República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 13
O Segundo Passo


Notas iniciais do capítulo

Oi, queridos!

Capítulo dedicado a Natalie Jenny (http://fanfiction.com.br/u/568041/) e a Book Lover (http://fanfiction.com.br/u/523209/), duas leitoras muito atenciosas que me escreveram maravilhosas recomendações! Eu não tenho palavras para agradecer vocês duas, dedicar um capítulo não chega aos pés do que vocês merecem de verdade! OBRIGADA MESMO!!

Agora, o capítulo:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/607838/chapter/13

Capítulo 13 – O Segundo Passo

Assim que avistou Marlene, desolada, nas proximidades da pista de dança, James se aproximou. Ela estava nitidamente preocupada.

– E aí, o que houve? – ela perguntou.

James balançou a cabeça negativamente, como se estivesse se lamentando.

– Ele passou muito mal. Encontramos o Peter, que estava indo embora, e ele levou o Sirius com ele.

– É SÉRIO? - Marlene estava boquiaberta. - Mas ele estava tão bem dez minutos atrás! O que tinha naquela tequila, James? De qualquer forma, eu pensei que ele fosse mais resistente à bebida, afinal, ele sempre bebe.

– Acontece, Lene. - James quis encerrar o assunto, afinal, ele tinha uma tarefa a cumprir. Torceu para que Peter não surgisse mais adiante e arruinasse a mentira. - Vamos aproveitar o que resta da festa, ok?

Marlene ficara visivelmente desapontada. Ela cruzou os braços, suspirou e baixou o olhar. Os dois se afastaram das proximidades da pista, na direção do bar, e a música alta ficou gradativamente mais distante.

– Que falta de consideração a dele. – ela continuou com o desabafo, ainda pensativa. – Em vez de aproveitar a festa comigo, ele tinha que encher a cara e acabar desse jeito? Eu mal dormi de ontem para hoje só para terminar meu trabalho mais rápido e poder vir à festa com ele, e é assim que ele me retribui. Você não concorda que ele poderia ter ficado sem essa?

Mas James não a ouvia. Seus olhos acidentalmente caíram sobre um certo casal sorridente que se dirigia à saída do salão, provavelmente em busca de um lugar mais isolado no jardim, onde pudessem ter mais intimidade. Evans e o francês riam e exalavam felicidade por onde passavam. Daquela distância, James pensou ter ouvido a risada de Evans. Seu estômago se revirou duas vezes e ele teve certeza de que fora apenas por conta de tudo o que havia bebido, naturalmente.

– ... Além do mais, o Sirius não precisa disso. Óbvio que eu acho normal beber nas festas, mas beber a ponto de vomitar? Para mim, isso é completamente o contrário de aproveitar uma festa, não acha? James?

– Claro, Lene. - ele finalmente voltou a olhá-la. Do que ela estava falando?, ele se perguntou. - Que tal pegarmos um drink?

– James, você ouviu o que eu disse? - seu tom de voz era aborrecido. - Aliás, só de olhar para você agora eu consigo perceber que você não está muito sóbrio...

James sorriu e lançou a ela um olhar sedutor. Não acredito que vou fazer isso. Ele realmente precisava de mais um drink.

– Venha, Lene. Eu estou te convidando para tomar um drink comigo, vai recusar?

Marlene acabou concordando. James queria pedir mais um whisky ao bartender, mas a morena o impediu e, por fim, ele acabara por pedir dois gins. Quando os drinks chegaram, Marlene bebeu o seu quase de uma vez. James concluiu que o fato de ela estar consideravelmente chateada com Sirius facilitaria muito sua missão. Ele só precisava, talvez, de mais umas dez doses de qualquer coisa para adquirir coragem.

– Esqueça, Marlene. - James disse, ao reparar no olhar distante dela. - Hey! A festa não está nem perto de acabar. Dane-se se o Sirius foi embora, você conhece um monte de gente aqui e pode continuar se divertindo.

– Você tem razão. Vamos dar uma volta?

– Vamos. Que tal irmos ao jardim? - ele sugeriu.

– Ótimo, eu não aguento mais esse barulho. E talvez a Alice esteja lá, não a encontrei até agora.

Os dois caminharam lentamente para a saída do salão. James não sabia dizer se era por conta do álcool ou da situação inusitada, mas ele não estava conseguindo pensar em absolutamente nada para forjar um clima entre os dois. Numa situação comum, ele somente tinha de fazê-la rir de uma de suas piadas galantes, lançar um elogio sutil, chegar mais perto e, depois de todo o procedimento, normalmente era a própria garota quem tomava a iniciativa. Mas o que estava acontecendo?

O jardim também estava decorado com abóboras recheadas de velas, distribuindo ao local uma iluminação alaranjada e bruxuleante. O vento estava gelado, mas não era forte. Marlene parou de andar e olhou a sua volta, procurando alguém com os olhos.

– Então, Lene, eu-

Ela o olhou. James não sentia exatamente vontade de beijar Marlene; aquela ideia ainda lhe era bastante estranha. Mas tudo estava uma confusão dentro de sua cabeça. Deu um passo a frente e tentou organizar seus pensamentos. Como foi que tinha chegado até ali? Lembrou-se de Sirius pedindo sua ajuda, a tequila, a conversa no banheiro masculino, Marlene preocupada, Evans e o francês indo para o jardim, gim, pessoas demais, ele e Marlene em silêncio também no jardim, será que estavam perto de Evans e...

Evans e o francês, de novo? Mas o que eles faziam nos pensamentos dele, numa hora como aquela? Ele se lembrou do fato de que Evans e Marlene eram muito amigas. Foco, James.

– Você também não achou que aquele gim estava meio forte? - Marlene comentou, para quebrar o silêncio.

– Claro que não, você achou? Ainda bem que não pedi dois whiskies, então. Senão teríamos mais alguém passando mal por aqui. - ele brincou, fazendo-a rir.

– Sim, teríamos. Só que esse alguém seria você, que já está bem bêbado, não concorda?

– É claro que não! - James defendeu-se, tentando manter o foco. Desceu os olhos para a boca entreaberta de Marlene. - Talvez você só tenha bebido um pouco rápido demais.

– Pode ser. Mas que o gim estava forte, estava. As minhas bochechas estão pegando fogo mesmo estando frio aqui fora! Olha!

