Crônicas dos Elementais escrita por btfriend


Capítulo 3
Conexão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/606609/chapter/3

Numa clareira da floresta nos arredores de Awalles, o vento soprava fortemente. Os raios de sol iluminavam todo o local enquanto se ouvia o canto de alguns pássaros. Ainda, não parecia certo. Alguma coisa naquela situação estava incomodando Tyler.

Ele estava sozinho, sem lembrar de como havia chegado naquele local. Ele nunca entrava na floresta sem estar acompanhado, especialmente sem Amber e Clair. E, a última coisa que lembrava, era de estar com as duas, porém não exatamente naquele local. Tentou gritar chamando por suas amigas, mas não obteve sucesso. Sua voz ecoava até esvaecer, sem resposta, como se fosse a única pessoa naquele local.

O vento soprava mais forte, porém não incomodava Tyler. Era como se o vento estivesse ali para lhe fazer companhia. Não conseguia controlar o elemento com maestria, mas sabia que podia contar com ele em situações difíceis. E essa era uma delas.

Naquele instante, Tyler escutou um forte bater de asas. Olhou para o céu e nada viu, além das nuvens que se formavam. O barulho não cessou, e ele continuava tentando achar a fonte, sem sucesso. A cada segundo, o som parecia estar se aproximando mais, até que parou.

A abrupta parada chamou a atenção do garoto, fazendo com que mais uma vez decidisse olhasse em volta à procura de alguma evidência. Dessa vez, pairando acima de sua cabeça estava uma única ave. No céu já parecia grande e, aos poucos, conforme ia descendo, seu tamanho ia aumentando.

Pousou em cima de uma pedra no meio da clareira. Permaneceu imóvel encarando Tyler. O falcão tinha pouco mais de meio metro. Penas acastanhadas ocorriam na parte superior, enquanto as da parte inferior eram claras, beirando o branco, com pequenas manchas amarronzadas. O bico tinha tom acinzentado, onde podia-se notar um amarelado aparecendo na parte superior. Suas garras amareladas fincavam na rocha com força, enquanto sua íris escura incitava o rapaz a se aproximar.

Tyler ficou receoso. Não era comum um animal daquela espécie aparecer por ali. Nem ao menos sabia se havia registros de falcões aparecendo nas redondezas de Awalles. Porém, deixou-se levar pelo momento e foi, lentamente, aproximando-se. Seus passos eram meticuloso, enquanto a ave continuava com o olhar fixo nele. Ao chegar bem próximo, o falcão abriu suas asas, o máximo que pode, fazendo que Tyler recuasse um pouco.

Os olhares dos dois se encontraram, e por algum momento Tyler sentiu seus pensamentos irem desaparecendo e que a ave estava tentando lhe falar algo. Ou pelo menos dar algum tipo de aviso. Mesmo assim, nada era compreendido. O rapaz resolveu acreditar no óbvio: era apenas um falcão qualquer.

A conexão dos dois foi quebrado por um barulho nas folhagens. A ave, num ato instintivo, voou na direção oposta do barulho, entrando no meio da floresta. Tyler, agindo por reflexo, foi atrás da ave, sendo brevemente interrompido por uma voz feminina.

– Pai?

Tyler se virou e se deparou com uma menina, menor do que ele, com cabelos claros e curtos. Uma criança. Uma desconhecida para ele. Ela não parecia estar familiarizada com o local e, pela única palavra que tinha ouvido a menina pronunciar, achou que ela poderia estar perdida. Aproximou-se dela com gentileza.

– Olá! Meu nome é Tyler. - deu um sorriso. - E o seu é?

– Elly.

Elly não acreditava em seus olhos. Os traços do garoto que estava em sua frente lhe eram bastante familiares, mas tinha certeza que nunca tinha encontrado ele antes. A expressão facial de preocupação com ela que ele esboçava no momento, lhe recordava uma pessoa com quem havia passado muito tempo. Provocava-lhe conforto. Mas, mesmo assim, ainda não tinha ideia de como podia ter encontrado ele.

– Você está perdida?

– Sim e não. - disse a menina, fazendo com que Tyler tivesse uma reação de confusão.

– Como assim?

– Eu sei onde estou, sei como cheguei, mas não sei o motivo. - fez uma pausa. - Também sei como sair daqui quando eu quiser. Talvez você quem não saiba.

A resposta dela não pareceu fazer sentido para Tyler. E se ela tinha a intenção de deixar algo claro, o objetivo não tinha sido alcançado. Ele ainda estava tentando assimilar as palavras que tinha escutado, mas não conseguia entender.

– Então onde você está? - perguntou curioso.

– No seu sonho! - respondeu sem hesitar.

