Além de Irmandade escrita por Dricca


Capítulo 16
Cobra-cega


Notas iniciais do capítulo

Caramba, mais nove mil palavrinhas pra vocês. Vocês preferem capítulos grandes assim ou menores? Eu gosto de fazer um capítulo grandão (a verdade é que sai grande sem que eu controle isso).
Pessoal das recomendações: @Mr Marchall e @Ian Carvajal. Eu já falei pra vocês (na resposta do comentário) o quanto eu amei a recomendação de cada um, mas eu gosto de botar os nomezinhos aqui, pra reforçar meu amor por cada frase que vocês escreveram. Obrigada! Do fundo do meu coração!



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O dia só pareceu começar realmente quando a garçonete do Rei colocou, à minha frente, uma pilha de panquecas frescas, três opções de calda doce e uma enorme taça de suco de maçã bem gelado. Matheus, sentado no estofado do outro lado da mesa, tinha optado por um hambúrguer tamanho família e uma Coca Zero, porque, estranhamente, ele achava que a Zero era melhor que a normal.

— Gostei daqui — Matheus comentou, olhando ao redor, depois de dar a primeira mordida em seu hambúrguer.

Assenti, concordando, enquanto cortava um pedaço de panqueca com garfo e faca.

O Rei era o tipo de café retrô e bonitinho, parecido com aqueles lugares onde se gravam clipes de música pop. Na fachada, as janelas enormes eram praticamente paredes de vidro. As mesas eram quadradas, com assentos de estofado vermelho desgastado.

O som ambiente variava entre um tipo de country antigo e jazz dançante. As garçonetes balançavam a cabeça no ritmo da música enquanto andavam por ali, atendendo e entregando pedidos.

Era realmente agradável toda aquela atmosfera, e me surpreendia o fato de eu ter passado tantas vezes pela fachada cativante e, mesmo assim, nunca ter entrado. Principalmente num daqueles dias em que o Daniel me abandonava sozinho em casa e eu não me animava para fazer o almoço ou o jantar. Não que eu soubesse fazer o almoço ou o jantar, claro; eu só ficava com preguiça de descongelar comida pronta.

De qualquer forma, assim que eu passei pelas portas de vidro daquele lugar e me senti dentro da lanchonete de A Nova Cinderela, eu tive certeza de que viria tomar o café da manhã ali mais vezes. Mesmo que, naquele momento, eu não estivesse tomando café ou fosse de manhã.

Na verdade, já passava das duas da tarde quando eu finalmente acordei, na cama do meu pai, ainda não totalmente recuperado da minha noite mal dormida. A conversa que eu tive com Daniel de madrugada me deixou ainda pior do que eu já estava, mesmo que, admito, eu precisasse escutar tudo o que ele tinha para me contar.

Eu só não queria pensar muito nele ou na noite anterior, e vir até o Rei surgiu em minha mente quando abri a porta do meu quarto, para ver se o Matheus já estava acordado, e ele me disse que estava com fome antes mesmo de me falar bom dia – ou boa tarde, no caso.

Sem nem trocarmos nossos pijamas por alguma coisa mais apresentável, peguei o cartão de crédito que meu pai deixou em casa e saímos. Daniel havia contratado uma mulher simpática para limpar a bagunça da festa, e pelo visto ela estava lá desde cedo. Então, ao menos, eu tinha certeza de que, quando voltássemos, a casa estaria toda limpinha, sem resquícios daquela noite difícil.

Caminhamos duas quadras até o Rei, em um silêncio desconfortável. Matheus andava com uma careta, provavelmente pensando em tudo o que tinha me dito sobre gostar de mim e o que seria da nossa conversa de reconciliação. E, por mais que eu sentisse que deveria estar pensando nisso também, eu só conseguia pensar no Daniel e nas coisas que ele tinha me contado de madrugada.

 Escolhemos um lugar perto das enormes janelas e esperamos nosso pedido sem trocar uma palavra, o que realmente estava me incomodando. De alguma forma, no entanto, o cheiro acolhedor das minhas panquecas me fez querer quebrar o clima esquisito.

— E aí, como vão as coisas desde que eu fui embora?

Eu não era muito bom em iniciar uma conversa, normalmente era o Matheus quem começava a falar. Mas, como ele estava fazendo o tipo calado (desde que comentou sobre gostar do lugar), eu me senti na necessidade de dizer alguma coisa, qualquer coisa.

Eu estava odiando ter que puxar assunto como se fôssemos estranhos ou coisa do tipo, porque sempre foi muito fácil conversar com o Matheus. Era quase como falar com meu pai, eu não precisava pensar antes de dizer bobagens. Eu gostaria que tudo pudesse voltar ao normal, mesmo sabendo que isso era praticamente impossível. As marcas já estavam feitas, nada poderia des-acontecer.

— O professor de arte ficou em choque quando não viu você no primeiro dia de aula.

Dei risada.

— Eu também gostava dele. Mas minha professora nova é bem legal também.

— Isso é bom. Você tá gostando do novo colégio?

Fiz que sim com a cabeça. — O Apus é um colégio puxado e tem regra pra tudo, mas as pessoas são legais, me receberam bem — hesitei, pensando melhor. — Menos a diretora, ela é estranha.

— Por quê?

Contei para o Matheus sobre o desastroso episódio no qual a diretora Eva colocou Daniel e eu para trabalharmos como assistentes no primário e para fazer sessões com a orientadora. Como todos que ouviram aquela história, Matheus achou aquilo desnecessariamente esquisito.

— E vocês tão fazendo isso desde quando? — ele quis saber.

