Crônicas dos Elementais escrita por btfriend


Capítulo 37
União Hostil




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— Onde você pensa que está indo? – questionou Artie quando Rikard desceu as escadas.

— Garantir minha segurança. – respondeu secamente. – Agora, se não se importa, já pode seguir seu rumo sem mim.

Rikard tinha observado que os guerreiros adversários haviam conseguido avançar no campo de batalha. Faltava pouco para que conseguissem entrar na prisão e ele não queria ter que enfrentar pessoas habilidosas. Afinal de contas, combates físicos nunca haviam sido seu forte. Confiava apenas na sua mente.

— Mas você realmente acha que eu vou querer me arriscar aqui? Por mais que eu não aprecie sua companhia, não me importo de ficar com você mais alguns instantes se significar poupar minha vida. – Artie lançava um olhar de desdém para o mercenário.

— Só espero que não fique no meu caminho ou serei obrigado a tomar as devidas providências. – encarou o conhecido. – E não será esforço algum já que nunca gostei de você mesmo.

Desceram os últimos degraus que os levavam para uma pequena sacada na entrada principal onde outros afiliados a Razen se colocavam de prontidão esperando, quem quer fosse entrar, para atacar diretamente. Nenhum deles importava-se realmente com a causa e sim com a recompensa que viria depois que o trabalho tivesse sido concluído. E, acima de tudo, com suas próprias vidas.

Ainda não havia sinal de que alguém estivesse tentando invadir ali. Fora o clima de tensão que predominava, ainda parecia restar tempo para Rikard colocar seu plano em prática. Apenas não podia demorar com isso. Era preciso agir rápido.

Agilizou seus passos e desceu a próxima sequência de degraus à esquerda que o levava para o térreo. Artie foi logo em seguida, curioso com qual seria o plano para conseguir sair de lá evitando qualquer combate. Chegando ao térreo, olharam para sacada e repararam que o caminho por onde tinham descido para chegar a ela tinha desaparecido. Era apenas uma parede fechada.

— O que aconteceu? Nós viemos por ali agora mesmo! – notou Artie confuso.

— Como sempre, muito idiota! Será que você não percebeu? – Rikard gritava com aquele ser que tanto desprezava. – É cada um por si! Ele não está se preocupando com a gente e está garantindo a segurança dele.

— Mas...

— Pois eu vou fazer questão de continuar vivo e cobrar até o último favor que eu fiz. – trincava os dentes de raiva. – Eu fiz o que ele pediu, agora exijo o que é meu.

— Quer dizer que fizemos tudo em vão?

— Quer dizer apenas que ele não se importa se vamos sobreviver ou não. Somos descartáveis, não entendeu? – Rikard deu um empurrão em Artie, indo em direção às celas que se encontravam no subsolo. – Ele pode encontrar muitos mercenários por aí e, se morrermos, ele terá menos prejuízo.

— Será que ele pensou nisso tudo? – Artie estava incrédulo.

— Bom, você pode ficar aí tentando chegar às suas próprias conclusões porque eu já tenho minha própria opinião.

Rikard entendia o pensamento de Razen. Talvez fizesse o mesmo se tivesse naquela situação. Porém, não admitia ser tratado daquele jeito. Ele tinha aceitado estar ali por alguma recompensa e não pretendia sair de mãos vazias. Poderia levar o tempo que fosse, mas ele daria um jeito de ir atrás do que lhe haviam prometido.

Seguiu pelos corredores das celas com pisadas fortes expressando uma mistura de raiva e frustração. Era possível escutar batidas nas portas de alguns prisioneiros que ainda não tinham desistido de tentar comover os guardas para tirarem eles dali.

— Calem a boca. – esbravejou Rikard socando a porta de uma das celas.

— O que vamos fazer aqui? É um caminho sem saída! – questionou Artie ainda sem entender qual era o plano.

— Vamos? Nunca disse que iria compartilhar nada com você. – retrucou sem muito pensar. – Você me seguiu porque quis, agora pode fazer o favor de ficar quieto e não ficar grunhindo como um filhote em perigo.

Artie não aguentava mais os insultos proferidos por Rikard. Mal podia esperar para ter uma oportunidade para se vingar de tudo. Um dia seria capaz de dar o troco e tinha certeza que seria algo prazeroso de se fazer.

— Onde estão as chaves? – Rikard gritou com um dos guardas.

— O senhor Razen me deu ordens para não entregá-las a ninguém. Estou responsável por vigiar esse setor. – respondeu um pouco aflito.

