Zodíaco: O 13º Signo escrita por Rodrigo Fregnani


Capítulo 3
O Noivado Infeliz




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O vento arrastou consigo o tempo, fazendo-o voar para longe e nunca mais retornar.

Thotin se preparava para partir. Logo ele iria para a Academia e lá fazer de lar por dez anos, período de sua preparação total. Eu, por outro lado, preparava-me para algo que, particularmente, temia mais do que a própria Morte.

O tal noivo que meu pai arranjara iria me visitar naquela noite, dando-me o desprazer de sua presença. Avaliar-me-ia e, caso eu fosse de seu agrado, casaríamos em poucas semanas. Se não, eu estava condenada à miséria ou à prostituição.

Às vezes achava que um ou outro me seriam mais vantajosos e felizes do que o matrimônio penoso com um homem bem mais velho do que eu.

─ Anime-se, Soriah! ─ minha avó tentava me alegrar. ─ Seu pai conseguiu um noivo recém-formado da Academia, ou seja, é ainda um rapaz jovem, de apenas vinte e seis anos. Eu não tive tanta sorte. Casei-me com um homem trinta e três anos mais velho do que eu.

Fiz uma careta, pois achava repugnante um homem tão mais velho ter colocado suas mãos imundas em cima de uma garota de apenas dezesseis. Não cheguei a conhecer meu avô, mas sei que era um homem tão bruto quanto meu pai. Minha avó, trajando roupas pratas ─ a cor da viuvez ─, sofrera muito nas mãos de seu marido. Temia ter o mesmo destino.

─ Por que temos que fazer isso, vovó? ─ questionei. ─ Por que temos que nos submeter a tanto?

─ Chega de perguntas sem fundamentos, Soriah. Aceite, pois é assim que fora decidido.

Minha mãe entrou em meu quarto, olhando-me de cima a baixo com um sorriso singelo nos lábios.

─ Está muito bonita, Soriah ─ falou quando me viu com um vestido branco belissimamente ornado. ─ Em pouco tempo, se os deuses assim desejarem, você trajará dourado, não é, senhora Loreda?

─ Sim, sua mãe está certa ─ concordou a vovó. ─ Ore aos deuses para ser agradável aos olhos de seu noivo. Faça tudo certinho, conforme as regras.

─ Por favor, Soriah ─ objetou mamãe. ─ Não olhe nos olhos dele, não fale quando ele não falar com você e, por favor, nada de se meter em assuntos de homens, estamos entendidas?

Limitei-me a balançar a cabeça concordando com relutância, e depositei um sorriso murcho. Estava cansada de tanto pensar em uma forma de me livrar daquele casamento, mas era em vão. Sabia que teria que fazer o sacrifício.

O que me deixava mais irritada era que ninguém queria saber se a mulher gostaria de se casar e formar uma família. Eu não queria ter filhos. Eu não queria cuidar do lar. Eu não queria dormir com um homem nojento, agarrando-me com suas mãos sujas. Já que eu não podia ir à Academia, será que pelo menos eu podia ser livre? O que há de errado em ser livre?

Ah! Como eu queria ter nascido homem!

Os homens também têm apenas uma escolha na vida que é entrar na Academia. Todos, sem exceção, ingressam na instituição. Não importa a posição hierárquica, a cor, a situação financeira. Todos os machos vão para a Academia do Zodíaco e todos sentem orgulho e prazer em fazer parte do local. Nunca escutei falar sobre um rapaz que não quisesse interagir com o ambiente, pois lá as portas se abrem e o sonho de liberdade torna-se realidade.

─ Vamos, querida ─ apressou-me vovó. ─ Seu noivo já deve estar a esperando na sala.

Bufei. Acompanhei minha mãe e minha avó até a sala de visitas, como se a fogueira me esperasse. Talvez eu não estaria tão tensa se estivesse indo para a execução. Acho que até estaria com um sorriso nos lábios de satisfação.

─ Ali está ela ─ disse o meu pai quando me viu. ─ Kotan, quero que conheça minha filha donzela, Soriah.

Eu estava com ímpetos de encará-lo nos olhos, mas achei melhor dançar conforme a música. Apenas inclinei levemente minha cabeça para o lado, como forma de cumprimento. Dobrei sutilmente meus joelhos, como forma de mostrar minha submissão.

─ Ela é muito bonita, senhor Fadir ─ falou o cavalheiro.

─ É sim ─ concordou meu pai com uma animação excepcional. ─ E sabe cuidar de uma casa como ninguém.

─ Parece que tem um corpo muito apropriado para gerar bons filhos ─ comentou uma voz masculina desconhecida.

Não havia percebido antes, mas na sala, os pais de Kotan também estavam presentes na pequena reunião matrimonial.

─ Oh, sim! ─ afirmou meu pai. ─ Nossa família tem bons genes para a procriação.

Comecei a mexer os meus dedos e a fechar os punhos com impaciência. Aquela conversa começava a me irritar.

─ Yirmina! ─ chamou meu pai à minha mãe. ─ Está tudo pronto para o jantar?

─ Sim, marido ─ garantiu, fitando o chão. ─ Já podemos nos servir.

Meu pai, como bom anfitrião, pediu-nos a todos para acompanhá-lo até a sala de jantar. Neste ínterim, pude observar melhor meu futuro marido. Era um cavalheiro alto e forte, de cabelos negros presos em um pequeno rabo de cavalo. Não consegui ver a cor de seus olhos, mas o rosto era menos severo do que a de seu pai. Ambos vestiam roupas roxas, deixando-me informada que eram do signo de Áries, a casa da ação, da impetuosidade e da impulsividade.