Ela pegou a mão de James e a levou até sua bochecha direita, para que ele pudesse confirmar o quão quente estava. James aproveitou a deixa e desceu aquela mesma mão até sua nuca, lentamente. No segundo seguinte, ele estava beijando Marlene, que lentamente permitiu que ele aprofundasse o beijo e a trouxesse mais para perto. No entanto, quando se dera conta do que estava fazendo, ela o empurrou e o olhou um tanto sem reação.

– James, mas o que-

A única coisa que James conseguia pensar naquele momento era: tarefa cumprida. Ele teve que admitir para si mesmo que não fora difícil, Sirius tinha razão. Levantou os olhos para olhar Marlene e ela estava com uma expressão horrorizada.

– Oh, meu Deus. - ela murmurou. - O que fizemos? E-eu-

– Desculpe, Marlene. Eu não sei o que me deu. - James tinha que aparentar estar surpreso também.

– Isso não deveria ter acontecido. – Marlene conseguira pronunciar, em meio ao choque. – E agora, James? Eu estou com o Sirius e ele é o seu melhor amigo!

Foi só então que James percebera o quão terrível aquilo poderia soar para Marlene. Ela parecia tão preocupada por aparentemente ter traído Sirius, mal imaginando que tudo aquilo havia sido ideia do próprio. Aliás, será que o amigo realmente não iria se importar quando estivesse sóbrio? Será que Marlene iria desconfiar de algo quando soubesse que Sirius coincidentemente também acabara beijando outras garotas na festa, sendo que James havia lhe dito que o amigo tinha ido para casa?

Bom, aquilo não era problema seu, definitivamente.

– Fique tranquila, Lene. Eu vou explicar tudo para o Sirius amanhã.

– Mas e se ele brigar com você? Eu sinceramente não sei como ele reagiria numa situação como essa, James! - Ela levou as mãos à cabeça, com uma expressão angustiada. - Ele pode ficar muito chateado e querer cortar relações com nós dois!

– Não seja precipitada. – James tentou tranquilizá-la, mas a expressão dela não se alterou. - O Sirius não é cabeça fechada, Lene, se eu explicar que foi um acidente, ele vai entender. E pelo que eu saiba vocês não combinaram nada sobre exclusividade, não é?

– Ora, James, existem coisas que não precisam ser ditas! - Marlene replicou, impaciente. - Estamos saindo há duas semanas e nos vendo todos os dias desde então, é claro que isso está implícito, né!

James coçou a parte de trás da cabeça e teve vontade de lhe responder que não, o conceito da monogamia não estava implícito em relacionamentos de duas semanas, a não ser que ambas as partes tivessem conversado sobre o assunto. E, obviamente, Sirius compartilhava daquele mesmo ponto de vista.

– É melhor eu ir embora, James. - Marlene disse, sem olhá-lo. - Aliás, como você pode estar tão indiferente e-

– Olha, Lene, eu já disse que foi sem querer. - James a interrompeu, a fim de encerrar o assunto, mas logo percebeu que não soara convincente. - Eu não pensei em nada, entendeu? Pode deixar que eu assumo a culpa e vai ficar tudo bem, ok?

Marlene abrira a boca para responder, mas novamente foi interrompida, agora por uma bela garota, cujo nome James não se recordava àquela altura da noite, mas com quem ele certamente já havia conversado antes.

– James! Tem um monte de gente te procurando!

Os olhos do garoto alternavam repetidamente entre Marlene e a recém-chegada. Será que ele já estava liberado? Afinal, não era só Sirius quem tinha planos para aquela noite, ele também queria se divertir! Além do mais, Marlene havia acabado de dizer que estava indo embora. Seria, então, muito errado voltar para o salão e pedir um whisky?

– Você vem, James? - a garota sem nome insistiu, indicando a entrada do salão com a cabeça. - Frank e Amos compraram umas garrafas para brindar com o pessoal e estavam te procurando para brindar também. Eles estão há meia hora tentando te ligar, mas você não atende!

– Meu celular está no silencioso. – James contou, abrindo um sorriso galante. Voltou-se para Marlene, que o olhava com uma expressão um tanto aborrecida. - Você se importa se eu voltar lá para dentro?

– Eu não acredito no seu cinismo, James! - Marlene explodiu. - Depois de tudo o que você fez, você ainda vai virar as costas e continuar enchendo a cara como se nada tivesse acontecido? É isso mesmo?

James subitamente sentiu-se a pior pessoa do mundo, principalmente depois de perceber que os olhos verdes-musgo de Marlene estavam marejados e sua voz assumira um tom embargado. Ele sabia que ela tinha razão.

– Agora eu entendo o que a Lily quer dizer quando diz que você não tem respeito por ninguém! - Marlene ainda estava falando. - Não respeita nem aquele que chama de melhor amigo!

– Lene-

– Boa festa, James.

Marlene simplesmente virara-lhe as costas e saiu andando apressadamente, com passos firmes. A outra garota, que não entendera nada, se aproximou mais dele, tocando-lhe no ombro.

– Vamos, Jammie?

James hesitou por alguns segundos. Quando Marlene já estava a uma certa distância, ela parou de andar e passou a correr, em direção ao lago. Imediatamente, James saiu ao seu encalço, a fim de alcançá-la.

–--

Lily e Louis caminhavam lentamente pelo jardim de Hogwarts, em torno do lago. Automaticamente, Lily lembrou-se de que fora exatamente naquele lugar onde eles haviam se beijado pela primeira vez, onze meses antes. Eles repentinamente haviam ficado em silêncio, provavelmente revivendo as mesmas memórias que aquele local lhes trazia à tona.

Os dois pararam ao lado da árvore que demarcava com precisão onde aquele primeiro beijo havia acontecido. Lily sentira seu coração disparar quando notou os olhos dele fixos nela, na penumbra.

– Ah, esse lugar... - Louis murmurou, sorrindo pelo canto da boca.

Lily sentiu o rosto corar e agradeceu aos céus pelo jardim estar com a iluminação baixa. Desde o momento em que encontrara Louis na festa, eles não haviam conversado absolutamente nada sobre o passado mal resolvido. Apenas beberam alguma coisa e ficaram contando as novidades dos últimos meses, durante os quais mal haviam se falado. Mas Lily sabia que, em alguma hora daquela noite, aquele momento interrompido por Potter algumas semanas atrás encontraria uma oportunidade de ser retomado.

– Bem, Lily... - Louis voltou a falar, tomando suas mãos entre as dele. - Desde o dia em que eu fui à sua casa, tudo que eu fiquei pensando foi em como voltar àquele assunto, só que...

