Suave Êxtase escrita por IamJuliet


Capítulo 1
Suave Êxtase


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ;)



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O ar estava quente – não abafado – e uma brisa fresca típica de junho soprava. As luzes do centro da cidade inglesa eram apenas uma massa amarelada refletida no céu ao longe, acima das árvores e suas copas escuras. Suspirei, reprimindo a vontade de arregaçar as mangas e ficar ali fora para fumar ao invés de entrar naquela festa que, a meu ver, seria nada menos que deprimente.
Passei a mão pelo meu cabelo arruivado, recém arrumado e ainda levemente molhado do banho. Logo secaria com a ajuda do calor e da brisa. Subi os degraus de mármore em frente a mansão, ouvindo o barulho de velhas carruagens chegarem e deixarem os convidados. A música e as conversas fiadas vindas de dentro já chegavam aos meus ouvidos.
– Se possui pernas, para que precisas de carruagem? – murmurei, em seguida passando pela porta alta.
– Oh, Sr. Altreider, fico tão contente por vê-lo aqui! – exclamou uma senhora baixa, e bem, gorda. Ela usava um dos vestidos da moda em um tom azul claríssimo e uma faixa do mesmo tom no cabelo curto – Claro que meu marido, o Sr. Buckholz, também pensa assim! Oh, que alegria ter aceitado nosso convite!
– Eu que devo agradecer-lhe pelo convite, Sra. Buckholz – pigarreei, forçando minha voz a sair – É sempre uma honra vir às suas festas.
A senhora sorriu, radiante, segurando minha mão e então ao ver mais convidados chegando, correu ao encontro deles, me esquecendo – o que, certamente, agradeci a Deus.
Ao entrar no grande salão percebi que já estava cheio. Muitos dançavam e bebiam – logo estariam caindo.
Senti meu coração acelerar. Seria possível que...?
Balancei a cabeça. Não, não haveria como, não ali. Respirei fundo, tentando acalmar os nervos e fui procurar um assento.
Encontrei um perto do meio do salão, sozinho e próximo à uma mesa cheia de drinques e bebidas.
– Maravilha – resmunguei, já me acomodando na cadeira de madeira branca maciça e estofado vermelho escuro. Um dos mordomos correu apressado até mim com uma bandeja de prata.
– Sr. Altreider, aceita uma bebida?
– Obrigado – agradeci ao homem ao pegar uma taça com um líquido alaranjado e borbulhante.
Balancei a taça entre os dedos da mão direita e me pus a observar o local. Estava realmente cheio, e o que mais chamava atenção, é claro, eram as mulheres com suas roupas exuberantes cheias de penas. Mas só porque chamavam a atenção da maioria, não queria dizer que também chamassem a minha atenção. Estavam todas elegantes e muito bem arrumadas em seus vestidos compridos de corte reto e cores brilhantes. Sinceramente, tudo naquela festa brilhava: os lustres, o piso, a prataria, as taças, as paredes e os quadros, até as toalhas das mesas e as tapeçarias nas paredes altas pareciam brilhar. Talvez fosse o reflexo, ou umidade. Não saberia dizer, mas também não me preocupei muito com aquilo.
– Sr. Altreider!
– Merda – xinguei, baixo demais para alguém ouvir.
– Que bom que veio! Estava a me perguntar se o veria esta noite.
Era Dorine Elsinger, em um vestido cor de abacate que me deu enjoos. Ela correu até mim dizendo essas palavras em um tom íntimo e agudo demais para meu gosto e sentou no braço da minha cadeira.
– Senhorita Elsinger – cumprimentei – Não acha um pouco inadequado sentar dessa maneira?
Ela riu, uma tiara de pérolas combinando com seus colares adornavam seu cabelo louro.
– Ora, o mundo está mudando, Sr. Altreider! E as mulheres também – ela se inclinou e falou no meu ouvido: – Inclusive eu. Seria capaz de fazer coisas...
E foi interrompida por duas de suas amigas que chegaram correndo. Por Deus, aquelas mulheres não sabiam caminhar decentemente em um salão de festas?
– Sr. Altreider! – disseram elas, o mesmo tom agudo irritante.
– Senhoritas – lhes lancei um sorriso calmo e assenti com a cabeça.
– Como está elegante esta noite – disse uma delas, de vestes azuis.
– Obrigado, senhorita Gregio. Posso até estar elegante, mas obviamente, vocês ganham de mim facilmente.
Elas deram risinhos abafados por suas luvas.
– Como é gentil – disse a terceira delas.
Mais duas moças se aproximaram – em um caminhar decente, pelo menos e vieram me perguntar o que estava achando a festa.
