Crônicas dos Elementais escrita por btfriend


Capítulo 6
Explicações




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– Era exatamente assim! - exclamou Tyler surpreso ao ver o objeto que sua mãe tinha acabado de lhe mostrar.

Era um amuleto que aparentava ser do mesmo material que Elly tinha lhe mostrado em seu sonho e o mesmo falcão que tinha visto. Estava de frente, com as asas abertas, como se tivesse planando. A tintura amarronzada ia clareando aos poucos, e, até mesmo, as pequenas manchas que tinham na ave, podiam ser vista no objeto. Nos olhos, a mesma pedra incolor estava os substituindo.

Tyler estava em uma mistura de incredulidade e curiosidade. Ainda estava tentando entender como as duas coisas podiam estar conectadas e olhava para sua mãe em busca de alguma explicação que pudesse esclarecer seus questionamentos.

– Pois bem, o que você tem a perguntar, meu filho? – perguntou ainda com receio da possíveis perguntas e reações que o filho poderia ter.

– Gostaria de saber tudo. - percebeu que a expressão de sua mãe mudou sem conseguir iniciar e elaborar algum tipo de resposta. - Mas, primeiro, de onde eles vieram?

– É um presente. - deu uma resposta curta e viu que seu filho esperava por algo mais. - Dado pelo seu pai assim que você nasceu.

Sylvie notou que Tyler tinha compreendido onde ela queria chegar. Estava adiando ter essa conversa, mas não tinha como escapar. Não era como se ela tivesse esconder a história, mas também nunca havia sido questionada sobre e nem teve motivos para tocar no assunto. Só que, naquele momento, a situação tinha mudado. Era questão de necessidade.

– Acho que você deve saber dos acontecimentos desde o início. Até mesmo os que você já tem um pouco de noção. Qualquer dúvida, é só me interromper.

– Tudo bem. - Tyler assentiu ansiando por respostas.

– Bem, como você já sabe, eu sou de uma vila de camponeses chamada Valmees. A mesma vila onde você nasceu. - Sylvie viu quando seu filho balançou a cabeça em concordância. - Meus pais ainda moram lá e tomam conta de um albergue que também serve de repouso para caçadores feridos. A idade já não os permite de fazer viagens de longa distância e a segurança e tranquilidade daqui se transformou em comodidade para mim e, por isso, quase não temos mais contato a não ser por algumas cartas uma vez ou outra.

Nada naquela narrativa era novidade para o garoto. Já tinha visto as cartas vindas de sua avó antes e pedido para visitá-la, mas sua mãe sempre lhe dizia que seria perigoso atravessar a floresta com duas crianças.

– Sim, mãe. Isso tudo eu já sabia! - retrucou. - Que você morava em Valmees, que trabalhava como caçadora...

– Isso! É a partir daí que continuaremos. - Sylvie interrompeu o filho antes que ele adicionasse outra informação à frase e ela perdendo a linha de raciocínio. - Na vila de Valmees não existem muitas opções de emprego, então a maioria das pessoas se junta ao grupo de caçadores e isso ajuda bastante a proteger a vila de constante ameaças de bestas. Mas isso não era minha primeira opção. - pela primeira desde que começou a narrativa ela notou o filho mais compenetrado no que ela falava. - Assim como a maioria dos jovens, eu gostaria de sair para conhecer o mundo, mas como minha família sempre foi muito antiquada, eles nunca iriam me deixar fazer isso sozinha. Logo, resolvi ser uma caçadora como alternativa para isso.

– E você se arrepende dessa escolha?

– Não me entenda errado, por favor. Na época eu posso ter utilizado isso como artifício para conseguir o que eu realmente queria, mas sou extremamente grata pelas coisas que isso me proporcionou. - respondeu rapidamente, querendo mostrar convicção. - Aprendi bastante, conheci muitas pessoas e lugares, do jeito que planejava. Além do mais, se não fosse isso, talvez eu não viesse a conhecer seu pai e você não estaria aqui.

– Já que chegou nesse assunto, pode pular algumas coisas e continuar a partir daí. - rebateu Tyler apressado para saber a conclusão disso tudo.

– Como caçadores, recebíamos pedido de ajuda de diversas localidades e um desses foi para um rei. Estavam tendo problemas com uma criatura e deveríamos trabalhar junto ao guerreiros reais. - fez uma expressão de desprezo. - Confesso que na época isso não pareceu uma boa ideia. Nós, caçadores, tínhamos um jeito de fazer as coisas enquanto eles, os guerreiros, tinham o jeito deles. Seu pai era um desses guerreiros. Não era o líder, mas era um dos melhores ali.

– Então foi durante essa tal caçada que vocês se conheceram?

