República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 10
Decepção na Escuridão




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Capítulo 10 – Decepção na Escuridão

Lily já podia sentir a respiração ritmada de Louis soprar em seu rosto e sua mente parecia uma guerra. Não sabia se devia interromper tudo ou puxá-lo para mais perto de uma vez, tampouco sabia se algum dia chegara a gostar dele de verdade, se fizera o certo ao terminar antes, se realmente o tinha flagrado com outra mulher e, principalmente, se continuar ali naquele sofá era a coisa certa a se fazer.

Entre todas as suas confusões naquela fração de segundo, Lily viu a porta da república se abrir pelo canto do olho. Virou a cabeça automaticamente para ver quem havia chegado. Seu coração, que já estava consideravelmente acelerado, deu um salto: era Potter.

Ele olhou para o casal com uma mistura de surpresa e confusão. Lily e Louis se afastaram e a ruiva abaixou o rosto, a fim de ocultar o rubor que lhe havia dominado.

– Er... Desculpe. – Potter murmurou, incerto, terminando de fechar a porta.

Lily estava sem palavras. Ela simplesmente não podia acreditar em tudo o que estava acontecendo. Além de todo o abalo que a visita inesperada de Louis lhe trouxera, o fato de ter sido flagrada num momento como aquele justamente por James Potter, a pessoa que ela menos gostaria que soubesse sobre sua vida pessoal, foi o baque final para que a ruiva entrasse definitivamente em choque.

– Você... mora aqui? - indagou Louis, quebrando o silêncio incômodo.

– Louis, esse é James Potter, ele se mudou para cá em setembro. - Lily se apressou em dizer algo, a fim de diminuir a tensão.

– Meu nome é Louis Renoir. - O francês foi até Potter e apertou sua mão. Potter ainda estava um pouco perplexo, mas um sorriso já começava a se esboçar em seu rosto.

– Prazer.

– Bom, Lily, nós nos falamos mais tarde. - Louis se voltou para ela, que balançava a cabeça afirmativamente. - Até mais.

Antes de sair, Louis a beijou na face e acenou para Potter. Assim que ele fechou a porta, Lily se largou no sofá, tentando respirar fundo, desejando mentalmente que Potter não fizesse comentários ou piadas a respeito do que presenciara. Seu humor estava completamente baqueado para que ela pudesse se irritar, reclamar ou brigar com ele. Tudo o que a ruiva precisava era de paz e de algum tempo para digerir tudo o que acontecera naqueles últimos dez minutos.

– Evans... – chamou Potter, que naturalmente não conseguiria esquecer o que acidentalmente interrompera.

Lily não se virou para olhá-lo, preferiu fingir que não ouvira. Portanto, ele resolveu contornar o sofá para olhá-la. E foi só quando acomodou-se ao seu lado que Potter notou a expressão perturbada de Lily.

– Evans, eu entendo você.

Lily finalmente virou o rosto e olhou dentro dos olhos castanho-esverdeados dele. Seu tom de voz fora gentil, era como se ele estivesse... Se desculpando? Lily piscou algumas vezes, ainda sem saber o que esperar.

– Eu entendo que deve ser difícil estar há seis meses sem sair com alguém. - ele colocou a mão sobre o ombro de Lily e seus lábios se encurvaram num sorriso malicioso. - Bom, na verdade, eu não faço ideia do que é isso, mas imagino que não seja fácil. Mas posso te dar uma dica? Ex-namorado na sala de casa às sete horas não era uma opção para um encontro. Desculpe por ter estragado tudo.

Lily levantou-se subitamente. Como ela pôde pensar que ele fosse capaz de tal ato de sensibilidade, como o de realmente se desculpar e deixá-la em paz?

– Você... - ela estava muito séria, procurando em sua mente palavras que pudessem atingi-lo, mas não encontrou. Aquele sorriso cínico parecia indestrutível. - Posso te dar uma dica, Potter? Cresça!

Tendo aparentemente conseguido o que pretendia, Potter riu, satisfeito.

– Desculpe, Evans, eu não resisti. Mas agora, falando sério... – Potter respirou fundo, parando de rir e colocando-se de pé, ficando de frente para a ruiva. – Para restituir o que eu fiz você perder, vou te dar outra chance para acabar com essa seca. - Ele apontou para si mesmo, piscando com um olho só. - O que acha?

