não creio, Lily! – Anita disse, entre risos. – Você precisa ficar bêbada hoje. Sério. Bendita seja essa aposta e a interrupção da Marlene!

– Você deve isso a você mesma, amiga. – Lorens reforçou. – Depois, você vai nos agradecer por termos insistido.

Com isso, Lorens foi até seu guarda-roupa e o abriu. Pegou a garrafa e a exibiu para as amigas. Lily afundou o rosto em suas mãos, prolongando o processo de aceitação do que estava prestes a acontecer. Alice, rindo, passou um braço por cima de seus ombros.

– Sem drama, Lily.

– Lorens, por favor... Eu juro que arrumo sua cama por um mês! – Lily implorou, enquanto assistia a amiga voltar a se aproximar, trazendo a garrafa em suas mãos.

– Proposta tentadora, mas prefiro te ver bêbada.

– Eu vou buscar copo e gelo! – Anita falou.

– Anita! – Lorens a chamou, quando a amiga estava quase saindo do quarto. – Que tal trazer mais uns três copos?

As três garotas se entreolharam, como se confabulassem telepaticamente.

– Sabe, eu não acho má ideia nós bebermos também... – Lorens explicou sua sugestão, pensativa. – Afinal, quando é que teremos a chance de encher a cara com a Lily?

– Você tem razão, Lorens! – Anita apoiou, abrindo um enorme sorriso. – Nós não vamos ver a Lily bêbada de novo tão cedo! Vamos beber!

– Eu também topo! – Alice confirmou.

– Além do mais, se a Lily beber a garrafa inteira sozinha e entrar em coma, não vai ter a mínima graça. E eu não quero passar a noite no hospital. – Lorens continuou e justificando, assumindo um ar de sabedoria. – Então, se nós também bebermos, além de nos divertirmos e aproveitarmos essa chance, ainda estaremos salvando a vida da Lily.

Lily riu e as amigas a acompanharam na risada. Era inevitável não rir. Mesmo que a ideia de ingerir uma quantidade exagerada de whisky em plena quinta-feira não lhe apetecesse, a ruiva não podia negar que embriagar-se na companhia de suas melhores amigas fosse uma proposta interessante para encerrar o dia estressante que tivera. E, já que Lorens não parecia disposta a se esquecer daquela dívida, era melhor que Lily a pagasse de uma vez.

– Aqui estão! – Anita falou, ao retornar ao quarto.

Anita colocou os copos e o balde de gelo no chão e se sentou. As outras três fizeram o mesmo, formando uma pequena roda no centro do quarto. Lorens depositou a garrafa ao lado dos copos e sorriu para Lily.

– Você começa. – ela disse, com os olhos brilhando.

Lily suspirou. Serviu-se de muito gelo e colocou uma pequena dose em seu copo.

– Pode colocar mais whisky, Lily. – Lorens reclamou. – Nós também vamos beber, mas quem perdeu a aposta foi você.

A contragosto, Lily despejou um pouco mais da bebida alaranjada no recipiente. Ergueu o copo e encarou as amigas.

– Certo. – começou ela, um pouco nervosa. – Eu vou beber. Mas não jantei. Então, tudo o que acontecer daqui para frente, ficará apenas entre nós. Combinado?

– Certo, certo. – Alice a apressou. – Agora pare de enrolar.

Fechando os olhos com força, Lily levou o copo aos lábios e bebeu um gole. No instante seguinte, seu rosto se contorceu.

– Horrível! – ela exclamou. – Simplesmente horrível!

– Depois você nem vai sentir mais o gosto, relaxa! – Anita falou, rindo da expressão da amiga.

Lily bebeu outro gole, hesitante. Flagrou-se arquitetando dezenas de planos de cuspir a bebida, sem que as outras notassem, ou de apenas fingir beber. O gosto era definitivamente detestável.

– Beba mais, Lily! – Lorens reparou que o volume de seu copo não diminuía.

Após se certificarem de que Lily estava pagando a dívida da aposta, as outras três começaram a se servir também. Brindaram e beberam sem qualquer dificuldade, fazendo com que Lily as olhasse admirada.