– Na verdade, não. Como eu disse, os jeitos de executar as coisas eram diferentes, então acabou que cada um fez sua parte do seu próprio jeito, apenas com um objetivo em comum, que era derrotar a criatura. Não foi fácil, assumo. Mas, no final, com alguns ossos quebrados, deu tudo certo. - permitiu-se dar uma risada. - Depois que concluímos o trabalho, o rei deu uma festa e nos presenteou com o título de Caçadores do Rei. Continuamos morando em Valmees, mas começamos a receber pedidos mais frequentes relacionado à caças naquela região.

A narrativa de como seus pais se conheceram estava levando muito tempo para ser contada. Tyler queria interromper a mãe e pedir para ela chegar logo no objetivo daquilo, porém, pensava que não sabia quando teria outra conversa daquelas, então era melhor aproveitar e deixar a mãe falar tudo o que ela tinha a dizer.

– Quando passarmos a ir a certos locais com maior frequência, começamos a perceber o nosso redor e alguns rostos se tornam familiares, e nos permitimos baixar a guarda um pouco. E foi assim que conheci seu pai. - dessa forma, Sylvie ganhou atenção total de seu filho. - Em uma das festas que o rei dava após algum caça realizada com sucesso, seu pai se aproximou e começamos a conversar de assuntos variados.

– E como ele era? - Tyler perguntou.

– Nossa! Faz muito tempo. - tentou buscar alguma imagem de referência na sua mente. - Mas, pensando bem, você parece muito com ele.

Tyler absorveu essas palavras e rapidamente lembrou-se de Elly. Se o que sua mãe estava lhe dizendo, em relação a aparência do pai dele, era verdade, então imaginou que Elly já suspeitava de quem ele era no momento em que o viu pela primeira vez. Agora ele queria encontrá-la novamente para poder fazer mais perguntas.

– Conforme eu voltava para novas missões, seu pai me recebia com um sorriso de rosto. Como se estivesse esperando e desejando novas caçadas, apenas para me ver. - continuou Sylvie lembrando dos velhos tempos. - E, depois de um tempo engravidei de você e nos casamos. Não queríamos abandonar nossos trabalhos. Gostávamos do que fazíamos. Então optamos por cada ficar com estava, e tentar conviver a distância. Estava dando certo. Durante a gravidez, eu tive que largar o trabalho como caçadora e ele vinha me visitar constantemente, sob autorização do rei.

– Finalmente eu apareci nessa história. Já estava começando a me perguntar quanto mais faltava. - brincou Tyler. - Continue.

– Assim que você nasceu, ele te presenteou com esse amuleto. - Sylvie viu que o filho começou a olhar o objeto com os outros olhos e com mais curiosidade. - Não sei ao certo para que serve. Ele disse que lhe traria boa sorte e proteção. Nada além disso.

– E por que você nunca me mostrou isso antes? - retrucou Tyler um pouco frustrado.

– Continuarei a história e você saberá. - explicou a mãe. - Depois de alguns meses, eu retomei o meu trabalho. Seu pai continua vindo visitá-lo quando podia, e eu também fazia visita a eles quando nossos trabalhos coincidiam. E, meses mais tarde, engravidei pela segunda vez. Portanto, mais uma vez, tive que me afastar. Ainda assim, ele sempre ia ver como eu estava e se precisava de alguma coisa, e quando seu irmão nasceu, repetiu o feito, e deu um amuleto para ele também. - e mostrou o segundo objeto que Tyler já suspeitava mas, ainda, não sabia da existência.

Não era igual ao que pertencia a Tyler e muito menos igual ao que Elly havia lhe mostrado, mas certamente também era um falcão com a mesma pedra incolor nos olhos. Estava de perfil, numa posição predatória, com asas abertas, e podia-se notar as garras prontas para pegar algo. Estava feito um tom cinza escuro com uma listra branca na parte da cabeça, e algumas outras listras de mesma tonalidade ocorrendo na longa cauda. Na ponta do que seriam as penas das asas, também era possível notar pigmentos brancos.

Tyler examinou o segundo amuleto por alguns instantes e até mesmo tentou comparar com o que havia sido dado a ele, mas não encontrou grandes semelhanças. Eram aves distintas, ao que parecia. Desenvolveu o que pertencia a seu irmão e continuou segurando o próprio. Pediu a mãe que prosseguisse com o que estava lhe contando.

– Com duas crianças pequenas, levou um tempo para eu aceitar que minha carreira de caçadora estava no fim. A cada caçada, eu corria o risco de não voltar e isso era peso que eu carregava. Não daria para eu continuar se ficasse com esse pensamento receoso. Ao mesmo tempo, não sabia se iria conseguir permanecer em Valmees e ficar observando outros fazendo o meu trabalho. Não era justo comigo. - viu o olhar de compreensão vindo de Tyler. - Falei com seu pai e decidimos, então, que moraríamos junto com ele. E foi assim durante algum tempo.

– Mas se chegaram a essa conclusão, o que aconteceu para vocês se separarem?

