Zodíaco: O 13º Signo escrita por Rodrigo Fregnani


Capítulo 1
Os Dezesseis Anos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem desse primeiro capítulo e voltem para ler o restante.



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Sentia o vento bater em meu rosto e bagunçar meus cabelos presos em uma trança mal feita. Meus olhos da cor da folha seca do outono miravam a montanha, cujas rochas abrigavam o local mais aguardado pelos varões das terras de Zodíaco: a Academia.

O céu estava incrivelmente estrelado aquela noite, uma junção sublime de pequenos brilhos decorando a imensidão negra. Gosto de imaginar que as estrelas estão me observando do mesmo jeito que eu as observo. Gosto de pensar que uma pertença a mim, como um amuleto da sorte ou um ser mítico que protege minha vida.

Meus devaneios foram interrompidos com a cantoria que surgia do salão principal de minha residência.

Thotin, meu irmão gêmeo, completava seus ansiosos dezesseis anos. Consequentemente, eu também aumentava mais uma casa unitária dos anos de minha primavera.

As mulheres não podem comemorar aniversários e muito menos se misturar nas festas. Apenas os homens celebram. Aliás, as mulheres não podem fazer absolutamente nada, exceto reproduzir mais varões e cuidar do lar.

Sem que ninguém notasse, fui espionar a festa de meu irmão gêmeo. Escondi-me em uma parede para poder fitar a bebedeira dos homens e o desconforto de Thotin diante de tanta atenção voltada a ele.

─ Soriah, o que pensa que está fazendo? ─ escutei uma voz familiar sussurrar com desgosto.

Minha mãe puxou-me pelos cabelos com força, direcionando-me à cozinha, lugar este destinado às mulheres.

─ O que fazia espionando os homens, Soriah? ─ repreendeu-me com a voz mais elevada.

─ Apenas observando.

Minha mãe esbofeteou-me no rosto, deixando minha bochecha esquerda queimando.

─ Mulheres não vão às festas! E muito menos espiam os homens!

Eu apenas massageei minha face dolorida. Já estava acostumada a levar pancadas no rosto, visto que vivia quebrando as regras destinadas às mulheres.

As regras diziam para uma mulher nunca fitar um homem nos olhos. Eu o fazia e era esbofeteada. Nunca dirigir a palavra a um cavalheiro, exceto se ele o fizesse. Eu falava com os homens nas ruas ou em casa à convite de meu pai, e recebia um tapa no rosto de cada um. Uma mulher não pode fazer perguntas demais, principalmente sobre assuntos de homens. Eu vivia fazendo questionamentos e, como sempre, levava uma mãozada na bochecha.

─ Vá para o seu quarto, Soriah! ─ bufou minha mãe. ─ Só saia de lá amanhã.

Normalmente, eu sempre tenho uma frase bem mal-educada para estes momentos, mas preferi apenas assenti e ir para meu aposento.

A festa de Thotin era uma comemoração pelo significado da idade dezesseis anos. Quando um rapaz completa tal somatória de vida, significa que ele já está preparado para ingressar na Academia do Zodíaco. É na Academia que a vida do menino se transforma.

O jovem, antes de fazer parte da instituição, tem seu inicial aprendizado com seu próprio pai. Desde o momento que o menino põe-se a falar, suas aulas de alfabetização começam. Após aprender ler e escrever, o pai ensina ao seu filho latim e grego. Com mais um avançar do progresso intelecto do garoto, o pai-professor ensina Astrologia, Astronomia, História, Geografia, Matemática, Ciências e Literatura.

Este é o inicial processo para a preparação.

Aos dezesseis anos, quando o rapaz entra na Academia do Zodíaco, recebe mais informações e ensinamentos, aumentando seu conhecimento acerca do mundo. É lá que o jovem descobre a qual signo deverá seguir. Noventa por cento dos rapazes seguem o mesmo signo do Zodíaco do pai.

Fadir, meu pai, segue o signo de Leão: honra, egocentrismo e coragem. O signo que rege o coração e a parte superior das costas. Que possui como pedra protetora o rubi, por isso homens deste signo usam apenas vestimentas da cor vermelha. Portanto, muito provavelmente meu irmão seguirá a mesma casa do Zodíaco.