Naquele momento, ela ganhou total atenção de Tyler. Não compreendeu muito bem o que ela quis dizer com aquilo. Mas, desde o início, ele sentia que algo estava errado e, talvez, aquela poderia ser uma explicação plausível para isso.

– Se isso é um sonho meu, como posso estar sonhando com algo que nunca vi?

– O fato de eu estar no seu sonho, não significa que você esteja sonhando comigo.

As respostas que Elly dava, só deixada-o mais intrigado. E ele não planejava deixar de obter alguma explicação. Então prosseguiu com suas perguntas.

– Então significa o que?

– Que eu entrei no seu sonho. É uma habilidade minha. - Elly deu de ombros.

– Agora faz sentido. O que não faz sentido é que, de tantas pessoas, por que você decidiu entrar logo no meu sonho?

– Acredite, isso eu ainda estou tentando descobrir.

– Você consegue controlar sua habilidade facilmente?

– Normalmente sim. É a primeira vez que não faço ideia de como cheguei no sonho de um estranho. Para chegar ao sonho de alguém preciso concentrar-me na pessoa.

– E você não pode ter se concentrado em mim porque não nos conhecemos. - indagou Tyler, esperando que ela revelasse algo mais.

– Exatamente... - ficou pensativa e calou-se.

Elly estava começando a achar que talvez a semelhança física com quem ela procurava, pudesse ter ocasionado tudo isso. Porém ainda se recusava a acreditar que somente isso tivesse sido um fator tão crucial.

– Bom, pelo que eu entendi, você estava procurando seu pai, não é?

– É... - começou a prestar atenção.

– Olha, a não ser que seu pai seja um falcão, eu não lembro de ter sonhado com mais nada. - e permitiu-se rir. Parou ao notar que a menina tinha ficado séria.

– Conte-me mais sobre isso. - disse a menina ainda séria.

– O que? Você não está querendo dizer que... - foi interrompido.

– Não! Meu pai não é um falcão. Você acha que eu tenho cara de ave? - Elly tinha ganhado um semblante nervoso.

– Olha, Elly, ... - começou num tom baixo. - eu não quis ofender, se é que eu te ofendi. Mas se você não explicar as coisas, nós dois ficaremos sem entender. E pelo entendo de sonhos, se eu acordar, não iremos descobrir nada.

Aquela calma e aquele jeito de falar, novamente fez Elly lembrar-se de seu pai. A incerteza do que estava acontecendo ali ainda a consumia, mas sabia que as palavras que tinha acabado de serem ditas faziam sentido.

– Falcões são o símbolo da minha família. Na verdade, um símbolo que meu pai escolheu nos dar.

– Como assim um símbolo que ele escolheu? - questionou Tyler.

– Tanto eu quanto minha irmã, assim que nascemos, recebemos um presente de nosso pai. Uma espécie de amuleto.

Elly concentrou energia na palma de suas mãos, e dessa energia criou uma cópia do que ela estava falando.

– Eu não tenho ele comigo, está guardado. - disse Elly mostrando o objeto.

O amuleto mostrava uma ave, de perfil. Estava tingido de branco com pigmentos pretos, e uma pedra incolor onde deveria ser o olho da ave. Tyler não conseguia identificar do que o objeto era feito, e, talvez mesmo que achasse que soubesse, poderia ter a impressão errado por se tratar de um sonho.

– O falcão que eu vi, não parecia com esse. Sinto muito. - mas menina não pareceu desapontada. - Mas não é a primeira vez que vejo um amuleto assim. Minha amiga tem um parecido, em forma de lobo.

– Era bem provável que não fosse mesmo. Seria muita coincidência. - fez o amuleto desaparecer. - Porém o fato de você ter sonhado com isso e o fato de eu vindo parar aqui parecem estar conectados.

– Mas afinal, por que você está procurando ele?

– Porque estou sendo feita prisioneira. - respondeu, sentindo-se estranha - E talvez continue...

– Como assim? Não entendi!

– Estão me acordando! - respondeu Elly. - Talvez nos encontremos novamente. Assim espero. De onde você é mesmo?

– Awalles. - e essas foram as últimas palavras que Tyler conseguiu dizer antes que Elly desaparecesse na sua frente, deixando-o sozinho naquela clareira.

Elly acordou nos braços da irmã, Leena, que a sacudia tentando acordá-la.

– Eles nos trouxeram algo para comer. - disse Leena mostrando a bandeja com um caldo bem ralo.

– Preferia que tivessem demorado mais. - disse Elly.

– Como assim? Você encontrou algo? - perguntou esperançosa.

– Talvez! Não sei ao certo.

Elly dirigiu-se até a bandeija, levou até sua irmã. Pegou uma colher, encheu-a com o caldo e engoliu o líquido. Depois virou-se em tom de questionamento para a irmã:

– Leena, por acaso você sabe se temos algum irmão?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas dos Elementais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.