República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 15
Mulheres Atacam




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Capítulo 15 – Mulheres Atacam

Já se passavam das oito horas da noite quando uma BMW preta parou em frente a um sobrado simples, numa rua nas redondezas da Universidade de Hogwarts. Uma bela mulher vestida com caríssimas peles descera do automóvel após o motorista abrir-lhe a porta. Ela andou até a entrada da casa e tocou a campainha, enquanto o carro, já ligado novamente, se afastava.

Bellatrix a recebeu.

– Narcissa!

Narcissa abriu um sorriso tênue, educado. Sua boca estava escondida atrás de um batom vermelho, que realçava a sua brancura.

– Como vai, Bella? – Narcissa a cumprimentou, sorrindo.

– Muito bem. Entre!

Narcissa entrou graciosamente na casa na qual havia morado até o semestre anterior. Bons tempos. Sarah, sua grande amiga, encontrava-se estava sentada no sofá, anteriormente assistindo a um seriado. A morena se levantou e apressou-se em cumprimentá-la.

– Cissy!

Depois do breve abraço, Narcissa despiu seu casaco felpudo, jogou-o juntamente com sua bolsa sobre o sofá e se sentou, com uma notável elegância.

– E as outras? – ela perguntou, torcendo o nariz.

Sarah suspirou, sentando-se ao seu lado.

– A Alice deve estar na república do seu primo, agora ela não sai de lá. – Sarah respondeu, num tom de desprezo. – Helena deve estar pensando em alguma forma de se matar lá em cima e a Marlene ainda não chegou.

Narcissa riu, jogando a cabeça para trás.

– As coisas não mudaram muito por aqui, pelo que notei.

– Algumas mudaram, sim. Eu estou namorando. – Bellatrix contou, séria.

Narcissa arregalou os olhos.

– Sério? Então minha irmã durona finalmente se rendeu!? Eu já tinha perdido as esperanças em você, afinal, faz muito tempo que você terminou com o Rodolphus! – Abanou a mão, indicando que mudaria de assunto. – E quem é o sortudo?

– Frank Longbottom, o da república Whisky de Fogo.

– Ah, me lembro dele! - mas Narcissa não parecia muito satisfeita. - Eu não conheço mais ninguém com esse sobrenome, você sabe a origem da família dele?

– Narcissa, eu simplesmente não me importo. – Bellatrix suspirou, com ar cansado.

– Não se preocupe, Cissy, o Frank não é nenhum pé-rapado. – Sarah garantiu, com um sorriso malicioso. - Não sei muito sobre a família dele, mas ele tem um carro legal, gasta muito dinheiro em festas e sabe se vestir.

O rosto de Narcissa formou uma expressão aliviada.

– Bella finge que não se importa, mas eu sei que ela não quer ser deserdada como nossa irmã.

Naquele momento, Helena surgiu no topo das escadas. Sua expressão, sempre triste, estava mais realçada ainda por conta dos cabelos despenteados e as roupas puídas que estava usando.

– Oi, Narcissa.

Narcissa fixou seus olhos azuis nas roupas surradas da garota recém-chegada, sem esconder seu desgosto. Seus olhos subiram lentamente até fitarem os cabelos despenteados e tingidos de vermelho de Helena. Deus do céu, pensou, estupefata.

– Hum, oi. – Narcissa respondeu, brevemente. Em seguida, virou seu rosto na direção da irmã, como se nada a houvesse interrompido e continuou: - Então, Bella, a minha cama ainda está aí?

– Está.

Percebendo que não era bem-vinda, Helena foi até a cozinha.

– Essa daí não mudou nada. – murmurou Narcissa, apontando para a porta da cozinha. – Continua a desleixada depressiva de sempre. Como pode?

– Acredita que ela está namorando Remus Lupin? – Sarah se adiantou para fazer a fofoca.

– Não creio! Eu adoro o Remus, mesmo que ele seja um pé-rapado. – Narcissa comentou, sorrindo. - Mas o que será que ele viu nela, não é? Mesmo não tendo muito a oferecer, ele merece coisa melhor.

– Todos se perguntam isso. – Bellatrix contou.

– Mas então, você está com fome, Cissy? – Sarah perguntou.

– Não jantei, mas estou de dieta.

– Nós também não, estávamos te esperando, querida. – Sarah falou, voltando a se levantar. – A Alice deixou o jantar pronto antes de sair, acho que era algum tipo de massa. Mas qualquer coisa, tem salada na geladeira.

Narcissa riu sonoramente.

– A Alice ainda cozinha pra vocês?

– Ela nunca reclamou. – Bellatrix interveio. – Aliás, eu convidei o Frank para jantar também, vamos esperá-lo.

Sarah cruzou os braços e franziu as sobrancelhas.

– Eu falei pra você não convidá-lo, Bella!

– E por que eu não o convidaria, Sarah? – Bellatrix arqueou a sobrancelha esquerda, jogando uma mecha dos cabelos negros para trás.

– Você sabe o por quê! A Alice não vai demorar pra voltar e vai ficar um clima chato!

Narcissa não fazia a menor ideia sobre o quê as duas estavam conversando.

– Alguém aqui poderia me explicar o que está acontecendo?

Bellatrix bufou mal-humorada e Sarah revirou os olhos.

– A minha prima e o Frank estavam saindo pouco antes da Bella se interessar por ele. – Sarah explicou, como se estivesse farta de repetir essa história. E realmente estava. – Mas depois que eles terminaram e o Frank chamou a Bella para sair, a Alice não aceitou muito bem a situação. Eu só acho que a Bella não deveria ficar provocando, até porque nenhuma de nós quer que a Alice resolva se mudar! Afinal, quem iria fazer compras ou cozinhar para nós? - virou-se para Bellatrix, com uma expressão cautelosa. - Pense, Bella!

– Nossa, tem gente que não aceita perder, não é mesmo? – Narcissa falou.

