República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 1
O Novo Morador


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!

Meu nome é Carol e eu comecei a escrever essa história em 2007, quando eu estava no terceiro ano do colegial (sim, sou velha) e comecei a pensar sobre o quê estudar na faculdade. E, como já era uma Jily shipper convicta na época, a fic começou a surgir na minha cabeça!

Eu a publiquei na mesma época no ff.net e recebi muitos retornos positivos, mas ainda não conhecia o Nyah e, portanto, não postei aqui. Agora que voltei para o mundo das fics, resolvi que antes tarde do que nunca, então vim postar aqui nesse site também!

Espero que gostem!
Beijos,
Carol Lair



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Capítulo 1 – O Novo Morador

Lily Evans orgulhava-se de possuir total controle sobre sua vida. Ao longo dos anos, ela havia desenvolvido um método de rotina precisamente impecável, o qual – ela acreditava – era capaz de eliminar quaisquer chances de algum imprevisto pegá-la de surpresa. Lily não gostava do imprevisível, da possibilidade de se encontrar em uma situação com a qual não soubesse lidar. E, portanto, ela estabelecera inúmeras regras para si mesma e as seguia rigorosamente, como se algo muito grave fosse acontecer caso ela as quebrasse.

Por exemplo, Lily não dormia após as seis e meia da manhã. Seus olhos se abriam automaticamente àquela hora, independente do horário no qual tivesse ido dormir na noite anterior. Mesmo durante as férias de verão, ela nunca deixara de se levantar cedo e de realizar seu ritual matinal: espreguiçar-se duas vezes para direta, duas vezes para a esquerda, colocar-se de pé, arrumar a cama de forma admiravelmente simétrica, tomar banho usando três tipos de sabonete diferentes e, finalmente, tomar o café da manhã. Lily preferia continuar seguindo às regras do ano letivo durante as férias pelo simples receio de não conseguir retomar sua rotina imaculável quando as aulas recomeçassem.

Lily definitivamente não gostava do imprevisível. O que ela não imaginava, contudo, era que, naquela manhã abafada de sábado, o penúltimo dia antes do retorno das aulas da Universidade de Hogwarts, a imprevisibilidade se tornaria parte de sua vida para sempre.

Após sair do banho, Lily vestiu-se com uma roupa casual, penteou os longos cabelos acaju, ainda molhados, e desceu para preparar seu café da manhã de bom humor. Entrou na cozinha às seis e cinquenta e sete, exatamente como todas as manhãs anteriores, e começou a preparar a cafeteira.

— Bom dia, Lily! – cumprimentou Lorens Ludmann, uma das colegas de república, ao entrar no aposento, trajando um pijama largo e confortável.

Lily virou-se para olhá-la. Os cabelos muito lisos e escuros de Lorens estavam despenteados, os olhos azuis estavam um pouco inchados e sua aparência naquele momento exalava um ar definitivamente sonolento.

— O que te deu para acordar à essa hora, Lorens? – perguntou Lily, distraída com a jarra de café recém-feito que colocava sobre a mesa. Lorens costumava acordar só depois das onze, principalmente aos sábados.

— Os roncos da Anita estão insuportáveis. Aposto que ela bebeu cerveja ontem.

Lily riu. Enquanto se sentava à mesa, olhando para a cozinha, reparou que ainda estava com saudades daquela casa. Tinha voltado da casa dos pais havia apenas uma semana, mas gostaria de ter voltado muito antes. Ali era o seu lar.

— Você foi embora cedo ontem. – Lorens comentou, servindo-se do café.

— É, a festa estava chata... – Lily começou, mas a verdade era que ela queria organizar a lista dos candidatos para a vaga na república. Estava planejando fazer uma reunião naquela tarde com os amigos para decidirem.

— Aquele amigo do Sirius vem fazer a entrevista para vaga hoje, não vem? – perguntou Lorens, servindo-se rapidamente dos pães torrados que Lily havia preparado.