— Acho que eu devo ter dito algo errado, mas pode deixar que irei me corrigir. – Rikard se aproximou do rosto de guarda encarando-o. – Bom, agora, me dê as chaves!

O guarda tentou resistir, mas parecia que seu corpo não o obedecia. Ele encarava Rikard com ódio, observando o sorriso sádico estampado na cara do mercenário. Esticou a mão a contragosto, entregando o molho de chaves das celas.

— Bom garoto! Muito obediente. – Rikard viu quando o guarda franziu as sobrancelhas. – Não queremos que você estrague tudo não é mesmo? Agora suba e deixe ser atingido por ataques inimigos...- pausou e riu. – Até não conseguir mais.

As pernas do guarda se movimentaram por conta própria. Não adiantava fazer qualquer tipo de esforço, pois não tinha controle do seu corpo. Sua mente agonizava sabendo que estava caminhando para sua morte. Estava se sacrificando e não era por vontade própria. O seu fim havia sido decidido por outra pessoa.

Rikard nem sequer esperou o guarda sumir de vista e seguiu seu rumo. Artie conflitava em seus pensamentos sobre entender a razão daquilo tudo e concordar com o que tinha acabado de acontecer.

— Você nem ao menos deu uma chance para ele sobreviver a isso tudo! – contestou Artie indignado.

— Não podia arriscar que meu plano fosse arruinado. – falou com descaso. – Além disso, muitos irão morrer no campo de batalha. Ele será apenas mais um.

Artie rangeu os dentes em fúria e calou-se. Apenas se imaginava na situação do guarda, privado de vontade própria, sem poder fazer nada para se salvar. Sentia-se mal, porém livre de culpa. De certa forma, queria apenas sair daquela situação ileso e sabia que talvez tivesse que fechar os olhos para alguns atos.

Caminharam pelo corredor ainda escutando alguns prisioneiros batendo, em vão, nas portas das celas. Rikard, uma hora ou outra, achava uma cela silenciosa e esmurrava a porta para ver se obtinha algum tipo de resposta. E, quando finalmente encontrou uma na qual ninguém respondia, pegou o molho de chaves e tentou, uma por uma, até, finalmente, abrir a cela.

Fora o fato de estar vazia, nada tinha de diferente em relação aos outros cárceres. O chão de terra, o espaço pequeno e a pouca iluminação eram o que caracterizavam, principalmente, a falta de comodidade daquele local.

— Perfeito! – exclamou Rikard entrando e já se ajoelhando.

— Ainda não entendi o que estamos fazendo aqui...

— E quando é que você entende alguma coisa? Não acredito que vermes sejam capazes de utilizar o cérebro para isso!

Artie observava com uma expressão de ódio enquanto Rikard apanhava um punhado de terra e passava pelo corpo. Levou uma de suas mãos ao bolso enquanto a outra pressionava o braço oposto com força para conter sua raiva.

— Bom, nada me impede de atrapalhar seus planos. – disse Artie ainda tentando descobrir a finalidade daquilo tudo.

— Toma isso aqui! – respondeu rapidamente enquanto jogava o molho de chaves para Artie. - Ache uma cela vazia para você e finja que é um prisioneiro.

— Mas aí você simplesmente está assumindo que a linha inimiga irá conseguir invadir e resgatar todos os prisioneiros. É contar com a sorte!

— É contar com um pouco de estratégia. Se os outros forem iguais a nós dois, irão preferir fugir do que enfrentar um exército treinado. A gente fica onde acha que está melhor no momento.

— E agora o melhor é estar preso? – Artie ainda duvidava do plano.

— Teoricamente já estamos, não é? Se não está, pode ir lá fora arriscar ter uma lâmina fincada no seu peito ou atravessando o seu pescoço. – ponderou. – Pensando bem até que não seria uma má ideia.

— Sabe o que não seria uma má ideia? Isso aqui!

Impulsionado pelo sentimento de desgosto que nutria por Rikard, Artie tirou sua mão do bolso, de punho fechado e lançou-se em direção ao mercenário. Estava cansado de ter que ouvir os desaforos e simplesmente acatar tudo. Ali, estavam só os dois num ambiente sem saída. Era o momento ideal de revidar.

— Parado! – disse Rikard evitando o soco segurando no pulso de Artie.

O olhar do mercenário penetrava a mente de Artie, que sentiu todo o seu corpo enrijecer. Ele sabia o que tinha acontecido e que não teria como escapar disso. Seu plano tinha falhado. Estava a mercê das ordens de quem ele mais desprezava e a única coisa que lhe restava eram seus pensamentos.

— Eu posso não lutar, mas você achou mesmo que conseguiria me atingir assim? Que inocência. – soltou uma risada em tom de superioridade.