Lily soltou uma risada nervosa.

– Nem que fosse a última chance da minha vida, Potter!

E assim, Lily saiu da sala, em direção ao andar superior, disposta a não se irritar mais.

James sorriu. Ele particularmente adorava aquelas respostas, todas eram inéditas para ele. Contudo ele realmente não gostava de ouvir "não", embora seu jeito despreocupado e divertido disfarçasse isso com sarcasmo. Na verdade, James tinha sérios problemas para aceitar respostas negativas ou lidar com rejeição, o que ele supunha ser por conta de sua infância, quando fora muito mimado pela família. Tal criação o tornou uma pessoa um tanto insistente, ele admitiu para si mesmo.

No entanto, ele temia que a finalidade de convidá-la para sair com a simples intenção de deixar de ser ignorado estivesse caindo para segundo plano. E, pior, ele receou que um pequeno interesse em potencial pudesse tomar conta do primeiro.

–--

– Não acredito que o James estragou tudo! – Anita exclamou, desacreditada, quando Lily terminou de lhe contar. As duas já estavam deitadas em suas camas, conversando sob a luz do abajur.

– Não sei se eu deveria ficar triste ou feliz por isso. – Lily respondeu, suspirando. - Aliás, eu não acredito que você foi falar com o Louis, Anita! Você não tinha que ter ido contar tudo para ele, ainda mais nas minhas costas!

Anita sentou-se em sua cama.

– Desculpa, Lily! Foi sem querer, escapou!

Sei.

– E ele apareceu aqui hoje à noite porque quis, eu não armei nada para você! JURO.

– Ok, ok, o pior já passou. - Lily virou-se de barriga para cima. Resolveu encerrar aquele assunto e perguntou: - E você sabe da Lorens, Anita?

– Ela está ensaiando até mais tarde, para variar. A peça dela estréia sábado, não se lembra? – Anita afofou o travesseiro. – Mas voltando ao assunto, Lily, se o Louis sempre foi o que você diz que foi, por que você terminou com ele? Está na cara que ele ainda gosta de você.

– De novo esse assunto, Anita? – Lily comentou, entediada. – Você já sabe que eu terminei porque não gostava dele do jeito que ele gostava de mim. Já falei mil vezes.

– Tem certeza, Lily? Não tem mais nada que você esteja escondendo?

– Já disse que não. - A ruiva mentiu. - Anita, você realmente precisa aprender a mudar de assunto. E você, como está sua vida?

– Igual. - Anita parecia cansada. - Amanhã tenho mais uma entrevista para um estágio. O Sirius continua me ignorando e o Henry ainda me manda mensagem de vez em quando, mas nem respondi as últimas. - sua voz transmitia um enorme desânimo. - Não quero mais sair com ele por enquanto, espero que ele entenda o recado.

– Ora, se você não quer mais nada com ele, então responda que não quer. Simples.

– Eu não quero agora, Lily, mas não sei o dia de amanhã. Pode ser que ele ainda venha a ser útil, se é que me entende. - Anita riu.

Lily revirou os olhos no escuro e se remexeu na cama. Anita continuou dissertando sobre o estágio que lhe fora oferecido, depois emendou em comentários sobre a Fashion Week, falou sobre a maravilhosa nova coleção de inverno de John Galliano, o quanto tudo lhe era inspirador. Mas nos primeiros cinco minutos do monólogo, Lily já estava dormindo profundamente.

–--

O sinal que indicava o fim da penúltima aula soou por toda Hogwarts na manhã de sexta-feira. Mas ainda era a penúltima aula. O professor mal havia saído da sala, quando Alice virou-se para Lily com uma expressão decididamente desanimada.

– Como eu odeio essa aula. - e suspirou.

– Melhor começar a gostar se quiser se formar algum dia. - Lily alfinetou.

Alice estava abrindo a boca para responder quando duas colegas de classe se aproximaram. Uma atendia pelo nome de Pamela Winsley, possuía longos cabelos negros e uma pele morena bronzeada. A outra era Violet Brown, uma garota baixa de cabelos castanhos e uma voz muito aguda.

– Lily querida, você mora com o James, não? - Violet foi direto ao assunto, sorrindo maliciosamente.

