O Violinista Fantasma escrita por Leandro Zapata


Capítulo 2
Parte 2




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Taylor Reese encontrou Fabián na entrada do hotel se despedindo de uma loira mais alta do que ele. Ela desceu os degraus da escada sorrindo, como se tivesse tido a melhor noite de sua vida. É provável que tenha tido realmente se os rumores no escritório do jornal sobre Fabián estavam corretos. Assim que passou por ele, ele jogou uma série de perguntas sobre a noite na mansão mal assombrada. Ela resmungou, dizendo que explicaria tudo no café da manhã.

Depois de um banho, e uma boa olhada a luz do dia na foto, Taylor foi até o restaurante do hotel. Passou pelo hall, onde Fabián se juntou a ela. Após servirem-se, ele perguntou mais uma vez sobre a noite de Taylor.

– As histórias têm razão sobre a música ser muito bonita, e desconhecida. Eu acho que é uma criação dessa pessoa. - Ela tirou a velha foto que havia encontrado do bolso e entregou para Fabián, que a examinou. - Se realmente há um fantasma, será desse homem.

– Onde encontrou isso?

– Sob um assoalho ao lado de um rato morto. - Fabián subitamente jogou a foto sobre a mesa, enojado.

– Eca! Você lavou a mão antes de comer isso aí? - Ele apontou para o pão com presunto que ela comia.

– Eu tomei banho. - Ela falou sarcasticamente. - E a foto estava dentro de uma caixa de ferro.

– Certo.

– E aí, Fabián. - Uma loira com olhos cor de mel parou ao lado da mesa deles; ela era muito bonita, mas não tanto quanto aquela de quem ele tinha se despedido na entrada. - Onde está aquela sua acompanhante? Clara é o nome, não?

– Ela já foi. - Fabián respondeu com desdém.

– Uma pena. - Pelo tom de voz da garota, e o jeito que ela movimentava os olhos e as mãos, Taylor deduziu que Fabián tinha dispensado ela na balada da noite anterior. - Ainda bem que não dormi com você, por que meu acompanhante me convidou para tomar café.

– Que legal. - Fabián revirou os olhos para Taylor, que estava tendo dificuldades para conter uma risada histérica.

– Esta é a sua amiga que estava naquela mansão?

– Ela mesma.

– Já dormiu com ela também?

Taylor, que tinha um pavio curro, irritou-se. Iria retrucar, mas Fabián falou antes:

– Não. Ela não caiu nos meus charmes. Ao contrário de certas pessoas.

– Olha - dessa vez, ela falava com Taylor -, se eu fosse você, eu pararia de perder tempo com esse aí, ele se interessa sempre pela garota com os maiores peitos do salão.

– Senhorita - Taylor começou, e foi a vez de Fabián conter a risada -, eu não sou fácil. Não tenho interesse nenhum nele, a não ser que ele tire umas boas fotos para publicarmos no jornal. E se você ousar dizer mais alguma coisa nesse assunto, serei obrigada a responder usando essa faca de passar manteiga. - Ela segurava a dita faca. - Então, se não tem nada que possa ajudar sobre a mansão, pode se retirar.

Ofendida, a garota respondeu: - Eu tenho, mas isso vai custar umas horas com Fabián.

O rapaz olhou para a chefa, que não podia acreditar. Ele praticamente implorava para que ela concordasse. A garota gostou tanto assim do fotógrafo?

– Tudo bem.

A garota puxou-o pelo braço antes mesmo que ele terminasse o café e o levou até o quarto. As entediantes horas que passaram até ver Fabián ligeiramente mais cansado foram usadas por Taylor para passear pela cidade e pensar sobre sua descoberta.

Quando retornou ao hotel, a garota, sorrindo, contou para Taylor que, se quisesse avançar na sua investigação, precisava falar com o morador mais antigo da cidade. Ela passou o endereço.

Ainda antes do almoço, a dupla de turistas chegou a uma pequena casa afastada do hotel, na mesma direção da mansão mal assombrada. Era uma casinha pequena, com portas e janelas vermelhas. Ao bater na porta, uma rapariga de pouco mais de dezesseis anos atendeu. Ela era loira, de olhos azuis e rosto redondo.

– Posso ajudar? - Ela perguntou educadamente.

– Sim, estou procurando por Maximilian Meinhard. - Taylor disse, sendo simpática, o que era um grande esforço para a jornalista.

– Por favor, entrem, meu avô está na sala, ouvindo a vitrola.

Maximilian Meinhard, o morador mais velho da cidade, veio da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, sendo um dos poucos a ser contra o massacre judeu. Encontrou abrigo em Gramado como muitos antes dele, mas daquela geração, apenas ele restava.