Meia hora depois, o conteúdo da garrafa já estava pela metade. Lily já sentia que os efeitos estavam começando a agir, seus músculos haviam subitamente relaxado, as vozes das amigas tagarelando pareciam distantes e sua visão nunca fora tão turva em sua vida.

– Vamos ouvir música! – Lorens sugeriu, se recuperando de uma risada. Lily sequer havia entendido a piada. – Anita, você está mais perto do som!

Anita se levantou e viu tudo girar. Tentando manter o equilíbrio, andou lentamente até o aparelho de som. Ouviu Lorens fazer comentários a respeito de sua caminhada desregular, mas ignorou. Ligou o som, colocou o primeiro CD que encontrou, The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, e voltou a se sentar na roda.

– Pink Floyd? – Lorens reconheceu a primeira música. – Nossa, agora vamos ficar loucas de vez.

– A Lily não está bebendo! – Alice falou, apontando para a ruiva. – Ela põe o copo na boca, mas não bebe nada! Eu vi!

– Mas é claro que estou bebendo! – Lily se fez de ofendida. Droga. Achara que as amigas já estavam consideravelmente distraídas para notarem. – Veja.

Lily finalizou o conteúdo, deixando apenas as pedras de gelo tilintando no copo. Teve de admitir internamente que o gosto não parecera tão ruim quanto nos primeiros goles. Anita bateu palmas, soltando uma risada alcoolizada.

– Quem diria! Eu deveria ter filmado essa cena!

– Nem pense em fazer isso, Anita! – Lily adiantou, antes que a amiga sacasse o celular do bolso e começasse a registrar provas do que estava acontecendo. Afinal, Lily tinha esperanças de que, em breve, tal episódio caísse no mais absoluto esquecimento.

Lorens voltou a preencher o copo de Lily e lhe lançou um olhar opressor. Lily bebericou mais uma vez e percebeu que Anita estava falando.

– ...horrível, não é? Tenho que confessar que a vida já esteve mais fácil, sem brincadeira. Eu nunca pensei que me encontraria numa situação tão decadente. Eu realmente não nasci para sofrer e–

– Do que é que você está falando? – Alice perguntou, franzindo o cenho. – Começa de novo, não entendi nada.

– Se for sobre o Sirius, eu vou embora daqui. – Lorens já avisou.

Anita ficou boquiaberta. Sua reação exagerada divertiu as outras amigas. Risadas embriagadas ecoaram pelo quarto e Lily sentia que seu riso não pararia nunca.

– Não era sobre ele, ok? – Anita cruzou os braço. – Era sobre a faculdade. Tenho um professor metido a exigente e estou com medo de reprovar.

– Claro que era isso. – Lily fingiu concordar, entre risos. – Afinal, você se preocupa muito com a faculdade, não é mesmo?

Anita iniciou um discurso pouco coerente sobre o quanto ela sempre fora uma aluna dedicada e estudiosa. Sua embriaguez ficava nítida conforme ela soltava frases sem sentido, uma atrás da outra. Quando terminou de discursar, as outras três trocaram um olhar como se perguntassem: "você entendeu alguma coisa?".

– Por que é que Lily está com o copo vazio? – observou Lorens. – Você perdeu uma aposta, ou já esqueceu?

– A Alice também está com o copo vazio! – Lily se defendeu.

Diante de tal observação, todas se serviram de mais whisky e a garrafa finalmente chegou ao seu fim. Àquela altura, Lily não detinha mais qualquer dificuldade para engolir a bebida: era como se fosse água.

– Já que estamos bêbadas e não vamos nos lembrar direito disso amanhã, posso contar um segredo? – Alice perguntou, alcoolizadamente animada.

– Já sei! – Anita ergueu o braço. – E se todas nós contássemos um segredo?

– Ótimo! – Lorens concordou.

– Combinado! – Alice sorriu. – Então você começa, Lorens.

Lorens se endireitou e, sem hesitar, declarou:

– Eu já beijei algumas mulheres. Mas percebi que não sinto atração, então parei.