Ah, claro, só podia ser isso, pensou Lily, cruzando os braços. Afinal, Violet só falara com ela uma única vez no semestre anterior, exatamente com o mesmo tipo de interesse: Violet e Sirius saíram algumas vezes e ela queria que Lily lhe servisse de informante.

– Sim, moro.

Violet e Pamela trocaram olhares satisfeitos.

– Durante o intervalo, o James me chamou pra sair! - explicou Pamela, sorridente. - O que você acha, Lily? Ele já comentou de mim para você?

Pobre Pamela, lamentou Lily, mentalmente.

– Eu e o Potter não somos muito próximos, Pamela. - Lily tentou ser sutil, forçando um sorriso.

– Mas o que você acha, Lily? - Violet insistiu. - Conversei pouco com ele, mas já vi que é da mesma laia do Sirius. Estou certa?

– Ele é pior do que o Sirius, Violet. - Lily virou-se para Alice. - Não foi semana passada que você me contou que ele estava combinando os nomes dos filhos que ele ia ter com uma moça do terceiro ano, Alice?

Alice levantou as mãos, inocentando-se.

– Não sei de nada, Lily.

– Alice!

– Vocês devem estar falando da Rebecca. - Violet interveio, com ar de sabedoria. - Ela faz estágio no mesmo escritório que você, não é, Alice?

Alice confirmou timidamente com a cabeça, não querendo se comprometer.

– Pois então, ela e o James já saíram e já acabou. - Violet virou-se novamente para Lily. - A conversa sobre os filhos devia ser só brincadeira, Lily! É por isso que você acha que ele é pior do que o Sirius?

– Ele é insuportável, Violet. - Lily virou-se para Pamela. - Ele não tem respeito nenhum por ninguém, não leva nada a sério. Além disso, ele ainda age como um tarado. A vida é uma piada para ele e é assim que ele enxerga qualquer relacionamento em potencial. Não vale a pena.

Pamela aparentava estar consideravelmente surpresa com a precisão da resposta de Lily.

– Lily, você já teve um caso com o James? - Violet indagou, sorrindo mais uma vez. - Conta TUDO.

– Ora, mas é óbvio que não! - Lily corou.

– Óbvio que não teve ou óbvio que não vai contar tudo? - Violet estava confusa.

– Óbvio que nunca tive, Violet. Óbvio!

As outras três riram.

– O James é legal, Pamela, é a Lily quem implica muito com ele. – Alice explicou, fazendo Pamela rir ainda mais. - Mas não acho que ele queira ter um relacionamento sério.

– Ah, mas eu também não quero! - Pamela confessou, baixando o tom de voz. - E talvez a Lily tenha razão no que disse. Mas eu não vejo nenhum problema no fato de ele agir como um tarado. Pelo menos comigo.

Assistindo às outras quase rolarem de rir, Lily revirou os olhos, impaciente. Naquele momento, a professora pigarreou, anunciando sua chegada e indiretamente ordenando aos alunos que voltassem aos seus respectivos lugares.

–--

Após o término das aulas, Lily e Alice andavam sem rumo pelo jardim da Universidade. Lily lhe contou a respeito da visita de Louis na noite anterior seguida da interrupção - propícia - de Potter.

– E o pior de tudo foi ele tirar uma da minha cara. - Lily narrava, ainda inconformada. - Eu já estava em choque com o que estava acontecendo, tudo o que eu não precisava era dele tirando sarro da situação.

– Ok, ok, admito que agora tudo o que você falou para a Pamela fez sentido. O James não precisava ter falado aquilo, mas talvez ele só quisesse descontrair a situação e-

– Você vai defender ele de novo, Alice?

Alice rolou os olhos em resposta, cruzando os braços.

As duas se sentaram na sombra de uma árvore que se localizava em frente ao campo de futebol do campus. Muitos alunos ocupavam as arquibancadas, gritando nomes e torcendo. Um minuto após terem se acomodado ali, Lily pôde avistar dezenas de garotas histéricas berrando "Potter! Potter!", agarradas às grades do campo.

É claro, tinha que ser, pensou Lily, cansada.

– Aliás, você ouviu falar que o James passou no teste e vai usar a camisa 10 do time oficial de Hogwarts no campeonato inglês de universidades? – Alice perguntou, distraída.