– Fato. – concordou Bellatrix. – Mas agora eu e o Frank namoramos e eu não vou deixar de trazê-lo aqui só porque ela não aceita ver que ele prefere a mim.

– Você tem toda razão, Bellatrix. – apoiou Sarah. – Mas a Alice...

– A Alice tem que se acostumar. – Bellatrix a interrompeu, impassível. - E fique tranquila que a essa altura do semestre é impossível encontrar uma vaga em qualquer república perto de Hogwarts, portanto, não se preocupe. Ela não teria para onde se mudar.

–--

Alice parou diante da porta da sua república e pôde ouvir a risada aguda de Narcissa, mesmo estando do lado externo da casa. Então era verdade, a esnobe ex-colega de república realmente estava de volta. Começou a destrancar a porta esperando profundamente conseguir jantar em paz e ir dormir.

No entanto, ela se deparou com suas colegas de república, juntamente com Frank Longbottom, todos sentados à mesa, comendo. O coração de Alice disparou quando seus olhos se encontraram com os dele.

– Oi, Alice, querida. – Narcissa a saudou, sorrindo falsamente.

– Oi, Narcissa.

– Você não gostaria de jantar com a gente? – perguntou Bellatrix. - Acabamos de nos servir.

Alice olhou para a comida que ela mesma havia preparado, mas diante da cena, perdera todo o apetite. Frank não parou de olhar para ela nem por um segundo, como se seus olhos tivessem grudados em seu rosto.

– Na verdade, eu já comi na casa da Lily. – Alice resolveu mentir.

– Alice, mas que desfeita com a Narcissa! – Sarah falou, num tom definitivamente teatral. – E foi você quem preparou o jantar, pelo menos nos acompanhe!

– Foi e-ela quem fez o fetuccine? – perguntou Frank, que estava prestes a colocar uma garfada na boca.

– Foi, meu amor, por quê? – Bellatrix estreitou os olhos escuros para ele, analisando-o.

Alice sorriu internamente com as últimas palavras trocadas à mesa.

– Tudo bem. Eu janto com vocês.

Bellatrix torceu o nariz notavelmente. Sua intenção era apenas a de irritar Alice, não esperava que ela realmente aceitasse acompanhá-los. Narcissa revirou os olhos, mas permaneceu concentrada em sua comida. Frank quase se engasgou com o vinho que bebia e ficou extremamente vermelho quando Alice se sentou bem na sua frente, sem mirá-lo. Helena sentiu as lágrimas beirarem seus olhos, mas secou-as a tempo, antes que qualquer um pudesse notar. Marlene não evitou sorrir ao ver Alice conseguir lidar melhor com a situação. Sarah estava pensando na roupa que usaria no dia seguinte, nem se importando com as pessoas à volta.

– Alice, o Gideon te ligou. – Marlene se lembrou, quebrando o silêncio. - Você está sem celular?

Alice quase morreu de tanto tossir.

– Pois é, esqueci no escritório.

Frank parou de comer e mirou Alice com uma expressão interrogativa.

– Imaginei. – Marlene passou o guardanapo sobre os lábios. – Enfim, ele deixou um número e pediu para você retornar a ligação.

Alice sorriu sozinha, seus olhos brilhando. Frank largou o garfo indiscretamente ao lado do prato e permaneceu fitando Alice.

– O que foi, Frank, não está gostando da comida da Alice? – Bellatrix questionou.

Alice fingiu não ter reparado e voltou a comer normalmente.

– Não é a comida, Bella. – Frank respondeu, seco.

– E quem é esse Gideon? – intrometeu-se Sarah, com sua voz falsamente meiga usada somente para saber das últimas fofocas.

Alice demorou para responder, bebeu dois goles do vinho tinto que havia acabado de se servir e só depois disso virou-se para a prima, dizendo:

– Estou saindo com ele.

Frank permanecera sério, fitando Alice com um olhar certamente ferido. Bellatrix parecia desesperada para contornar a situação, com receio de que Narcissa percebesse que seu namoro não estava tão bem resolvido quanto quisera aparentar.

– Está falando do Gideon Prewett, não está? – Helena reparou no incômodo de Frank e no constrangimento de Bellatrix, portanto, resolveu continuar. – Ele é da nossa sala de Cálculo 3, não é, Frank?

– Ah, o Gideon Prewett? – fez Sarah, arregalando os olhos. – Não. Creio.

– Sim, ele mesmo! – Alice confirmou, sorridente.

– Sabiam que não é educado conversar durante a refeição? – perguntou Narcissa, porque o assunto já estava ficando desinteressante.

Todos se entreolharam, sem entender, e Bellatrix agradeceu aos céus internamente, aliviada que aquela conversa constrangedora havia chegado ao fim.

–--

A manhã de terça-feira trazia um céu cinzento e um vento gelado, juntamente com o começo de novembro. Os alunos da Universidade de Hogwarts mantinham a mesma expressão de sono atrasado, provavelmente porque ainda não haviam se recuperado da semana de provas seguida da festa no final de semana anterior. Naquela mesma manhã, James, Sirius e os outros jogadores do time de futebol oficial da universidade não entraram nas aulas após o intervalo, pois precisavam começar a treinar para o campeonato inglês interuniversidades, que começaria em dois meses. Eles tinham suas prioridades, afinal.

James e Sirius não falaram mais sobre a festa de Halloween, muito menos sobre o que haviam combinado em relação à Marlene. Sirius parecia já ter se esquecido do ocorrido e James simplesmente considerava o assunto constrangedor demais. Principalmente porque depois daquela conversa, o casal parecia mais unido do que nunca e havia voltado a ser o assunto principal dentre as fofoqueiras de Hogwarts, desacreditadas por verem Sirius Black "indisponível" por tanto tempo.

Depois de tomarem uma ducha pós-treino, James e Sirius foram direto para o Salão Principal a fim de almoçar. Todas as garotas sentadas perto da entrada do salão pararam de conversar para observarem os dois morenos de cabelos úmidos entrarem, rindo distraidamente. Todas também assistiram a Sirius acenar e direcionar uma piscadela em direção à Marlene McKinnon, que almoçava com Lily, Lorens e Alice, do outro lado do aposento. Alguns suspiros puderam ser ouvidos.