— Pouco tempo. Por enquanto só tivemos uma sessão com a orientadora e duas tardes como assistentes de professor. Até que tá sendo divertido. O Daniel tem um jeito impressionante pra lidar com as crianças, você tinha que ver. Parece tão natural pra ele se dar bem com qualquer um. As pessoas simplesmente gostam dele com muita facilidade.

Matheus deu um sorriso meio triste.

— E você também.

— Eu também, o quê? — franzi o cenho, engarfando mais um pedaço de panqueca.

— Também gosta dele.

Parei de mastigar e encarei o Matheus. Ele tinha um olhar triste e conformado que fez com que eu me sentisse horrível, a pior pessoa do planeta. No fim das contas, eu realmente não tinha filtros com ele e de repente lá estava eu, falando do Daniel como uma daquelas fãs dele. Que não eram muito diferentes de mim, para falar a verdade. E agir daquele jeito na frente do Matheus era muita crueldade da minha parte.

— Desculpe — falei, engolindo as panquecas sem mastigar direito, empurrando suco de maçã por cima.

— Você não tem que pedir desculpas.

— Mas é que eu me sinto culpado, não quero que você fique triste comigo.

— Nem se você quisesse eu ia conseguir ficar triste com você.

— Mas tá com cara de triste! — apontei meu garfo para o rosto dele, tentando parecer descontraído. Mas não adiantou muito porque nem um sorrisinho ele deu.

— Tô triste comigo mesmo, sabe, por não ter te contado como eu me sentia antes — Matheus deu de ombros, encarando o meio hambúrguer a sua frente como se tivesse perdido o apetite. De repente, minhas panquecas ficaram sem graça também.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, encarando o vazio. Parecia que alguém tinha dado um nó nas artérias do meu coração, era muito difícil ter uma conversa daquelas com meu melhor amigo.

— Desde quando? — perguntei, um tanto desconfortável. Aquela era uma pergunta que eu queria ter feito antes, a curiosidade me corroía toda vez que pensava em uma resposta para ela.

Ele respirou fundo, depois engoliu em seco. Eu estava ficando nervoso de verdade por vê-lo assim, tão hesitante.

— Acho que desde a primeira vez que te vi.

E o silêncio veio outra vez, como um vilão que insiste em ser protagonista.

Fiquei processando aquela última informação. Foi como se um sentimento de desconfiança tivesse sido adicionado em todas as memórias infantis e inocentes que eu tinha com o Matheus. Forte o suficiente para mudar todas as minhas impressões do passado em alguns milésimos de segundo. Quer dizer, era muito estranho pensar que por trás dos seus olhares e sorrisos, Matheus sempre esteve escondendo algo tão grande e que, provavelmente, o machucava.

Tomei uns bons goles do meu suco antes de conseguir encará-lo de volta.

— É muita coisa pra pensar — respirei fundo. — Por que não me contou antes?

— Fiquei com medo, achei que você fosse ficar com nojo de mim, sei lá. Não queria te perder — ele comprimiu os lábios, desviando o olhar janelas a fora. — Mas aí você se mudou e eu senti que tava te perdendo de qualquer forma. Principalmente quando ouvia você falar do Daniel, dava pra ver que ele mexia muito com você. Então eu percebi que tinha que vir até aqui e te falar o que eu sentia, mesmo que fosse tarde demais. Eu precisava pelo menos tirar isso de dentro mim pra poder seguir em frente, sabe?

— Acho que, no seu lugar, eu jamais teria coragem pra fazer isso — Matheus sorriu minimamente com o que eu disse.

 Suspirei, vendo que ele não falaria mais nada.

— E agora? — tomei coragem e perguntei o que realmente importava para mim.

— Agora, o quê?

— Eu não quero que as coisas mudem.

— As coisas já mudaram, Luca — Matheus respondeu, com uma voz séria, e aquilo realmente me deixou assustado.

— Bom, sim, mas... — tentei falar, me atrapalhando um pouco, o que fez com que Matheus risse. Aquele sorriso dele quebrou um pouco da tensão, mesmo que ainda existisse muito dela pairando na aura daquela conversa.

— Calma, eu não vou parar de falar com você. Não precisa fazer essa cara.

Soltei o ar, aliviado. — Por um momento eu achei que...

— Não, eu não vou — ele me interrompeu, parecendo achar graça da minha aflição só com a ideia de não sermos mais amigos. — Eu só tô falando que não podemos ser melhores amigos como antes, mas podemos ser melhores amigos como agora, ou como daqui pra frente — Matheus sorriu, apesar de ser um sorriso meio triste ainda.

— Claro, parece bom. Tipo, a coisa certa.

— Mas isso se você responder as minhas mensagens, né.

Revirei os olhos, tentando segurar um sorriso que acabou sendo inevitável.

— Você sabe que eu sou meio... — pensei em uma palavra que pudesse me descrever. — Desligado?

Matheus riu. — Você é um chato, isso, sim. Agora coma essas panquecas porque nós ainda temos que buscar o meu carro no posto de gasolina.

Ele parecia ansioso para desviar do assunto principal. Eu o conhecia bem o suficiente para entender aquilo como um sinal que já estávamos bem outra vez. Matheus tinha uma mania ótima de querer encerrar conversas de reconciliação o mais rápido o possível. Ele era bastante orgulhoso e aquilo sempre fez parte dele.

Diante disso tudo, eu só podia fazer minha parte ao tentar manter nosso laço de amizade. Do fundo do coração, eu esperava que esse momento funcionasse como uma poção de fortalecimento. Era isso que a sinceridade deveria causar em qualquer tipo de relacionamento. E eu me sentia grato pelo Matheus ter sido sincero comigo. Mesmo que ele pudesse estar machucado, era como tirar o band-aid de uma vez. Bem melhor do que manter uma ferida jorrando para dentro, ferindo a alma.