Lily arregalou os olhos.

– Quando foi isso, Lorens?

– Foi na época do colégio. Aliás, isso nem é um segredo. Mas como vocês já sabem tudo sobre mim, fiquei meio sem opções.

Enquanto as amigas riam, os olhos verdes de Lily continuaram arregalados, pois estava difícil processar qualquer coisa naquele estado.

– Então, agora é a vez de vocês contarem! – Lorens pediu.

– Ok. – Anita pigarreou. – E saibam que eu morro de vergonha dessa história. – fez outra pausa para se ajeitar antes de começar: – Eu tinha dezesseis anos e estava voltando de uma festa, no meio da magrugada, bem bêbada. E minha mãe estava me esperando na sala.

Anita se interrompeu porque começou a rir, e Lorens também começou a rir por tê-la visto rindo.

– O que foi que ela fez? – Alice insistiu, curiosa.

Anita se recuperou do ataque de risos e respondeu, ofegante:

– Quando ela percebeu que eu estava num estado deplorável, ela me colocou no carro e me levou para o hospital. Bem, na hora, eu achei que ela estivesse preocupada com a falta de glicose no meu sangue, mas não. Ela sequer fez qualquer comentário sobre a bebedeira.

E houve um silêncio.

– Anita, conta logo! – Lily mandou.

– Estou me preparando psicologicamente, posso? – ela perguntou. – Obrigada. Bom, minha mãe é uma mulher muito... conservadora, sabem? Ela aproveitou a situação para me levar ao hospital porque eu não estava em condições de protestar. Quando eu me dei por mim, estava no consultório de uma ginecologista. Sim, meninas, é isso mesmo. Minha mãe só queria saber se eu já tinha perdido a virgindade! – Anita explodiu em risadas. – Tudo porque ela sabia que, se eu estivesse sóbria, não iria de jeito nenhum!

– E ela descobriu? – Lorens perguntou entre as risadas.

– Sim. Eu ainda era virgem. Aliás, se aquilo tivesse acontecido duas semanas depois, minha mãe teria saído bem chateada daquele hospital.

– Sua mãe é louca assim com tudo ou só com sua vida amorosa? – Alice questionou.

– Com tudo, sério. Nós não nos damos muito bem, vir para Londres foi a melhor coisa que aconteceu para nosso relacionamento ficar estável. Enfim, agora é a vez de vocês, Alice e Lily. Podem contar um segredo!

Alice levou o dedo indicador ao queixo, demonstrando estar pensativa. Lily suspirou, dizendo:

– Eu não tenho nada de secreto para contar.

– Todo mundo tem um segredo. – Anita afirmou.

– Está com vergonha de contar, santa Lily? – brincou Lorens.

– Eu realmente não tenho. – Lily disse, desanimada.

– Então deixa que eu conto o meu. – Alice voltou a falar. – Vocês sabem que eu e a Sarah nunca nos demos bem, não é? Uma vez, quando tínhamos uns treze anos, eu, ela e outros primos estávamos apostando corrida de bicicleta na rua. Eu caí fazendo uma curva e ela ficou rindo de mim. Eu morri de raiva dela, claro, principalmente porque ela ficou fazendo piada e imitando o meu tombo. Enfim, quando minha avó nos chamou para almoçar, eu roubei a cola super bonder dela e passei no banco da bicicleta da Sarah. Acho que vocês imaginam o que aconteceu depois, não é?

Mais uma vez, as garotas explodiram em risos.

– Um minuto de silêncio para imaginar uma Sarah adolescente tendo um ataque histérico. – Lorens pediu, tentando recuperar o fôlego.

– Gente, ela teve que tirar as calças para poder desmontar da bicicleta depois. Vocês conseguem imaginar isso? – Alice já podia sentir as lágrimas nos cantos dos olhos. – Mas o pior desse segredo é que quem levou a culpa foi meu primo mais velho e eu nunca tive coragem de agradecer a ele por não ter negado!

