Crônicas dos Elementais escrita por btfriend


Capítulo 10
Explosão




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Amber despertou muito assustada. Sentia frio e suas roupas estavam encharcada. Tentou mexer suas mãos e pés e escutou um som de metal se arrastando. Descobriu que estava acorrentada. Não o suficiente para ficar imóvel, mas o bastante para limitar seu espaço de locomoção.

Estava num local em que as paredes eram feitas de pedra. O chão era de terra, o que fez ela suspeitar que estava em algum tipo de calabouço subterrâneo. A mistura de água e terra tinha deixado seu corpo todo cheio de lama. E, na sua frente, estava uma pessoa que ela não desejava ver, mas tinha sido a última com quem lembrava de ter falado.

– Pensei que teria que jogar mais um balde de água em você. Devo ter exagerado nas dosagens desse pó de sono. - disse Artie mostrando um pote contendo um conteúdo arenoso e colocando numa pequena mesa. - É um tipo de utensílio básico, mas me foi bem útil ultimamente.

A jovem franziu as sobrancelhas e seus olhos ganharam uma expressão de fúria. Desejava livrar-se das correntes que a atavam e avançar naquele ser que estava zombando dela, aproveitando que não ela não poderia fazer nada.

– Calma, calma. - disse Artie percebendo a expressão da prisioneira. - Não quero ter que usar isso novamente em você. Não seria bom para nenhum dos dois. Você ficaria voltaria ao seu estado de sono, e me obrigaria a ter que te acordar outra vez. E nós não queremos que isso acontece, não é mesmo? - e apontou para o balde cheio de água. - Além do mais, meu estoque de pó ficaria baixo, e eu teria que fabricar mais. Não que isso fosse me dar trabalho, porque sou um bom especialista em conseguir tirar maior proveito de plantas. Acho que você pode concordar comigo que meus temperos são muito bons. - riu zombeteiro.

– Você também é muito bom em ficar falando, aparentemente. Preferia você falando menos. - disse ela interrompendo aquela risada não estava a agradando. - E prefiro nem comentar as suas táticas covardes. - retrucou Amber querendo provocar.

– Ora, ora. Acho que você não está em posição de criticar as minhas táticas. Elas parecem ser bem eficazes. Afinal de contas, veja onde você está e onde eu estou.

Artie estava fazendo de tudo para mostrar para Amber que ela não tinha muitas escolhas. Não tinha nenhuma alternativa a não ser ficar ali a mercê de seu raptor.

A jovem agarrou as correntes com força e puxou na esperança de conseguir fazê-las soltarem da parede. A tentativa foi em vão e só fez com que Artie soltasse mais uma de suas risadas, irritando-a ainda mais.

– Não se esforce muito, garota. Você não está em condições disso. É melhor aceitar que não há nada que possa fazer no momento.

– Aceitar o que? A única ameaça que você fez foi me colocar para dormir. E isso me parece bem melhor do que ficar aqui escutando você. - iniciou a menina. - Ao que me parece, você não pode fazer muita coisa comigo e precisa de mim viva. Do contrário, por que eu ainda estaria aqui na sua frente e intacta?

– Quieta! - irritou-se.

Pela primeira vez Amber se sentiu vitoriosa. Mesmo que não tivesse muito o que comemorar, saber que finalmente tinha eliminado o sentimento de poder que ele tinha sobre ela, já era um ponto positivo naquele momento.

– E aí? Estamos esperando quem? Acho que nem mesmo você está livre para fazer o que quiser, não é mesmo? Quando vou conhecer o seu chefe? - continuou provocando.

Amber viu quando Artie pegou o balde e iniciou o movimento para esvaziá-lo nela. Ela esquivou-se, conseguindo escapar do jato direto, o que deixou o rapaz muito nervoso.

– Acho que agora você está sem mais nada para me ameaçar. - permitiu-se rir da situação. - E, afinal de contas, eu já estou acordada! Qual o motivo essa água?

– Não queremos nenhum acidente com fogo aqui, não é mesmo? E acho melhor você para de falar antes que eu me irrite com você!

Amber lembrou-se que Artie a tinha visto utilizando suas habilidades. Pensou que ele deveria estar achando que ela sabia utilizar bem o elemento. Conseguia muito mal atear fogo em pequenos objetos e naquela situação, não tinha nada que pudesse fazer com isso.

– Guardas! - gritou Artie fazendo com que dois homens aparecessem na porta do calabouço. - Encham! - ordenou enquanto entregava dois baldes vazios para o mesmo.