Lorens contava animadamente sobre uma nova peça que começaria a ensaiar na semana seguinte, enquanto Alice fazia comentários de apoio e Lily almoçava silenciosamente. Marlene não prestava atenção, ela olhava apaixonadamente para Sirius, que agora havia se juntado a Remus e Peter.

– Meu Deus! Eu preciso ir! - Lily interrompeu as amigas e o contato visual de Marlene, ao olhar seu relógio de pulso. - Me esqueci completamente de que tenho que devolver um livro para a biblioteca, se eu não devolver até à uma da tarde Madame Pince vai me cobrar a diária!

– Ah, vai mesmo! - Marlene concordou, bem humorada. - Ela não perdoa. Corre, você tem dez minutos!

Lily terminou o suco de uma vez e saiu correndo, quase tropeçando em um rapaz que equilibrava sua bandeja desajeitadamente. Desculpou-se, atraindo alguns olhares por conta do barulho, e seguiu seu caminho.

– Evans! - Lily ouviu alguém chamar, depois de despejar o conteúdo de sua bandeja numa lixeira e colocá-la apressadamente no local das bandejas usadas.

Potter vinha na sua direção com aquele eterno sorriso cínico nos lábios.

– Sinto lhe informar, Potter, mas estou totalmente sem tempo para você hoje. Até! – e virou-se para continuar a caminho da biblioteca.

– Hey! - ele a segurou pelo cotovelo.

Lily foi obrigada a virar e encará-lo. Percebeu que ainda não o havia perdoado pelo que ele fizera com Marlene e por ele ter atrapalhado seu momento com Louis.

– Eu estou muito atrasada.

– É importante.

– Eu tenho oito minutos para chegar até a biblioteca, Potter. – ela levantou o livro para mostrar-lhe. – Você vai pagar as vinte libras da diária se eu não chegar a tempo? Não. Então depois você me pode voltar a me perturbar, mas agora eu realmente tenho que ir!

Mas Potter não a soltou, fazendo-a bufar. Com a mão livre, ele alcançou o livro que ela segurava, tomou-o e leu seu título.

– Só você deve ter tido coragem para ler isso, Evans. – Potter comentou, rindo. Soltou seu braço para poder folhear o livro.

– Potter, é sério! Eu não quero sujar meu nome com a Madame Pince!

Naquele momento, Potter simplesmente virou-se para o lado e chamou uma garota que os estava observando de longe, apoiada a uma parede, muito provavelmente achando que os dois não a notariam.

– Jackie! - ele a convidou a se aproximar com um movimento com a mão. – Você poderia nos fazer o favor de levar esse livro para a biblioteca em até sete minutos? É só entregar para a bibliotecária, no balcão de entrada. Sabe onde fica?

– S-sei, James.

Potter entregou-lhe o livro e a garota saiu correndo pelo corredor, após lançar-lhe um sorriso interessado. Lily assistira à cena praticamente sem conseguir expressar qualquer opinião. Notou que o rapaz tinha um sorriso orgulhoso no lugar do sorriso cínico de sempre.

– Pronto, agora você pode me ouvir? - ele perguntou.

– Por que você fez isso? - Lily não se conformava na facilidade que ele tivera para improvisar a devolução de seu livro. – E como é que aquela coitada aceitou o que você mandou sem nem protestar?

– Eu não a mandei ir, eu pedi educadamente para que ela fosse.

– Potter, eu não posso acreditar no quanto você é egoísta. Você acha que as pessoas a sua volta são fantoches? Ou que estão eternamente a sua disposição?

Para seu desgosto, ele caiu na risada.

– Não, Evans, eu não sou o idiota que você pensa que sou. A verdade é que a Jackie quer sair comigo. – ele começou a explicar, calmamente. - E ela me seguiu quando ouviu que eu chamei por você, então eu uni o útil ao agradável e a mandei para longe daqui para que eu simplesmente pudesse falar com você sem ter alguém nos observando. Entendeu agora?

Lily não contestara, afinal, realmente havia percebido que a garota os estava observando.

– E por que ela iria querer ouvir uma conversa nossa? – Lily perguntou. – Quero dizer, nós nunca nos falamos.

– Violet acha que temos um caso. – Potter riu mais uma vez, fazendo Lily corar e levar as mãos à boca. – Você não sabia?

– Não!

Potter chacoalhou os ombros, como se não desse a mínima. Ei! Mas eu não quero que pensem que eu tenho um caso com você!, Lily pensou em dizer, mas achou melhor encerrar logo a conversa.

– Fale logo o que você tem para falar, Potter.

– Ah, é mesmo! Então, o promotor Moody me ligou e pediu para eu te avisar que o setor trabalhista tem uma reunião marcada com o presidente às duas horas, na sala de reuniões do quinto andar.

– Reunião com o presidente? – Lily repetiu, processando as informações. – Vou passar em casa para me trocar, então, acho que dá tempo. Acho melhor ir de salto. – ela pensou em voz alta. Notando que não devia satisfações a ele, a ruiva sacudiu a cabeça e fez menção de sair. – Te vejo na reunião.

– Hey! Calma! – Potter disse. Lily interrompeu-se, encarando-o. O que você quer dessa vez, Potter, seu mala?, ela pensou. – Não vai nem me agradecer?

Lily cruzou os braços, perguntando-se se ele realmente estava falando sério.

– Oh, desculpe, Potter. Obrigada por me passar o recado do nosso chefe. – e abriu um sorriso amarelo. – Satisfeito?

O moreno deu um passo a frente, ficando muito próximo. Lily arregalou um pouco os olhos, mais uma vez se questionando sobre se Potter tinha noção do limite aceitável de aproximação estabelecido pelas regras sociais. Ele obviamente as ignora.

