Crônicas dos Elementais escrita por btfriend


Capítulo 5
Relatos




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A escuridão já dava vez a pequenos feixes de luz que invadiam o quarto atravessando os pequenos buracos provenientes da cortina. Esses feixes eram os que costumavam acordar Tyler todos os dias quando tinha que levantar cedo para ir à escola. Sua mãe saía cedo para o trabalho, porém não antes de deixar o café da manhã servido à mesa, deixando para ele a única tarefa de levantar e acordar seu irmão para não se atrasarem. Contudo, aquele dia era um dia atípico.

Tyler despertava aos poucos. Seus olhos, ainda sonolentos, abriam-se vagarosamente. Colocou o braço sobre os olhos para evitar que a claridade chegasse diretamente a eles. Ainda confuso, sentou-se na beira da cama e notou que no leito ao lado do seu não estava seu irmão como de costume, e, sim, a sua a mãe. Não se recordava de ter retornado à sua casa e, muito menos, de ter ido deitar, porém lembrava-se de um sonho em particular.

Apesar de estar em um ambiente familiar a ele, estava estranhando todo a sequência dos fatos. Ou até mesmo a ausência deles. Esperava que alguém pudesse explicar o que havia acontecido. A última coisa que lembrava era de estar na floresta com Amber, Clair e um estranho. Pensou, então, que talvez fosse melhor ir direto encontrar as duas para buscar as respostas.

Tentou levantar sem fazer movimentos bruscos para não acordar a sua mãe. Precisava trocar de roupa, pois ainda estava com a última peça de roupa que se lembrava de ter vestido. Contudo, seus esforços foram em vão. Mal havia chegado ao guarda-roupa quando sua mãe despertou.

– Tyler, você está bem? - disse Sylvie emocionada, com lágrimas de felicidade se formando em seus olhos, enquanto ela levantava e ia em direção ao filho, envolvendo-o em seus braços.

– Estou bem, eu acho. - Tyler sabia que havia lacunas a serem preenchidas na sua memória, mas não estava entendendo o motivo daquela reação inesperada de sua mãe. - O que aconteceu, mãe?

– Você não lembra? Você poderia estar desaparecido! - conforme ia falando, o tom de sua voz ia diminuindo, pensando na possibilidade de que isso realmente poderia acontecer.

– Desaparecido? Como assim?

As palavras de sua mãe, embora demonstrassem um tom de preocupação, não estavam fazendo sentido para ele. Do jeito que ela estava falando, parecia mesmo que existia essa possibilidade, mas ele não sabia o porque dessa possibilidade sequer existir.

– Você realmente não sei lembra... - Sylvie percebeu a expressão de confusão na face do filho. - Talvez seja melhor você despertar por completo e conversaremos durante o café da manhã. Você deve estar a par dos fatos antes de sair por aí.

Sylvie saiu do quarto, deixando o filho sozinho. Ele ainda estava querendo entender tudo aquilo, mas estava certo que algo grave tinha acontecido para deixar sua mãe naquele estado. Só restava saber o que era.

Tyler não demorou muito para sair do quarto e foi tomar banho. Não conseguiu relaxar, e deixou-se tomar por pensamentos e ideias do possível ocorrido. Aquele buraco na sua memória não estava fazendo sentido. Não estava conformado de não estar conseguindo lembrar de algo que, aparentemente, deveria ser importante.

Após terminar o banho, Tyler desceu até a cozinha para tomar o café da manhã. Alguns pães, uma jarra com leite, e uma vasilha de geleia de frutas encontravam-se sobre a mesa. A tensão não estava contribuindo para seu apetite, mas, ainda assim, pegou uma fatia de pão e espalhou um pouco de geleia. Mal terminou de se servir com um pouco de leite quando sua mãe apareceu e juntou-se a ele à mesa.

O silêncio tomou conta naquele momento. Sylvie não sabia como passar as notícias para o filho, e Tyler não sabia o que perguntar a sua mãe ou até mesmo se deveria. Terminaram a refeição sem trocar palavras, e Tyler já iria se retirar para ver suas companheiras, quando se lembrou do que sua mãe havia lhe dito.