— É... – Lily concordou, um tanto mal-humorada. Na noite anterior, Sirius Black, outro morador da república, recebera um telefonema de um amigo e insistiu para que dessem uma chance a ele, mesmo que as entrevistas já estivessem encerradas. – Não acredito que teremos outra entrevista hoje. Já temos candidatos o suficiente!

— Veja pelo lado bom: pelo menos esse cara é gato. – Lorens brincou, sorrindo maliciosamente. – Bem, ele parece ser bonito naquela foto da formatura do Sirius.

Lily revirou os olhos e Lorens riu despreocupada. Lorens parecia se divertir com as entrevistas, enquanto Lily estava sempre preocupada em relação ao caráter no novo morador. Afinal, independente de quem fosse, ele imprescindivelmente tinha de ser alguém de confiança.

Com o início do semestre, muitos universitários tinham planos de se mudar e a quantidade de pessoas que apareceu para ocupar aquela vaga foi impressionante. Contudo, nem todas as opções eram consideráveis.

— Cansei dessas mocinhas oferecidas que só querem morar aqui por causa do Sirius! – Anita Ecklair reclamara, no dia anterior, após expulsar educadamente uma bela moça interessada na vaga. Era a garota com quem Sirius estava saindo.

Lily e os outros moradores passaram a semana inteira sentados no sofá da sala fazendo perguntas aos jovens interessados em morar com eles, discretamente avaliando-os para a vaga.

A república tinha espaço suficiente para abrigar seis pessoas. Era um sobrado simples, com dois quartos, uma sala ligeiramente espaçosa, uma cozinha – perfeitamente limpa, na opinião de Lily – e dois banheiros. Os ocupantes já moravam juntos havia dois anos, exceto por Lily e Lorens, que haviam chegado havia apenas um ano.

Por volta das dez e meia da manhã, todos já haviam sido acordados por Lily. Se iriam receber uma visita, que pelo menos passassem uma boa impressão.

— Temos que arrumar a bagunça da sala! – dizia ela, batendo na porta do quarto dos garotos. – E espero que seja a última visita de todas, ouviu, Sirius?

Tudo o que ela teve em resposta foram alguns resmungos.

—--

Mesmo cansada de receber os diversos candidatos, Lily fazia questão de que a república estivesse sempre muito arrumada. Na verdade, ela fazia questão de ter tudo arrumado sempre. Lily tinha um obsessivo hábito de limpeza. Não que ela admitisse isso.

— Lily, estamos arrumando essa sala a semana inteira, mesmo quando não tem nada para arrumar! – Sirius Black se queixou, passando um espanador pela estante da televisão.

Sirius jogou os cabelos negros para trás. Seus olhos cinzentos cintilaram com os raios de sol que entravam pela janela. Estava limpando a estante charmosamente, como se, para ele, fazer aquilo fosse algo realmente excitante.

— Sirius, primeiramente, só estamos arrumando a sala porque o seu amigo virá aqui para entrevista. E você sabe que isso só está acontecendo porque você insistiu muito!

Sirius sorriu sedutoramente.

— Ah, Lily, o James é meu amigo de infância. Ele precisou pegar transferência para Hogwarts e, coincidentemente, nós temos um lugar sobrando... Então, por que não oferecer?

— Por que ele se transferiu agora, que só faltam dois dias para começarem as aulas?

— Emergências pessoais, querida. – Sirius respondeu, deixando-a ainda sem entender.

— Bem que ele podia ter se transferido na semana passada, quando nós estávamos recebendo candidatos o dia inteiro. – Lily estava irritada, principalmente porque encontrara uma bolsa aberta, jogada atrás do sofá. Quanto tempo aquilo estaria ali?

— Nós temos que escolher o Jack Shoth. Ele é perfeito para a vaga, além de ser lindo. – Anita Ecklair comentou, repentina e sonhadoramente, enquanto arrastava a vassoura pelo chão.

Anita tinha os cabelos bem cuidados e loiros, presos cuidadosamente num rabo-de-cavalo, olhos grandes e claros. Seu rosto era fino e o nariz delicado dava a ela um ar de boneca de porcelana curiosa. Era a mais baixa das três garotas e tinha o corpo muito bonito. Sua maior característica, comparada aos outros quatro colegas, era o sotaque em suas palavras, pois era americana.