Rikard ainda pressionava fortemente o pulso de Artie. Com a outra mão, pegou um punhal que carregava consigo para emergências e levou-o diretamente ao pescoço de sua vítima.

— Eu poderia me livrar de você aqui mesmo. – caminhava gentilmente a lâmina pelo pescoço de Artie e via quando ele engolia seco, temendo seu fim. – Mas imagina entrarem aqui e verem um corpo junto comigo numa cela fechada? Não posso deixar você estragar tudo para mim, não é mesmo? – tirou o punhal do pescoço e balançou-o rente ao rosto em sinal de negação.

Artie observou quando Rikard pegou o molho de chaves, porém não conseguiu mais vê-lo quando seguiu em direção da porta. Apenas conseguiu escutar o um barulho das chaves atingindo o chão.

— Você não achou que eu ia te deixar aqui, achou? – Artie ainda não conseguia ver Rikard. – Vou até ser legal e deixar você responder, porque não gosto de monólogos.

— Seu covarde. – foram as primeiras palavras que saíram de sua boca assim que lhe tinha sido permitido falar. – Só consegue as coisas controlando a mente das pessoas porque não é capaz de conseguir fazer nada de outro jeito... – sentiu sua boca ser abafada por uma mão.

— Controle-se ou terei que tomar alguma atitude. – ameaçou, dizendo as palavras próximo a orelha de Artie. – Não deixei você falar para ficar me ofendendo. Então acho melhor eu evitar isso e a partir de agora você só vai falar coisas boas para mim. E se não tiver coisa boa para falar, simplesmente ficará calado. Será bom ter alguém inflando meu ego aqui enquanto tudo se resolve.

"Então acho que você vai continuar com seu monólogo, porque não tenho nada de bom para falar aqui.". Pensou, sem conseguir proferir tais palavras.

— Bom, se não tem nada a dizer, vamos prosseguir com o plano. A próxima coisa que está me incomodando é essa posição que você está. Parece até que não pode se mexer. – riu zombando do estado de inércia de Artie. – Mas não posso deixar você impune.

Artie encarava Rikard querendo ofendê-lo de todas as maneiras possíveis. A sensação de querer falar e não conseguir era angustiante. Suas respostas a tudo que ouvia estavam apenas em sua mente e nos olhares desafiadores que lançava.

— Como eu disse, eu não posso lhe matar. E não posso deixá-lo. Mas se eu soltá-lo, você pode tentar me agredir novamente. – levou sua mão ao queixo, alisando lentamente com o indicador e o polegar. – Isso se você tiver como me agredir.

O semblante na face de Artie mudou drasticamente. Não mais tinha o tom de desafio e agora temia pelo que podia acontecer. Sabia que Rikard não iria matá-lo, mas, naquelas condições, tinham muito mais coisas que podiam ser piores que a morte.

— Já que você tentou me atingir com essa mão, acho que irei começar com ela. – colocou o punhal próximo ao dedão. – Dedo por dedo.

Artie começou a respirar fortemente prevendo a sessão de tortura que começaria. Pensava no guarda e, agora, desejava ser ele para ter uma morte rápida e não passar por aquilo tudo.

— Não vou conseguir fazer nada com esse punho fechado assim. Relaxa esse braço!

O braço começou a obedecer às vontades de seu dono, que subitamente saiu dos seus pensamentos agoniantes voltando a encarar Rikard com desdém.

— Não acredito que seja você quem consiga controlar os outros através dos olhares. –voltou a atenção para as mãos de Artie. – Antes que eu acabe com seus dedos, tem alguma coisa que gostaria de dizer?

— Bons sonhos! – com um rápido movimento, ele abriu o punho e despejou um conteúdo arenoso no rosto de Rikard que tombou lentamente imóvel no chão.

A primeira reação que teve foi de querer sair dali. Infelizmente seus pés não o obedeciam. Apesar de inconsciente, os poderes de Rikard ainda tinham efeito sobre ele e nem mesmo podia falar nada para sair dali. Contudo, se ele acordasse, ainda tinham mais frascos contendo o pó em seus bolsos e poderia facilmente pegá-los a qualquer momento com a mão que lhe havia dado liberdade de mexer.

Teria que se conformar e aguardar o final de tudo para ver se alguém iria resgatá-lo. Não era uma situação agradável, mas era melhor que estar submetido à tortura.

— Você realmente fica melhor dormindo. – disse Artie vendo o rival naquela posição desfavorável e sentindo-se pelo menos um pouco vitorioso diante de tudo.


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