E ele se calou.

Lily esperou alguns segundos e percebeu que ele não estava seguro se deveria continuar ou não. Sentiu seu coração, que já palpitava desesperadamente, dar uma reviravolta tão dolorosa dentro de seu peito que a fez prender a respiração. Continue, Louis, pelo amor de Deus!

– Só que...?

– Só que eu me lembrei que, quando você terminou comigo sete meses atrás depois de eu ter dito que te amava, eu prometi a mim mesmo que não iria correr atrás de você. Bem, até que eu aguentei bastante tempo, né?

Lily riu. Um tremor ansioso perpassou por seu corpo todo e, assim, a ruiva percebeu que suas pernas estavam curiosamente oscilantes. Recomponha-se, mulher, ela se ordenava mentalmente.

– Ah, Louis, não fale assim!

– Mas desde que a Anita veio falar comigo naquele dia, eu me esqueci da minha promessa na mesma hora. - Louis abriu um sorriso e deu um passo a frente, olhando-a no fundo de seus olhos. - Nesses sete meses, eu não consegui me envolver de verdade com ninguém e, depois que eu descobri que você também não, então eu não consigo entender por que nunca tentamos de novo.

Os batimentos do coração de Lily estavam tão acelerados que a jovem não conseguira juntar fôlego o suficiente para formular uma frase.

Louis acariciou o rosto dela carinhosa e brevemente, se aproximando. O contato visual era intenso, era como se competissem telepaticamente para ver quem piscava primeiro. E, exatamente no mesmo instante, ambos cerraram os olhos.

– MARLENE, me espera! – berrou uma voz.

–--

– Hey, Anita! – uma voz atrás dela a chamou.

Anita desviou sua atenção da conversa divertida que estava tendo com Lorens e Alice para encarar Peter Pettigrew.

– Oi, Peter. O que houve?

– Por acaso você viu o Sirius, o James e o Remus por aí? – ela perguntou, desanimado. - Estou procurando por eles desde que cheguei!

– Faz tempo que não os vejo. – Anita respondeu, simplesmente. Depois, virou-se de volta para as amigas a tempo de ouvir Lorens terminar de contar a peripécia e acompanhá-las nas risadas.

Mas Peter não se mexeu e continuou ali.

– Anita... você já tem companhia? – seus olhos miúdos brilharam.

Anita voltou a virar a cabeça para encará-lo. Perguntou-se se havia entendido a pergunta corretamente. Dessa vez, Alice e Lorens também pararam de conversar para ouvir.

– Estou com minhas amigas.

– Você não quer ir beber alguma coisa? – sugeriu ele, sorrindo esperançosamente.

Lorens e Alice levaram a mão à boca para abafarem os risinhos. Anita, ainda um pouco atônita, apenas desviou o olhar em busca de alguma forma gentil e clara para recusar o convite.

– Na verdade, eu não estou com sede. – Ela respondeu, tentando parecer natural.

– Que tal irmos para a pista de dança então? - Peter alargou ainda mais seu sorriso, provavelmente não entendendo as notáveis recusas.

– É... - Anita balbuciou, sem graça. - Não, Peter.

O rosto do rapaz ficou inteiramente vermelho e seu sorriso se desmanchou lentamente.

– Entendo... bom... eu... eu vou continuar procurando os meus amigos. Até.

E, assim, Peter se afastou, um tanto cabisbaixo. Ao vê-lo sumir na multidão, as três garotas explodiram em risadas.

– O que foi isso, amiga? - Lorens perguntou, notavelmente alcoolizada.

– Eu também não esperava por essa! - Anita disse, ainda rindo.

– Pobre Pettigrew. - Alice acrescentou, divertida.

– Pois então, minhas queridas amigas – Lorens fez uma pausa para terminar seu drink. – Até o presente momento, nós ainda não colocamos em prática o que realmente viemos fazer nessa festa. Se continuarmos paradas assim, a Lily, que nem queria participar da aposta, vai ser a única que não vai precisar beber a garrafa de whisky! Já imaginaram isso? Perder essa aposta para a Lily?

– Olha, eu prefiro mil vezes o coma do que beijar o Pettigrew! – Anita confessou, voltando a rir, sendo acompanhada pelas amigas.

– Nossa, eu também! – concordou Alice.

– Mas como, graças a Deus, o Pettigrew não é a nossa única opção, então vamos para a pista de dança agora!

E, com tal decisão tomada, as três se encaminharam para a pista, sendo rapidamente contagiadas pela batida forte da música. Começaram a dançar, brincando uma com a outra. Lorens criava alguns passos e as amigas imitavam, rindo sem parar. Tal comportamento rapidamente atraiu vários olhares.

– Hey, seu nome é Lorens, não é?

Lorens se virou na direção da voz e encarou um rapaz de cabelos escuros, longos e lisos, amarrados na nuca. Tentou reconhecer aquele rosto, mas soube imediatamente que, se o conhecesse, não teria se esquecido daqueles traços tão marcantes.

– Sim, esse é meu nome! – ela exclamou, sorridente. – Mas eu não sei o seu!

– Nós ainda não fomos apresentados. Eu me chamo Christopher, curso Música.

Lorens simplesmente adorava músicos. E cabeludos.

– E como você me conhece? – a morena perguntou, estreitando os olhos azuis para ele.

– Eu fui assistir à sua peça semana passada. Um cara da minha sala que trabalhou na trilha sonora me convidou para ver e devo dizer que gostei muito. Você atua muito bem, sério.

Lorens não pôde conter um sorriso orgulhoso. Mal posso crer que já quero agarrar o meu primeiro fã, ela pensou em meio ao sorriso.

Anita e Alice, mais adiante, observavam os dois conversando.

– Essa é a Lorens que eu conheço! - Anita comentou, animada. - Esse cabelo comprido e esse braço tatuado fazem muito o tipo dela!

– Então agora só nós duas vamos ter de entrar em coma alcoólico. - Alice brincou.

Anita riu.

– Nem vem, Alice! Temos muito tempo até o fim dessa festa! Vamos!

E as duas garotas se afastaram, se infiltrando na pista e deixando Lorens e Christopher aos beijos para trás.

–--

Remus Lupin novamente encontrava-se diante da mesma situação. Encontrava-se diante da mesma situação constrangedora de ter de parar tudo o que estava fazendo para amparar Helena, sua namorada de quatro semanas, que possuía o hábito de subitamente explodir em lágrimas por qualquer motivo.

