Crônicas dos Elementais escrita por btfriend


Capítulo 4
Awalles




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Awalles era uma cidade protegida de qualquer influência mágica não autorizada. Era habitada, em sua grande maioria, por refugiados de batalhas, fugitivos e imigrantes. Poucos eram os nativos daquele lugar. Sua população majoritária era formada por adultos e idosos. Não era de costume possuir muitos jovens, pois quando atingiam a faixa da maioridade, realizavam o desejo de deixar a cidade.

Era comum em Awalles, os filhos saírem querendo entender melhor o que havia fora das muralhas da cidade. Um ato para provar para si próprio do que era capaz e de adquirir conhecimento. Os pais compreendiam, apesar de ficarem um pouco temerosos e apreensivos, e sempre era possível contemplar um sorriso em seus rostos no momento em que recebiam notícias de seus filhos.

O fato da cidade não oferecer muitas oportunidades de trabalho também influenciava em tal escolha. A cidade era pequena, e dentro das muralhas que lhe cercavam, podiam se encontrar pequenas lojas de roupas e acessórios, mercados, uma escola, uma pequena praça central, propriedades rurais, um ferreiro e várias residências, dentre elas a do oráculo.

O oráculo era a única pessoa da cidade com autonomia de usar magia, pois utilizava a mesma para ajudar e aconselhar os moradores, em sua maioria, jovens que gostariam de sair da cidade quando fosse possível, com o rumo de suas vidas. Sua magia também era o que sustentava o cristal central que desabilitava a propagação de qualquer energia mágica que não fosse dele.

O cargo de oráculo era hereditário. Porém, o sucessor só passava a ter contato com a mágica após a morte de seu progenitor. Não havia distinção de sexos. Enquanto o oráculo fosse vivo, o seu possível sucessor passava por longas horas de estudos e treinamentos espirituais, e por fim, participava de um ritual de passagem para poder ser reconhecido, enfim, como o próximo guardião.

A cidade não possuía um representante de poder. Não existiam leis propriamente outorgadas. A convivência pacífica dos moradores era notável, pois todos estavam ali justamente para evitar qualquer tipo de conflito, o que era bastante comum fora de Awalles.

O cristal protetor encontrava-se acima da praça central. Formava um escudo invisível que tornava impossível a invasão de qualquer criatura mística e bloqueava qualquer habilidade presente em seus habitantes.

Era uma cidade auto sustentável, logo, não possuía relações comerciais com qualquer outra cidade do continente. Também não recebia turistas com muita frequência. Os poucos forasteiros que ousavam pisar nos territórios de Awalles, eram mensageiros de outras cidades que informavam de possíveis catástrofes, eventos importantes, ou até mesmo oportunidades de trabalho fora da cidade.

Os habitantes sabiam que dentro da cidade podiam encontrar proteção contra a maioria das coisas, porém se ousassem sair, não havia garantia de mais nada. Estariam desprotegidos como em qualquer outro lugar. Era um risco que correriam. Um risco, que Sylvie sentiu, naquele dia, que poderia estar correndo.

Sylvie era mãe solteira. Havia se mudado para Awalles quando Tyler estava com quatro anos, e seu filho mais novo, Trent, estava com dois anos. Assim que chegou, foi acolhida e conseguiu emprego como professora na escola local. Era magra e tinha quase a mesma altura que seu filho mais velho. Seus cabelos levemente ondulados, castanhos avermelhados, eram cortados um palmo abaixo do ombro. Seus rostos possuíam traços finos, com olhos castanhos, nariz fino e poucas sardas ocorrendo pelas suas maçãs do rosto.

Ela sabia que seu filho, Tyler, tinha costume de ir para a floresta treinar com suas duas amigas, porém não costumava estar fora de casa quando a noite caía. Se pretendesse chegar mais tarde, avisava com antecedência. E, naquele dia, tinha sido diferente. Ele ainda não estava em casa e nem ao menos tinha dado algum recado. Nos pensamentos de Sylvie, talvez ele pudesse ter prolongado o treinamento com o pai de Amber ou até mesmo ido à loja de antiguidades da mãe de Clair e estar ajudando com alguma coisa. Não queria ficar pensando no pior.

Qualquer tipo de pensamento que estava passando pela sua cabeça naquele momento, tinha sido interrompido, pois uma batida na porta da sua casa a fez largar tudo o que estava fazendo e ir, rapidamente, ver quem era.

Ao abrir porta, Sylvie ficou sem palavras. Se tinha alguma sensação ruim, ela havia sido confirmada naquele instante. Em pé, paradas a sua frente estavam Heather e Mary Ann, com um semblantes de preocupação estampados no rosto.