— Espero que seu carro ainda esteja nesse posto — ri, contido, enquanto voltava a cortar as panquecas no prato.

— Nem brinque com uma coisa dessas — Matheus brigou, e, em seguida, mordeu seu hambúrguer, fazendo com que a mostarda se esparramasse no canto de sua boca.

Olhei para ele, com um sorriso carinhoso. Eu estava muito feliz com aquela nossa conversa, mesmo que não muito longa e talvez pouco esclarecedora sobre todas as curiosidades que eu tinha sobre ele gostar de mim. Mas eu não deveria ficar perguntando quando eu não estava interessado nele de volta. Seria como dar falsas esperanças.

Eu queria muito que, no momento, Matheus estivesse pensando que nós estávamos melhor daquele jeito. Eu sabia que provavelmente ele só estava tentando ser forte. Mas eu também sabia que, de um jeito ou de outro, ele era mesmo forte e que ele superaria qualquer sentimento que quisesse superar. Matheus era legal desse jeito.

Eu esperava, com todo meu coração, que ele seguisse em frente o quanto antes. Matheus merecia alguém tão incrível quanto ele próprio.

...

— De quem é esse carro?

Foi o Matheus quem fez a pergunta, enquanto eu procurava o controle do portão nos bolsos da bermuda. Eu tinha comprado umas guloseimas no Rei para comer mais tarde, e as sacolas estavam me deixando um pouco estabanado.

Ainda meio distraído com o que eu fazia, olhei rapidamente para o Matheus e depois na direção em que seus olhos curiosos estavam fixos.

Arregalei os olhos com a surpresa.

— É o carro do meu pai — sorri, animado, enquanto o portão abria.

Puxei Matheus pelo braço e corremos até a entrada.

— Calma, seu pai não vai fugir!

— É que eu tô com saudade!

Testei a maçaneta da porta e estava destrancada. Ao mesmo tempo, ouvi vozes que pareciam vir da cozinha. A casa estava com um cheiro doce de produto de limpeza de flor. Lavanda e baunilha.

— Queria que sua reação quando cheguei tivesse sido essa — Matheus se fingiu de magoado, fechando a porta atrás de si depois de entramos.

Eu já ia responder com alguma gracinha, mas me distraí com a cena que vi. Ali do hall, pude ver os cabelos loiros do meu pai. Ele estava ao lado de Amora, observando enquanto ela conversava com Daniel de um jeito afobado, como se estivesse se certificando de que ele realmente não tinha se metido em encrenca ou botado fogo na cozinha enquanto ela esteve fora.

Apenas o meu pai notou o barulho da porta quando Matheus a fechou. Quando ele me viu, sorrimos um para o outro. Fui depressa até ele, abraçando-o. Ele cheirava ao costumeiro perfume, mas estava misturado com cheiro de filtro solar. Por alguma razão, imaginei Miami inteira com esse cheiro, como se ele tivesse trazido isso da viagem. Abraçar papai era como estar em casa, finalmente.

— Você trouxe o Matheus? — meu pai perguntou e logo me desgrudei dele, puxando o Matheus para perto.

— Ele chegou ontem.

Matheus sorriu e cumprimentou meu pai com um aperto de mão, que logo se transformou em um abraço aconchegante graças a carência do meu pai. Matheus era como um filho para ele, nós três costumávamos passar muito tempo juntos.

Antes de nos mudarmos, quando eu não queria mesmo sair com Matheus e meus outros amigos, nós três fazíamos maratona de filmes e ficávamos conversando durante a madrugada, quer dizer, isso quando o meu pai não capotava no sofá e começava a roncar como um trator.

De qualquer jeito, ver os dois juntos me fazia ter boas lembranças do passado.

— E o meu abraço? — ouvi a voz doce de Amora atrás de mim e me virei para ela, com um sorriso.

Ela estava de braços estendidos e abertos, e eu apenas me aninhei em seu abraço confortável. Meu olhar se encontrou com o de Daniel, que estava logo atrás de Amora, nos observando com certa ternura. Ele sorriu para mim e eu sorri de volta, sentindo-me ansioso. Mesmo que eu ainda estivesse meio afetado com nossa conversa de antes, bastava um sorriso para eu deixar qualquer barreira emocional se desfazer em pedacinhos.

— Onde vocês estavam? — Amora me perguntou, desatando nosso contato e caminhando até o Matheus. — Matheus, não é? — ele assentiu, com seu melhor sorriso para pessoas novas. — Eu sou Amora, muito prazer.

— O prazer é meu — eles apertaram as mãos. — O Luca falou bem de você.

Amora sorriu e piscou para mim, me fazendo rir.

— Nós acordamos tarde e saímos pra comer alguma coisa — contei.

— É mesmo? — Amora olhou para minhas sacolas. — E o que você trouxe?

— Uns docinhos — revelei, achando graça dos olhinhos azuis e gulosos dela para minha sacola de doces. — E tem uma torta que eu comprei porque ela me lembrou de você.

— Sério? É uma torta de quê?

— Não é tão difícil de adivinhar — eu disse, sorrindo, ao mesmo tempo em que entregava a sacola em suas mãos.

— Acho que já tenho uma ideia — Amora deu uma risadinha, espiando o conteúdo da sacola enquanto caminhava até a cozinha.

— Por que vocês voltaram antes? — perguntei, direcionando minha atenção ao meu pai.