Depois que as risadas cessaram, Alice, Anita e Lorens automaticamente voltaram seus olhos para Lily.

– Pode ir contando, queridinha. – Anita falou, abrindo um sorriso.

Mas Lily realmente não sabia o que dizer. Não que estivesse fácil pensar com clareza naquele momento, mas normalmente ela sempre era mais eficiente quando estava sob pressão.

– Não sei.

– Não é possível, Lily. – Lorens falou.

Após uma pausa, Lily deu um salto.

– Já sei! – ela falou, animada. – Bom, não chamaria isso de segredo, mas com certeza não contei isso para ninguém.

– Fale!

– Nas primeiras semanas em que o Potter estava morando aqui, eu elaborei uma teoria de que ele era um maníaco. – Lily falou, de repente. No segundo seguinte, se arrependeu. Por que raios Potter surgira em sua cabeça numa hora como aquela? – Parem de me olhar assim, lógico que eu já percebi que ele não é um.

Era tarde demais. As três amigas já estavam gargalhando.

– Lily, você é muito engraçada com suas neuras, sério! – Anita disse, respirando fundo para conseguir falar entre os risos.

– Hey! Não era neura, ele realmente agia muito estranho comigo. Hoje eu já entendi que ele só queria me irritar, claro.

Mas elas continuavam rindo. Lily acabou rindo também, mais para acompanhá-las do que por concordar com a opinião das amigas.

– Eu adoro essa música! – Lorens interrompeu-se ao detectar a música que estava tocando. – Vamos dançar! Anita, vem!

Lily assistiu às duas amigas interpretarem a música de forma jocosa e suspirou. Aquela noite seria definitivamente longa.

–--

Lily não fazia ideia de que horas eram. Abriu os olhos e se surpreendeu ao se dar conta de que dormira sentada no chão, com as costas apoiadas em sua cama. Anita e Lorens dormiam em suas respectivas camas, com as mesmas roupas que estavam usando mais cedo, e Alice não se encontrava mais ali.

Ainda consideravelmente embriagada, Lily colocou-se de pé e resolveu descer para beber água. Já podia sentir uma pontinha da ressaca nascendo no fundo de sua cabeça por conta daquela cochilada. Saiu para o corredor e acendeu a luz. Reparou que sua percepção ainda estava mais lenta do que o normal, portanto, agarrou-se ao corrimão enquanto descia as escadas, trôpega.

Lily caminhou se apoiando nos móveis, lamentando-se mentalmente por chegar àquele situação.

– Tudo bem, Evans?

Não. Lily não quis acreditar naquilo. O que Potter estava fazendo na sala àquela hora?

– Agora não, Potter.

Lily continuou cambaleando até a cozinha.

– Quem diria que um dia eu veria você nesse estado. – Potter comentou.

– Eu estou ótima, ok?

Mas ao dizer aquilo, Lily tropeçou em seu próprio pé e quase caiu. Só não fora ao chão por ter se segurado no encosto do sofá. Sentiu as mãos de Potter tentando ampará-la, mas as afastou.

Lily entrou na cozinha, ainda podendo sentir o olhar divertido de Potter fuzilar suas costas.

–--

James resolveu se sentar no sofá e esperar. Precisava dar uma última olhada em Lily Evans ébria antes de finalmente ir dormir, afinal, era justamente por isso que estava ali havia tanto tempo. No entanto, o rapaz não esperava que, quando Evans voltasse para a sala, agora trazendo consigo um copo de água, ela fosse se sentar ao seu lado.

Ele virou a cabeça para olhá-la e abriu um sorriso. Pela primeira vez em meses, James estava olhando para uma Lily Evans com uma aparência completamente desnorteada, os cabelos não estavam perfeitamente alinhados como de costume, as roupas estavam um tanto amassadas e sua postura não estava impecável. Ela parecia apenas uma mulher comum e, sentada ao seu lado daquela forma, os dois pareciam velhos amigos.

– Dia péssimo. – Evans murmurou.

– Posso dizer que o meu também foi péssimo, mas ficou extremamente melhor agora.