Mary Ann, mãe de Clair, era menor do que ela. Ainda assim, as semelhanças entre as duas eram grandes. A pele branca, os cabelos escuros e, até mesmo os traços faciais. Não havia como negar que as duas eram mãe e filha. Como seu marido viajava bastante com seu filho mais velho e Clarice era quem ficava de companhia, ela assumia uma postura mais defensora com a filha em certas ocasiões e sentia-se responsável por qualquer coisa que acontecesse.

Heather, mãe de Amber, era a maior das três. Era dona de um rosto arredondado com feições um pouco brutas, com um corpo esbelto. Sua pele era morena, igual a de sua filha. Seus olhos eram escuros, tais como seus cabelos, que desciam poucos milímetros abaixo do ombro. Era dona de casa e procurava auxiliar o marido na loja de armas, caso fosse requisitada. Heather não tinha outros filhos, o que mantinha sua cabeça sempre focada em Amber. Então, saber que algo poderia ter acontecido com a filha, era algo que ela gostaria de nem ter que pensar a respeito.

– Boa noite, Sylvie! - disse Heather notando a expressão não muito alegre da mãe de Tyler.

– Pelo seu jeito, eu já imagino a resposta, mas, por acaso nossas filhas estão aí? - perguntou Mary Ann aflita.

– Eu pensava que meu filho estava com vocês! Afinal ele sempre está na casa de alguma de vocês, não é mesmo?

Um silêncio profundo ficou entre as três mães. A dor de não saber onde seus filhos estavam as consumia, e infelizmente não sabiam o que fazer.

– Como você mesma disse, eles sempre estão na minha casa ou na de Heather, por isso fui lá primeiramente e minha preocupação aumentou quando vi que não estavam.

– Mas, e agora? O que vamos fazer? - perguntou Sylvie desesperada.

– Imagino que eles não tenham voltado da floresta. Assim que Mary Ann apareceu lá em casa procurando por Clair, meu marido reuniu alguns homens e foram procurá-los fora da cidade.

– Enquanto isso ficaremos aqui paradas? - indagou a mãe de Tyler.

– Eles não devem estar muito longe. - começou Mary Ann. - Pelo que Clair me contava, eles sempre ficavam em uma clareira aqui perto.

– Além do mais, não creio que seriamos de muita ajuda. Não conhecemos a floresta. Arrisco até em dizer que nossos filhos podem a conhecer melhor do que nós. - respondeu Heather.

– O problema não é saber onde eles estão e sim se algo aconteceu para que eles não chegassem em casa! - Sylvie estava nervosa com toda aquela situação. - Não vou conseguir ficar esperando aqui. Vou pelo menos aguardar na entrada da cidade.

As duas outras mães assentiram e concordaram em fazer o mesmo. Ficar ali discutindo não levaria a nada. E, por mais que ainda não tivessem notícias, estavam otimistas que os filhos seriam encontrados a salvo.

As três andavam em ritmo rápido, numa caminhada silenciosa. Apesar dos filhos serem amigos, elas não tinha muito contato umas com as outras. Porém, tinham contato com os filhos de cada uma, e isso ajudava a partilhar a aflição que sentiam.

Não foi preciso chegarem à entrada da cidade para notar que alguns homens estavam carregando jovens sobre seus ombros. Porém só conseguiam visualizar dois carregando. Estavam na esperança que o terceiro estivesse caminhando sozinho.

Essa esperança foi finalizada quando Heather avistou seu marido, Byron, cabisbaixo, sendo consolado por outra pessoa. Ela caiu de joelhos, em prantos, entendendo a situação. Mary Ann e Sylvie não sabiam se corriam para ver seus filhos ou tentavam consolá-la.

Os homens perceberam a presença das mães e se apressaram para levar os jovens até elas. Enquanto isso, Byron viu sua esposa no chão e envolveu-a em seus braços, tentando consolá-la.

– O que foi que aconteceu? Onde está ela? - disse Heather soluçando.

– Não tenho certeza do que aconteceu. Eles estavam em algum acampamento todo destruído e não havia sinais da nossa filha. - respondeu Byron.

– E agora? O que faremos?

– Detesto ter que dizer isso, mas para saber por onde começar, temos que esperar eles acordarem.

Byron e Heather ficaram ali observando as duas mães, ainda preocupadas com o estado dos filhos, porém aliviadas de estarem vivos e ali com elas. Porém desejavam eles estivessem compartilhando da mesma alegria que elas. Esperavam que isso possível em breve. Enquanto isso, só podiam esperar.


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