Esse sempre foi o meu motivo de odiar essas festas. Carregar o sobrenome de meu pai, e herdar os fios ondulados e ruivos de minha mãe, além das sardas no rosto que, na cabeça dessas senhoritas e senhoras, só aumentavam meu charme – era praticamente um fardo. Os dois haviam morrido há quatro anos em um naufrágio e me deixaram seus títulos, terras, riquezas, o nome da família e beleza. Não que eu seja um narcisista, chamando-me de bonito, não. Só estou citando o que todos dizem, mulheres e homens. Pois bem, ser rico e solteiro, além de todas as outras coisas que mencionei, atrai muitas, muitas senhoritas como essas e geralmente as festas são cheias delas e de seus agrados para comigo.
Não quero seus agrados, mas o que parece, é o que estava propenso a ter pelo resto da noite. A não ser que quem eu estava a esperar aparecesse.
Aguentei por mais uma hora seus elogios, suas risadas e as taças que me alcançaram. A tontura do álcool começara a me atingir e me perguntei quando serviriam a comida. Não esperei, resolvi sair do meio delas antes que alguma resolvesse sentar no meu colo e eu estivesse tonto demais para manda-la embora. Sentar no colo de cavalheiros não é algo muito... comportado da parte delas, mas só eu saberia dizer o que essas moças são capazes de fazer até em público por um bom casamento.
Me levantei da cadeira e firmei os pés no chão. Não estava tão tonto quanto pensara.
– Senhoritas, está realmente muito agradável a presença de todas esta noite, mas, devo me retirar por alguns instante. Com licença.
Antes que pudesse ouvir seus protestos, me coloquei a caminhar em direção ao toalete. Passei a mão na testa, limpando gotas de suor que ameaçavam escorrer e costurando passagem entre as pessoas e mordomos.
Apoiei a mão no portal que levava ao corredor em que, no fundo, ficava o toalete dos homens e dei uma rápida olhada para trás, conferindo se não estava sendo seguido por uma mulher insistente. Por sorte, não estava. Mas já acontecera certa vez.
Tirei a mão dos azulejos amarronzados do portal e segui o corredor para a direita. Quando os sons da festa baixaram um pouco, abafados pelo longo corredor de paredes pintadas de branco, diminuí o passo e avistei um espelho de moldura dourada na parede a alguns passos.
Andei até ele e fitei meu reflexo.
Meu cabelo estava bagunçado e minhas bochechas coradas pelo calor do salão, quase apagando algumas das sardas. Levantei as mãos e tentei levar o penteado ao que era quando cheguei.
– Por que toda essa arrumação? Está indo encontrar alguém?
Aquela voz grave e macia me pegou surpresa, admito e foi como se o ar tivesse fugido de meus pulmões. Minhas mãos caíram ao lado do corpo imediatamente.
Dei um sorriso e me virei para encará-lo.
– Teria alguém que eu devesse encontrar?
Aqueles olhos castanhos escuros me fitaram. Ele estava tão belo esta noite. Em todas as noites.
Seu cabelo escuro e ondulado ia quase até seu queixo e realçava seus traços. As maçãs do rosto salientes, os lábios carnudos e rosados. Aqueles cílios longos que mais pareciam beijar suavemente o local abaixo de suas pálpebras do que proteger sua visão. Tive inveja daqueles cílios por um momento, porque, estavam tocando no mesmo lugar que eu gostava de depositar meus lábios durante a noite. Não que ali fosse o único lugar.
Ele sorriu largamente. Os dentes brancos e alinhados.
– Sr. Altreider – disse, por fim – Como está elegante esta noite.
– Devens, obrigado, mas já recebi esse elogio hoje.
Seu sorriso diminuiu um pouco, mas um brilho feroz passou rapidamente pelo seu olhar. Aquelas vestes o serviam tão bem. Mal podia esperar para tirá-las.
– Não de alguém que me interesse – sussurrei e andei rapidamente até ficar centímetros de seu rosto.
Seus lábios cheios se entreabriram e ele sugou o ar.
– Entendo – falou ele, de forma controlada.
Como ele conseguia fazer aquilo? Eu tinha que ficar pensando duas vezes antes de dizer alguma coisa, ou antes de fazer alguma coisa.
– Venha – disse eu –, vamos continuar caminhando.
– Mas nem estávamos caminhando! – ele ergueu as mãos.
Nós dois sorrimos, o que quase me fez agarrá-lo ali mesmo.
– Agora estamos – apertei seu braço e escorreguei até sua mão. Apertei de leve e então a soltei.