– Mãe,... - relutou em continuar, porém persistiu. - o que tenho que saber?

– Filho, o que irei te contar foi contado por sua amiga, Clair, e preciso que mantenha a calma.

– Não está ajudando muito. - retrucou.

– Ela nos contou que vocês encontraram um estranho...

– Sim, Artie. - interrompeu ele. - Salvamos ele de um porco selvagem e depois comemos junto.

– Exatamente. - assentiu Sylvie. - Talvez não devessem ter o feito. Vocês foram envenenados. Não sei se envenenados seja a palavra correta, mas algo foi colocado na comida de vocês para que ficassem desacordados.

– O que? - Tyler ficou espantado, mas entendeu que talvez fosse por isso que não lembrasse das coisas. - Elas estão bem?

– Clair está bem. Além da comida alterada, ela disse que o rapaz ainda jogou algo nela. - fez uma pausa breve e prosseguiu. - Mas você tem que saber que Amber foi sequestrada.

A notícia pegou Tyler desprevenido. Ele sentia que podia ter acontecido algo pelo jeito estranho que a mãe estava agindo, mas não esperava que fosse algo grave. Infelizmente suas esperanças não foram correspondidas.

– E como estão os pais dela? - perguntou Tyler.

– Eles estavam esperando fossem ficarem conscientes para ver se sabiam de algo. Clair já contou a versão dela. Tem certeza que não lembra de nada?

– Lembro de estar com todos até a hora que comemos. Depois é como se tudo apagasse de repente e virasse um sonho.

– Como assim? - questionou Sylvie estranhando a resposta do filho.

– Alguém me visitou enquanto eu estava desacordado. - iniciou. - Uma menina procurando pelo seu pai e por ajuda.

– Ela simplesmente apareceu nos seus sonhos? Você conhecia ela?

– Não, eu não a conheço. Mas ela disse que podia entrar nos sonhos das pessoas, mesmo que não soubesse como havia parado no meu.

– Talvez tenha sido somente um sonho. Uma pessoa que sua imaginação criou.

– É, pode ser. Mas não consigo tirar a imagem daquele falcão me observando.

Sylvie começou a dar mais atenção à história do filho e Tyler percebeu que algo tinha feito seu sonho ganhar mais importância para sua mãe. Resolveu, então, prosseguir mesmo que ela não tivesse pedido por mais explicações.

– Antes da menina aparecer, tinha um falcão. Ele ficava um olhar intenso e eu não conseguia desviar meus olhos dele. No instante que Elly apareceu, o animal sumiu. Do nada.

– Elly? Esse era o nome da menina? - perguntou Sylvie.

– Isso, isso! Conhece alguém com esse nome? - retrucou curioso.

– Não que eu me lembre. - estava tentando achar sentindo no que o filho relatava. -Continue.

– E no meio da explicação, ela disse que o falcão era símbolo da família dela. Achei muito coincidência, mas a ave que eu tinha visto, não era a que ela disse que a representava.

– Como você sabe disso?

– Ela me mostrou um amuleto muito semelhante ao que Amber tem, porém ao invés de um lobo, era um falcão. Parece que o pai dela deu um para ela e um para a irmã assim que nasceram.

Sylvie adotou uma expressão mais séria e um pouco preocupada. Percebeu que o sonho do filho não parecia tão acidental assim.

– Muitas coincidências estão no seu sonho, filho. E quando as coincidências são muitas, talvez não sejam tão coincidências assim.

– O que você quer dizer com isso, mãe?

– Estou querendo dizer que nossa conversa vai muito além disso. Mas, primeiro, tenho que lhe mostrar algo.

Tyler ficou ali, apreensivo e curioso, enquanto sua mãe deixava o cômodo e se dirigia para o quarto dela. Não sabia o que ela queria lhe mostrar, mas ao que parecia, tinha relação com o que ele havia falado e sonhado.


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