Evans virou o rosto lentamente para olhá-lo. A iluminação fraca da sala lhe dava um aspecto misterioso, embora o ar reprovador estivesse nítido em seus olhos.

– Por que você falou aquilo no Fórum? – ela perguntou subitamente. James notou seu olhar decepcionado, desfez seu sorriso e involuntariamente sentiu um aperto no peito. Ela havia ficado realmente chateada com ele?

– Eu estava contrariado. Mas já passou.

– Acho que alguém aqui me deve desculpas.

– Você tem razão. Me desculpe.

Evans arregalou os olhos, provavelmente pensando que ele jamais se desculparia.

– Espera. – ela disse, abrindo um sorrisinho de lado. – James Potter se desculpando por alguma coisa? Eu não posso acreditar, sério. Já estava achando que estas palavras não faziam parte de seu vocabulário.

– No mesmo dia em que você resolveu beber, eu aprendi a pedir desculpas. – James observou. – Talvez nosso dia não tenha nada de péssimo, no fim das contas.

– Verdade, bem observado. – ela concordou. – Mas vamos deixar uma coisa clara. Eu não resolvi beber, eu fui obrigada por ter perdido uma maldita aposta.

– Fale mais sobre essa aposta.

Evans riu silenciosamente. James percebeu que sua risada estava alterada pelo álcool. Inevitavelmente, ocorreu-lhe de tirar vantagem do estado vulnerável no qual ela se encontrava. Afinal, ela decididamente estava mais aberta e, pela primeira vez, estava conversando com ele como se fossem amigos.

– Eu acabei de me dar conta de que tudo isso é culpa sua. – Evans explicou, esforçando-se para parar de rir. – Eu só perdi aquela aposta porque você chegou e atrapalhou tudo. Eu só estou nesse estado agora porque você resolveu bancar o insensível com a Marlene. Por sua culpa, estou há oito meses sem beijar, veja só. – ela suspirou, pensativa. – É impressionante como você consegue interferir na minha vida, mesmo quando não tem a intenção. Impressionante!

– Eu não acredito em coincidências, Evans. – James chegou mais perto dela no sofá e reparou que ela não se afastou. Bom sinal. – Então você apostou que iria beijar o seu ex, é isso?

– Não exatamente. Eu tinha que beijar alguém e, bem, não tinha outra pessoa que eu quisesse.

Ouvir aquilo não fora nada agradável. James sentiu seu estômago naufragar imediatamente após ouvir aquelas palavras. Era impressionante como Evans conseguia interferir em sua vida, mesmo quando não tinha intenção. Ele detestou admitir a ironia.

– Bom, não lamento que você tenha perdido essa aposta. – James fez uma pausa e colocou uma mão sobre o joelho dela. – Você... gosta dele?

Evans passou a mão pelos cabelos e espremeu os ombros antes de levantar os olhos para ele. Ela estava involuntariamente sexy com aquele ar embriagado e, antes mesmo que James pudesse se deter, subiu um pouco a mão para alcançar sua coxa. Controle-se, James.

– Acho que sim. – Evans respondeu. – Não sei, na verdade.

James sabia que ela jamais lhe responderia aquela pergunta em seu estado sóbrio. Sabia que ela jamais permitiria seu toque. Sabia que ela jamais se sentaria ao seu lado, tendo outro sofá vazio. E sentiu-se triste por isso. O que ele havia feito para ela ter construído aquela enorme barreira entre eles? Será que algum dia ela se esqueceria de sua atitudes imaturas do início? Por que é que o desinteresse dela por ele o instigava tanto?

Sem poder aguentar mais um segundo, James aproximou seu rosto do dela, usando a mão livre para tocar seu rosto. Há quanto tempo ele não queria fazer isso? Era a primeira vez que conseguia sentir aquela pele lisa. Eles estavam tão próximos e Evans sequer fazia menção de se esquivar.

Era errado aproveitar-se de sua fragilidade, ele tinha plena consciência disso. Mas Lily Evans tinha o hábito de fazê-lo se esquecer de qualquer um de seus princípios.