Um minuto antes, o casal estava dançando com amigos, dentre eles estavam Amos e Bill, próximos à pista. Até que Sirius Black passou por eles, advindo das escadarias, completamente despenteado, acompanhado de uma garota desconhecida, que ajeitava suas roupas. Remus não deu importância e voltou a conversar com Amos. Mas a cena havia intrigado Helena. Ela observou Sirius olhar a sua volta, provavelmente verificando se estava sendo observado e, sem notar seus olhos atentos, ele se inclinou para se despedir da garota com um beijo nada discreto.

Repentinamente, Remus viu a namorada passar correndo por ele, empurrando várias pessoas para abrir caminho. Sob os olhares interrogativos dos amigos, o rapaz apressou-se em tentar alcançá-la.

– Helena! O que foi dessa vez? – perguntou ele, segurando-a pelo pulso.

Quando Helena se virou, seu rosto já estava completamente molhado pelas lágrimas.

– Você não viu o seu amigo Black?

Não era comum Remus revirar os olhos. Mas dessa vez, ele o fez.

– E qual é o problema da vez? - ele perguntou, cansado.

– Não fale assim comigo, Remus! – ela o fuzilou com o olhar. – Eu acabei de ver o Black traindo a Marlene na frente de todo mundo! Descaradamente! Sendo que ela está aqui nesse Salão, em algum lugar!

Depois de dizer a última frase, ela explodiu em soluços e abraçou o namorado, que não se mexeu.

– Por favor, pare de chorar, Helena. - Remus pediu-lhe, respirando profundamente.

– E você não vai fazer nada? – Helena retrucou, num tom ligeiramente acusador. – Vai deixar ele fazer a Marlene de idiota, Remus? Ela é sua amiga também, esqueceu?

– Mas eu não vi nada, Helena, desculpe.

– Você acha que eu estou mentindo? - Helena vociferou, furiosa. - Ok, eu admito que nunca fui com a cara do Black, mas eu jamais inventaria uma coisa dessas! Eu juro que o vi beijando outra, Remus!

Remus cerrou os olhos, buscando um pouco de paciência no fundo de sua consciência.

– Não, eu não acho que você inventaria isso. - o rapaz falou, reabrindo os olhos. - Mas não seja precipitada, Helena. Com certeza a Marlene conhece o Sirius e, quando aceitou sair com ele, ela já sabia que seria desse jeito.

– É aí que você se engana! – ela exclamou, num to desesperado. – Ela confia nele, Remus, e acha que aquele otário gosta dela de verdade! Aliás, onde ela se meteu? Ela estava conosco meia hora atrás! - Helena tirou o celular da bolsa e começou a mexer nele com furor. - Eu vou ligar para ela agora, Remus! Aposto que ela deve estar procurando por ele!

Remus tomou o celular de sua mão, sério.

– Pare de ser impulsiva, Helena! Antes de armar um circo, primeiro converse com ela e certifique-se de que eles não combinaram alguma coisa, afinal, ela também sumiu! – Ainda com o semblante irredutível, Remus deu um passo a frente e aproximou seu rosto do dela, fazendo-a se encolher. – E agora pare de chorar!

Só então Helena notou que muitas pessoas próximas a eles os observavam, aos cochichos. Ela secou as lágrimas, procurando recuperar a postura.

– Eu preciso avisar a Lene, Remus. - ela disse, com a voz embargada. - Devolva-me meu celular.

– Helena, seja prudente, ou melhor: seja madura uma vez na vida! É claro que você tem que conversar com ela, mas você sabe que agora não é a melhor hora! Primeiro, você não sabe o que eles têm combinado, segundo, você viu o estado do Sirius depois que ele bebeu aquela tequila, ou seja, ele estava completamente bêbado, terceiro, estamos numa festa cheia de gente e você não quer que sua amiga vá tirar satisfações com ele e seja humilhada na frente da faculdade inteira, caso ele realmente a tenha traído, quer?

– Mas ele realmente a traiu, Remus. - ela insistiu, emburrada.

Impaciente, Remus voltou a cerrar os olhos, novamente buscando mais uma dose de paciência. Ofendida com a reação dele diante da grave situação, Helena deu-lhe as costas e saiu correndo em direção à saída do salão. Mas Remus não fora atrás dela daquela vez. Estava simplesmente farto de suas crises, de seus escândalos em público e de seu dom de transformar qualquer momento agradável em desgraça. Remus notou que o celular da namorada ainda estava em sua mão; ele o guardou no bolso e voltou para a pista de dança.

–--

– MARLENE!

A morena simplesmente parara de correr e James finalmente conseguira alcançá-la. Como ela corria rápido! Ou era ele quem estava lento por conta do considerável teor alcoólico em sua corrente sanguínea? Ele apostava na primeira opção.

– Para onde você estava indo? Se jogar no lago? - James perguntou, percebendo que ela encarava algo a sua frente, sem piscar.

Ele seguiu o olhar dela e viu Evans e o francês abraçados, também paralisados, com expressões confusas. Lentamente, o casal se desabraçou, enquanto Marlene lhe aplicava uma cotovelada desnecessariamente forte.

– Vamos sair daqui, James. – ela murmurou entre dentes, sem mover os lábios.

– Pra você sair correndo de novo? - James rebateu, fingindo não entender o verdadeiro motivo do pedido da morena. - Mas nem pensar!

– Está tudo bem? - Evans finalmente interferiu, dando um passo a frente.

– Desculpe, Lily! - Marlene apressou-se em dizer, abaixando a cabeça. - Eu não imaginava que vocês estavam aqui. Mas nós já estamos indo, não é, James? - ela lançou um olhar mortífero ao rapaz. - Mais uma vez, me desculpem.

– Não foi nada. - Evans respondeu, com uma expressão interrogativa.

James percebeu que o francês o fuzilava com o olhar, provavelmente tendo compreendido que James insistira em ficar ali justamente para não deixá-lo a sós com Evans. Imaginou se eles teriam reatado o namoro. O que ela via numa pessoa de humor tão limitado como aquele francês? Voltando à realidade, ele reparou que Evans estava falando.

– Por que você estava correndo do Potter, Lene?

Marlene virou-se para mirá-lo e seu olhar era inseguro. James bagunçou ainda mais os cabelos, sem dizer nada, fazendo Evans cruzar os braços e bufar.

– Mas o que está acontecendo aqui? – A ruiva insistiu, seus olhos indo de Marlene para ele.