Não. Você anda fofoqueira, hein, Alice?

– Esqueceu que eu moro na mesma casa que a Sarah?

– Tem razão. - Lily abanou a mão, indicando que mudaria de assunto. - Hoje à noite vai ter uma festa na Whisky de Fogo. Você pretende ir?

Alice suspirou.

– É claro que não, Lily. O Frank foi um grosso comigo naquele dia, fora que ele foi até a minha casa para convidar a Bellatrix e pedir para que ela nos passasse o recado. Ele deixou bem claro que não quer que eu vá, isso foi uma indireta bem direta, na minha opinião.

– Você devia pensar o contrário! – Lily sugeriu. – Se ele fez questão de ir até lá para deixar o recado com a Black é porque quis deixar claro que está te ignorando. Ele não faria isso se não quisesse, na verdade, chamar a sua atenção.

– Não acho. Quando fui procurá-lo, ele demonstrou muito bem que não quer falar mais comigo. Sabe, Lily, eu realmente achei que ele viria atrás de mim depois do que aconteceu no Três Vassouras.

– Eu também achei que ele viria.

As duas não conversaram mais, ficaram apenas encostadas na árvore, distraídas e absortas em pensamentos. Alice começou a mexer no celular, e Lily tirou um livro da bolsa. O jogo que acontecia no campo de futebol acabara, mas a princípio nenhuma das duas notou. Perceberam apenas quando ouviram o alvoroço dos alunos passando por elas em direção ao Salão Principal.

Os olhos de Lily encontraram James Potter saindo do campo, sem camisa, rodeado de garotas. Seus cabelos estavam mais bagunçados do que o normal, molhados de suor e o rapaz não estava com seus habituais óculos. Havia um sorriso permanente em seus lábios e parecia definitivamente orgulhoso de ter vencido o jogo. As jovens moças que estava ao seu redor falavam todas ao mesmo tempo.

– James, aquele gol de bicicleta foi para mim? – perguntou uma delas, assim que o grupo passou por Lily e Alice.

– Foi para todas vocês. – ele respondeu, ainda sorrindo.

Um coro de "Oohhs" ecoou espontaneamente das garotas risonhas. Lily revirou os olhos. Como era possível ela ser a única que conseguia enxergar quem ele realmente era?

Depois que o grupo barulhento se afastou, Lily retornou ao seu livro, dissipando sua irritação e mergulhando na leitura. Permaneceu absorta pelos próximos trinta minutos, quando interrompeu sua concentração para consultar o relógio de pulso.

– Alice, eu tenho que ir trabalhar. – Lily já estava se levantando. – Hoje à noite eu vou à sua república e nós podemos fazer alguma coisa por lá mesmo.

– Você não vai à festa?

– Claro que não! – Lily sorriu. – Vou ficar com você.

Alice também se levantou e abraçou a amiga, deixando-a totalmente sem jeito. Em seguida, Lily se despediu e se encaminhou para os portões da universidade. Quando já estava alcançando a esquina, ouviu uma voz muito conhecida chamar seu nome:

– EVANS!

Automaticamente, Lily fingiu não ter ouvido e continuou andando. Não pode ser.

Foi então que ao seu lado surgiu um James Potter recém saído do banho, já vestindo uma roupa normal e com seu inseparável sorriso cínico. Lily continuou andando, como se não tivesse notado sua presença.

– E aí, viu o meu jogo? – perguntou ele.

– Não costumo assistir a sessões de exibicionismo, Potter.

– Não entendo qual a relação disso com o jogo sobre o qual eu acabei de perguntar.

Lily respirou fundo, evitando responder. Continuou o seu caminho para o trabalho, prometendo a si mesma não se irritar.

Não, eu não assisti ao seu jogo.

– Ah, que pena. - ele lamentou, ainda sorrindo. - Mas e aí, Evans, falou o com seu namoradinho francês? Marcaram outro encontro?

Lily parou de andar e se virou para ele, muito séria. Potter também interrompeu sua caminhada e franziu o cenho como se já esperasse a bronca que ela provavelmente estaria formulando. Mas, após um curto silêncio, tudo o que Lily conseguiu dizer foi:

– Como você sabe que o Louis é francês?