– Não. – ela o empurrou.

– Por quê?

Mas Evans não respondeu. Apenas afastou o rosto, sem quebrar o contato visual. Num misto de frustração com repúdio por si mesmo por ter tentado beijá-la naquele estado, James virou-se para frente e apoiou-se nos próprios cotovelos, que, por sua vez, apoiavam-se sobre seus joelhos.

– James. – ela o chamou, baixinho.

Ouvir seu primeiro nome ser sussurrado daquela forma o fez virar o rosto para fitá-la imediatamente. Evans o puxou de volta para trás, trazendo-o por seu braço. James voltou a se encostar no estofado, tentando entender o que ela queria.

– Você podia me chamar assim sempre, sabe. – comentou ele, tentando afastar o clima desagradável que tomara conta.

E, para sua surpresa, Evans deitou a cabeça em seu ombro. E ali permaneceu.

James não era estúpido, portanto não iria declinar à primeira vez em que ela estava sendo gentil com ele. Algum tempo depois, disse:

– Evans...?

Ela inclinou o rosto para cima para poder olhá-lo, sem deixar de se apoiar nele. James se flagrou novamente olhando para as pernas dela, tão próximas. Suas bocas, a um palmo de distância. Mas não conseguiu mover o rosto para frente. Ela corresponderia se ele a beijasse, tinha certeza, era só...

– O quê?

Na verdade, ele não tinha nada para dizer, tudo o que queria era poder observar seu rosto. Não se aproveite dela, James, ele pensava, repetidamente. Por um momento, ela não parecia estar ébria, apenas sonolenta. Então, se ele tentasse algo, não seria um abuso, seria?

Seria, James, porque ela está bêbada. James controlava seus instintos quase incontroláveis de beijá-la. As palavras dela sobre Renoir voltaram a invadir seus pensamentos. E se ela voltasse com ele? Aquela podia ser sua única e última chance.

Por fim, ele soltou todo o ar de seus pulmões e confessou:

– Não tenho coragem de abusar de você, Evans. Se você se lembrar do que está acontecendo aqui amanhã, lembre-se de que eu poderia estar beijando você agora mesmo e não estou fazendo isso.

James esperou que ela finalmente se afastasse, se levantasse do sofá e voltasse para seu quarto. Ou então que brigasse com ele, censurando suas intenções. Mas Evans mantivera-se na mesma posição, com seu olhar indecifrável.

– Espero lembrar. – disse, antes de cerrar o olhos e voltar a abaixar a cabeça.

Poucos minutos depois, James percebeu que ela havia adormecido. Mexeu-se sutilmente para ter certeza e o corpo dela deslizou para frente, inerte. Lily Evans estava dormindo com ele. E a ironia estava de volta para lembrá-lo de ela nunca seria sua.

James não se importou nem um pouco com o fato de que ela já tivesse adormecido profundamente. Sem hesitar, enterrou a mão em sua nuca, levantou seu rosto e depositou um beijo leve em seus lábios entreabertos. Não sentiu culpa. Depois, sorriu, lembrando-se de que ela havia lhe contado que não beijava havia oito meses por culpa dele. Bem, agora não mais.

Após chegar àquela conclusão, James a tomou em seus braços cuidadosamente, para que ela não despertasse, e subiu as escadas. Abriu a porta do quarto com certa dificuldade e pôs Lily em sua cama. Olhou-a por alguns instantes antes de sair e guardou aquela imagem em sua memória para sempre.


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Notas finais do capítulo

E aí, queridos, o que acharam?

Sim, eu sei, FINALMENTE teve um - semi - beijo Jily! ♥

Bom, espero que tenham gostado do capítulo tanto quanto eu amei escrevê-lo. James está aceitando a ideia e Lily ainda não descobriu o que sente, mas não vai demorar. Acho que vocês perceberam que eu me preocupo BASTANTE com a verossimilhança, não gosto de amores eternos à primeira vista, gosto de tudo como se fosse a vida real. ♥

Me digam o que acharam, eu adoraria saber!

Beijos,
Carol Lair