— O que você disse? – Lily indagou, virando-se para ela.

— Estou falando do Jack Shoth, sabe? Aquele loiro fortão que veio aqui na terça-feira. – Anita sorriu. – Se o amigo do Sirius não for tão legal assim, meu voto vai para o Jack.

— Ficou louca, Anita? Esse Shoth não é aquele metido a drogado de Biologia? Ele já foi preso duas vezes, não se lembra? Não, nem pensar, ele está fora de cogitação. – Lily resmungou, guardando o material de limpeza. – E eu achei uma bolsa sua, jogada ali atrás do sofá.

— Sério? – Anita bateu palmas. – Estava procurando por ela há três dias!

Lily entregou a bolsa para a amiga, que sorriu satisfeita por reaver seu pertence perdido.

— Está na cara que esse Shoth veio aqui mais pra olhar as pernas das meninas do que com intenção de morar. – acrescentou Remus Lupin, da cozinha, onde estava lavando a louça.

— Eu gostei daquela Mary Johnson, de Letras. – Lorens opinou, enquanto recolhia alguns objetos que estavam sobre a mesa de centro da sala.

Lily já havia terminado a arrumação e Remus também parecia ter acabado de lavar a louça, pois se juntou aos amigos na sala, ao passo que Sirius dizia:

— Essa Mary é bem gostosa, mas ainda torço pelo James. Vocês vão gostar dele. – e, virando-se para os amigos, acrescentou vitorioso: – Terminei.

— Deve ter feito tudo de qualquer jeito, como sempre! – Lily foi até a estante investigar. Segundos depois, acrescentou: – É... dessa vez passa, Sirius.

A campainha soou agudamente. Os quatro se entreolharam, surpresos.

— Será que além de bonito, esse cara é pontual? – Lorens perguntou, escondendo as bagunças disfarçadamente para debaixo das almofadas do sofá, assim que Lily dera-lhe as costas.

No entanto, ninguém se moveu em direção à porta. Um pouco contrariada, Lily correu abri-la, enquanto Anita vinha da dispensa, onde havia guardado a vassoura.

A ruiva se deparou com um rapaz alto, apoiado no batente da porta. Percebeu que seus cabelos escuros eram propositalmente bagunçados. Ele ostentava um olhar quase entediado no par de olhos castanho-esverdeados e seu rosto tinha traços muito bonitos. Estava vestido de preto dos pés a cabeça.

— Hey, ruiva. Meu nome é James Potter, é essa a república do Sirius? – pelo tom de voz dele, Lily não percebeu se ele estava falando sério ao chamá-la de "ruiva", com tanta intimidade.

Ruiva? Oi, eu nem te conheço!, Lily pensou, olhando fixamente para James Potter. Ele estava rindo. Será que Lily estava fazendo uma careta? Não conseguiu pensar em uma forma à altura para convidá-lo a entrar.

— E aí, James! – Sirius apareceu à porta, sem perceber que estava salvando Lily de uma situação embaraçosa. Eles se cumprimentaram com um abraço rápido. – Quanto tempo, cara! Entra aqui, não repare a bagunça.

James entrou e, na verdade, deparou-se com uma casa arrumada demais para ser ocupada por cinco jovens. Interessante.

— Sente-se, James! – Lorens disse, que pulou no sofá, se acomodando.

James percorreu os olhos pelo lugar. Seu olhar passou por todos os moradores, que pareciam esperá-lo se sentar para começar. Sentou-se vagarosamente.

— Quer beber alguma coisa, James? – ofereceu Anita, sentando-se no braço do sofá, ao lado de Lorens.

— Não, muito obrigado.

— Então você tem interesse em morar aqui, certo? – perguntou Lily, não se importando em ser direta demais, sentada graciosamente à frente do visitante, como num interrogatório. Apanhou sua prancheta, na qual as perguntas da entrevista estavam listadas, e aguardou a resposta do recém-chegado.