– Não. - Potter respondeu, sério. - Mais tarde, depois do trabalho, você não quer sair comigo? Agora eu estou determinado a tirar essa má impressão que você tem de mim.

Lily esperou que ele risse e, assim, concluísse a piada. Como ele normalmente faria. E, afinal, aquilo só podia ser uma piada. Mas para sua surpresa, Potter fitava seus olhos e ela subitamente se sentiu intimidada com a proximidade.

– Você está falando sério?

– Sim. – e ele parecia realmente estar.

Mas Lily não tinha o que dizer. Não era possível que ele estivesse convidando-a para sair de verdade. Aquele era James Potter, seu colega de república terrivelmente infantil cuja distração era irritá-la com tudo o que fosse possível. Não fazia sentido!

– Não, Potter. Se você quiser que eu mude minha opinião sobre você, então comece parando de me chamar para sair. - Lily respondeu. Deu alguns passos para trás e, quando estava a uma distância segura, virou de costas e se dirigiu para a saída do Salão Principal.

–--

Violet Brown havia assistido a tudo sem piscar nem uma única vez. Quando Lily se virou para sair, ela resolveu cutucar James, que havia ficado perplexo, imóvel por vários segundos.

– James, a Lily acabou de te dar um fora ou é impressão minha?

James virou o rosto lentamente, olhando-a com uma certa indiferença.

– O que foi que você perguntou?

– Não se faça de desentendido! Eu vi que você convidou a Lily para sair! – Violet exclamou, animada. Sua vontade era a de sair correndo e espalhar a nova fofoca para Hogwarts inteira. – E ela disse que não! – seus olhos brilharam. – EU NÃO ACREDITO!

– Não enche, Violet. – James disse, claramente emburrado.

– James Potter, o novo aluno bonitão e o atual melhor atacante do time oficial de Hogwarts acabou de levar um fora! – a garota caiu na risada. - Desculpe, James, mas não consigo ignorar isso! E você ainda mora com a Lily! – continuou Violet, deixando James ainda mais irritado. – Para alguém com quem você tem tanta convivência... parece que ela realmente não quer nada com você, não é?

Foi a vez de James cair na risada. Mas era uma risada forçada.

– E quem disse que eu realmente quero sair com a Evans? – James sugeriu, na defensiva. – Eu só a convido para sair porque ela fica toda bravinha com essa pergunta e isso me entretém. Sabe, morar com ela não é nada fácil.

– Que desculpa esfarrapada! – acusou Violet. - Você não parecia estar brincando agora, querido.

James fuzilou a garota com os olhos. Aquele era o problema, especialmente naquela ocasião, James não a havia convidado apenas para irritá-la, como sempre fizera. E Evans havia percebido isso, pelo olhar surpreso que lhe lançou. Aliás, por que ele havia feito aquilo, já que estava ciente de que ela recusaria?

– Bom, Violet, eu não me importo com o que você pensa ou não, sinceramente.

– Ok, então... - Violet concordou, com um sorriso malicioso estampado em seu rosto magro. - Agora eu tenho que ir, afinal, tenho umas novidades super inusitadas para contar pra umas amigas, sabe? Tchau, Jimmy!

–--

– Amanhã todo mundo vai estar sabendo, cara. – Sirius ria ao final da narrativa do amigo, dando uns tapinhas em seu ombro, poucos minutos depois.

– Que saibam. Não vai fazer a mínima diferença. – James continuava notavelmente emburrado.

– Eu sempre soube que essa sua brincaderinha nunca iria dar certo.

James havia voltado a se sentar com Sirius, Remus e Peter, que ainda estavam almoçando. Logo em seguida, Helena, com um semblante cansado, se aproximou do grupo e parou ao lado de Remus, como uma sombra mórbida.

– Oi, Remus.

Remus estava absorto conversando com Peter e não tinha percebido sua aproximação.

– Oi.

– Er... – ela olhou ao redor, parecendo receosa e continuou, num sussurro: – Vamos sair daqui?

Remus não estava com vontade de sair dali naquele momento e estava definitivamente farto das frescuras da namorada.

– Por que você não fica aqui com a gente? – perguntou Peter, tentando ser gentil.

Helena olhou com ódio para Sirius e James.

– Não quero ficar perto dessas pessoas.

– Helena, por favor, eu já... – começou Remus, mas a namorada o interrompeu:

– Remus, você não me consegue me entender?

– Eu faço o máximo que eu posso, Helena, mas às vezes isso é muito difícil.

James e Sirius trocaram um olhar entediado. Os dois também já estavam fartos de Helena e seu melodrama, e a culpavam pelo mau-humor constante de Remus dos últimos dias.

– Não vou ficar aqui e pronto. E não quero brigar com você de novo! – Helena estava com a voz trêmula, e todos concluíram que ela estava a ponto de começar a chorar.

– Não comece a chorar, por favor! – Sirius interveio, não porque estava preocupado, mas porque não aguentava mais.

Mas os olhos de Helena ficaram cheios de lágrimas com a indiferença de Remus.

– Re-Remus. - Helena o chamou novamente, sua visão estava ficando cada vez mais turva.

E então, Remus levantou a cabeça e falou, sem olhar nos olhos da namorada:

– Vamos, Helena.

Levantou-se e saiu, com Helena ao seu encalço.

–--

– Então amanhã a ruiva não nos escapa! – Anita declarou.

– Com certeza. E eu vou arranjar uma garrafa de whisky agora. – Lorens concordou, tirando o casaco.

As duas haviam acabado de chegar à república e aparentemente estavam sozinhas em casa. Sirius nunca tinha hora para voltar, uma vez que a academia onde trabalhava estava sempre cheia de mulheres querendo aulas particulares, Remus tinha saído para jantar fora com Helena, que andava mais necessitada de atenção do que nunca, e Lily e James costumavam voltar do trabalho mais tarde.

– Onde você vai arranjar whisky à essa hora? – perguntou Anita, se jogando no sofá e ligando a TV. - O mercadinho do fim da rua não vende. Você vai pegar ônibus só para isso?