Virou-se para Amber com um olhar ameaçador. Pegou outro frasco em seu bolso com um pó de coloração diferente. Colocou um pouco do conteúdo em suas mãos, jogou na direção dela, e depois colocou o frasco ao lado do segundo em cima da mesa.

– Não se preocupe, não farei o favor de te colocar pra sonhar novamente. A não ser que você vá sonhar acordada. Isso deve dar um jeito em você por alguns minutos. - e se retirou do local.

Amber tombou para o lado. Não sentia nenhuma parte de seu corpo. Seus olhos permaneciam abertos e nenhum de seus membros respondia a seu comando. Estava paralisada.

Ficou imóvel, deitada no chão durante algum tempo. Conseguiu ver quando os guardas retornaram com os recipientes cheios. Escutou quando outro prisioneiro gritava enquanto era arrastado para outro cela. Sentiu, até mesmo, tédio e angústia quando em determinado momento o silêncio tomou conta do local.

Entrou em estado de alerta quando escutou a voz de Artie ao longe. Não parecia estar sozinho. E as suspeitas de Amber se confirmaram quando seu sequestrador entrou no recinto e ela escutou uma voz masculina diferente da dele.

Não conseguiu ver a aparência do outro homem porque ele não entrou em seu campo de visão. Fazia um grande esforço para tentar virar o pescoço para ver a quem a voz pertencia e nada se movia. Apenas escutou a discussão que se formou depois de um tempo.

– Você está achando que vai conseguir me enganar com isso? - disse o segundo homem irritado.

– Claro que não! Eu trouxe exatamente o que o senhor me pediu! Aqui está ela. - e apontou pra Amber.

– Eu realmente não sei onde eu fui encontrar você para fazer esse serviço! - gritou e bufou em seguida. - Olhe o pescoço dela! Ou melhor dizendo, para que você não se engane novamente, o que está em volta dele!

– Ué, o amuleto! Eu sei! Foi assim que eu soube que estava com a pessoa que você queria.

– Eu disse que a pessoa provavelmente teria um amuleto e não qualquer amuleto!

– Mas, mas... - Artie gaguejou sem saber o que responder.

– Deve ter visto a primeira pessoa com um e achou logo que poderia ser quem procura, sem nem mesmo pensar direito! - o homem aparentava estar impaciente com a situação.

Amber não desejava ser Artie naquele momento, mas estava com uma grande satisfação ao escutar o rapaz sendo colocado em seu devido lugar. Já que ela não podia fazer isso, contentava-se em saber que tinha alguém o fazendo.

– Agora deve ter pessoas procurando por essa garota e ficará difícil de voltar lá! - a voz do homem era grave e qualquer frase soava mais raivosa do que era.

– Darei um jeito nisso, meu senhor. Não se preocupe. - Artie estava nervoso e apenas desejava que seu chefe saísse do local para ele poder pensar melhor no que fazer.

– Acho bom mesmo! Não quero nenhum tipo de alvo nas minhas costas antes que me impeça de conseguir que eu quero.

Amber escutou passos pesados serem iniciados e iam diminuindo o som com o tempo. Imaginou que estava sozinha na sala, porém logo viu que não. Escutou passos mais leves e mais constantes perto dela.

– Tudo isso é culpa sua! - disse Artie se referindo a Amber.

Amber não conseguia responder. E mesmo que conseguisse, ela pensou que sua primeira reação seria rir da frase dele. A única culpa que ela sabia que tinha era de ter confiado de imediato num estranho. O restante ela apenas estava fazendo papel de vítima numa situação que ela acabara de descobrir que nem era para estar.

Já estava sentindo seus movimentos voltando aos poucos, mas preferiu não demonstrar isso e assistir o monólogo de Artie.

– Você conhece outra pessoa que possua um amuleto desse? Deve conhecer! Aquela cidade não é muito grande!

Artie estava muito irritado. Sua irritação aumentava a partir do momento que não obtia resposta alguma e sabia que isso era culpa dele mesmo. Mas não queria aceitar isso. Considerava falhas sinal de fraqueza e ineficiência.

– Responda! - gritou Artie enquanto despejava mais um balde em Amber. Dessa vez no rosto.

Amber não esperava tal atitude e teve a sensação que estava se afogando. Tossiu tentando eliminar a água que tinha ingerido forçadamente. Aquela situação, cada vez mais, estava passando dos limites. Estava ali erroneamente e ainda tinha que se submeter a esse tipo de coisa.