— Bom, eu estou aqui, não estou? – James Potter devolveu-lhe a pergunta, segurando uma risada. Os outros também riram.

Lily sorriu impacientemente, ignorando tamanha presunção.

— Você sabe que temos outros candidatos interessados também, então não se importa em responder algumas perguntas para podermos te conhecer melhor?

— Sem problemas. Mas posso sugerir uma coisa? – ele acrescentou. Ele não podia ficar sem sugerir ou fazer algum comentário nunca? – Vocês podem me responder a mesma pergunta que me fizerem, para que eu conheça vocês também?

Foi então que todos se lembraram de que James não os conhecia. Os candidatos anteriores já sabiam basicamente tudo a respeito deles, uma vez que a maioria dos alunos da Universidade de Hogwarts acompanhava ininterruptamente a vida dos moradores daquela república. E sonhavam em morar num lugar como aquele.

— Ótimo! – Lorens concordou, animada. Seria esta a primeira entrevista que não pareceria, de fato, uma entrevista? E sim, uma conversa? – Então vamos começar nos apresentando. Sou Lorens Ludmann!

— Remus Lupin.

— Anita Ecklair, encantada!

— Lily Evans.

Sirius apenas acenou, já que não havia necessidade de se apresentar. Lily se endireitou e encontrou os olhos de James. Ele parecia segurar uma risada.

— Continuando. – Lily recomeçou, abaixando os olhos para a prancheta. – Quantos anos você tem?

James parecia estar se divertindo.

— Vinte.

Um silêncio estranho tomou conta.

— Ah é! Esqueci que eu tenho que responder também! – Lorens falou, rindo. – Fiz dezenove mês passado!

— Vinte. – Remus respondeu calmamente e seus cabelos claros caídos sobre os olhos deram-lhe um ar misterioso.

— Vinte. – disse Sirius, simplesmente.

— Vinte anos. Me sinto uma velha. – respondeu Anita.

— Anita, você é americana? – perguntou James, reparando em seu sotaque.

Ela afirmou com a cabeça.

— Sou, sim. De Nova York.

Todos se viraram para Lily, que corou. Sua intenção era passar despercebida, mas não obteve sucesso. Teria que responder.

— Dezenove anos... Bem, vamos à próxima pergunta, Potter: Que curso você faz e qual ano você vai começar na próxima segunda-feira?

James soltou uma risadinha ao ser chamado pelo sobrenome. Lily estava ficando irritada por diverti-lo tanto. Qual é o problema dele?

— Faço Direito, e passei para o terceiro ano.

Lily deixou escapar um sorrisinho, finalmente aprovando alguma resposta vinda dele. Mas, no segundo seguinte, sua expressão voltou a ser séria.

— Curso Direito também. – ela explicou. – Mas estou no segundo ano.

James não pareceu surpreso. Era como se aquela informação fosse óbvia. Em seguida, o rapaz virou-se para Remus, que estava ao seu lado, esperando sua resposta.

— Curso Psicologia, vou começar o terceiro ano segunda-feira. – ele respondeu, com uma ponta de orgulho na voz.

— E você, Lorens? – James indagou.

— Artes Cênicas. Segundo ano!

— E eu vou começar o terceiro ano de Moda. – Anita contou, sorrindo.

James enrugou a testa ligeiramente.

— Educação Física, terceiro ano. – Sirius respondeu só para participar da conversa, pois James já tinha conhecimento disto.

— Terceira pergunta, Potter. – James parecia não entender a formalidade de Lily, que assumia um semblante sério novamente. – Você trabalha?

— Ontem me ligaram do Fórum St. Mungus e eu começo segunda-feira. Vocês sabem onde fica? É aqui perto.

Lily arregalou os olhos verdes, surpresa.

— Eu trabalho lá! Sou estagiária-assistente dos promotores da Vara Trabalhista.

James também aparentou estar surpreso. Mediu cada centímetro da ruiva com mais interesse e atenção. Depois, sorriu para ela, que virou o rosto, fingindo não ter reparado.