Lorens riu, negando com a cabeça.

– Mas é claro que não, querida. Você realmente acha que vou ter que atravessar o bairro para encontrar whisky, sendo que eu moro lado de uma república chamada Whisky de Fogo?

Anita também riu.

– Lorens, eles não vão te dar, vão te vender!

– Você que pensa, Anita! E acho melhor buscar agora, antes que a Lily volte. Você quer vir comigo?

– Hã?

Anita não parecia ouvi-la; ela olhava fixamente para a televisão.

– Anita!

– Agora começou meu seriado, Lorens, só posso daqui uma hora. – Anita respondeu, distraída.

Lorens revirou os olhos. A atuação dos atores naquele seriado era tão banal...

– Bom, então vou chamar outra pessoa! – a morena concluiu, tendo uma ideia. Voltou a colocar o casaco e saiu.

–--

– Quem vai atender a porta? – Frank perguntou, descendo as escadas, quando a campainha tocou pela segunda vez.

Frank parou no último degrau e olhou para Bill, que desviou os olhos do notebook e repassou o olhar preguiçoso para Amos, que se virou para Peter. Contudo, o último rapaz jazia adormecido no sofá.

– Peter! – Amos o chamou.

O garoto despertou em um salto.

– M-me chamaram?

– Vai atender a porta!

Peter fechou a cara e se levantou do confortável sofá sob os olhares dos amigos, mal-humorado.

– Oi, Pete!

Bill novamente desviou seus olhos de seu notebook – onde estava jogando RPG fervorosamente – ao reconhecer aquela voz. Lorens, absolutamente sorridente, estava parada ali.

– Oi, Lorens... e oi, Alice!

Ao ouvir o último nome, Frank também se virou para confirmar se realmente era quem ele estava pensando que era. Era.

– Vocês duas vieram me... me visitar? – Peter disse, abobalhado, se perguntando se realmente havia acordado. Ele deu um passo para o lado, abrindo passagem e indiretamente as convidando para entrar.

– Infelizmente não, Peter. – Lorens respondeu, num tom amigável. Virou-se para os outros presentes na sala, acenando: – Oi, gente!

– Nossa, mas que bagunça! - Alice deixou escapar, ao olhar ao redor.

A sala da casa se resumia num amontoado de revistas, tênis, roupas, almofadas pelo chão, copos usados espalhados por todas as superfícies disponíveis. Lorens tentou imaginar a reação de Lily se esta se deparasse com aquele cenário.

– Andamos um pouco ocupados desde a última festa. - Amos começou a explicar, educadamente.

Naquele momento, Frank se direcionou para a cozinha, sem dizer nada às visitas. Alice ficou intrigada com a atitude, mas não pôde negar que aquilo demonstrava que ele ficara incomodado com a visita. Bem feito, ela pensou, assim ele vai entender como me sinto quando ele aparece na minha casa.

– Não se preocupe! - Lorens continuou. - Bem, Amos, nós viemos pedir um pequeno favor para vocês.

– Qualquer coisa... – Peter rapidamente se adiantou, sorrindo.

Foi Alice quem prosseguiu com a explicação:

– Nós precisamos de uma garrafa de Whisky de Fogo.

Amos automaticamente franziu o cenho.

Precisam? - ele repetiu, sem entender. - Será que eu posso perguntar... o por quê?

Lorens e Alice se entreolharam, despertando mais ainda a curiosidade dos garotos. Bill não conseguia tirar os olhos de Lorens e, quando ela virou-se para olhá-lo, ele rapidamente voltou os olhos para a tela do notebook.

– Bem, é por causa de uma aposta. – Lorens respondeu, simplesmente, mantendo um clima misterioso no ar.

– Amos, nós temos o estoque certinho para o fim de semana que vem, não sei se dá. – Bill ralhou, pressionando os botões do teclado freneticamente.

– Oi pra você também, Bill. – Lorens o cumprimentou, irônica. Ele sempre passava reto por ela em Hogwarts; desde o dia do teatro não haviam mais se falado.

– Pelo amor de Deus, Bill! E é lógico que temos garrafas de whisky, Lorens! – Amos falou, abrindo um sorriso. – E temos de sobra! Estão todas na cozinha, vocês podem escolher qual quiserem.

Amos as conduziu até a cozinha. Frank estava lá, fumando um cigarro tranquilamente, ao lado da janela entreaberta.

– Oi, Lorens... oi, Alice.

As duas acenaram de longe. Alice não tirava os olhos do cigarro entre os dedos do rapaz. Durante o mês inteiro no qual saíram, ela nunca o havia visto fumar. E como ele não teria motivos para fazê-lo escondido, Alice teve certeza de que Frank realmente estava envolvido com Bellatrix Black.

– Se a Lily estivesse aqui, ela com certeza teria um ataque de nervos. – Lorens disse ao observar a enorme louça suja sobre a pia.

– Ela não quis vir com vocês? – Amos perguntou.

Lorens olhou-o, notando o interesse dele.

– Ela ainda não chegou do trabalho.

– Ah, sim... – ele balançou a cabeça. – Bom, nós guardamos as bebidas naquele armário.

Amos se dirigiu ao armário com Lorens. Frank deu o último trago no cigarro e o amassou no cinzeiro. Ele deu alguns passos na direção de Alice, que estivera imóvel desde que adentrara no ambiente.

– E aí... – Frank começou, meio sem jeito.

– E aí. - Alice respondeu, no mesmo tom.

Os dois trocaram um olhar demorado. Ao longe podiam ouvir Lorens e Amos discutindo sobre as diversas marcas de whisky.

– Então... isso é só uma visita casual? – Frank quebrou o silêncio.

Alice sorriu, achando absolutamente estranho fingir que nunca tivesse acontecido qualquer coisa entre eles.