— O nosso voo foi cancelado por causa de uma previsão de tempestade, e quando estávamos reagendando a nossa volta, Amora e eu percebemos que estávamos com muita saudade de casa e de vocês. Então, resolvemos encurtar a viagem.

Eu fiquei feliz com o retorno antes do previsto. Se eu ficasse sozinho naquela casa com Daniel, por mais um pouco que fosse, eu não duvidava de que algo ruim fosse acontecer. Eu simplesmente não conseguia entender aquela chuva de acontecimentos desastrosos e sentimentos explosivos que vinham de brinde com o Daniel. Depois da conversa que tive com ele, na madrugada passada, comecei a pensar que o universo não queria que ficássemos juntos.

Meu pai convidou Matheus para o jantar e ele até tentou recusar, mas Amora foi bem insistente. Ela já tinha começado a fazer macarronada quando arrastei Matheus para o meu quarto, sem dar chances para que ele inventasse qualquer desculpa para ir embora. Tentei não me sentir um incômodo ao fazê-lo ficar. Quer dizer, eu sabia ler as expressões do meu melhor amigo e podia ver que ele estava querendo ir para casa de uma vez.

Matheus gostava de ficar sozinho quando se chateava com alguma coisa. Ele tinha fugido de mim na noite passada, afinal de contas. E, no momento, dava para ver que ele estava cansado e triste, por mais que estivesse sorrindo e fazendo piadas.

No fundo, eu também queria que ele fosse para casa. Eu mesmo precisava de um descanso. Precisava deitar a cabeça no meu travesseiro e tomar fôlego para encarar o próximo dia e depois o dia seguinte.

Mas, mesmo assim, eu senti que deveria manter o Matheus por perto mais um pouco. Ao menos para termos um momento legal durante o jantar. Eu queria que ele percebesse que, apesar de tudo, poderia se sentir como alguém da família, ao invés de ir embora apenas com aquela nossa conversa.

Enquanto estávamos jogados sobre o colchão da minha cama, conversamos sobre o pessoal do meu colégio antigo e sobre o time de futebol do qual Matheus fazia parte. Ele estava especialmente animado sobre esse assunto, me contando que o time já estava classificado para as Municipais e, se vencessem, podiam chegar a jogar contra o time do Apus nas Estaduais.

Amora nos chamou quarenta minutos depois para ajudarmos a arrumar a mesa do jantar. Daniel também apareceu, por livre e espontânea vontade. Concluí que era saudade de Amora, já que ele sempre fingia que não era com ele quando ela pedia ajuda com algo em casa.

Enquanto ajeitávamos os pratos, Matheus contava uma história esquisita sobre o motivo do seu carro não estar lá em casa, mas sim em um posto de gasolina aleatório. Meu pai acreditou porque ele era meio bobo para descobrir mentiras e também porque Matheus era como Daniel para inventar algo absurdo e, incrivelmente, crível. Por que eu atraía esse tipo de garoto eu também não sabia.

Estávamos terminando de pôr os talheres quando a campainha tocou. Aparentemente, ninguém estava esperando visitas, já que nos entreolhamos de cenho franzido assim que escutamos o ding-dong.

—  Quem vai atender à porta? — Amora parou o que estava fazendo e olhou para nós quatro, esperando que alguém se prontificasse; ela carregava uma grande travessa de vidro com macarronada, as mãos encapadas com luvas de forno vermelhas.

Como eu não queria ir, continuei pondo à mesa, fingindo que eu estava ocupado demais para sequer pensar em deixar minha tarefa pela metade.

— Eu vou — Daniel disse e logo abandonou a sala de jantar, em passos preguiçosos.

— Quem será? — meu pai colocou as mãos na cintura, enquanto parecia acompanhar com o olhar o trajeto que Daniel fazia até a porta.

Ele tinha uma expressão engraçada de curiosidade que eu conhecia bem, já que ele sempre gostou de saber tudo o que estava acontecendo, mesmo que não dissesse ao seu respeito.

— Será que é a vizinha? — Amora se questionou, tirando as luvas das mãos, encarando a travessa de macarronada no centro da mesa. Parecia orgulhosa com a aparência apetitosa do prato.

— Que vizinha? — perguntei, confuso, enquanto arrastava uma cadeira para me sentar ao lado do Matheus.

— Nossa vizinha da direita, a Cornélia — Amora respondeu. — É uma senhorinha simpática, até. Por algum motivo, ela gostou muito de mim. Então, sempre que sabe que eu tô em casa, ela vem pra cá. Eu não reclamo, já que ela costuma trazer alguma comidinha gostosa de presente. Da última vez foram uns cookies caseiros.

— Eu achei que tinha sido você que fez os cookies — confessei.

Amora deu risada e negou, balançando a cabeça.

— Você já deve ter comido muitas coisas da dona Cornélia sem saber.

— Por que eu nunca vi ela por aqui?

— Você geralmente tá dormindo quando ela aparece, Luca. Ela costuma vir logo depois que eu chego do trabalho, lá pelas seis e pouco da tarde.

Ouvi Matheus dar risada e olhei para ele.

— Você continua dormindo a tarde toda? Você nunca vai mudar.

— É mais forte do que eu — fiz uma careta e Matheus deu outra risada.

— O Daniel não tá demorando demais pra fazer um simples atendimento de porta, não? — Amora disse, de repente, andando até a porta da sala de jantar para espiar o filho lá no hall. De onde eu estava, não podia ver nada, então apenas esperei que ela reportasse a situação. — Uma garota? Será que é mais uma das amigas do colégio?