A ruiva percebeu que o pegara de surpresa com a pergunta. Potter desfez o sorriso e passou a mão direita pelos cabelos, despenteando-os, procurando algo para dizer.

– Hum. Eu percebi pelo sotaque dele. E também, com esse nome, não precisa ser nenhum gênio para perceber, não é?

– Vocês trocaram duas palavras, Potter.

– Foi o suficiente. - o canto de seus lábios se encurvaram sutilmente. - E então, você vai voltar com ele?

Lily respirou fundo, revirou os olhos e continuou a caminhar para o Fórum. Não sei porque ainda perco o meu tempo.

–--

– Alice, você jura que não vai ficar chateada se eu for à festa? – perguntou Marlene, assim que Alice lhe contou sobre seus planos para aquela noite.

– Mas é claro que não, Lene! Não se preocupe, sério. – Alice respondeu, abrindo um sorriso.

Marlene baixou o olhar. Ela já estava perfeitamente maquiada e bem vestida, prestes a sair. Do outro lado do quarto, Helena observava seu reflexo no espelho, sonhadoramente, e não participava da conversa.

– Não acho justo ir e deixar você aqui. – Marlene insistiu. - Se eu soubesse que você não ia, não teria nem me arrumado.

– Não se preocupe, Lene! - Alice repetiu. - A Lily vai vir para cá para me fazer companhia.

Marlene respirou aliviada. Depois, lançou um olhar à Helena a fim de confirmar que a ruiva não estava prestando atenção no que conversavam e disse, abaixando o volume de sua voz:

– Hoje o Sirius me ligou só para saber se eu vou à festa. - Ela contou, um pouco tímida. - E ultimamente ele sempre tem vindo falar comigo quando me encontra em Hogwarts. Ontem me chamou para almoçar e conversamos por quase duas horas. O que você acha, Alice?

Mas antes que Alice pudesse lhe dizer qualquer coisa incentivadora e animada, Helena as interrompeu:

– Vamos, Lene, o Remus deve estar me esperando!

Marlene se levantou e se despediu da amiga.

– Boa festa! - Alice desejou, se jogando na cama, antes que Helena fechasse a porta.

–--

Pela vigésima vez da noite, a campainha da república Whisky de Fogo soara. Frank levantou-se levemente mal-humorado do sofá, passou por várias pessoas e abriu a porta. Bellatrix sorria, encantadoramente.

– Oi, Frank! – Bellatrix o cumprimentou, extremamente animada.

Frank a cumprimentou e os dois ficaram conversando num canto. De longe, Marlene observava a cena, ao lado de Lorens e Anita.

– Nunca vi a Bellatrix tão... sorridente. – ela comentou, com ar de desconfiança.

– É nítido que ela quer o Frank. - Anita afirmou. Naquele momento, Bellatrix tropeçara em seus próprios pés e se apoiara no tórax de Frank, ainda sorrindo. Ele parecia preocupado. - Olha só como ela está se jogando para cima dele!

– Não sei o que a Alice está esperando para ir quebrar a cara dessa biscate. - Lorens estava indignada.

– A Alice não se sente no direito de interferir. – Marlene lamentou, com preocupação na voz. – No dia do Três Vassouras, foi ela quem terminou com ele, e agora ele tem o direito de fazer o que quer.

– Sim, mas o bom senso também tinha que partir da Bellatrix, não acham? - Lorens falou. - Ex de amiga é incogitável.

– Exatamente, mas aí entram dois fatores dos quais você está se esquecendo. - Marlene explicou. - Primeiro, a Alice e a Bella nunca foram amigas. E segundo, a Alice e o Frank nunca namoraram oficialmente.

– Mas e se elas fossem amigas, o que você acharia certo, Marlene? - perguntou Anita, franzindo o cenho. - Mesmo que o Frank e a Alice nunca tivessem namorado oficialmente, você acha que seria certo a Bellatrix sair com ele também? Por exemplo, você sairia com ele?

Naturalmente, Anita havia feito aquela pergunta indiretamente se referindo ao triângulo que envolvia as duas e Sirius. Afinal, o caso era exatamente o mesmo da pergunta, uma vez que Marlene e Anita sempre foram consideravelmente amigas. Lorens deu uma leve cotovelada na loira, a fim de contê-la.