– Não é da sua conta, Evans. – James alfinetou, a fim de aumentar ainda mais sua curiosidade. E fora bem sucedido.

– Não se preocupe, Lily. - Marlene falou, com a voz trêmula. Ela estava a ponto de chorar e Evans obviamente percebera isso. - Está tudo bem. Aliás, eu já estava indo para casa e...

Marlene se interrompera e começara a chorar silenciosamente. Evans a abraçou e afagou seus cabelos, enquanto o francês se apoiou numa árvore, cruzando os braços, contrariado.

James inevitavelmente cogitara a provável possibilidade de Marlene estar chorando por sua culpa. Não é possível que ela seja tão sensível! Em seu peito reinava uma enorme confusão de sentimentos, que oscilavam entre a culpa e a raiva. James queria organizar seus pensamentos, mas parecia impossível vencer os efeitos do álcool e toda aquela situação estava fugindo de seu controle. Sirius, você me deve uma bem grande.

– O que você fez a ela, Potter? – Evans quebrou o silêncio.

– Lily, não se preocupe, eu não quero atrapalhar a sua noite! – Marlene interveio, com a voz chorosa, ainda abraçada à ruiva.

– Você não está atrapalhando. – Evans provavelmente estava mentindo para ser gentil. – Mas me diga o que aconteceu! Eu nunca te vi desse jeito, Lene!

De repente, James percebera que não queria ouvir Marlene falar mal dele para Evans. Não queria ouvi-la narrar sobre o beijo e depois sobre sua suposta falta de sensibilidade ao pensar que já estava tudo bem e resolver voltar à festa. Se Evans já o achava um mau-caráter, depois de ouvir toda a história, ela o desprezaria para sempre.

– Acho que é melhor eu voltar lá para dentro. - Renoir finalmente dissera alguma coisa. James achou que o sotaque dele era carregado demais para alguém que morava no país havia, pelo menos, quatro anos. Franceses, sempre arrogantes.– Nós conversamos depois, Lil.

Ele se despedira da ruiva com um beijo rápido na testa e lançou um último olhar reprovador a James antes de se retirar, caminhando na direção do castelo.

– Lily, me desculpe. – Marlene se soltou da amiga, enxugando as lágrimas, mais calma. – Vá junto com ele, nós podemos conversar amanhã.

– Não. Desabafe, o que houve?

Marlene olhou para James de soslaio.

– Bem, e-eu acabei de trair o Sirius com ele. - Ela confessou, timidamente. Evans arregalou os olhos. - Mas foi ele quem me beijou do nada, Lily, eu nunca esperaria uma coisa dessas! Eu estava completamente desprevenida! Mas e agora, o que eu faço?

Evans virou a cabeça lentamente na direção de James, com um olhar quase assassino. O rapaz abriu seu melhor sorriso. Se ela não fosse Lily Evans, com certeza se derreteria.

– Potter, o que você tem na cabeça?

– Lily! – Chamou Marlene, antes que James pudesse responder. – O problema é o Sirius, o melhor amigo dele! Eu estou com medo! O beijo não significou nada para mim, mas pode fazer com que o Sirius termine comigo e ainda brigue com ele!

E ela ainda estava preocupada com a possibilidade de Sirius brigar com ele mais tarde. James sentiu-se ainda pior.

– Não significou nada pra você, Marlene? Bem, se não significou nada, então para quê esse drama todo? – James perguntou-lhe, sentindo-se subitamente ofendido. - Já que não foi nada, é só dizer isso pro Sirius amanhã e pronto!

– Potter, como você consegue ser tão mesquinho? - Nem mesmo Evans, que não era lá sua maior fã, parecia esperar aquilo dele. Sua voz continha um quê mínimo de decepção. - Que tipo de amigo você é? Você acha certo o que você fez?

Naquele momento, James sentiu uma enorme vontade de gritar toda a verdade. Parem de me julgar, foi tudo ideia do Sirius, o cara legal por aqui sou eu!

– Eu já expliquei para a Marlene que foi sem querer. - disse, simplesmente.

– Lily, ele está bêbado. – Marlene sussurrou.

– Dá para perceber de longe! – Evans afirmou, voltando-se para a amiga. – Como é que você ainda não deu um soco na cara dele?

Marlene riu timidamente. Passou a mão pelo rosto, enxugando as lágrimas já quase secas e disse:

– Eu vou embora, Lily. Eu não tenho mais nada para fazer aqui.

– Tem certeza? Você vai sozinha? E onde está o Sirius?

– Ele passou mal e já foi embora com o Peter. - Marlene contou, com um ar triste. - E eu também vou. Desculpe pela cena, Lily.

– Se o Potter não fosse um pervertido e não estivesse caindo de bêbado, eu o obrigaria a levar você. – Evans respondeu, lançando outro olhar fulminante a ele.

Marlene se despediu de Evans com mil pedidos de desculpas e virou-se para ele, sem saber exatamente como se despedir. Na dúvida, ela simplesmente acenou e saiu, sem olhar para trás. James fez menção de voltar para a festa também, mas parou ao notar o olhar da ruiva sobre ele.

–--

– Potter, qual é o seu problema? Como você pôde fazer isso com a Lene? Além disso, ela e o Sirius estão juntos! – Lily parou para recuperar o fôlego. – Amanhã, quando estiver sóbrio, você vai pedir desculpas a ela de joelhos e-

– E aí, você finalmente saiu da sua seca, Evans? – ele a interrompeu, tranquilo, como se não a ouvisse.

Lily franziu o cenho.

Pois não?

– Você voltou com o seu ex? - Potter reformulou a pergunta, sorrindo.

– Como você consegue ser tão cínico? - Lily não podia acreditar que ele começara a rir. - Você viu o estado da Marlene? O que você vai falar pro Sirius amanhã?

– Eu tenho tudo sob controle. - ele garantiu, ainda risonho. Aproximou-se alguns passos. - Mas e você e o français? Pelo jeito, não foi dessa vez, não é?

Lily estava prestes a esganá-lo, mas ele a surpreendera com o uso do francês, seu idioma favorito. Por que Potter se comportava daquela maneira? Como conseguia ser tão infantil e egoísta?

– Potter, você está ciente do que você fez?

Lily simplesmente detestava discutir com pessoas embriagadas. Potter voltara a rir.

Je suis désolé, chérie. – ele disse, num francês impecável.