— Se eles estudam juntos eu não sei, mas amiga ela não é — meu pai falou, a voz estranhamente maliciosa, deixando todos nós intrigados.

— O que você quer dizer? — Amora perguntou.

— Ela deve ser mais que uma amiga, já que eles se beijaram agora há pouco.

Meu coração pareceu congelar e ganhar cinquenta quilos.

Amora apenas bufou, balançando a cabeça em negação, como se não aprovasse aquilo mas, mesmo assim, já estivesse habituada com garotas beijando Daniel na porta de casa. Ela deu as costas para o marido, que continuava na mesma posição (espiando Daniel) e foi buscar a salada na cozinha.

Ao mesmo tempo, Matheus girou a cabeça na minha direção como se fosse uma coruja ligeira ou uma dessas pessoas que viram o pescoço de um jeito estranho nos filmes de terror. A expressão dele era a personificação de um ponto de interrogação.

— Longa história — me restringi a falar aquilo, na esperança de que Matheus não tocasse em assuntos proibidos na frente do meu pai.

Quem dera.

— Achei que vocês dois estavam bem — ele contestou, um pouco alto demais para o nível de discrição que aquele tipo de conversa exigia.

— Shhh — levei o indicador aos meus lábios, para que ele notasse que tinha que ficar em silêncio. Não era inteligente tocar nesse assunto justo quando estávamos todos ali, prestes a ter um jantar no estilo família tradicional.

— Achei que vocês dois estavam bem — dessa vez, ele sussurrou.

Olhei para cima e pedi paciência aos céus.

— A gente tá bem — respondi normalmente, dando de ombros.

— Mas ele acabou de beijar uma garota bem ali na porta, como isso é estar bem pra você? — ele continuou sussurrando.

Olhei para o papai antes de responder o Matheus, para ter certeza de que ele ainda estava tentando ouvir a conversa do Daniel e não a minha.

— Aconteceram umas coisas e agora o Daniel meio que tá preso a essa garota — sussurrei em resposta. —, mas eu ainda tô chateado com isso e não quero falar agora. Até porque não é hora nem lugar, né, Matheus.

— Promete que vai me contar tudo depois? Sei que falei que gosto de você, mas isso não significa que você precisa parar de falar completamente sobre o Daniel. Eu sou seu amigo, como sempre.

Desviei os olhos para o meu prato vazio de porcelana, me sentindo meio tímido. Provavelmente, eu jamais me acostumaria com Matheus falando tão abertamente e naturalmente que gostava de mim. Ainda era estranho.

— Prometo que te conto depois.

— Jura de dedinho? — Matheus estendeu seu mindinho para mim, suas sobrancelhas estavam levantadas como se me desafiasse a prometer.

Revirei os olhos, mas enganchei meu mindinho no dele, sorrindo. No instante seguinte, ouvi um pigarrear. Daniel estava parado do outro lado da mesa, encarando Matheus e a mim com uma expressão nada amigável. A garota estava logo atrás, cumprimentando meu pai. Era a garota da festa. Só de olhar para ela, eu sentia meu estômago revirar.

Matheus soltou meu dedo mindinho imediatamente, mas nem por isso desviou o olhar meio ameaçador do Daniel. Eles ficaram naquilo até Amora voltar com a salada e começar uma conversa com a garota.

— Você vai jantar com a gente, querida?

— Ah, eu não queria incomodar. Daniel me disse que vocês acabaram de voltar de viagem, qualquer coisa eu faço o meu namorado aqui me levar pra jantar em outro lugar, pra deixar vocês mais à vontade.

Ela agarrou um dos braços do Daniel, com um sorriso ridículo. Depois olhou para mim, diretamente. Ela era bonita, realmente. Cabelo e pele impecáveis. Mas com aqueles sorrisos falsos, a cada segundo ela ia perdendo a graça.

— Se vocês estão mesmo namorando, você deveria saber que o Daniel não gosta de que o façam sair. Ele é muito independente com as decisões dele — olhei para Amora enquanto ela falava; sua postura estava diferente, e eu podia dizer que, com certeza, ela não tinha gostado nada daquela garota agindo como se mandasse em Daniel. Me senti muito mal por aquela situação toda.

— E você com certeza não vai incomodar — meu pai falou, gentil. Como sempre, ele parecia não estar percebendo o clima ruim que estava se formando por causa dela. — Por favor, fique pra jantar. Amora fez bastante comida.

Daniel arrastou uma das cadeiras e se sentou exatamente a minha frente, sem falar nada. Colocou os cotovelos sobre a mesa e cruzou as mãos em frente à boca, como se estivesse rezando para tudo aquilo passar logo. A garota sorriu, um tanto contrariada.

— Se vocês insistem... — disse, sentando na cadeira ao lado de Daniel, de frente para o Matheus.

— Como você disse que era o seu nome mesmo? — Amora indagou, encarando a garota, conforme se sentava na ponta da mesa mais próxima de Daniel e de mim. Meu pai logo se sentou também, na outra ponta.

— Cecília.

— Você gosta de macarronada, Cecília?

Daniel começou a se servir, sem cerimônia. Ele parecia ter se desligado do mundo, como se não quisesse ouvir ninguém. Eu estava começando a me preocupar seriamente, não me lembrava de tê-lo visto assim antes.

— Gosto, sim, mas prefiro evitar, porque engorda.

Todo mundo ficou em silêncio por alguns segundos, olhando para a Cecília. Se havia algo que eu sabia sobre nossa nova família, era que todos nós éramos quase obcecados pela ideia de comer bem. Matheus também era assim. E Cecília pareceu tão entediante. E não era só porque ninguém ali precisava ou queria fazer dieta, mas porque ela mesma não precisava. Estava magra como uma dessas modelos.