— Que coincidência vocês dois! – Lorens comentou, sorridente. Parou pensativa por uns instantes e recomeçou: – Bom, eu tenho, digamos... uma "trupe" da qual faço parte, ensaiamos quase todos os dias e apresentamos peças de teatro sempre que temos oportunidade. De vez em quando, entra uma grana. Nada fixo.

— Eu sou estagiária numa loja de grife do centro de Londres. Desenho alguns modelos para eles. Ganho uma miséria, mas sobrevivo. – contou Anita.

— Trabalho numa academia. Na verdade, fico ajudando ou ensinando garotas de tops com auto-estima baixa a usarem os aparelhos de musculação. – Sirius respondeu, com um singelo tom de malícia na voz.

— E você, Remus? – James indagou, ainda sem tirar os olhos de Lily, que estava notavelmente incomodada com o olhar dele.

— Eu... Trabalho numa escola. Sou o psicólogo das criancinhas rebeldes que são mandadas para a diretoria. – Remus disse, infeliz. Parecia o único que não gostava do emprego. – Sofro.

Todos riram. A entrevista de James fora a mais divertida de todas que ocorreram durante a semana inteira, embora Lily tivesse permanecido quieta a maior parte do tempo. Toda a vez em que fazia algum comentário, James ria. Muitas vezes, não havia graça, mas ele sempre ria.

Com o tempo, a entrevista se tornou uma conversa. James contou algumas histórias sobre a Universidade de Oxford, fazendo com que Anita ficasse boquiaberta e Lorens chorasse de rir. Ele era definitivamente engraçado. Lily não gostou de quando ele fez uma piada sobre sua mania de organização, quando ela deixara bem claro que fazia questão de que os moradores mantivessem tudo limpo. E fingiu não ouvir quando ele a chamou de "ruiva" pela segunda vez.

— Próxima pergunta: você é usuário de drogas? – perguntou Lily, diretamente, assim como fora com todos os candidatos.

James caiu na gargalhada, fazendo todos rirem. Curioso que ninguém rira quando ela fizera a mesma pergunta aos demais interessados na vaga.

Não. – ele respondeu, ainda rindo.

— Aliás... Álcool é droga? – perguntou Sirius. James riu mais ainda, mas não respondeu.

Por fim, todos trocaram olhares divertidos e gargalharam. Menos Lily, que não gostara da resposta do visitante: esperara algo mais convincente.

— Tem filhos?

Lily se arrependeu de ter feito a pergunta no segundo seguinte. James riu ainda mais. Ora, mas ela não estava perguntando por curiosidade, estava perguntando porque estava no script da entrevista!

— Tem ou não? – ela insistiu, mal-humorada.

— Ah, ele não tem cara de papai.— Anita concluiu, divertida.

— Eu não tenho filhos. – James finalmente respondeu. – Pelo menos, nunca me avisaram de nada.

Lorens teve que se levantar para respirar porque estava sem fôlego. Lily deu uma risadinha forçada para não parecer antipática.

Por fim, a entrevista se encerrou e James foi embora parecendo que conhecia todos havia anos. Ele aparentava estar seguro de que a vaga era sua. Mas Lily havia reprovado alguma coisa nele, por conta de suas respostas ambíguas.

—--

— Temos que decidir quem vai morar com a gente logo.— Anita lembrou, acomodando-se ao lado de Lily, no sofá, depois do jantar. – As aulas começam segunda-feira, e o novo morador só vai ter amanhã para fazer a mudança. Anotei o telefone de todos, disse que ligaria hoje à noite para dar a notícia.

— James fica. Eu morri de rir hoje à tarde! – Lorens deu sua opinião, sorridente.

— Minha opinião vocês já sabem. – Sirius declarou, relaxando no sofá perpendicular àquele em que Lily e Anita haviam se sentado.

— Gostei muito do James, embora o Jack Shoth... – Anita se interrompeu ao receber um olhar intimidador de Lily. – Já entendi, Lily.