– Você fala francês? – Lily acabou perguntando, ainda séria, tentando parecer desinteressada.

Oui. Tive aulas particulares de francês desde os quatro até os dezesseis anos de idade. – Potter contou, passando a mão pelos cabelos. - Você pode não querer admitir, Evans, mas eu tive uma boa educação.

– Pois é uma pena que não saiba usá-la direito, Potter. Normalmente você gosta de se comportar como um idiota, não é mesmo?

– Isso é a sua opinião, já que não vai com a minha cara - ele respondeu, sereno.

– Não, Potter, não sou só eu quem acha isso. - Lily rebateu, franzindo as sobrancelhas. - Você não viu como a Marlene ficou, graças à sua atitude egoísta? Como você acha que o Sirius vai ficar quando souber? E o Remus, você acha que ele vai ficar do lado de quem? - a ruiva fizera uma pausa, percebendo que ele parecia atento às suas palavras; ele havia parado de rir e a olhava, sem piscar. - Você só pensa em você e nos seus interesses. Se você não mudar suas atitudes, Potter, você vai acabar afastando todas as pessoas boas de você e só vão te sobrar aquelas que andam com você só por status, porque você é cool, popular, joga futebol e tem dinheiro, mesmo que fique se fazendo de humilde por aí. É isso que você procura, Potter? Porque se é, então você está no caminho certo!

Acreditando ter sido severa demais, Lily resolveu se calar. Mas descobriu que queria despejar-lhe aquelas palavras fazia muito tempo, provavelmente desde o momento em que ele passara a convidá-la para sair só para rir de sua cara, anulando qualquer possibilidade de existência de uma amizade entre eles. Potter parecia pensativo, estava sério, mas mantinha seus olhos castanho-esverdeados fixos nela.

– Sabe, você tem olhos magníficos, Evans. - Ele murmurou.

Ele não pode estar falando sério, Lily pensou, balançando a cabeça. Não, eu não vou me irritar. A ruiva concluiu que o fato de ele não ter feito um comentário sequer sobre seu desabafo só podia significar que suas palavras haviam surtido efeito e que, no fim das contas, poderia ser que Potter fosse até menos arrogante do que ela julgava.

– Acho que já falei tudo o que tinha para falar. Aproveite para refletir. - Lily encerrou o assunto, girando os calcanhares para voltar à festa e procurar por Louis. Tinha certeza de que ele ficara chateado com ela e precisava se desculpar.

Mas Potter a segurou pelo braço, chegando muito perto. Como ele ousava desrespeitar o limite aceitável de aproximação estabelecido pelas regras sociais?

– Eu não acredito que seja coincidência, Evans.

– Do que você está falando?

– Eu não acredito que tenha sido por pura coincidência que eu tenha interrompido você e o francês todas as vezes em que vocês estavam tendo essas "conversas sérias".

Lily olhou em seus olhos, tentando entender.

– Por que você está dizendo isso?

– Bem, você me deu um conselho e eu quis te dar um também. - Potter abriu um sorriso, soltando seu braço delicadamente. - Aproveite para refletir.

Potter voltou a sorrir, provavelmente se divertindo com o rubor que tomava conta de seu rosto. Por que ainda perco o meu tempo com esse idiota?, Lily se perguntava, cansada.

– Potter, allez au diable!

E a ruiva se afastou dele em direção ao salão.

–--

Alice e Anita resolveram desistir da pista de dança. Ambas mal podiam crer que todos, absolutamente todos os homens minimamente atraentes já estavam acompanhados.

– Vamos dar uma volta, Alice. - Anita sugeriu.

Alice concordou no mesmo segundo. As duas saíram da pista.

– Já vi que vou ter de providenciar minha garrafa de whisky de fogo. - Alice disse.

– Eu não sei se estamos dando azar ou se todo mundo levou o tema Halloween a sério demais, porque olha... Só tinha monstro naquela pista!

As duas riram por um bom tempo, lembrando-se dos rapazes fantasiados com falsas cicatrizes no rosto - ou não - e das abordagens desajeitadas.

– Ei! Aquela não é a Lily? – Alice disse, entre as risadas, apontando para uma figura ruiva, caminhando com uma expressão preocupada.

Lily parou de andar para procurar alguém com os olhos, esgueirando o pescoço para poder enxergar além das cabeças mais próximas. Seus cabelos estavam um pouco despenteados, como se tivessem ficado expostos ao vento por um bom tempo. A ruiva pareceu aliviada ao avistar as amigas.

– Lily! – Anita a chamou. – Tudo bem?

– Mais ou menos. Vocês viram o Louis? Ele entrou faz um tempo e eu não o encontro! – ela respondeu, voltando a procurá-lo com os olhos.

Anita e Alice se entreolharam, confusas.

– Não vimos. Aconteceu alguma coisa? – Alice perguntou.

– Vocês não vão acreditar.

Lily contou apressadamente tudo o que havia acontecido: Louis sugerindo que voltassem a namorar, Marlene surgindo toda desnorteada, juntamente com um Potter completamente bêbado; Louis se irritando por ter sido deixado de lado e voltando para o salão, Marlene chorando e narrando tudo o que acontecera entre ela e Potter e, por último, Potter sugerindo que ela e Louis não devessem voltar, como se ele soubesse alguma coisa sobre sua vida ou como se ela se importasse com sua opinião.

– Agora vocês entendem o por quê que eu não vou com a cara dele? Ele não vale nada! É um falso!

– Eu não creio que ele tenha feito isso com a Lene! Nas costas do amigo! - Alice estava boquiaberta ao final da narrativa.

– Espera, Lily. - Anita falou, um tanto desconfiada. - E o Sirius?

– A Marlene disse que ele foi embora com o Peter porque estava passando mal.

Anita e Alice trocaram um olhar cúmplice.

– Mas faz pouco tempo que vimos o Peter! - Anita começou a repensar o ângulo da história. - E ele disse que estava procurando pelo James, o Sirius e o Remus desde que chegou aqui. Essa história está muito mal explicada.

– Há quanto tempo vocês o viram? - Lily perguntou, acompanhando o raciocínio.

– Pouco mais de vinte minutos.

– Então o Sirius não foi embora com ele! Falei com a Marlene há pelo menos meia hora!

– Mas por que inventariam que o Sirius foi embora com o Peter? - Alice perguntou, sem entender. - Seria um problema ele ter voltado para casa sozinho?

