Crônicas dos Elementais escrita por btfriend


Capítulo 11
A Caçadora




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O sol estava a pino quando Tyler e Clair já começavam a sentir os efeitos de terem saído pra viajar à noite. Parecia que não tinham dormido o suficiente e os músculos das pernas já estavam doendo de tanto caminhar. Eles queriam tentar chegar em Valmees antes de escurecer novamente. E, para isso, precisavam manter o ritmo.

Nenhum dos dois queria ter que passar mais uma noite na floresta. Estavam em um caminho que nunca tinham explorado antes e isso já era intimidador o suficiente. Não sabiam o que poderiam encontrar e estavam apenas confiando nas poucas habilidades de treino e nas armas que tinham adquirido com Byron.

Durante a noite, Clair tinha fornecido iluminação para que eles conseguissem ler o mapa. Concentrou energia em sua mão que gerou uma pequena fonte luminosa. Não conseguia mantê-la por muito tempo, porém era capaz de refazê-la em pouco tempo. Ficaram apreensivos da luz chamar a atenção de algum tipo de criatura que estivesse por perto e tentavam compensar isso fazendo o menor barulho possível. Caso escutassem algum ruído, Clair desfazia a luz rapidamente e caminhavam por um tempo somente guiados pelo luar.

Conforme o dia foi clareando e a visibilidade do mapa foi facilitada, os dois foram capazes de acelerar os passos, com cautela para não fazer nenhum desvio do caminho. Fizeram uma pausa de poucos minutos quando encontraram uma macieira, com seus frutos vermelhos prontos para serem colhidos. Comeram alguns ali mesmo e guardaram outros para o restante do trajeto.

Seus passos estavam em ritmo acelerado e incessante, o que proporcionava um esgotamento físico ainda maior. Estavam aguentando dores e exaustão sem reclamar, porém era notável pelas expressões que faziam.

– Precisamos de um descanso! - decidiu Clair. - Por esse mapa, estamos quase chegando.

– Sim, falta pouco. Acho que podemos nos permitir alguns minutos de parada. - respondeu Tyler já se jogando perto de uma árvore que lhe fornecia sombra.

– Você conhece seus parentes que moram em Valmees? - perguntou curiosa.

– Não. - respondeu. - Não sei nem como são. Minha única referência é o que minha mãe me falou a respeito dos pais delas. Espero que isso seja o bastante.

– Eu também espero. Não dá para chegar num local desconhecido e nem termos onde ficar! Não temos como pagar nada!

– Calma! Não vamos nos preocupar com isso antes da hora. Por agora temos que primeiro chegar lá e depois veremos o que fazer.

– Não sei qual das duas partes é a que me preocupa mais. - ironizou Clair.

Tyler teria respondido à provocação se sua atenção não tivesse sido desviada para movimentos bruscos vindos da direção que estavam seguindo. As folhagens dos arbustos que os cercavam mexiam-se vorazmente e começaram a sair diversos animais por entre eles, como se fugissem de algo. Passadas fortes e frequentes podiam ser escutadas, deixando os dois jovens apreensivos.

– Talvez devesse primeiro se preocupar com isso! - indagou Tyler.

Estavam se preparando para recuar e seguir por um caminho adverso ao que escutavam o som das passadas, mas não haviam sido rápido o bastante. Foram surpreendidos por uma criatura que nunca tinham visto antes e que, agora, encontrava-se ali como uma espécie de predador ansiando por suas presas.

A besta era maior que os dois jovens chegando a quase dois metros de altura. Apresentava características humanóides e felinas. Tinha orelhas pontudas e triangulares. Seu rosto possuía uma pelagem rala e avermelhada que entrava em contraste com o tom amarronzado de sua pele. Seus olhos negros e expressivos eram separados por uma pequena protuberância que termina num focinho e duas presas eram visíveis saindo de sua boca. Seu pescoço era circundado por uma pelos densos e esbranquiçados que se estendiam até o início dos ombros. O torso voltava a ter pelos mais ralos e apresentava uma musculatura avantajada e que se repetia nos braços. Seus membros inferiores eram tomados por pelos mais densos de tom marrom-avermelhado. Uma cauda coberta por pelos marrons e que ficavam avermelhados a medida que chegava na ponta podia ser vista arrastando ao chão. As garras de suas mãos eram notavelmente maiores que a dos pés, o que facilitava a captura de animais.

Ficaram em choque e sem reação. Queriam fugir dali mas parecia que suas pernas não estavam se mexendo. O desespero tomou conta deles e estavam cientes que se fossem pegos por aquele ser, provavelmente não sobreviveriam para contar a experiência.