— Ótimo, vamos resolver isso. Eu gostei do Kennedy Grey. – Lily começou e todos olharam horrorizados para a ruiva, que encolheu os ombros. – Qual é o problema? Ele é prestativo e muito inteligente!

— Lily, todo mundo sabe que aquele cara não bate bem! – Anita se adiantou. – Ele cursa Matemática, só pode ser louco! Parecia um doido gesticulando quando falava!

— Mas ele é muito bonzinho. Já conversei com ele!

— Ele não é sociável, Lily. O modo como ele agia para responder às perguntas denunciaram-no. Ele claramente sofre de esquizofrenia. – afirmou Remus, assumindo um ar de psicólogo.

Lorens tampou a boca para segurar um riso. Lily olhou pensativa para o amigo.

— É... pode ser. – ela admitiu. Afinal, se Remus estava afirmando, deveria ser verdade.

— Todos concordam com o James? – perguntou Sirius.

Remus, Lorens e Anita afirmaram com a cabeça, animadamente. Sirius se virou para Lily.

— Quem você sugere, Lily? – perguntou ele.

— Ah, bem... Durante essa semana nós recebemos mais de vinte pessoas, vocês não gostaram de mais nenhuma?

Lily apressou-se em pegar a lista da prancheta que estava sobre a mesa.

— Vejamos. – ela passou os olhos pelo papel. – Seis são garotas oferecidas que querem morar aqui por causa do Sirius e do Remus. – os dois rapazes se entreolharam, trocando sorrisinhos. – Como isso daqui é uma casa, e não um bordel, então elas estão fora.

Dando uma risadinha, Anita puxou a lista da mão de Lily e continuou a leitura:

— Depois vem esse Kennedy... Completamente fora de cogitação. Outro é o Jack, mas vocês não concordam. – ela fez uma careta. – Quatro estão desempregados e nem recebem dinheiro dos pais, então também estão fora de cogitação. Tinha aquele Simon Smith, de Química, mas ele pareceu meio estranho...

— Nem pensar. – Sirius determinou.

— Mary Johnson, que é uma garota bem legal, é uma das únicas pessoas que podemos considerar. – continuava Anita. – Tinha um cara muito suspeito, na minha opinião. Rodolphus Lestrange, se não me engano. Eu o vi olhando para o meu decote de cinco em cinco minutos! E ele também olhou para a bunda da Lily quando ela se abaixou para pegar uma almofada. Eu me recuso a morar com um tarado. Já basta o Sirius.

— Hey! – fez Sirius, franzindo a testa.

— Ela tem razão. – Remus concordou.

— ... E aquele Dean Barry, de História? Nada contra, mas... há quanto tempo ele não tomava banho? – Anita suspirou. – Também tinha aquele chinês que não falava uma frase em inglês, ou seja, impensável. Enfim, dentre eles temos o James, que além do Sirius o conhecer muito bem e termos certeza de que ele é confiável, ele foi o único que se importou em nos conhecer também.

O coração de Lily deu um salto. Aquele James Potter, não. Se naquelas poucas horas ela já o julgara sem-graça e impertinente, imaginou, então, como seria se ele viesse morar na mesma casa que ela. Tudo o que Lily não precisava era de alguém para encher sua paciência, já que esse fora o principal motivo para ter saído da casa dos pais, ano passado: sua irmã não perdia uma oportunidade de enlouquecê-la.

— Mas será que esse Potter vai colaborar com a gente na hora da limpeza? – Lily questionou, na defensiva. – Ele só deu risada quando eu perguntei, e-

— Ah, Lily, por acaso o Sirius colabora? – lembrou Anita. – E a limpeza não é o mais importante, sério!

— É claro que é! – Lily ficou ofendida.

— De todos, o James é o mais parecido com a gente. – Lorens refletiu. – Principalmente com você, Lily.

Comigo?

— Sim! Ele também faz Direito e vocês vão trabalhar no mesmo lugar! – Lorens não parecia reparar no quanto aquilo soava absurdo. – E o melhor é que agora você não vai precisar alugar um de nós pra falar sobre artigos e códigos da lei, você vai poder falar disso com o James!