– Alice, não seja ingênua! - Anita sorriu. - Ele não foi embora e não está passando mal porcaria nenhuma! Ele devia ter outros planos e pediu para que o James inventasse qualquer coisa!

Alice estava mais boquiaberta ainda. Lily balançava a cabeça afirmativamente, concordando com Anita.

– Eu preciso confirmar se estou certa ou não. - Anita continuou. - Eu vou dar uma volta pelo salão para ver se encontro o Sirius por aí. Se eu o encontrar e, dependendo do que ele estiver fazendo, vai ficar óbvio se tem um dedo em tudo o que aconteceu ou não.

– Você tem razão, Anita. - Lily disse. - O Potter estava tranquilo demais para alguém que está prestes a perder o melhor amigo e ser expulso da república.

Naturalmente a possibilidade de expulsão da república era um produto da imaginação de Lily, advindo dos seus mais profundos desejos. Mas as amigas concordaram que a tranquilidade dele era um tanto suspeita.

– Fora que ele e o Sirius são amigos desde criança. Você realmente acha que o James ficaria justamente com a garota com quem o Sirius está saindo? - Anita reforçou a teoria. - O James podia escolher qualquer uma, não precisava ter sido a Marlene, não acham?

– Pobre Marlene. - Alice suspirou. - Se isso tudo for verdade, ela precisa saber.

– Eu vou dar uma volta, depois nos falamos. - Anita anunciou, decidida. E voltou pelo caminho por onde tinha vindo.

–--

Consultou o relógio e eram duas da manhã. Mal podia identificar a música que tocava na pista de dança, estava focada em identificar rostos. Durante o percurso, Anita encontrara conhecidos, pessoas fantasiadas e muitas outras desconhecidas. Conseguiu avistar Lorens e o rapaz de cabelos longos dançando; mais adiante, a loira deu de cara com Frank no maior amasso com Bellatrix e, ao lado do casal, estava Sarah Adams, embriagadamente trôpega, aos beijos com um rapaz que Anita não reconhecera. Atravessara a pista e não vira nem a sombra de Sirius Black.

Talvez ele tivesse mesmo ido embora.

Pouco tempo depois, Anita encontrou um grupo de garotas do seu ano de Moda, dançando animadamente, contagiando-a. Logo depois, o namorado de uma delas chegou juntamente com um amigo alto e de cabelos escuros. Interessante. Rapidamente a loira deduziu que o rapaz estava desacompanhado e tais suspeitas foram confirmadas após uma troca de olhar demorada entre ambos.

– Qual é o seu nome? – ele não demorou para vir perguntar. As amigas de Anita começaram a trocar cochichos, sem tirar os olhos do possível casal.

Anita olhou-o por uns instantes antes de responder:

– Anita e o seu?

– Matthew – ele respondeu ao pé de seu ouvido, por conta do volume da música. – E como é que uma mulher como você ainda está sozinha às duas da manhã?

– Pois é... – fez ela, risonha. - É que eu sou difícil, sabe.

Exatamente naquele momento, os olhos de Anita caíram sobre a figura de Sirius Black, que tornara-se visível por cima dos ombros de Matthew. Ele estava com os primeiros botões da camisa abertos e trocava beijos e carícias com uma garota. Mas Matthew se mexeu e entrou na frente, interrompendo sua visão.

– Vou ter que confessar que hoje eu também estou difícil. Acho que as pessoas levaram o tema da festa a sério demais, essas fantasias grotescas meio que cortam o clima, não é?

Anita riu, lembrando-se de que fizera o mesmo comentário com Alice mais cedo. No entanto, a loira fizera questão de rir bastante alto, tanto que Matthew até se assustou e as amigas próximas se viraram para olhar. O importante era que ela conseguira atrair a atenção de Sirius Black, que a desviara da garota com quem flertava. Então ele realmente estava aprontando!

– Mas eu gostei dessa sua fantasia de mulher fatal. - Matthew disse, mirando sua boca.

– Acredita que eu não estou fantasiada? - Anita brincou, sentindo os olhos de Sirius voltados para ela. Não olhe, Anita.

– Sério? - Ele sorriu, se aproximando. - Então deixa eu ver essa máscara...

E Matthew finalmente a beijou. Um beijo rápido, entre sorrisos. Depois que se afastaram, Anita não resistiu e virou o rosto para Sirius. Imediatamente ela soube que ele havia assistido a tudo. Sirius acenou com a mão e sua expressão era indecifrável. E então, a garota com quem ele estava o puxara pelo colarinho para mais um beijo e só assim ele conseguira se desviar do olhar de Anita.

– Vamos beber alguma coisa? – Perguntou Matthew, trazendo-a de volta à realidade.

Anita desviou os olhos de Sirius e respondeu:

– Vamos!

–--

– A Anita mandou uma mensagem. - Lily consultou o celular, que tinha acabado de vibrar. Leu a mensagem em voz alta: - "Lily, nós tínhamos razão. Mas eu vou ter que explicar tudo amanhã porque encontrei um cara muito gato por aqui e não tenho hora para voltar para casa. Beijos e bom coma para vocês!"

– Não creio, Lily! - Alice exclamou, mas Lily não soube se era por terem certeza do plano de Sirius ou pelo fato de que as duas teriam que se contentar com o fracasso da aposta, uma vez que a festa já havia esvaziado consideravelmente.

– E o que faremos, Alice? - Lily também não estava certa ao quê exatamente ela estava se referindo, se à Marlene ou ao possível coma.

– Hey, meninas!

As duas viraram-se automaticamente para a direção da voz e depararam-se com Amos, Peter e mais um rapaz com uma expressão notavelmente emburrada. Lily trocou um olhar breve com Alice, provavelmente chegando às mesmas conclusões que a amiga ao constatarem a presença de Peter.

– Vocês viram o James, ou o Sirius ou o Remus? - Peter perguntou, desanimado, às duas.

– Não, Peter. - Lily lhe respondeu.

Lily fez uma nota mental para se lembrar de que Peter não era cúmplice do plano.

– Procurei por eles a festa toda. - ele acrescentou. - Mas não encontrei e eles também não atenderam o celular.

– Peter, não creio que você não aproveitou a festa para ficar procurando por eles o tempo todo! - Alice comentou. - Você não tem vida?

O rapaz olhou friamente para Alice e arqueou uma única sobrancelha.

– Bem, você também não aproveitou muito, não é, Alice? – sua voz continha um tom inegável de desdém. – Mas eu percebi que o Frank aproveitou bastante, tanto é que hoje à noite eu vou dormir no sofá da sala porque a Bella vai dormir lá em casa.