Uma mulher, por sua vez, ao completar dezesseis anos, é obrigada a casar-se com o primeiro pretendente que o pai lhe arranjar. São homens dez, quinze, vinte, trinta anos mais velhos do que a donzela, transformando-a em esposa e mais uma reprodutora de filhos, em especial, varões. A sociedade despreza as mulheres, tanto que os pais não festejam com o nascimento de uma menina. Desde o primeiro dia de vida, uma garota recebe o olhar desaprovador dos homens.

Por isso detesto ser mulher. Brigo diariamente com os deuses por não ter nascido varão igual ao meu irmão. Somos gêmeos, bem que poderíamos ter nascido com o mesmo sexo.

Mas não é só pelo machismo social que odeio meu gênero. Queria ser um garoto para, ao invés de estar prestes a me casar com um ancião, entrar na Academia do Zodíaco. Meu sonho é estudar e aprender mais sobre o mundo. Meu anseio é descobrir a qual casa pertenço e por ela lutar.

─ Soriah?

Thotin havia batido na porta de meu quarto, entrando logo em seguida. Eu estava deitada sobre minha cama e, assim que o vi, levantei-me preguiçosamente.

─ O que faz aqui, Thotin? ─ perguntei. ─ Vai perder a sua festa.

─ Estão tão bêbados que não perceberão minha ausência por um tempo ─ garantiu-me. Fitou minha bochecha, apontando o indicador a ela. ─ O que fez dessa vez?

─ O de sempre ─ dei de ombros. ─ Mais uma regra quebrada.

─ Você não toma jeito, não é, Soriah? ─ riu. ─ Daqui a pouco ficará sem bochechas.

Eu ri também. Thotin sempre me dizia isso.

Eu não deveria falar com meu irmão, já que ele é homem. Ele não deveria estar em meu quarto e eu não podia olhá-lo fixamente em seus olhos da cor do mel. Porém, Thotin e eu éramos muito unidos. Talvez o fato de sermos gêmeos colaborasse bastante. Mas a verdade é que meu irmão não me tratava com desigualdade e nem me maltratava. Eu podia falar e fazer o que quisesse em sua presença, pois sabia que suas mãos não se encontrariam com minha face.

─ Feliz? ─ perguntei, referindo-me a sua partida à Academia em poucos dias.

─ Com medo ─ confessou-me.

─ Medo? Por quê?

─ Ficarei longe da família por dez anos, Soriah.

─ Queria eu ficar longe por dez anos.

─ Você fala cada bobagem! ─ repreendeu-me, arqueando a sobrancelha.

Suspirou, ficou em silêncio por um tempo, então continuou:

─ Vou sentir sua falta.

─ Eu também vou, mas sei que estará em um lugar bom, então não ficarei preocupada.

─ Você também vai para um lugar bom, Soriah. Tenho certeza que papai lhe arranjará um bom marido.

─ Não quero falar sobre esse assunto, Thotin, por favor!

Ele assentiu. Meu irmão sabia minha aversão sobre o casamento.

Observei-o. Ele trajava uma roupa branca, igual a minha. Esta cor era destinada às mulheres virgens e aos homens antes de entrarem na Academia do Zodíaco e seguirem o signo que lhe for destinado.

Meu irmão estava prestes a mudar sua cor, talvez para o vermelho, como de meu pai.

Eu, infelizmente, também mudaria. Do branco iria para o dourado, a cor das mulheres casadas. Nunca odiei tanto a cor do ouro!

─ Eu trouxe para você.

Thotin tirou de seu bolso um docinho de uva, típico das festas de aniversário.

─ Obrigada ─ falei, depositando em minha boca o sabor mais agradável do mundo.

─ Melhor eu ir, antes que percebam que sumi ─ informou-me, rumando à porta. ─ Boa noite, Soriah!

─ Boa noite, Thotin.

Ficara sozinha em meu quarto, com o vestígio do gosto do doce de uva na boca, e com o perfume de meu irmão no ar.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Deixem seus comentários, por favor. Esse humilde autor agradece muito.



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