Taylor se aproximou devagar após pedir licença ao idoso. Ele ouvia um disco de vinil em uma vitrola, que tocava música clássica. Ela fitava o vazio, como se revivesse suas memórias dentro de sua própria cabeça. Taylor sentou-se em uma cadeira diante dele, e foi obrigada a esperar que a música terminasse para ganhar a atenção do velho, que disse:

– A pessoa tocando um dos violinos nesse disco sou eu. - Ele contou. - Antes da guerra, eu era considerado um dos meninos prodígio do país. Era um orgulho para o meu país, até que meu país deixou de ser um orgulho para mim. - Ele finalmente olhou para Taylor. - Como eu posso ajudar uma jovem tão bela?

– A mansão mal assombrada. - Ela foi direto ao assunto. - O que o senhor sabe sobre ela e seu fantasma.

Antes de começar a falar, ele coçou a bochecha sob o olho direito. Foi quando Taylor notou uma leve cicatriz ali, entre as rugas, quase imperceptível.

– As histórias dizem que um homem morou lá durante anos de sua vida. Ele tinha uma filha pequena que sempre ouvia quando o pai, um músico, tocava. Eles eram felizes, apesar dos problemas. O pai até mesmo criou uma canção para menina. Um dia, um viajante do norte veio a cidade; ninguém sabia que ele era foragido da justiça por assassinar dezenas de crianças em todas as regiões do país. - Taylor forçou um pouco a mente, mas não conseguia se lembrar de ter visto essa história antes. - Ele assassinou a menina brutalmente.

Taylor teve uma sensação estranha. O velho senhor, contando aquela história, parecia estar muito triste, como se a história não pertencesse a outro, mas a ele mesmo. Ela lembrou-se da foto que encontrou e da cicatriz que o homem nela tinha.

– Dizem que durante muitos anos, o pai tocou seu violino, pois assim podia ver sua filha mais uma vez. E mesmo depois de morto, ele continuou tocando. E continuará, por toda eternidade.

Taylor sorriu, agradeceu e se dirigiu a saída. Uma vez do lado de fora, Fabián perguntou, estranhando a abstinência de indagações que Taylor costumeiramente faria aos seus entrevistados.

– O que aconteceu? - Ele perguntou. - Saímos muito rápido, não?

– Não. - Taylor sorria satisfatoriamente. - A história que ele contou é verdadeira, exceto uma parte: o homem da história não é alguém que já morreu, mas sim ele. Aquele velho é o violinista da história.

Naquela noite, em um carro alugado, eles observavam a casa do velho Maximilian. Quando faltava trinta minutos para meia-noite, o velho saiu de casa. Ele andava devagar, mas sem dificuldades. Ele foi até a garagem, onde entrou em um antigo Chevette.

Taylor, que estava ao volante, seguiu-o pela rua até ele entrar em uma estrada de terra. Fabián estava se perguntando como aquele carro tão velho e enferrujado aguantava o tranco dos buracos da estrada. Ele parou diante de uma pequena casa, tão pequena que parecia ter apenas um cômodo. Devagar, ele desceu do carro e foi até a casa.

Depois de ele entrar, Taylor e Fabián foram até a janela e observaram. Havia ali apenas um alçapão, por onde Maximilian entrou com dificuldade. Assim que ele saiu de vista, os dois entraram. As portas no chão levavam a uma escada, que por sua vez, levava a um corredor muito cumprido em linha reta. Os dois turistas seguiram por esse túnel iluminados pela luz de seus celulares.

Eles estavam próximos do fim quando a música começou. O relógio na tela marcava meia-noite. O túnel terminava em uma caverna quadrada iluminada por algumas lâmpadas elétricas ligadas em uma bateria de carro. Havia ali apenas uma poltrona, um banquinho e, sobre ele, uma vitrola. Taylor reconheceu imediatamente a música, pois era a mesma tocada na noite anterior, e provavelmente todas as noites antes daquela durante anos.

Eles se aproximaram da poltrona. Maximilian estava sentado ali, observando o nada. Taylor já o tinha visto assim, por isso percebeu que havia algo de diferente. Usou dois dedos para chegar o pulso do velho. Nada.

– Ele está morto. - Ela concluiu.

Taylor não precisava de uma investigação apurada para saber da verdade. Maximilian era o homem da história que, durante anos, tocou para sua filha naquela caverna que era logo ao lado do porão da mansão mal assombrada. Então, quando ficou velho e não pôde mais tocar, gravou-se e ia ali, ouvir e ver sua filha morta mais uma vez.

Não havia fantasma, era apenas um velho saudoso.

Um pouco decepcionada, Taylor acionou as autoridades. Na manhã seguinte, ela e Fabián partiam de volta em um avião para São Paulo.

– Uma pena não termos encontrado um fantasma de verdade. - Ele falou.

– Sim, é uma pena.

Taylor não mais falou, pois estava perdida em seus pensamentos. Sua decepção não era não haver um fantasma, mas sim, por não nem um sinal daquela pessoa ou, pelo menos, um vestígio de Magia.


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