– Ah, não. – ela tomou fôlego e começou a falar rápido, como sempre: - Eu e a Lorens precisávamos de uma garrafa de Whisky de Fogo. Claro que isso soa meio estranho à essa hora da noite de um dia útil, mas nós não estávamos com muita vontade de sair para procurar um mercado aberto, acordamos muito cedo, trabalhamos à tarde toda, estamos com fome... Daí lembramos que o nome da república de vocês é exatamente o nome da bebida que queremos, portanto, por que não arriscar? – ela chacoalhou os ombros. – E cá estamos nós!

– Ah... – ele suspirou. – Alguma comemoração em vista?

– Não. É por causa de uma aposta.

E não falaram mais nada. Alice estranhou o silêncio. Mas ele fazia todo o sentido, afinal, eles não tinham mais nada para conversar. Não eram amigos. Não eram mais nada um do outro.

–--

Lily entrou em casa e fechou a porta, ignorando que James estava a apenas alguns passos de distância. Anita, que assistia à sua série esparramada pelo sofá, virou-se para cumprimentá-la, mas se surpreendeu com o olhar irritado nos olhos da amiga.

– Está tudo bem, Lily? – ela perguntou, cautelosamente.

Lily bufou e se dirigiu às escadas.

Não. - E subiu os degraus quase correndo.

Dez segundos depois, foi James quem abriu a porta. Anita não entendia mais nada.

– Evans? – ele a chamou, fechando a porta.

– Ela subiu correndo, James. - Anita disse, começando a se preocupar. - Aconteceu alguma coisa?

James se largou no sofá ao lado da loira, respirando fundo. Quando abrira a boca para começar a explicar, Sirius também chegou em casa, trajando um conjunto esportivo de inverno.

– O que aconteceu, James? – Anita repetiu a pergunta, depois de Sirius terminar de cumprimentá-los.

– Do que vocês estão falando? - O recém-chegado perguntou, descendo o zíper da jaqueta e despindo-a.

– Da louca da Evans. Sério, essa garota tem problema. – James começou, parecendo muito irritado. – Eu não consigo entender!

Mas o que aconteceu? – Anita perguntou pela terceira vez. – O que você fez?

– Eu não tenho culpa de nada, juro. Nós tivemos uma reunião no fórum hoje. – James explicou, mais calmo, arrumando os óculos. – O presidente teve uma reunião com cada setor para falar de uma convenção que vai ter no final de semana, em Oxford. Os patrocinadores e produtores dessa convenção sempre mandam um número limitado de convites para o Fórum St. Mungus.

– Ano passado, a Lily foi nessa convenção, eu me lembro! – Anita exclamou. - Nossa, ela ficou tão feliz de ter sido escolhida pelos chefes, não parou de falar da convenção por dias!

– Não me diga que ela não foi convidada dessa vez, James. – Sirius tentou adivinhar.

– Se ela não tivesse sido convidada, até faria sentido ela estar brava. Mas ela foi. Então não faz sentido! – James continuou. – Sabem qual é o problema dela dessa vez? – os amigos negaram com a cabeça. – Pois é, nem eu. Aquela maluca não aceita que agora ela não é mais a senhorita prodígio do setor por dar conta de tudo sozinha. E, como se fosse minha culpa, hoje ela ficou irritada porque eu também fui convidado antes de estar formado.

Um silêncio.

– E qual o problema de você ser convidado? – Anita não estava entendendo.

– Eu também não sei onde está o problema! Bom, ela nunca aceitou que eu também tivesse o mesmo cargo de estagiário especial que ela tem, isso eu já percebi desde o primeiro dia.

Anita se ajeitou no sofá, pensativa. Depois de uma breve pausa, voltou a falar:

– Você não foi promovido justamente porque ela estava muito sobrecarregada? – ela sugeriu, e James confirmou com a cabeça. – É por isso, James. A Lily é muito dura consigo mesma, ela não deve ter aceitado bem o fato de que não estava dando conta das tarefas. Sua contratação significou que ela não é boa o suficiente, entende?

– O problema é dela se ela não sabe lidar com os fatos. Eu não pedi nada disso, então ela não deveria direcionar todo o mau humor para mim!

James cruzou os braços na frente do peito e respirou fundo, profundamente desejando que Evans afrouxasse a aversão que possuía por ele. Mas só porque o mau humor dela o incomodava muito, naturalmente. Não, ele não tinha nenhum interesse em ser amigo, ou qualquer outra coisa, de gente louca como ela.

–--

Mais tarde naquela noite, após jantarem qualquer coisa improvisada por Sirius, James, Remus - que acabara não jantando com Helena pois haviam se envolvido numa eterna discussão até que ele desistisse e voltasse para casa - e Anita resolveram fazer alguns levantamentos referentes aos gastos mensais da república, na sala. Lorens ainda não havia voltado e Lily alegou estar com muita dor de cabeça.

Inesperadamente, a campainha soou. Remus se colocou de pé imediatamente e correu na direção da porta.

– Ele deve estar esperando a Helena. – Sirius contou, baixinho. – Parece que a briga foi bem feia.

Remus abriu a porta. Surpreendeu-se ao encontrar Narcissa Black ali, envolta em seu casaco de peles, sorrindo.

– Oi, Remus! Quanto tempo! – ela sorriu. – Posso entrar?

Anita entrara em estado de alerta ao ouvir aquela voz aguda. James e Sirius se viraram imediatamente para ver. Narcissa entrou majestosamente, parando em frente aos três que ainda estavam sentados no sofá.

– Oi, Jammie! Oi, Sirius! – e ignorou Anita.

– Cissy. – Sirius se levantou e a cumprimentou.

James também não pôde evitar um olhar raio X ao cumprimentar Narcissa. Constatou que ela estava muito mais bonita do que de última vez que a vira.

– Como você está, Narcissa? – James perguntou, educado demais para soar natural.

– Melhor agora, queridos. Posso me sentar?

– Por favor!