Aquilo bastou.
Ele apressou o passo para me acompanhar.
– Não te encontrei lá – ele fez um gesto com a cabeça indicando a festa.
– Devia ter procurado por moças escandalosas. Aí sim, teria me encontrado – revirei os olhos.
– Ainda bem que são moças. Que bom que não preciso me preocupar – ele riu. Sabia o quanto aquilo me incomodava, mas sabia também, que era algo que eu não tinha como escapar. Nem ele. Não enquanto nos agarrássemos aos nomes de nossas famílias e continuássemos a frequentar essas festas e bailes com manadas de mulheres querendo um marido rico.
– O máximo que você...
Minha voz foi cortada por suas mãos fortes que seguraram meus ombros e me empurraram contra a parede. Só pude encontra-la quando senti seu peito pressionado no meu e suas mãos erguendo as minhas acima da minha cabeça. Minhas costas encostadas na parede fria.
– Santo, Adam! – exclamei baixinho, quase engasgado, cuspindo ar.
Adam sorriu maliciosamente, o que fez uma corrente de eletricidade percorrer meu corpo inteiro. Calor começou a se espalhar dentro de mim. Ele levou os lábios ao lóbulo da minha orelha e desceu pelo meu pescoço, beijando, mordiscando.
– Pare com isso – exigi em um tom nada convincente, inclinando a cabeça e dando-lhe mais espaço.
– Não me culpe – disse ele, entre apertos no meu pulso e beijos descendo para minha clavícula – Você sabe que esse seu cabelo vermelho me deixa louco. Tanto quanto as sardas das... suas costas.
Aquilo me atingiu de tal maneira que não pude nem explicar. Talvez porque tenha me trazido à mente algumas cenas. Ou talvez pelo modo como sua voz saiu. Ofegante. Rouca. Sexy.
Sacudi os pulsos violentamente, pegando-o de surpresa e libertando minhas mãos. O puxei pelas costas e o colei na parede, e ao meu corpo, como ele fizera.
– Pequenos detalhes – falou ele, me olhando de cima a baixo de um jeito que parecia tanto me excitar quando torturar – É disso que você gosta. Eu sei.
Deixei-o subir o olhar para o meu. Fixei nossos olhos, lhe dando o olhar mais intenso que consegui. Ele retribuiu. Meu sangue ferveu, mas procurei me controlar.
Aproximei meu rosto do dele muito lentamente, sua respiração quente passando através de seus lábios úmidos e aquecendo a pele do meu rosto só fez a lentidão proposital ficar mais difícil de ficar, bem, lenta.
– Adam Denves – sussurrei, quase juntando nossos lábios – Você sabe mesmo do que eu gosto.
Tirei as mãos de suas costas e segurei seu rosto firmemente. Toquei nossos lábios com tanta ferocidade e calor que, se beijos pudessem incendiar um local, aquela mansão já estaria em cinzas.
Senti suas mãos deslizarem pelo meu peito e irem para minhas costas e depois nuca. Pressionei meu corpo contra o dele, mais ainda, como se, quanto mais perto estivéssemos fisicamente, pudéssemos nos tornar um só em alma.
– Ryan – ele ofegou.
Aquele homem não sabia o efeito que tinha sobre mim. A mera menção de meu nome ter saído da sua boca daquela maneira...
– Ryan – ofegou novamente e, com uma força de vontade que não fazia ideia de que possuía, afastei nossos rostos e dei passos para trás até sentir a parede atrás de mim. Me escorei e cerrei os punhos, tentando acalmar a respiração.
– Adam – eu disse.
Ele respirou profundamente, sorriu e disse:
– Tem uma coisa que preciso lhe contar.
Aquela frase poderia significar milhares de coisas, mas meu corpo estava tão quente que não senti nenhum gelo por dentro.
– O que é? – endireitei o corpo e pus, casualmente as mãos nos bolsos, para o caso de alguém se aproximar. Sim, Ryan, agora que vocês não estão mais daquela maneira é que você se preocupa com possíveis bisbilhoteiros?
Balancei a cabeça, mandando embora minha auto repreensão.
Ele, percebendo o gesto das mãos nos bolsos, fez um tão casual quanto: cruzou os braços e ergueu o rosto.
Céus. Adam ainda seria minha perdição. Só não sabia ainda se de uma maneira boa ou ruim.
– Eu... eu estou partindo para a Grécia amanhã.
Quase desmontei.
– Mas... o quê? – semicerrei os olhos, procurando não gritar e despejar a enorme onda de frustração, decepção e tristeza que resolveu me assolar depois daquelas simples e tão trágicas palavras que assimilei rápido demais.