Todos se viraram surpresos para Peter após ouvirem aquele comentário desagradável. Alice ficara visivelmente desconcertada, seu rosto ficara instantaneamente ruborizado. Amos resolveu contornar a situação incômoda, dizendo:

– Bem, nós viemos perguntar se vocês queriam carona. Eu vou deixar o Gideon na casa dele - e indicou o rapaz sério, que agora não tirava os olhos de Alice. - e depois vou para casa. Vocês já estão indo embora?

Lily e Alice trocaram mais um olhar, agora com expressões pensativas.

– Acho que vou aceitar, Alice, e você?

– Então vai desistir mesmo de encontrar o Louis? - Alice perguntou.

A ruiva meneou a cabeça.

– Ah, ele não me atende. Acho que ele ficou chateado por eu não ter lhe dado atenção. - virou-se para Amos, que estava sorrindo orgulhoso por um motivo que Lily não conseguiu adivinhar e disse: - Ok, eu vou com vocês.

– Espera - Gideon falou pela primeira vez, ainda olhando para Alice. - Então você é a Alice?

Ela levantou os olhos para ele, sem entender.

– Bem, esse é o meu nome. Por quê?

Gideon balançou a cabeça. Olhou de Amos para Alice várias vezes, até finalmente formular uma frase:

Essa é a tal Alice que vocês contaram? - ele sussurrou para os amigos, mas Lily e Alice conseguiram ouvir perfeitamente.

– O que foi que vocês andaram falando sobre mim, hein? - Alice levantou-se.

Amos simplesmente levantou os braços, indicando que era inocente, e Peter revirou os olhos, aparentemente ainda irritado com Alice.

– Bom, vamos? - Amos ignorou a pergunta da morena. - Você vem, Alice?

– Não antes de vocês me explicarem!

Os três rapazes se entreolharam.

– Deixa que eu explico. - Gideon voltou a falar, em tom de desculpas. - No caminho para vir aqui falar com vocês, nós-

– Olha, eu estou morrendo de sono. - Peter interrompeu, mal-humorado. - Se você quiser ficar de papo furado, então nós vamos na frente, não é, Amos?

– Nossa, o que deu em você hoje, Peter? - Amos rebateu, estranhando.

– Nada, eu só quero ir logo para casa!

– Então podem ir, eu divido um táxi com a Alice depois. - Gideon sugeriu, calmamente. Um sorriso quase imperceptível perpassou por seus lábios finos. - Assim vocês podem ir para casa direto, sem precisarem se desviar para me levarem para a minha.

Todos olharam para ele, sem entender se aquilo era um bom argumento ou uma boa desculpa.

– Não será nenhum problema levar você. - Amos insistiu.

– Eu gostei da ideia do Gideon. - Alice concordou.

– Tem certeza, Alice? - Lily perguntou, incerta.

Alice virou-se para a amiga e lançou-lhe uma piscadela. Lily rapidamente entendera o recado.

– Bom, então vamos, Amos? - Peter voltou a falar, forçando um bocejo.

Após uma rápida despedida, Lily, Amos e Peter se dirigiram à saída do salão. Alice sentiu o rosto corar ao notar os olhos castanhos de Gideon fixos nela.

– Desculpe pela confusão, Alice. - Ele começou a explicar. - Bom, antes de encontrarmos você e a sua amiga aqui nessa mesa, nós encontramos o Frank e a Bellatrix indo embora e ele pediu ao idiota do Pettigrew para ir dormir no sofá, como ele fez questão de te contar. - Alice ainda não estava entendendo aonde ele queria chegar. - E, depois que eles saíram, o Amos me disse que o Frank só começou a sair com a Black porque ela contou para ele que você já estava saindo com outro. Na mesma hora eu lembrei que um amigo do meu irmão saía com a Black ano passado e ela inventou coisas absurdas sobre a ex-namorada dele, coisas em que ele acreditou por muito tempo até finalmente descobrir que a Black é uma louca possessiva. - Gideon fez uma pausa cautelosa, olhando-a nos olhos. - Quais as chances de ela ter feito a mesma coisa com você também?

Alice suspirou. Não pôde deixar de observar o quão gentil ele estava sendo em vir alertá-la, mesmo que tivesse acabado de conhecê-la.

– Pois é, Gideon, eu sei que ela mentiu, Amos já tinha deixado essa fofoca falsa escapar para as minhas amigas. - foi só após ter externado aquelas palavras que Alice notou que o assunto já não era mais um tema tão delicado para ela. - Mas para mim, não tem mais volta. Ele devia ter vindo me consultar antes de acreditar, se realmente estivesse interessado em voltar comigo, não acha?

– Concordo. - ele disse. - Só lamento por ele, com certeza saiu perdendo.

Alice ruborizou novamente.

– Hum... vocês se conhecem? - ela perguntou, um pouco sem-graça.

– Sou do mesmo ano de Engenharia que ele, mas não nos falamos muito. Bom, eu só te contei tudo isso porque percebi que você ficou bem chateada com o comentário do Pettigrew. Eu nunca imaginaria que, depois de tudo o que aconteceu, você ainda pudesse gostar dele.

– Hey! Mas eu não gosto dele, entendeu? - Alice tinha um tom falsamente ofendido. - Quer dizer, minha raiva por ele é muito maior do que qualquer coisa! No fim, acho que ele merece ficar com a louca da Bellatrix, não acha?

Os dois riram. Àquela altura, Alice naturalmente já via em Gideon uma bela oportunidade de não perder a noite, nem a aposta. Ele era atraente, bem humorado, estava demonstrando interesse e, sem que ela precisasse ter contado qualquer coisa, ele já tinha conhecimento de sua complicada situação amorosa. Agradeceu aos céus pela chance oferecida aos quarenta e cinco do segundo tempo.

– Hum... então vamos chamar um táxi? - Gideon sugeriu, com um sorriso no canto da boca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Muitos acontecimentos definitivos nessa festa, não é? Sirius pode ter estragado (ou não) seu relacionamento com a Marlene, James acabou saindo de vilão nessa história toda, Helena e Anita viram Sirius aprontando, Lily despejou verdades para James e Lorens foi a única que saiu feliz dessa festa! HAHAHA

Espero que tenham gostado de mais um capítulo!
Adoraria saber o que estão achando!! :)

Beijos,
Carol Lair