A criatura fitou-os por um momento com seus olhos negros observando para ver se os dois fariam algum movimento. Vendo que nenhum dos dois se mexia, soltou um rugido alto que pareceu funcionar como um alarme para despertar Clair e Tyler para a situação que se encontravam.

Sem muitas opções do que fazer, decidiram sair correndo e não ter que enfrentar o que não conheciam. Os primeiros passos que deram foram o suficiente para provocar a mesma reação no humanóide felino. Ele deu duas passadas largas, saltando ao final da segunda, e parando a poucos centímetros dos jovens.

O choque sísmico provocado ao final da queda fez com que as árvores sacudissem e vários animais que estavam nelas, saíssem rapidamente e a rapidez com quem a criatura tinha conseguido chegar tão próximo deles fez com que Clair e Tyler percebessem que correr não seria uma alternativa viável.

Sem muito pensar Clair aproveitou que a criatura ainda se recuperava do salto, puxou Tyler e foi para trás dela. O jovem ficou sem entender o que sua companheira queria fazer, mas ela retribuiu a falta de entendimento com um olhar como se pedisse para confiar nela naquele instante.

Ficou claro ali que a velocidade da criatura se dava apenas pelo comprimento de suas pernas, porque possuía reflexos um pouco vagarosos. Ainda assim, não tão devagar para que pudessem se aproximar para fazer alguma coisa.

– Não sei o que você está pensando, mas seja lá o que for, é melhor fazer rápido! - disse Tyler.

– Apenas confie em mim. Aliás, não temos muita escolha aqui. - respondeu Clair concentrando o máximo de energia luminosa em sua mão direita.

– Estamos tentando escapar dele e você está querendo chamar mais a atenção dele?

– Calma! Espere e verá. - Clair tentava não perder a concentração.

A criatura virou e rugiu mais uma vez em frustração por não ter acertado a primeira vez. Ergueu-se e repetiu os movimentos pela segunda vez. Lançou-se num salto oblíquo e quando estava iniciando o movimento de descida, algo brilhante explodiu perto de seu rosto fazendo com que errasse seu alvo novamente.

– Agora podemos correr na direção certa! -indagou Clair já tomando a dianteira.

– Quando você ficou com a mira tão boa? - perguntou Tyler seguindo a amiga.

– Na verdade eu nem sei se atingi ele. - deu de ombros.

– O que? Então o que você estava tentando fazer? - questionou confuso.

– Já olhou para o sol quando está bem forte a ponto da luz não te deixar ver direito? - viu quando o amigo fez que sim que com cabeça. - Então, tentei criar essa situação. Porém com a proximidade da luz, ele deve ficar com a visão debilitada por algum tempo. O suficiente pra nos dar uma vantagem, eu acho.

Desviavam de árvores, passavam por entre arbustos o mais rápido que podiam, tentando não mudar a direção na esperança de diminuir a distância que os separavam de seu objetivo.

Não demorou muito para eles escutarem as passadas fortes e ritmadas outra vez. Estavam ficando mais altas rapidamente e os dois amigos já sabiam o que estava por vir. Sabiam que corriam o risco de serem perseguidos, só não esperava que fossem alcançados em pouco tempo. A vantagem que haviam adquirido não tinha servido de nada.

– Consegue fazer o mesmo truque duas vez? - perguntou Tyler.

– Acho que consigo, mas teremos que parar. Não conseguirei concentrar a energia que preciso estando com meu foco em outro lugar.

– Parar agora e correr depois ou correr agora e não ter chance de parar depois? Acho que a escolha é óbvia.

A corrida foi interrompida. Clair mantinha sua concentração enquanto Tyler ficava de vigia caso outras criaturas menores resolvessem aparecer do nada. Eles esperavam que a besta não chegasse antes de Clair conseguir reunir a energia necessária para o que queria fazer, mas o som estava ficando mais alto e eles perceberam que talvez isso não fosse ser possível.

O ser felino irrompeu por entre algumas arvores arrancando todos os galhos que estavam em seu caminho. Preparou o ataque e partiu vorazmente para cima de suas presas, que já estavam quase aceitando o que o destino lhes reservava.

O ataque foi interrompido quando algo começou a enroscar em uma de suas patas inferiores. Soltou um rugido alto, quando uma de suas mãos ficou imóvel pela mesma causa. Em pouco tempo, todos os seus membros estavam impossibilitados de fazer algum movimento.

– Acho que já é hora de acabar com a brincadeira de vocês. - disse uma voz feminina.

