Crônicas dos Elementais escrita por btfriend


Capítulo 18
Conflitos Internos




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Bufando de ódio, praguejando contra todos e com passadas pesadas. Foi assim que Artie atravessou o portão do salão principal.

O local estava vazio, o que deixava Artie feliz, porque não tinha ninguém para testemunhar sua chegada vergonhosa de mãos vazias. O tilintar da armadura metálica usada por alguns guardas que o acompanhavam, ecoava no recinto de forma suficiente para deixá-lo irritado. De fato, naquele momento, havia pouca coisa que pudesse mantê-lo calmo.

– Mexam-se e saiam daqui! Já provaram muita inutilidade por um dia! - ordenou Artie, descontando toda a sua fúria. - Acho que temos outros serviços para vocês aqui, não é mesmo? Apesar de eu achar que vocês merecem algum tipo de punição pela incapacidade de conseguirem pegar três garotinhas. - continuou. - Ora vejam só, um grupo de brutamontes derrotados por um simples feiticeiro. Era só o que me faltava!

Muito dos guardas ficou com vontade de rebater. Afinal de contas, Artie também tinha sido preso na armadilha de sombras lançadas sobre eles. Se tudo tinha falhado, foi por falta de planejamento de quem os estava liderando. Sabiamente tomaram a decisão de se calarem e não sofrerem maiores consequências por desacato.

Os guardas de dispersaram. Alguns retiraram-se para o andar superior, enquanto outros preferiram seguir o caminho para as celas. Qualquer lugar que não fosse ali estaria de bom tamanho. Apenas não queriam estar na frente de Artie e correr o risco de serem vítimas por acaso.

O pensamento dos guardas nunca havia sido tão correto. A expressão de ódio nos olhos daquele homem parecia crescer a cada minuto. Na sua mente, tudo o que buscava eram maneiras de extravasar toda aquela mistura de frustração e indignação em alguma coisa. Ou em alguém. Não importava o que ou quem fosse.

Seus pensamentos foram interrompidos. O silêncio havia sido quebrado. Escutava uma risada sarcástica subindo as escadas. Uma risada que ele não suportava e que naquela situação, só piorava as coisas.

– Ai, ai, acho que o pequeno Artie voltou de mais uma missão...- fez uma breve pausa. - Fracassada.

– Rikard... - Artie enfurecido, lançava olhares fulminantes para o homem que chegara.

A provocação do o homem irritava. Ele sabia que Rikard não estava se referindo a altura, pois Artie era mais alto. Ele simplesmente aproveitou a oportunidade para inferiorizá-lo, como sempre fazia quando tinha oportunidade. E infelizmente, havia tido muitas oportunidades.

Rikard podia ser mais baixo que Artie, mas era mais velho. Enquanto o mais novo beirava os vinte anos, o outro já chegava nos trinta. Seus olhos eram castanhos, e o cabelo cortado bem curto, onde as costeletas já desciam se fundindo com uma barba por fazer. Era um homem de boa aparência e com um porte físico acentuado por pura vaidade, pois nunca havia necessitado da força física para nada.

– Onde estão as meninas? Deixou-as escaparem...- outra pausa. - Novamente?

Artie não respondia. Estava com vontade de acabar com Rikard ali mesmo, mas sabia que não era uma boa decisão. Mesmo que conseguisse fazer isso, teria que explicar muita coisa para seu superior.

– Explique-me como você teve a grande habilidade de deixar as prisioneiras chegarem em Yor' Em? Vamos lá, Artie. Realmente estou muito curioso! Não tinha nem um grãozinho de pó que pudesse evitar isso? - as palavras eram escolhidas a dedo para soarem como escárnio.

– Como você sabe que elas estão lá? - Artie foi pego de surpresa. Mais uma vez aquele ser estava um passo a sua frente e fazendo questão de jogar isso na cara.

– Assim como suas tais grandes habilidades com pós, você é só mais um grão de inutilidade num deserto de seres incapazes e, felizmente, eu não faço e nem tenho intenção de fazer parte desse grupo. - respondeu Rikard. - Até porque nós sabemos qual é o fim de pessoas assim, certo?

– O que você está querendo dizer? - questionou confuso.

– Não vai dizer que já esqueceu de Edgar? Afinal de contas você deveria ter obtido alguma informação sobre ele e não conseguiu.