– Guerras. O grande motivo para qual muitas pessoas resolvem vir para Awalles. - Sylvie deu um suspiro. - Certo dia, o rei recebeu uma ameaça de invasão e seu pai achou melhor nos mudarmos para um lugar seguro. E foi assim que decidimos por Awalles. Além da proteção, teríamos uma proximidade maior com Valmees, caso precisasse de algum tipo de suporte familiar. O que nunca ocorreu. Ficamos aqui e seu pai foi para a guerra. Ganhou, mas ficou muito ferido. Quando recebi a notícia do estado de seu pai fiquei feliz, mas ao mesmo tempo receosa. E isso foi motivo da nossa primeira discussão.

– Como assim? - perguntou confuso.

– O motivo de eu largar a vida de caçadora estava se transformando em medo de perder o seu pai para a vida de guerreiro. E eu não estava aguentando isso. Seu pai era um homem muito orgulhoso de seu trabalho, e não havia nada que pudesse fazê-lo largar. Após a guerra, ele até mesmo foi elevado a mestre de estratégias. Assim que se recuperou de seus ferimentos, na primeira visita que veio nos fazer, contei sobre o meu medo. Ele foi bastante compreensivo mas, ao mesmo tempo, disse que não pretendia deixar de ser um guerreiro do rei. Eu não ia aguentar ser aquele tipo de esposa que fica esperando notícias do marido após a guerra e também sabia que não era direito meu pedir para desistir de sua carreira. - pausou por uns segundos. - E, naquele dia, nos separamos.

– E desde então você nunca mais o viu?

– Pelo contrário. Mesmo separados, ele ainda vinha visitar vocês. Alternava entre cartas e visitas. Sempre perguntando como você e seu irmão estavam. Porém com o tempo, a frequência das visitas foi diminuindo, ficando apenas com as cartas. E depois, até mesmo as cartas foram cessando. Até que um dia, ele mandou uma carta notificando que seria seu último contato.

– Você tem essa carta? - perguntou curioso.

– Não. Desculpe. - Sylvie respondeu envergonhada. - Acabei jogando ela fora, porém posso resumir o que dizia, se assim você o quiser.

– É claro que eu quero saber as últimas palavras que meu pai mandou!

– Ele disse que havia conhecido uma nova mulher e que a mesma estava grávida. Pediu para que eu guardasse os amuletos que ele havia dado a vocês em um lugar seguro, e só viesse a dá-los novamente caso vocês resolvessem sair da cidade e que eu não questionasse essa decisão pois era para o bem de vocês. Prosseguiu dizendo que sabia do risco, mas que era melhor se manter afastado por algum tempo. Esperava que vocês estivessem bem e que confiava na educação que eu daria a vocês. Porém, se um dia quisessem sair, que primeiro procurassem a irmã dele, Daria, na cidade de Hasgium. E esse foi o último contato que tivemos.

– Entendo. - respondeu Tyler tentando mostrar que compreendia, mas por dentro não conseguia entender como um pai achava melhor se afastar de seus filhos. - Mãe, falta uma coisa. Qual o nome dele?

– Gustav. - respondeu Sylvie. - Infelizmente acho que não tenho muito mais o que falar dele.

– Gostaria de saber mais sobre ele. Queria poder falar com Elly novamente.

– Bom, você pode ter certeza que aqui você não vai conseguir isso.

– Como você pode ter tanta certeza assim?

– Simples. Você disse que ela tem o poder de entrar em sonhos. Isso não pode ser natural. Só pode ser magia e Awalles bloqueia isso!

Sylvie sabia o que essa resposta podia provocar no filho, e já estava temerosa. Imaginava que o filho fosse ter a ideia de dormir fora dos limites da cidade, para poder tentar entrar em contato com a menina. Não queria pensar nessa hipótese. Não agora diante do ocorrido na floresta.

– Mãe... - chamou Tyler, tirando Sylvie de seus próprios pensamentos. - Sequestraram minha amiga. Descobri que tenho uma irmã que está aprisionada. E, meu pai, supostamente está desaparecido. Ganhei muita informação e fui privado de muita coisa em pouco tempo. - disse um pouco cabisbaixo.

Sylvie não soube como responder e sentiu-se mal com isso. Não sabia como confortar o filho depois de um conjunto de acontecimentos pelo qual ele estava passando. E, um silêncio começava a tomar conta do recinto.

– Vou ver como Clair está. - anunciou Tyler. - Quero conversar com ela a respeito dos ocorridos. E, preciso espairecer um pouco.

Tyler deu um abraço em sua mãe como agradecimento por, enfim, ela ter lhe contado o que há tempos guardava. Pegou o amuleto e guardou-o consigo. Depois deixou a sua casa, com sua mãe observando enquanto ele partia. Ela tinha certeza que ele não tinha se contentado com o que ela havia falado, mas não sabia o que ele iria fazer com isso.


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