– Eu? Nunca! É claro que seria errado, Anita! - Marlene riu, despreocupada. - Mas eu tenho certeza de que se a Bella e a Alice sempre tivessem sido amigas, a Bella não tentaria ter nada com o Frank, assim como ela nunca saiu com os mesmos homens com quem a Sarah, a melhor amiga dela, já saiu. Entendem o que quero dizer? A Bella não pensa como nós.

Àquela altura, Anita estava mais desacreditada na contradição que saía da boca de Marlene do que nas claras investidas de Bellatrix para cima de Frank. Lorens resolveu intervir antes que Anita falasse alguma coisa da qual se arrependeria:

– Pois eu acho que, até nesse caso, a Bellatrix não deveria ter nada com ele. Independente do grau de amizade das duas. Elas moram juntas e mesmo que não sejam grandes amigas, elas estão longe de serem duas estranhas que mal se encontram. Um ex tem que sempre ser alguém invisível.

– Falando sobre ex?

Era a voz de Sirius. Ele e Amos se aproximavam do trio. As três trocaram olhares.

– É sobre o ex da Lily? - Sirius continuou, curioso. - Fiquei sabendo que ele esteve lá em casa.

– Não, Sirius, é sobre outra coisa. - Lorens abanou a mão.

– Falando na Lily, ela não vem? – Amos perguntou às garotas.

– Não. – Anita respondeu. – Ela ficou com a Alice.

– E por que as duas não vêm?

Anita soltou uma risada nervosa e apontou Frank e Bellatrix com o queixo.

– Primeiro que o Frank deixou claro para a Alice que não queria que ela viesse. Segundo que ele e a Bellatrix do nada viraram melhores "amigos".

Amos tinha uma expressão interrogativa.

– Como assim o Frank deixou claro para a Alice que não queria que ela viesse? - ele perguntou, confuso. - Isso não faz sentido, nós meio que inventamos essa festa só para que ele tivesse algum pretexto para ir falar com ela!

As três garotas trocaram um olhar significativo.

– E foi por isso que ele foi até a nossa casa? - Marlene quis saber.

– Sim. - Amos confirmou. - Mas quando o Frank chegou lá, a Alice tinha acabado de sair com um cara, então ele deixou o recado com a Bellatrix. Coitado, ele ficou bem chateado.

Marlene estava boquiaberta.

– Como assim a Alice tinha saído com um cara? Quem disse isso?

– A Bella, quando atendeu à porta. - Amos respondeu, sem entender o motivo para tanto espanto.

– Ela estava em casa! Eu também estava lá, foi a Bellatrix quem inventou tudo isso!

– Mas por que a Bellatrix faria isso? – Amos continuava sem acreditar.

– Porque está doida para se esfregar no Frank, é claro! – Anita falou, como se tudo estivesse muito óbvio.

– Vocês acham que nós deveríamos falar com o Frank? - Marlene tornou a falar.

– Mas é claro! - Lorens concordou.

Automaticamente, todos viraram-se para olhar o casal. No entanto, eles não estavam mais naquele canto, próximo à porta. Todos os procuraram com os olhos e ninguém os avistou.

– Eu vou procurá-los na cozinha. - Marlene declarou.

– Eu vou com você. - Sirius adiantou-se, sem esconder um sorriso. Anita teve certeza de que encontrar Frank era a menor de suas preocupações.

Os dois se afastaram. Amos chacoalhou os ombros e deu um gole em sua cerveja.

– Bem, eu vou jogar uma partida de poker. Se precisarem de algo, é só me chamar.

Anita e Lorens assistiram a Amos se afastar. Logo em seguida, Bill surgiu e levou Lorens consigo, deixando Anita desanimada, sozinha na multidão.

–--

Mais tarde, Anita estava saindo cuidadosamente do mesmo toalete no qual flagrara Sirius e Marlene juntos na festa anterior. Assim que saiu, a loira olhou atentamente para ver se avistava algo parecido novamente, afinal, ela não encontrara mais Sirius e Marlene desde que os dois saíram para procurar por Frank. É tudo o que eu não preciso, pensava ela. Mas desta vez o corredor mal iluminado estava deserto.