Narcissa sentou-se elegantemente e suas pernas bem torneadas surgiram pela abertura do casaco, quando ela as cruzou. Anita observou os olhos azuis de Sirius e os castanho-esverdeados de James se voltarem automaticamente para as coxas da garota. Remus também se juntou ao grupo, sentando-se no sofá perpendicular, enquanto Anita, irritada por estar sendo tão terrivelmente ignorada, simplesmente cruzou os braços e resolveu esperar.

– E então, como vocês têm passado? – Narcissa perguntou, fingindo não notar os olhares sobre suas pernas. – É uma pena que eu tenha me formado bem no ano em que o James veio morar aqui.

– Uma pena mesmo. – James concordou.

– Remus, eu fiquei sabendo que você está namorando. – continuou Narcissa, virando-se para ele. – Sinceramente, eu acho que a Helena não te merece, querido. Eu morei com ela por dois anos e te garanto que até você, que é extremamente calmo e paciente, não vai conseguir aguentar muito mais tempo.

Remus esboçou uma expressão desanimada, como se dissesse "eu sei, eu sei". Anita reparou que ele disfarçadamente olhara para as pernas de Narcissa. Até você, Remus?, ela pensou, e foi assim que decidira permanecer ali, mesmo sendo completamente ignorada.

– A Helena é só um pouco... diferente. – Remus disse.

– Ser diferente é uma coisa, ser problemática é outra. – Sirius disse, lembrando-se da pequena cena que Helena fizera no horário de almoço, mais cedo naquele dia.

– E você, Sirius, se esqueceu mesmo da nossa família, não é? – Narcissa indagou.

Ele riu.

– Digamos que a situação é recíproca.

– Uma pena, apesar de você realmente não ter nascido... para ser um Black. – ela mirou suas roupas esportivas e acrescentou: – Sem ofensas.

Sirius arqueou uma sobrancelha, despreocupado.

– Bem, não parece que você achava isso quando veio se despedir de mim em junho. – E seus olhos brilharam de malícia.

Narcissa não demonstrou nenhum constrangimento; pelo contrário, parecia ter adorado se lembrar daquilo. Anita sentiu uma raiva descomunal subir-lhe à cabeça. Teve vontade de enxotar aquela loira platinada de sua casa.

– Eu admito, Sirius, você é o único da ralé que consegue fazer com que eu cometa alguns deslizes.

Sirius abriu um sorriso sem mostrar os dentes. Anita conhecia muito bem o que aquele sorriso significava. O que esse imbecil está pensando em fazer?

– Está calor aqui, não? – Narcissa começou a se abanar, teatralmente.

– Quer que eu abra a janela? – James perguntou.

– Quer um copo de água? - Remus ofereceu, educado.

– Por que você não tira o casaco? – Sirius sugeriu, num tom malicioso.

Narcissa riu.

– Acho que eu quero as três coisas, meninos.

Anita revirou os olhos, começando a sentir desprezo pelos amigos, que pareciam nunca ter visto uma mulher bonita na vida. Remus saiu correndo para a cozinha e voltou com um copo de água com gelo. James se levantou e abriu a janela, aproveitando para dar uma espiada por cima no decote da visitante, e Sirius a ajudou a tirar o casaco de pele.

– Ainda está com calor? – Remus perguntou depois de um tempo.

Narcissa bebericou a água com movimentos sensuais.

– Está bem melhor assim.

– Eu acho. – Anita resolveu se intrometer, farta de ser ignorada. – que não está calor. Estamos em novembro!

– Mas a Narcissa está com calor. – James observou.

– Olá, Ecklair, vejo que você não mudou nada. – Narcissa fingiu tê-la notado ali somente naquele momento.

– Digo o mesmo de você. – Anita retrucou, abrindo um sorriso amarelo.

Narcissa voltou a ignorá-la e prosseguiu.

– Vocês são uns amores, meninos! – disse, e cada um abriu um sorriso maior que o outro. – Mas eu ainda acho que está bem abafado, sabe.

E, com isso, ela desabotoou os primeiros botões da blusa. Os três rapazes desceram os olhos para assistir seus dedos dançarem sobre os botões.

Foi quando Anita percebeu que ela não poderia fazer nada para conter o que ela julgava estar para acontecer. O que deu nesses idiotas? Voltaram a ter doze anos?, ela pensou.

–--

– Lily! – Anita entrou em seu quarto já pronunciando o nome da amiga.

Lily estava lendo em sua cama.

– O que foi?

– Você não vai acreditar, sério. A Narcissa voltou a infernizar os garotos! Acredita que até o Remus está todo bobão com ela lá? Daqui a pouco vai rolar uma orgia na sala!

Lily voltou os olhos para o livro, chacoalhando os ombros.

– Foi ela quem chegou agora há pouco? – Perguntou.

Sim! Você não vem?

– Quer saber? Dane-se, Anita. Problema deles.

– Lily, deixe seu mal-humor e sua TPM de lado e venha comigo agora! – Anita puxou a amiga pelo braço. – Você é a autoridade da casa!

–--

No mesmo momento em que Lily pisou na sala, James se levantou imediatamente, Remus chacoalhou a cabeça e se afastou, corando, e Sirius se endireitou, pigarreando forçosamente.

Um segundo antes, Narcissa estava conversando com James com o rosto bem próximo, enquanto acariciava o cabelo de Remus – que era o mais controlado de todos - e estava sentada no colo do primo, que não tirava os olhos de seu decote, que estava escancarado diante de seus olhos.

– Oi, Black, como você está? – Lily sorriu, como se a tivesse encontrado casualmente. – E o seu noivo, vai bem?

Narcissa se levantou e arrumou a saia.

– Eu estou bem e meu noivo também, obrigada.

Remus se aproximou de Lily e Anita, a fim de se afastar de Narcissa. Lily lançou-lhe um olhar reprovador e ele ruborizou ainda mais.

– Meninos, acho que eu vou embora. – falou Narcissa, olhando para o relógio de pulso. – Mas vou ficar por aqui por mais uns dias, então me visitem!