— Mas você tem o corpo bonito, não precisa deixar de comer coisas que você gosta — Amora comentou. — E mesmo se não fosse magra, não precisaria fazer isso.

— Se eu tenho um corpo bonito é exatamente porque eu não como esse tipo de coisa — ela sorriu para Amora. Parecia que elas estavam se provocando ou algo do tipo. Eu, particularmente, não estava acreditando que ela havia mesmo acabado de dizer que a macarronada de Amora era "esse tipo de coisa", com aquela voz enjoada.

Meu pai deu risada, quebrando um pouco do clima meio esquisito. — Isso faz sentido.

Amora e eu olhamos com raiva para o papai, e ele pareceu meio assustado. Ele parou de rir e começou a comer.

— Se não quiser a macarronada, tem salada — Amora disse, sem expressão ou emoção. Era até estranho vê-la tratando alguém dessa forma, justo ela que era tão receptiva e cheia de sorrisos.

— Eu amo sua macarronada, Amora — falei, colocando uma quantidade bastante exagerada no meu prato, com bastante molho. Eu não queria ver Amora estressada por causa daquela nojenta, então falei aquilo na intenção de agradá-la. Além disso, aquela garota estava me dando raiva e eu precisava comer algo gostoso.

— Obrigada, Luca — ela sorriu, alcançou meus cabelos e me fez um breve carinho na cabeça. Sorri também. Eu gostava muito quando Amora passava as mãos nos meus cabelos, era como um genuíno carinho de mãe, algo que me fazia muita falta, principalmente quando pensava sobre onde poderia estar a minha mãe biológica.

Percebi que Daniel sorria minimamente para aquele gesto de Amora, como se gostasse do fato de eu e ela nos darmos bem. Sorri tímido para ele e, aparentemente, Cecília percebeu e não gostou nada disso.

— Você pode me passar a salada, Luca? — Cecília pediu, olhando intensamente para mim. A forma como ela disse aquilo fez parecer como se ela, na verdade, estivesse falando "você pode ficar longe do Daniel, Luca?".

Antes que eu pudesse alcançar a salada, Daniel fez isso por mim. Ele largou a tigela com certa brutalidade ao lado do prato de Cecília e voltou a comer normalmente, sem nem olhar para ela. Cecília fingiu não perceber a frieza de Daniel e sorriu, falando "obrigada, amorzinho", o que quase me fez vomitar todo o macarrão que eu já tinha engolido. Percebi que meu pai olhava de um jeito estranho para mim, provavelmente tentava entender o motivo de eu estar tão obviamente irritado com a garota. Apenas desviei os olhos e continuei comendo.

Durante o restante daquele jantar, meu pai tentou, de algum modo, suavizar o clima denso. Ele fez uma tentativa falha de puxar uma conversa com a Cecília, mas ela era curta e grossa na maioria das respostas. Então, ele passou a tentar com Daniel, mas ele definitivamente estava de mal humor.

No fim das contas, apenas Matheus conseguiu dar atenção ao papai. Eles conversaram sobre algumas lembranças nostálgicas e sobre o time de futebol do Matheus. Eu até queria ter prestado mais atenção naquela conversa, mas nada me fazia tirar os olhos daquela garota se lançando para cima do Daniel a cada mínima oportunidade. Àquela altura eu já me achava um masoquista por ficar olhando aquela cena, mas era como se eu estivesse tentando proteger o Daniel de longe, mantendo o olhar sobre ele.

— Luca, me ajude a levar os pratos até a cozinha — meu pai pediu, logo depois que todos haviam terminado de comer.

Franzi o cenho para ele, mas obedeci. Ele não costumava me pedir para limpar a mesa, porque eu geralmente fazia isso por mim mesmo. Sempre fomos nós dois morando sozinhos, e, como ele trabalhava muito, eu já tinha me acostumado a fazer esse tipo de coisa. Então, ter me pedido aquilo significava que, provavelmente, ele queria me dizer algo em particular que não podia ser dito ali, na frente de todo mundo.

Peguei os pratos de Matheus, Amora e também o meu, e deixei que papai pegasse os outros três. Coloquei os pratos dentro da pia da cozinha e depois me apoiei na bancada, esperando meu pai trazer os pratos para, então, falar o que tinha para falar.

Ele se aproximou, olhou uma vez para mim e depois voltou os olhos para a sala de jantar, como se quisesse ter certeza de que ninguém fosse escutar nossa conversa.

— Luca, eu vi o jeito que você olhou pro Daniel e a Cecília — ele começou, sério, e eu senti meu coração acelerar de nervosismo; eu não entendi o porquê daquele assunto de repente. — Sei que é difícil controlar este tipo de sentimento, mas o Daniel é seu irmão, Luca. Isso é errado.

Ouvir aquilo foi como levar um balde de água fria. O meu pai, a última pessoa que achei que fosse descobrir sobre meus sentimentos, estava bem ali, me confrontando diretamente e indiscretamente sobre eu gostar do Daniel. E o que eu achei mais estranho era ele ter dito que o problema era o Daniel ser meu irmão, e não um garoto. Quer dizer, nós nem éramos irmãos de verdade.

Meu pai ficou olhando para mim, esperando que eu dissesse alguma coisa. Mas eu só consegui encará-lo de volta, sem saber o que dizer. Sentia minhas mãos começarem a tremer e a suar. Achei que eu fosse desmaiar ali mesmo.

— Não se preocupe, Luca — ele voltou a dizer, visto que eu estava calado. — Eu não vou contar pra ninguém.