– Quer dizer então que estava fingindo? Estava me deixando falando sozinho? Então mereceu mesmo. E ainda tenho mais outro esperando por você! - provocou.

– Achei que fosse isso que você quisesse! Não foi por isso que você me deixou aqui paralisada? Para que eu ficasse quieta? Acho que fiz tudo certo então ao contrário de você. - olhou Artie nos olhos. - Ao contrário de você!

– Se eu fosse você eu media suas palavras, mocinha. - ajoelhou perto de garota. - Agora você não tem mais utilidade para mim, virou totalmente dispensável.

– Por que? Meu amuleto não é bom o suficiente para vocês? - disse irritada.

Você realmente acha que estávamos atrás disso? - e agarrou o objeto no pescoço dela. Amber fez menção de tirar a mão dele de lá, mas Artie simplesmente pisou em seu pulso evitando o movimento. - Se quiséssemos um amuleto, existem vários por aí. Ele era apenas uma referência, não um prêmio. E, digamos que você não é nenhum dos dois.

Amber sentiu uma enorme fúria a consumindo. Uma onda de calor estava se concentrando em seu peito. Era como se algo estivesse queimando por dentro. Algo que não conseguia controlar.

– O que você fez? - disse Artie largando o amuleto rapidamente sentindo sua mão arder.

Ao verificar, viu que a pele da mão estava queimada. A forma lupina do amuleto estava gravada em sua mão. Ardia. Queimava. Como se já não bastasse ter falhado em seu serviço, ainda tinha que lidar com uma situação inesperada.

– Acho que foi bom você ter outro balde, não é mesmo? Vai servir para você amenizar isso aí! - disse Amber gostando do que tinha acontecido.

– Ou eu simplesmente posso utilizar para seus devidos fins. - e pegou o último balde. - Apagar seu fogo!

A temperatura do ambiente aumentou rapidamente. Um clarão tomou conta do local e uma enorme labareda difusa saía diretamente do amuleto de Amber. Nem ela e nem Artie estavam entendendo a situação.

A chama foi ganhando forma e um sentimento de alívio tomou conta de Amber. Conhecia aquela figura. Ou pelo menos achava que era a que conhecia. O lobo de seus sonhos estava ali para defendê-la. A pelagem cinza-amarronzada tinha ganho uma tonalidade meio cobre, parecendo que seus pelos estava em chamas.

O animal pressionou sua pata na corrente próximo a mão direita de Amber. Fumaça começou a ser emanada. O contato da pata quente do animal na corrente e a poça de água presente no local fez com que o metal enfraquecesse. A criatura repetiu o feito com as três correntes restantes e olhou para a menina.

Como se entendesse o que o animal estava querendo dizer para ela, Amber aplicou uma força na tentativa de escapar, rompendo as correntes que a seguravam. Restaram apenas as amarras do pulso e dos calcanhares, porém já conseguia mover-se livremente.

Artie gritou por ajuda e os mesmos guardas de antes apareceram. Surpreenderam-se e não entenderam como aquele lobo tinha entrado ali. Como primeira reação, os guardas avançaram para cima do animal, que apenas esquivou com grande velocidade.

O lobo agarrou o pulso de um dos guardas que gritou de dor. O segundo guarda não sabia o que fazer e procurava algo para se defender, pois não queria ter o mesmo destino de seu companheiro. Artie aproveitou a situação e correu.

Vendo tudo aquilo acontecer de forma tão rápida, Amber teve que pensar mais rápido ainda. Pegou os frascos que Artie havia deixado em cima da mesa, e o lobo, como se lesse seus pensamentos, soltou o pulso do guarda e afastou-se.

– Isso deve dar um jeito temporário em vocês! - e jogou um pouco de pó de sono.

Amber, pela primeira vez, ficou contente de ver alguém tomar por efeito desses pós. Alguém que não fosse ela.

O lobo deixou o calabouço e Amber o fez em seguida. Partiram por um corredor longo sem ninguém e ela imaginou que aqueles eram os únicos guardas que faziam ronda ali embaixo. Chegaram numa escada circular de pedra e subiram.

O corredor acima era feito de um material mais resistente e havia um maior número de celas. Todas elas trancadas. Não estava vazia igual ao andar inferior. Amber avistou mais três guardas vindo e já preparou um punhado de pó. Esperou eles se aproximarem e lançou no momento correto. Os três caíram de olhos abertos, sem reação, fitando a garota.