– E aí, vai uma dose de Whisky de Fogo? – perguntou uma voz atrás dela.

Ela se virou e se deparou com um rosto muito familiar. Demorou alguns segundos para que finalmente se lembrasse de onde o conhecera: era Martin, o garoto que queria levá-la bêbada para sua casa, na festa anterior.

– Não, obrigada. – ela respondeu, fingindo não reconhecê-lo.

Anita virou-se para continuar seu caminho, mas ele entrou na frente.

– Talvez você não se lembre de mim, mas nós conversamos muito da última vez. - ele abriu um sorriso.

– Sim, eu me lembro. - ela fez menção de sair, mas Martin não saiu de seu caminho.

– Então deve se lembrar que nós não nos despedimos da última vez.

– Você pode me dar licença?

– Calma, Anita. Eu só quero conversar com você. – Martin segurou seu braço.

A loira tentou sair, mas ele continuou segurando-a. Naquele momento, Anita percebeu que talvez a situação fosse um pouco mais delicada do que imaginava. Obviamente, ele não tentaria nada no meio de uma festa com tanta gente. Tudo o que ela precisava era voltar para a multidão.

– Eu deixei uma amiga me esperando. - ela mentiu.

– Você já vai. - Martin sorriu. - Então, você ficou me devendo uma visita, não se lembra?

E então, Anita pôde ver duas silhuetas surgirem no corredor e virem na direção em que estavam. Concomitantemente, Martin deu um passo a frente, ainda segurando um braço de Anita, tentando trazê-la para mais perto.

– Me solta! – ela ordenou, tentando puxar o braço.

– Hey! - fez ele. - Eu não quero machucar você, não precisa se alterar assim!

Pelo canto do olho, Anita conseguiu reconhecer que as silhuetas pertenciam a Sirius e Marlene, e àquela altura os dois estavam encostados contra a parede, aos beijos. Eu não acredito nisso, ela pensou, apertando os olhos para ter certeza. Anita simplesmente desejou entrar no meio dos dois e separá-los, contudo tinha consciência de que fazer aquilo seria completamente errado. Ah não ser que...

– ME SOLTA! ME SOLTA! – Ela berrou o mais alto que pôde, sabendo que tal drama era desnecessário.

Mas Martin já a havia soltado fazia tempo. Sem entender, ele a olhava confuso.

– O que houve com você?

– ME SOLTA! - Anita gritou mais uma vez.

Na mesma hora em que Sirius reconhecera a voz urgente de Anita, ele soltara Marlene e olhou para os lados a fim de entender o que estava acontecendo. Ele a encontrou a alguns passos de distância. Assim que a alcançou, com Marlene ao seu encalço, ele reconheceu Martin quase imediatamente e o empurrou para longe da amiga.

– Saia daqui antes que eu quebre a sua cara.

– Calma, cara, nós só estávamos conversando-

– Agora!

Martin saiu aos tropeços e correu em direção à sala. Sirius se virou de volta para Anita, que estava arfante e paralisada.

– Você está bem?

Anita sabia que não precisava ter feito aquilo, mas ela simplesmente não conseguira se conter. Sentiu-se absolutamente envergonhada. É claro que poderia ter se livrado de Martin sem precisar da fazer com que Sirius se afastasse de Marlene. Sou uma pessoa horrível, como posso ser tão egoísta?, ela se perguntava, enquanto sentia os olhos marejarem. Marlene estava ao seu lado e a olhava com preocupação.

– E-estou.

A loira abaixou a cabeça e começou a chorar baixinho, se amaldiçoando mentalmente. Diante da cena, Sirius a abraçou e afagou seus cabelos, carinhosamente, pedindo baixinho para que ela se acalmasse. Anita sentiu um enorme arrependimento por ter armado todo aquele escândalo só para mendigar atenção. Mas já era tarde. E ele só está com pena de mim. Foi então que decidiu aproveitar ao máximo aquele momento único, aquele momento no qual Sirius estava sendo somente dela. Marlene observava os dois apreensiva, mas não os deixou.

–--

Lily e Alice haviam passado boa parte da noite tomando sorvete e relembrando histórias da época do ensino médio. As duas estavam na cama de Alice, com o notebook aberto, vendo fotos e lembrando de antigos colegas.

