Zodíaco: O 13º Signo escrita por Rodrigo Fregnani


Capítulo 4
Mudanças


Notas iniciais do capítulo

Aqui começa a parte mais encaminhada da estória, levando-a ao rumo que desejo.
Espero que gostem!



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Não estava conseguindo dormir aquela noite por conta de tanta tristeza e preocupação. Rolava na cama e não achava o sono que tanto necessitava para ver se, assim, minha alma acalmasse pelo menos por um tempo.

A imagem de Kotan vinha em minha mente o tempo todo. Depois era a imagem de meu irmão partindo para a Academia, completando o inferno que seria meu futuro não tão distante.

Academia do Zodíaco.

Daria minha cabeça para poder fazer parte da instituição. Faria de tudo para ter nascido homem neste mundo tão cretino.

Ter nascido homem.

De súbito, uma ideia insana surgiu em minha mente perturbada.

─ E seu eu me tornar um homem? ─ Escutei-me sussurrar na escuridão de meu quarto.

Pulei da cama e rumei à porta. Antes, peguei um pedaço de papel e carvão, e comecei a redigir um pequeno texto para meu irmão. Não importava mais se meu pai descobrisse que eu sabia ler e escrever.

Com cautela, sem fazer nenhum barulho, direcionei-me ao quarto de Thotin. Rezei aos deuses que ele estivesse dormindo profundamente e que sua porta estivesse apenas encostada.

Consegui adentrar o ambiente, caminhando lentamente até o baú de Thotin. Observei meu irmão e, graças aos deuses, dormia intensamente, assustando-me de vez em quando com seus roncos fortes.

Ao chegar a seu baú de roupas, algumas peças ainda se encontravam por lá. Thotin levaria consigo poucas coisas em sua mudança, visto que na Academia receberia suas roupas da cor de seu signo quando assim fosse descoberto.

As roupas brancas ainda preenchiam alguns espaços do recipiente. Peguei algumas mudas e um par de botas. Avistei um punhado de moedas de prata ─ as constelações ─ e furtei-as de meu irmão. Aproveitei para deixar o bilhete que fizera há pouco, com os seguintes dizeres:

“Querido Thotin,

Fui buscar minha felicidade longe do casamento, da miséria e da prostituição.

Não se preocupe comigo. Ficarei bem e, se assim os deuses permitirem, realizada.

Com amor,

Soriah.”

Ia colocar um “P.S: roubei suas constelações de prata”, mas não achei necessário.

Com cuidado, saí do quarto de Thotin, sem ser avistada.

Voltei ao meu dormitório, antes levando um susto com minha avó perambulando o corredor dos aposentos. Consegui esconder-me quando ela passava com sua vela bruxuleante.

Despi-me rapidamente. Fui até meu armário e peguei uma pequena sacola. Aproveitei para pegar uma faixa para amarrar sobre os meus seios. Agradecia por eles serem pequenos, pois facilitaria muito ocultá-los.

Enrolei a faixa branca amarelada em meu peito, apertando-o firme para deixar meu tórax lisinho. Vesti as calças de meu irmão, fazendo o mesmo com a camiseta e o casaco. Por último calcei as botas que ficaram grandes, obrigando-me a preencher o restante com bolinhas de papel, os quais guardavam minhas lições de Astrologia.

Fitei-me no espelho. Ainda faltava uma coisa.

Corri até minha cômoda e retirei da gaveta uma tesoura um tanto enferrujada. Voltei a olhar meu reflexo e, pegando todo o conteúdo de meu cabelo, o cortei na altura da orelha. Mechas e mais mechas de fios castanhos decoravam o chão. Cortei mais um pouco até ficar com o estilo curto igual à de meu irmão. Com dificuldade, arrumei a parte de trás e o topo. Voltei a me olhar e achei que estava parecendo um garoto.

Sorri para meu reflexo. Eu estava parecida com Thotin, embora ele fosse mais alto e bem mais forte.

A noite estava quase dando espaço ao dia.

Coloquei as outras peças de roupa que conseguira roubar de Thotin e coloquei-as em minha sacola. Ajuntei os fios de cabelo espalhados no chão e, em outra sacola, os guardei. Queimaria na lareira quando eu passasse por ela ao sair de casa.

Peguei minha sacola, depositei um último olhar para meu quarto e, antes de sair, peguei meu livro de romance favorito, deixando-o acompanhado com as roupas dentro da sacola.

Desci as escadas com cuidado. Fui à cozinha e peguei um pedaço de pão para levar comigo. Bebi um pouco de vinho para me dar ânimo e mais de coragem para o que estava prestes a fazer, e saí, sem antes jogar a sacola com meus cabelos na lareira, dizendo adeus a eles e àquela casa.

O portão da saída para a minha liberdade estava a poucos metros de distância. Quando consegui, finalmente, sair para a rua, escutei a voz de Selum, um dos vizinhos de minha casa, gritar:

─ Ei, garoto! O que faz aqui? Não sabe que é propriedade privada?

Bem, pelo menos eu estava parecendo um garoto. Estava escuro, mas achei que mesmo na claridade daria para me confundir com o sexo masculino. Selum era um ancião que tinha o costume de vaguear pelas ruas antes do Sol nascer. Era conhecido como o louco da vizinhança, porque, às vezes, dizia que conversava com seu falecido filho durante suas caminhadas.

─ Eu falei com você! ─ ouvi Selum aproximar-se. ─ Por acaso é surdo?

─ Desculpe-me, senhor ─ falei, deixando minha voz mais grave. Deuses! Sentia-me meio ridícula ao forçar a voz. ─ Confundi-me com outra residência.

Selum me encarava com a mão no queixo. Usava sua roupa típica do signo de Peixes, um tom azulado bem claro.

─ Eu não o conheço de algum lugar? ─ perguntou. ─ Você se parece muito com Thotin, o filho de Fadir. Por acaso é parente desta família?

─ Não, senhor. Como havia dito, confundi-me de casa. Agora preciso ir, antes que me atrase.

─ Ah, você está indo para a Academia? ─ alegrou-se o velho. ─ Meus parabéns, meu jovem! Aproveite seu momento.

Sorri em agradecimento e fui pegar a estrada.

Estava muito feliz e, sim, eu iria aproveitar o meu momento.


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Notas finais do capítulo

Psiu! Não fuja! Deixe seu comentário antes, por favor.



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