Correu buscando a próxima porta para sair daquele local. Seus passos foram interrompidos quando escutou um pedido de ajuda. A voz era suave e ela sabia que conhecia de algum lugar e foi averiguar a fonte daquele timbre.

Ao se aproximar da cela de onde a voz vinha, por um dos buracos da porta, Amber pode visualizar Elly. Pela primeira vez, pessoalmente. Junto com uma outra menina que ela desconhecia.

– Amber! Como você conseguiu escapar? - perguntou Elly feliz e surpresa.

– Isso é história para outro dia! Temos que tirar você daqui de algum jeito! - respondeu Amber olhando para os lados verificando se vinha mais alguém.

– As chaves ficam com os guardas.

– Não precisa dizer mais nada. Aguarde aí!

A menina foi em direção aos guardas que ela tinha paralisado enquanto o lobo ficou de prontidão em frente a cela de Elly. Amber procurou nos uniformes dos guardas enquanto os olhares deles seguiam todos os seus movimentos. Estava se sentindo estranha naquela situação, e apressou-se. Encontrou um molho de chaves no bolso do segundo guarda que revistou.

Correu em direção à cela, querendo sair dali o mais rápido possível. Demorou um tempo para encontrar a chave correta. Abriu a porta e apressou as duas garotas para saírem.

Elly queria agradecer a Amber por tê-la libertado, mas percebeu que aquele não era o momento correto para isso. Existiria outra oportunidade mais apropriada para isso. Percebeu que o lobo guardião de Amber estava ali presente, embora quando tinha o encontrado nos sonhos, estivesse com uma coloração diferente.

– Aparentemente certos objetos estão fazendo um trabalho mais do que suficiente. - disse Elly para sua irmã.

As três corriam desesperadamente no longo corredor até chegarem na porta. Leena parou abruptamente fazendo com que as outras duas fizessem o mesmo.

– Nossa mãe! Temos que tirá-la daqui também! - disse Leena.

– Você sabe onde ela está? - perguntou Amber. - Estou com as chaves das celas aqui, mas não temos tempo de ficar verificando uma por uma.

Houve um momento de silêncio entre as três. Elly conversava com sua mãe através dos sonhos, mas nunca tinha passado por sua mente perguntar em que cela estava. Nem mesmo um ponto de referência. Agora estava vendo as consequências de seu pequeno descuido.

– Olha, eu conheço muito pouco vocês. Você menos ainda. - disse olhando para Leena. - Mas, de acordo com o que Elly me contou, vocês são irmãs de um amigo meu e vou ajudá-las. Estou me comprometendo com isso. Mas primeiro precisamos sair daqui!

– Promete? - disse Elly.

– Costumo manter minha palavra. - respondeu convictamente. - Provavelmente aqui dentro não iremos conseguir fazer muita coisa, mas quando sairmos podemos procurar algum tipo de ajuda. Na minha cidade, na cidade de vocês ou em qualquer outro lugar.

– Tudo bem. - concordou Leena olhando para sua irmã buscando confirmação. - Então vamos!

Prosseguiram caminho até a próxima sala. Parecia a sala principal e, se conseguissem sair dali, estariam fora daquela prisão. Porém o número de vigias naquele local era maior. Dez guardas cuidavam da segurança ali, e Amber não sabia se conseguiria nocautear todos estando dispersos daquele jeito.

Seu guardião prontamente saltou para o meio do salão atraindo a atenção dos que estavam ali. Os guardas entraram em modo de ataque aglomerando-se em forma de círculo em volta do animal.

Lanças, espadas, achas e machados que estavam apontados para a criaturas logo foram abaixados a medida que os guardas iam caindo por cima de seus joelhos desacordados. Amber havia esvaziado o conteúdo do frasco de pó de sono para não correr riscos de estar alguém ainda acordado e impossibilitar a fuga delas.

Atravessaram a sala ,evitando os corpos caídos dos guardas, chegando no portão principal. Depararam-se com um cenário rochoso, já antes conhecido por Elly e Amber.

– Agora sabemos a origem do seu sonho. - disse Elly.

– E eu que achei que já tinha acordado dele, vou ter que escapar disso uma segunda vez.

As três meninas partiam em direção aos acidentes rochosos que a cercavam, em busca de qualquer tipo de refúgio que pudessem ficar a salvo. E, logo atrás, seguia um lobo como se quisesse servir de guarda-costas para sua protegida.


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