– Lembro até hoje do dia em que você corrigiu a professora de História. - Alice riu. - Pobre professora Lewis. E o pior foi que ela recusou estar errada até o fim, parou a aula e até chamou o professor de História do terceiro ano até a nossa sala, só para te desmentir! Lembra? Que papelão!

– Sim, e no final foi ele quem ficou horrorizado com o fato da Sra. Lewis não saber que a Guerra das Rosas terminou em 1485. Como pode alguém não saber disso? - e Lily riu, como se aquilo fosse realmente óbvio. Alice suspirou, divertida.

– Ora, eu não sei dessas datas até hoje! História é muito chato, Lily.

– Como assim, Alice? Você faz Direito! Foi o desenvolvimento de diversas civilizações que gerou a necessidade de criar regras e leis para disciplinar a interação entre as pessoas. - Lily explicava, convicta. - Ou seja, conhecer a história da humanidade é imprescindível para a plena compreensão dessa ciência! Em que mundo você vive?

– Ok, ok, Lily! - Alice riu. - Você tem toda a razão, mil desculpas. - ela consultou o relógio. - Mas isso não é o melhor assunto para ser discutido às duas horas da manhã.

– Já são duas horas? - Lily também consultou seu relógio. - Eu tenho que ir, amanhã eu preciso acordar bem cedo.

– Mas amanhã é sábado.

– E?

Alice revirou os olhos. Sabia que os dias da semana não importavam à amiga, que nunca deixava de acordar cedo. Durante esse curto momento de silêncio, as duas conseguiram ouvir a porta da sala, no andar de baixo, se abrir e se fechar.

– Será que alguém já voltou? Ainda está cedo para a festa ter acabado. - comentou Alice.

– Ou não. Sem nós duas, a festa deve ter sido tão chata que acabou mais cedo. - Lily brincou, se dirigindo à porta do quarto. - De qualquer forma, eu preciso ir.

– Ok, eu desço com você e já descubro o que houve, talvez seja a Marlene. Espero que a festa tenha sido um fiasco mesmo! - Alice riu, um tanto maldosa.

Assim que saíram para o corredor, notaram que as escadas e o andar de baixo permaneciam com as luzes apagadas. As duas trocaram um olhar, agora incertas sobre se o barulho da porta se abrindo viera realmente da sala. Contudo, quando começaram a descer os primeiros degraus, puderam ouvir suaves ruídos e risadas abafadas.

Milésimos de segundos antes de Alice acender a luz, ao pé da escada, Lily segurou sua mão e murmurou no ouvido da amiga:

– É a voz da Black.

Alice arregalou os olhos na escuridão e prestou atenção.

– Ninguém vai voltar aqui tão cedo. - Bellatrix sussurrou. - Se não demorarmos muito para voltar, ninguém vai perceber que saímos.

– Mas e a Alice?

Era a voz de Frank. O sofá rangeu de leve e foi possível reconhecer o som de uma peça de roupa ser atirada ao chão. Lily apertou o braço de Alice, silenciosamente pedindo para que ela acendesse a luz. Mas Alice estava completamente paralisada.

– Ela deve ter saído. - Bellatrix respondeu, um tanto sem fôlego.

– Mas aqui é a casa dela. – Frank também estava ofegante.

Alice simplesmente congelara, não conseguira mover nem um músculo sequer.

– E daí? É a minha casa também.

Provavelmente, Bellatrix não permitira que Frank continuasse o diálogo, pois Lily e Alice passaram a ouvir apenas ruídos de beijos e do sofá rangendo. Lily simplesmente não conseguiria mais suportar tal situação desconfortável e imaginou o quanto a amiga deveria estar se sentindo pior.

Dando-se conta de que Alice estava completamente em choque, Lily decidira tomar uma atitude. E acendeu a luz.


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Notas finais do capítulo

Eu SEI que ando maltratando muito a Alice. E eu sei que vocês talvez pensem: "Nossa, mas Frank/Bella não combinam, não podem ser um casal!". Concordo! Mas como esta fanfic se passa em um universo alternativo no qual a Maldição Cruciatus não existe, eu resolvi adaptar a tortura da Bellatrix para o casal para o mundo trouxa :)

Espero que tenham gostado!
Eu adoro reviews!
Beijos,
Carol Lair