– Tenho uma... uma tia-avó lá. Ela está ficando doente e não tem herdeiros, e precisa de cuidados.
– Herdeiros? Adam, você está... me deixando por dinheiro? – indaguei, a raiva que substituiu repentinamente a tristeza, ficando clara na minha voz. Como assim ele estava indo para a Grécia cuidar de uma maldita tia-avó que nunca ouvi falar por causa de uma merda de uma herança? – Você perdeu a cabeça?
– Ryan – suspirou ele e chegou mais perto. Sua mão tentou alcançar meu rosto, mas me afastei – Não é por dinheiro. Ela me mandou uma carta há alguns dias e pediu minha ajuda. Não falou nada sobre herança, mas quero ajuda-la.
– Há alguns dias? Há quanto tempo sabe disso e resolveu me falar só agora?
Cruzei os braços com força. Não podia acreditar naquilo.
– Não, Ryan, entenda. Estava pensando em como lhe falar de um modo... bom, que não fosse como foi. Eu sinto muito. Eu preciso ir, não é por causa de dinheiro, sabe disso. Mas não tenho mais ninguém da minha família e não posso perder essa chance, de estar com alguém que seja da minha família de sangue, do meu nome. Ainda mais porque ela me pediu. Você sabe como é não ter... ninguém, menos do que eu, mas de algum modo sabe como é perder sua família. Mais do que qualquer outro, pensei que você fosse o que entenderia isso.
Soltei com força o ar que prendia nos pulmões. Adam, que desgraçado... capaz de me fazer sentir inúmeras coisas diferentes em menos de um minuto. Minha raiva diminuiu involuntariamente e consideravelmente. Fitei seus olhos. Eu sabia que ele falava a verdade. Não era só bonito, rico e... todas essas coisas superficiais. Era também sincero, gentil e cheio de bondade. Seus olhos mostravam uma sinceridade e um pedido de compreensão tão grandes que meu coração acelerou novamente.
– Adam... – sussurrei – Não sei o que te dizer. Eu... me desculpe. Não foi justo ter explodido assim com você. É que... não posso te perder. Muito menos dessa maneira.
Adam sorriu e dessa vez quando tentou tocar meu rosto, deixei. Seu toque deixando uma linha de calor por onde seus dedos acariciavam.
– Querido, Ryan. Não irá me perder. Muito menos assim. Estou lhe dizendo isso porque... porque quero que vá comigo.
– Você... – senti o mundo parar.
Sinceramente, acho que ele me mataria qualquer dia desses, por me fazer explodir em êxtase.
A cada dia Adam me surpreendia mais, de diversas maneiras. Todas boas.
Engoli a saliva que estava em minha boca e umedeci os lábios com a língua. Meu rosto esquentou e isso se espalhou por todos os meus membros. Busquei minha voz que pareceu ter se escondido junto da minha raiva.
– Adam. Você perdeu a cabeça?
Ele franziu o cenho.
Soltei uma gargalhada.
– Devia ter me dito antes, Sr. Devens. Será um prazer ir para a Grécia cuidar da sua tia-avó doente com você – sorri abertamente.
Por um instante, ele pareceu confuso, mas então sorriu e segurou meu rosto com as mãos macias.
– Obrigado – disse ele e mais uma vez naquela noite, nossos lábios se tocaram. Não com a mesma ferocidade de antes, mais lentamente. Apreciei aquele beijo, sentindo seu gosto e tudo que aquele gesto entre nós transmitia.
– Amo você, Ryan Altreider – falou ele.
– Estava esperando por isso.
– Mas que presunçoso! – exclamou ele, falsamente ultrajado e se afastou.
Dei risada, vendo-o caminhar a passos largos pelo corredor a nossa frente. Dei alguns passos corridos e segurei sua mão calorosa. Ele olhou para trás, para mim.
– Também amo você – beijei seu pescoço.
Adam soltou um risinho abafado.
– Vamos, Sr. Altreider, temos malas para arrumar e... uma noite para vivenciar.
– Para vivenciar? – soltei sua mão, caminhando normalmente ao seu lado em direção à saída dos fundos – De onde tirou esta palavra? Anda lendo?
Ele deu de ombros.
– Você sempre diz que o que faz um homem, é seu conhecimento.
– Vou lhe mostrar meu conhecimento – resmunguei.
– Mal posso esperar – respondeu ele, alegremente.
Dei risada, seguindo-o para fora da mansão, com meu corpo fervilhando por dentro em expectativa.


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Notas finais do capítulo

Agradeço a todos que leram! ♥
Xx



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