Uma menina saiu de trás de uma árvore e atirou um objeto na direção da criatura. Por um instante pareceu ter errado mas, segundos depois, o objeto a atingiu por trás, voltando para a mão da menina e deixando a criatura inconsciente.

– Você matou a criatura? - perguntou Clair.

– Não, ela deve acordar em poucas horas. Mas acho que um agradecimento poderia vir antes da preocupação com quem atacava vocês. - respondeu a menina deixando Clair sem graça.

– Pois bem, muito obrigado! - retrucou Tyler. - Você é..... - foi interrompido

– A sorte de vocês! - riu ironicamente e olhou para o garoto. - Você se referia ao meu nome, não é mesmo? Pode me chamar de Dahlia.

Dahlia tinha quase a mesma idade dos dois, sendo um pouco mais velha. Era mais baixa que Clair, com um corpo esbelto. Seu rosto era pequeno e arredondado, e fios de cabelo vermelho, que não estavam presos numa trança que terminava poucos centímetros abaixo da nunca, podiam ser visto caindo sobre seus olhos castanhos claros. Trajava um macacão preto. colado ao corpo, com placas côncavas avermelhadas amarradas nos ombros, joelhos e cotovelos para proteção. Amarrado na cintura com um nó simples, encontrava-se um tecido vermelho onde estavam presos uma faca de caça e um bumerangue de madeira.

– Meu nome é Tyler e o dela, Clair.

– Muito obrigada pela ajuda. Realmente não sei o que faríamos naquela situação. - disse Clair.

– Não sei se chamaria isso de ajuda, quando praticamente fiz todo o trabalho. Mas concordo na parte de não saber qual seria o fim de vocês. - viu quando os dois fizeram expressões de não entender o que ela estava falando. - O que? Vocês acham que o plano de vocês iria funcionar pela segunda vez?

– Nunca vamos saber, pois não deu tempo de tentarmos. - respondeu Clair um pouco irritada.

– Pois ele pareceu funcionar muito bem da primeira vez. O que te faz ter tanta certeza que não daria certo? - perguntou Tyler também não muito contente.

– Admito que a ideia de tentar danificar a visão do leontropo foi boa, mas duvido muito que ele sequer tenha recuperado o sentido. Essa espécie possui um olfato muito bom e foi o bastante para seguir vocês. - deu de ombros.

– Leontropo? - perguntou Clair.

– Sim. Esse ser grande aí deitado inconsciente. - esticou o braço apontando para a criatura. - Não conhece? Muito corajoso da parte de vocês virem para essa parte da floresta no território deles, especialmente nessa época do ano quando costumam procriar.

– Estávamos indo em direção a Valmees. - explicou Tyler.

– Então poderiam ter tomado uma rota alternativa. Não é muito seguro por aqui. - fez uma pausa e retomou. - Como não percebi antes? Deixem-me advinhar. Aventureiros de primeira viagem? Fugiram de casa?

– Não! Estamos apenas em uma busca e resolvemos passar lá primeiro. - respondeu Clair.

– Esta aí uma coisa que funcionou pela segunda vez. A sorte de vocês! - e riu da situação. - Moro lá e com certeza posso guiá-los por um caminho mais seguro do que esse que vocês escolheram.

A atitude da menina não estava agradando a Clair e Tyler, porém não estavam em posição de recusar ajuda. Não saberiam se virar caso outra criatura resolvesse aparecer e não podiam se dar o luxo de desperdiçar tempo.

– Tudo bem! Vamos com você. - aceitou Tyler. - Mas, espera um momento! Você disse que nosso plano não iria funcionar por uma segunda vez. Como você sabe que era a segunda vez?

– Detalhes, detalhes. - respondeu Dahlia, porém viu que essa resposta não seria aceita pelos dois. - Estavam patrulhando a área em caso de acidentes desse tipo. Escutei um barulho e cheguei na hora que fizeram pela primeira vez. Sim, eu poderia ter interferido antes mas eu quis ver até onde isso iria. O importante é que ninguém se machucou, não é mesmo? - e deu de ombros. - Ressentimentos a parte, vamos logo?

Tyler e Clair não ficaria satisfeitos com a resposta mas não era o momento de ficar discutindo a situação. Já haviam adquirido a explicação que queriam e, no momento, isso era o suficiente para que eles aceitassem ser guiados por ela. Antes uma resposta que eles não concordassem do que uma que eles desacreditassem.

Então Dahlia foi na frente liderando o caminho, enquanto os outros dois, ainda desconfiados e não muito satisfeitos com os métodos dela, a seguiam esperando chegar em Valmees o mais rápido possível.


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