O queixo de Lily estava caído. Lorens agia como se tudo fosse simples.

— Você tem razão, Lorens. – Sirius apoiou. – Vai ser ótimo que alguém distraia a Lily de vez em quando.

— Se o problema for esse, pode deixar que eu nunca mais falo sobre isso aqui dentro. – Lily prometeu, sorrindo piedosamente.

Sirius riu e Lorens deu um safanão no braço de Lily.

— Vou ligar para o James! – Anita se adiantou, antes que Lily pudesse protestar novamente.

Lily estava em considerável minoria. Potter não a agradara em nada, mas ela esperava que aquilo não passasse de uma má impressão.

—--

Lily acordou no dia seguinte às seis e meia, como de costume. Espreguiçou-se duas vezes para a direita, duas vezes para a esquerda, levantou-se e arrumou sua cama simetricamente. Seu quarto tinha as paredes lilás, três camas, uma em cada extremidade do ambiente. Ao lado da cama de Lily, ela mantinha uma escrivaninha sob uma prateleira cheia de livros enfileirados, ordenados impecavelmente pelo nome de seus respectivos autores.

Vestiu o robe e foi em direção ao banheiro para tomar o banho matinal, quando a campainha soou. Deveria ser o carteiro. Ou alguma freira. Desceu as escadas em forma de caracol e a abriu.

— Oi, ruiva.

Era James Potter, com seu sorriso inconveniente.

Lily fuzilou-o com o olhar. Não queria que ele a visse com aquela cara de sono, afinal, odiava quando as pessoas a vissem desarrumada. Aliás, não eram nem sete horas da manhã, isso era hora de chegar, ainda mais com tanto bom humor?

— Te acordei? – ele perguntou, reparando que ela sequer se mexera.

— N-não. Sempre acordo cedo. Você deu sorte, Potter. Os outros geralmente acordam muito tarde.

Lily saiu da frente da porta para deixá-lo passar. Agora aquela casa também seria dele.

— Onde eu coloco minhas malas? – o moreno perguntou, observando-a de robe pelo canto do olho. Aquilo a incomodou.

— Deixe aí mesmo, quando o Sirius e o Remus acordarem, você leva lá para cima.

Lily se afastou alguns passos.

— Gostei do seu robe. Combina com você. – Potter comentou com uma imensa naturalidade, sem se importar em parar de olhar.

Lily desejou ter perdido a hora uma vez na vida para não ter de receber James Potter. Isso porque Anita havia dito que não queria morar com um tarado. Talvez Rodolphus Lestrange não fosse tão descarado assim.

Percebeu que Potter estava sorrindo mais uma vez. Onde está a graça, afinal?, ela se perguntou.

— Precisa de alguma coisa, Potter? – perguntou Lily, decidida a enfrentá-lo e disfarçar sua falta de reação por conta do elogio.

— Não, obrigado.

— Não se incomoda em ficar aí enquanto eu subo?

— O que vai fazer lá em cima? – ele lhe lançou mais um sorriso enorme.

Lily franziu o cenho. Não apreciava muito a curiosidade.

— Vou tomar banho, Potter. Por quê?

Potter riu energeticamente. Ele parecia gostar de ouvir seu sobrenome ser pronunciado com tanta ênfase.

— Fique à vontade, ruiva... Desculpe, qual era mesmo o seu sobrenome?

— Evans.

— Certo. – ele riu. – Fique à vontade, Evans. A casa é sua, afinal.

Lily se dirigiu às escadas. Antes de passar pelo último degrau, espiou o novo morador por cima do ombro. Desde criança, Lily demorava muito para confiar nas pessoas, pois as pessoas eram imprevisíveis. Mas algo lhe dizia que este processo seria ainda mais demorado com James Potter.

 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Agradeço de coração a quem leu até o fim!
Deixe um recadinho para eu saber o que você achou! ♥

Beijos,
Carol Lair (@carollairr)