Ele estava estranhamente dócil para alguém que tinha acabado de descobrir que o filho gosta de garotos, principalmente por ter sido criado por um preconceituoso como o meu avô. Meu pai não era assim. Não era tão bom. Eu conhecia o pai que eu tinha e algo simplesmente parecia errado naquilo tudo.

— Hã... É... — eu queria perguntar se ele realmente estava entendendo qual era a situação, se estava tudo bem para ele ter um filho gay. Mas eu não sabia como falar, nem se deveria realmente perguntar.

— Não precisa ficar desse jeito, filho — ele continuou. — Eu te conheço e sei que você jamais faria algo pra roubar a namorada do Daniel ou qualquer coisa assim. Só espero que você supere isso logo.

Roubar a namorada do Daniel?!

— Pai, por que eu iria querer a Cecília?

— Porque você gosta dela? — ele sugeriu, meio incerto.

— Pai, eu odeio essa garota.

— Odeia?

— Odeio. Definitivamente.

— Mas... — ele franziu o cenho e entortou a cabeça para o lado, confuso. — Achei que você gostasse dela. O jeito como você olhava pra eles... Parecia que você tava com raiva ou ciúmes.

O fato de eu ser um lerdo na maioria do tempo, com certeza, eu tinha puxado do meu pai. Eu sabia que ele estava dócil demais para ser verdade. Respirei fundo, tentando me acalmar do susto. Minhas mãos e pernas ainda estavam trêmulas.

— Eu tava com raiva, isso com certeza — e ciúmes também, mas do Daniel, no caso. — Mas é só porque eu não gosto mesmo dela.

— E por que não?

— Pai, ninguém gosta dela. Vai me dizer que você não achou ela chata pra caramba?

— Bom, é um pouco difícil conversar com ela.

— É impossível, você quer dizer. Não viu como ela foi grossa quando você tentou conversar?

— Achei que ela estivesse meio tímida por estar jantando com a família do namorado — ele deu de ombros, fitando o além a sua frente de maneira pensativa, como se tentasse rever todas as cenas do jeito certo agora. — Acho que confundi um pouco as coisas.

Acabei soltando uma risada soprada, balançando a cabeça em negação. A risada era mais por nervosismo do que por qualquer outra coisa. Eu não estava acreditando que eu quase tive um AVC por causa da cabeça estranha do meu pai.

Olhei para trás, para a mesa de jantar, e vi que Matheus estava com uma expressão de "me mate" enquanto ouvia Cecília falar alguma coisa. Dei risada da cara dele e depois cutuquei meu pai.

— Pai, precisamos buscar o carro do Matheus, antes que fique muito tarde pra ele voltar pra casa. São quase três horas de viagem.

— Ok, diga pra ele ficar pronto que já estamos indo.

Assenti e voltei para sala de jantar, a fim de resgatar meu amigo da tortura que era jantar com a Cecília. Tínhamos uma desculpa para sairmos dali. E foi só dizer que Matheus precisava ir embora para a Amora se levantar da cadeira como se tivesse fechado a cartela do bingo. Aproveitamos da situação para acabar de vez com o momento jantar. Eu tinha certeza de que, se não fosse Cecília enchendo o saco, Amora faria Matheus ficar mais um pouquinho para comermos torta de sobremesa. Mas nem tudo saiu como queríamos.

Já no posto de gasolina, me despedi do Matheus com um abraço e uma promessa de mindinho de que manteríamos contato. Ainda assim, eu me sentia em dúvida sobre conversarmos com frequência, já que, no lugar dele, eu precisaria de espaço. Mas nós nunca sabemos de verdade do que o outro precisa, então eu estaria lá pelo Matheus quando ele precisasse de mim.

No caminho de volta para casa, perguntei para meu pai como tinha sido a viagem à Miami e ele desatou a falar.

Fazia tempo desde que pude me permitir sentir o tipo de conforto que senti naquele pedacinho de tempo. E era nesse tipo de momento, quando estávamos apenas meu pai e eu, que eu experimentava um gostinho da vida a dois que tínhamos antes de ele se casar de novo. Por mais que eu amasse Amora e tudo que ela tinha feito surgir em nossas vidas, às vezes eu sentia falta disso. Dos retalhos do passado. Pequenos fragmentos que me faziam voltar para casa.

Mas nada nesse mundo substituiria o brilho nos olhos dele enquanto falava das mil aventuras que vivenciou com Amora. E essa felicidade, há tempos desaparecida, era combustível suficiente para encher meu peito de vontade de voltar ao nosso novo lar. Eu apenas deixei meu corpo descansar no assento do carro, ao que meu pai dirigia e construía uma história enfeitada sobre sua lua de mel.

Quando chegamos, Amora lavava a louça do jantar. Eu tirei a esponja das mãos dela e disse que terminaria de fazer o trabalho, afinal, ela já tinha preparado toda a comida, sendo que deveria estar exausta da viagem. Sem falar no estresse a mais com a Cecília.

Amora me devolveu um olhar grato e cansado antes de me dar um beijo na bochecha. Meu pai levou ela para a sala e, enquanto eu terminava a louça, fiquei escutando os sons do filme de ação que os dois estavam assistindo.

Quando voltei ao meu quarto, não aguentei ficar nem cinco minutos lá. Dava para escutar as risadas da Cecília vindo do quarto do Daniel. Fui tomar um banho para me distrair e, depois de vestir um pijama bem parecido com o que usei durante o dia todo, desci até a sala.