– É claro que eu sei quem ele é! Não entendi o que você quis dizer com o fim que ele teve. Você mesmo acabou de dizer que não temos informações sobre ele.

– Exatamente. Vamos especular que ele possa ter falhado no que tinha que ter feito, o que me parece bem óbvio. Daí, temos três opções: ele ter sido capturado por alguém, ter fugido por vergonha de retornar ou ter sido morto por alguém ou alguma criatura. - analisou Rikard. - E se pensar direito, verá que a melhor das opções seria ele estar morto. Pelo menos para ele. - e olhos dele adotaram uma expressão maquiavélica.

– Você não pode ter tanta que só pode ter ocorrido uma dessas coisas. - embora soubesse que o conhecido estava correto, não queria dar o braço a torcer. - Além disso, quando que alguém estar morto é melhor do que estar vivo?

– Quando as consequências dos atos falhos podem ser pior. - respondeu prontamente ainda com o mesmo olhar estampado. - Se ele fugiu ou foi capturado, tem risco de vazarem informações, e tenho certeza que o mestre não perdoaria uma traição. E mais certeza ainda que ele não teria uma morte rápida e indolor. A única coisa que ainda não sei é porque ele admite tantos erros seus. Talvez esteja esperando que alguém faça o favor de acabar com você antes dele.

– E talvez você deva se concentrar no que você tem que fazer e não pensar no que pode acontecer comigo.

– Mais uma vez você está incorreto. Se com você vivo, eu já tenho que fazer mais do que eu deveria, imagina com você morto. O que aconteceria se o mestre resolvesse colocar mais um inútil à frente dessa situação? Preocupação em dobro! No momento eu só espero que você mostre-se capaz de acertar pelo menos uma vez.

– E o que você espera que eu faça? - retrucou Artie irritado.

– Se fosse pra eu te dizer, acredito que seria mais fácil eu tomar posse da sua consciência e lhe obrigar a fazer o que eu quero. Talvez assim teríamos mais chance de você finalmente obter êxito em algo.

– E acho que nós dois sabemos que você só conseguiria fazer isso se eu permitisse!

– Ou se deixasse vulnerável para que isso aconteça. - acrescentou com um tom de ameaça.

– De qualquer forma, perca suas esperanças porque isso não irá acontecer.

– É uma pena como as pessoas preferem uma vida de mediocridade sem sucesso. Fico abismado com isso. Depois não diga que eu não fui uma boa pessoa de lhe fazer essa proposta e não haverá uma segunda chance de escolha.

– Você fala tanto em sucesso, mas também não vejo você descobrindo o paradeiro do homem que procuramos! Acho que estamos na mesma situação. - provocou Artie.

– Não ouse me comparar a você! - pela primeira vez ali, Rikard havia mostrado uma alteração em seu humor. - Quem foi que descobriu que a filha menor podia entrar em sonhos? Eu! Enquanto ela estava aqui eu conseguia saber quando ela tentava entrar em contato com a mãe. E quem fez o favor de deixá-las sair? Você! E nesse exato momento estou tentando tirar proveito de sua falha rastreando e controlando os movimentos delas. - ele se aproximou de Artie. - Enquanto você está fazendo exatamente o que? Voltando de uma caminhada por uma trilha cheia de vergonha e derrotas. Olhe para você! - e forçou sua mão no ombro do conhecido, olhando fixando nos olhos de Artie. - Então eu pensaria duas vezes antes de querer achar que estamos no mesmo patamar, porque você está bem abaixo de mim!

A mão de Rikard tornou-se mais pesada e com mais força. E, naquele instante, o porte físico mostrou-se útil, quando empurrou Artie em direção ao chão, fazendo-o cair de joelhos. E, por um momento durante aquela discussão, Rikard era maior do que Artie. Em todos os sentidos.

Exalando confiança e com um olhar de desprezo em direção a Artie, Rikard deixou-o ali sozinho no salão principal como um animal abandonado por seu dono. Seguiu em direção às escadas que levavam ao andar superior, e seus passos eram observados com ódio.

– Um dia, um dia você ainda vai engolir tudo isso. - Artie murmurava para si próprio. - Tome cuidado para não ficar vulnerável, Rikard.

Como se tivesse escutado a ameaça que Artie estava fazendo, Rikard parou seus movimentos e virou-se novamente.

– Ei, Artie! Quando você não mais estiver por aqui, diga a Edgar que foi muito divertido trabalhar com vocês! - e retirou-se.


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