─ Como você está? ─ escutei Thotin murmurar quando não havia mais ninguém por perto.

─ O que você acha? ─ Fiz-lhe uma expressão antipática.

─ Vai ficar tudo bem, Soriah. Ele parece um cara legal. Tenho certeza que será um bom marido.

─ Então por que você não se casa com ele?

Dei-lhe as costas e fui me juntar aos outros. Não queria ter sido rude com meu irmão, mas estava cansada de escutar que tudo ficaria bem, quando, na verdade, era óbvio que não ficaria. Eu estava desgraçada pelo resto de minha vida.

─ Então, Soriah ─ ouvi Kotan falar comigo. Ele estava sentado a minha frente na grande mesa de jantar. ─, o que mais gosta de fazer? Bordar, cozinhar, cuidar de crianças?

Respirei fundo antes de responder. Sentia que a noite seria muito longa.

Estava prestes a responder à pergunta fintando Kotan nos olhos, mas recebi como advertência um chute de minha mãe, a qual se sentava ao meu lado na mesa e previa que eu faria uma bobagem.

Com os olhos direcionados ao meu prato, falei:

─ Sonhar.

Senti os olhos de meu pai queimarem minha pele e a surpresa dos outros presentes com a minha resposta.

Para o alívio de meus pais, Kotan começou a rir, diminuindo a tensão no ar.

─ É mesmo? E sonha com o quê?

─ Quer mesmo saber?

─ Claro que ele quer, Soriah ─ ralhou papai. ─ Responda logo.

Percebi que meu pai estava apreensivo com o que viria logo a seguir. Se eu pudesse ler sua mente, acho que ele pensava algo do tipo: Não fale nenhuma merda.

─ Sonho em ser livre ─ disse por fim. Sem nenhum pudor, fixei meu olhar sobre os olhos, agora pude enxergar, verdes de Kotan. O pai dele ficou espantado com minha atitude, enquanto o meu metralhava-me mentalmente. ─ Sonho em fazer o que eu quiser, sem ser repreendida por ninguém. Sonho com a igualdade e com o respeito.

─ Já chega, Soriah! ─ Meu pai me interrompeu, batendo com força seus punhos na mesa.

Ele estava prestes a esbofetear-me ─ como sempre ─, mas Kotan o impediu.

─ Não, por favor, senhor Fadir! ─ Todos o olharam atônitos, inclusive eu. ─ Gostei da rebeldia de sua filha. Desejo-me casar com ela o quanto antes. Será divertido domar esta égua brava.

Eu queria rebater sobre a égua braça. Quem aquele cretino pensava que era para me chamar assim?

No lugar da raiva, meu pai dera espaço para o sorriso abobalhado. Abraçou Kotan com carinho, agradecendo-o por levar-me longe de casa, poupando-o de minha presença insignificante.

Kotan encarou-me com um meio sorriso.

─ Tenho certeza que, com um pouco de trabalho, conseguirei deixá-la mansinha, senhorita Soriah.

Depositei-lhe um olhar de repulsa e me retirei da mesa abruptadamente. Meu pai queria me seguir para puxar-me pelos cabelos e obrigar-me a voltar ao jantar, porém, novamente, escutei Kotan afirmando que não era necessário, pois seus pais e ele estavam de partida.

Corri para meu quarto e lá me tranquei. Rezei aos deuses que Kotan sofresse um grave acidente no caminho para casa e morresse ao lado de seus queridos pais.

Comecei a chorar de raiva e, de certa forma, medo também se misturavam em minhas lágrimas. Não gostei do jeito que aquele imbecil falou sobre me domar. Previa muitos dias de sofrimento e grandes pancadarias em meu corpo.

Soriah! Sou eu, Thotin. Abra a porta, por favor.

Escutei meu irmão bater.

Destranquei a porta e o deixei entrar. Não precisei falar nada. Thotin me abraçou com carinho e deixou-me chorar em seu ombro amigo. Massageava meu cabelo e protegia-me, mesmo que por pouco tempo.

─ Oh, minha pequena Soriah ─ sussurrava. ─ Como posso deixá-la assim?

Thotin iria para a Academia no dia seguinte, logo pela manhã.

─ Estou perdida, Thotin ─ soluçava. ─ Perdida e desamparada.

─ Não fale isso, minha irmã. Eu sempre estarei ao seu lado.

─ Não prometa o que não pode cumprir ─ afastei-o com brutalidade. ─ Estou farta de ilusões, Thotin. A realidade está aí, e eu não consigo fazer nada para evitá-la.

Meu irmão queria me consolar, mas pedi a ele ir embora, pois precisava acordar bem cedo no dia seguinte. Não queria atrapalhar seu grande dia. Deixasse-me em paz com meus tormentos e minhas perturbações.

─ Não vai ao menos me dar um abraço de despedida? ─ Fez uma expressão triste.

Sorri para ele e fui abraçá-lo apertado, almejando nunca mais desgrudar de meu gêmeo querido.

─ Que os deuses iluminem seu caminho, Thotin ─ desejei de coração.

─ Que os deuses iluminem sua vida, Soriah.

Depositou um beijo caloroso em minha testa e partiu. Pensei quando voltaria a ver meu irmão novamente.

Joguei meu corpo cansado sobre a cama e comecei a chorar. Chorei tanto, que perdia minhas forças em cada lágrima que soltava.


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