Narcissa acenou e se dirigiu à porta, com um enorme sorriso em seus lábios vermelhos. Antes de fechar a porta atrás de si, lançou uma piscadela para James.

Lily colocou-se de frente para os três homens, agora cabisbaixos.

– Que cena foi essa? O que vocês estavam pensando em fazer aqui, no meio da sala?

– N-nada, Lily. – Remus foi o primeiro a responder.

– Até você, Remus, que é um cara legal E comprometido? Esse mundo não tem mais jeito mesmo! – Anita comentou, fazendo James e Sirius rirem.

– Não fique com ciúmes, querida. - Sirius interveio, olhando-a de modo insinuante. - Você sempre será minha loira preferida.

– Ora, me poupe! – Anita bufou. – Eu devia ter filmado a cara de vocês. Pareciam três meninos de doze anos!

– Eu insisto na minha pergunta. – Lily voltou a falar, num tom grave. – O que vocês três pretendiam fazer com a Narcissa?

– Estávamos só conversando, Evans. – James explicou. – Não seja tão chata.

Lily riu.

– A cena que eu presenciei não parecia uma conversa.

Sirius bocejou, despreocupado.

– Minhas queridas, eu malhei muito hoje, estou morrendo de cansaço... vou dormir, ok? – Sirius se levantou. – Fiquem tranquilas. Era só uma brincadeira da Narcissa, ela é assim, gosta de se sentir fatal. – ele se dirigiu às escadas. – E por que não entrar no joguinho dela, se isso a deixa feliz?

Lily e Anita trocaram um olhar, como se dissessem "É, faz sentido". Sirius subiu as escadas e Remus foi logo atrás, despedindo-se dos demais apressadamente.

– Obrigada por restabelecer a paz nessa república, Lily. – Anita agradeceu, tocando no ombro da amiga. – Eu também vou subir, tenho que terminar um trabalho.

Sozinhos na sala, Lily e James se entreolharam. Sem saber exatamente o motivo, Lily quis continuar com o sermão. Sabia que ele simplesmente detestava quando qualquer pessoa lhe desse ordens ou o repreendesse.

– Nem comece. - Potter já adiantou, cruzando os braços.

Lily ergueu os braços na altura da cabeça, em rendição.

– Ok, ok.

– E sobre o que aconteceu hoje, mais cedo, espero que esteja tudo bem. Eu não tive culpa e você sabe disso.

– Ah, você não tem culpa por ter me chamado para sair? Curioso, Potter. A culpa é de quem, então?

Potter caiu na risada. Ah, como aquela risada cínica a irritava!

– Eu estava me referindo ao que aconteceu no Fórum! – ele balançou a cabeça. – Mas bom saber que você considera a nossa conversa no Salão Principal mais importante do que a reunião com o presidente. Ainda dá tempo de mudar de ideia, aliás.

Lily revirou os olhos. Por que ainda dou atenção a esse idiota?, perguntou-se, andando até o primeiro degrau. Potter virou a cabeça para acompanhar seu percurso, um tanto confuso. Antes de desaparecer escada acima, porém, Lily voltou-se para ele:

– Potter, se você realmente estava falando sério ao dizer aquilo na saída do Salão Principal–

– Eu estava.

Lily se calou momentaneamente. A expressão serena de Potter era indecifrável. Ela sabia que deveria continuar seu caminho até seu quarto. Mas algo a impedia, a obrigava terminar aquela frase.

– Bom, então já que você estava, vou te dar outro conselho: demonstre amadurecimento, Potter. Por exemplo, nessa convenção, aja como um verdadeiro Bacharel em Direito. Não aja como um adolescente, dormindo nas palestras e enchendo a cara no coquetel. Valorize essa convenção, ela vai ser importantíssima para a sua carreira.

E, após terminar de falar, Lily voltou a subir as escadas. Virou-se rápido para que ele não percebesse o rubor dominar seu rosto. Aliás, por que ela falara aquilo? De onde tal conselho havia surgido? Céus, o que deu em mim?

–--

James se jogou no sofá, mergulhado em pensamentos. Aquilo teria sido o princípio de um sim? Evans estava realmente cogitando a existência de alguma possibilidade? Será que se ele se comportasse muitíssimo bem no final de semana, ela amoleceria um pouco?

E por que ele estava feliz com a ideia de que ela estivesse cogitando sair com ele?

Minutos depois, Lorens entrou na casa, segurando uma garrafa de Whisky de Fogo, interrompendo suas divagações.

– Hummm... Eu aceitaria um gole disso com prazer. - James comentou, olhando para a garrafa cintilante.

Ela sorriu.

– Infelizmente, já tem dona.

– Não vai nem dividir comigo?

– Não é minha! – Lorens riu. – É para nossa querida Lily. Amanhã ela não me escapa!

James deu um salto do sofá.

– A Evans vai beber whisky? Quando? Por quê? Não faz sentido.

Lorens olhou misteriosamente para ele.

– Ela perdeu uma aposta. – contou ela, arqueando uma sobrancelha, atiçando a curiosidade de James. - E amanhã, ela não vai ter desculpas para não pagar a dívida. Agora eu vou dormir, James. Boa noite!

Lorens subiu as escadas saltitantemente e James sorriu sozinho de satisfação, absolutamente curioso para ver Lily Evans embriagada. A sorte havia voltado a sorrir para ele, afinal.


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Notas finais do capítulo

Oi, gente! Tudo bem com vocês? :)

Primeiro, eu gostaria de agradecer todos os acompanhamentos e comentários que recebi até o momento! Vocês são os melhores, sério!!

Segundo, eu gostaria de avisar para vocês que postei uma fanfic Jily nova - e desafiadora para mim, diga-se de passagem. Quem gostar de uma pós-Hogwarts meio alternativa e quiser ler, o link é: http://fanfiction.com.br/historia/626263/Zerstoren/

Tenham um ótimo final de semana! Prometo escrever bastante!! :)

Beijos,
Carol Lair (@carollairr)