Meu pai e Amora estavam conversando e dando umas risadinhas divertidas à medida que os créditos do filme rolavam pela tela da televisão. Esta era a única fonte de luz no cômodo escuro, e eu quase resolvi dar meia-volta para não interromper o momento dos dois. Mas só de pensar em ouvir a Cecília no quarto do Daniel eu perdia toda a vergonha na cara.

— Oi — falei, me sentando no sofá ao lado de Amora.

— Oi, meu bem — Amora bagunçou meus cabelos e eu sorri involuntariamente. — Não tá com sono?

— Até que sim — dei de ombros e peguei uma almofada, trazendo ao meu colo. Comecei a brincar com o zíper da capa da almofada, meio sem jeito. — Mas a Cecília tá fazendo muito barulho.

— Filho — meu pai se pronunciou, com uma voz grave de preocupação. — Sobre o que conversamos antes...

— Pai — interrompi, antes que ele insistisse naquele absurdo. — Eu já disse que eu não gosto dela desse jeito, tá bom? Não vai insistir nessa ideia absurda.

Amora me olhou, pensativa.

— Então, não é ao contrário?

— Ao contrário? — franzi o cenho.

— Não tá com ciúmes do Daniel?

Assim que Amora disse aquilo, meu coração começou a bater muito depressa. Eu já tinha passado por aquele susto horroroso com meu pai, e agora ela vinha com isso. Meu coração não ia aguentar por muito tempo se eles continuassem me testando assim.

Visto que eu fiquei quieto, ela continuou:

— Quando conversei no telefone com o Daniel, ele me disse que o relacionamento de vocês tinha melhorado bastante.

— Ele disse isso? — fiz uma careta.

Eu não sabia se tudo o que tínhamos passado poderia ser chamado de melhora de relacionamento. Era uma coisa tão confusa o que nós desenvolvemos naqueles dias que eu não achava que poderia ser colocado dentro de alguma definição.

— Por que essa cara? — Amora perguntou. — Não é verdade?

— Não é isso, mas... — suspirei, pensando nas palavras certas para tentar me explicar. — Não sei se eu posso dizer que estamos bem. É complicado.

Eu morria de medo de tocar naquele assunto na frente de Amora e do meu pai. Eu chegava a suar frio. Era como se, a qualquer momento, eles fossem descobrir tudo. Fosse por algo que eu disse ou pelo modo como agi, desse jeito meio inquieto e nervoso sempre que o assunto era o Daniel. A impressão era de que eles poderiam me ler facilmente, como se tivessem acesso direto aos meus pensamentos.

— Não sendo mentira já é alguma coisa — meu pai comentou, dando de ombros.

Ficamos em silencio por alguns instantes. Parecia que cada de um de nós estava pensando em algo muito diferente.

— Eu fico muito constrangida pelo Daniel — Amora disse, de repente, em tom de desculpas. — É muito chato que nós precisemos chegar ao ponto de duvidar do que ele diz. Mas ele se tornou um garoto muito difícil de lidar, mentindo até pra mim, que sou a mãe dele — ela soltou o ar como se aquilo fosse dolorido de ser feito. — Ele era um menino muito diferente antes da morte do pai dele. Eu me sinto mal por ter tirado o Daniel dos amigos que ajudaram ele a passar por tudo.

Olhei para Amora com atenção. Ela estava triste, mas parecia firme. Fiquei admirado. Meu pai nunca falava da minha mãe, em hipótese alguma. E ela nem tinha morrido. Pelo que ouvi da minha tia Helen, irmã dela, mamãe era só uma mulher maluca que fugia de casa quando tinha vontade e voltava duas semanas depois, com três tatuagens novas num mandariam de araque, cheirando a álcool e, muito provavelmente, a alguma substância ilegal. Papai podia simplesmente xingá-la e dizer que estávamos melhor sozinhos. Mas nem isso ele fazia. Minha mãe era um assunto proibido.

E lá estava Amora, falando do pai de Daniel, que ela amava e que havia morrido. Ela era durona o suficiente para tocar nesse assunto. E eu quis, naquele momento, que meu pai aprendesse com ela. Eu tinha tanta curiosidade sobre minha mãe e gostaria que o meu pai fosse psicologicamente firme o suficiente para falar sobre isso comigo. Às vezes, eu achava que ele não falava sobre ela porque ele tinha vergonha de quem minha mãe era, não por nenhum outro motivo.

— Não foi culpa sua — meu pai disse, ajeitando o cabelo de Amora com delicadeza. Me lembrei de Daniel colocando meu cabelo atrás da orelha e fiquei envergonhado. E, logo depois, triste.

— Eu sei que não, mas eu me pergunto todos os dias se eu poderia ter feito algo de diferente para manter o Daniel com aquela essência que ele tinha antes...

— Claro que não, você fez o que podia — meu pai disse. — Se Daniel é desse jeito, então faz parte dele. Ele é um bom garoto, você sabe disso.

Amora suspirou, assentindo. Mas ela ainda parecia triste. Como se ela pensasse que tudo o que meu pai disse foi apenas para confortá-la, mas não fosse necessariamente a verdade.

— Amora — chamei, depois de alguns segundos pensando se eu deveria ou não falar o que eu achava. — Talvez eu não seja a melhor pessoa pra falar isso, mas eu acho que o Daniel não faz nada de errado. Tipo, errado mesmo. Ele poderia ter se tornado uma dessas pessoas viciadas em drogas ou qualquer outra coisa destrutiva. Mas ele só vai pra um monte de festas e faz um monte de coisas idiotas com os amigos dele. É uma forma de ocupar a cabeça dele. Não é exatamente ruim.

Amora me olhava com curiosidade, como se não estivesse esperando por isso tudo vindo de mim. Nem mesmo eu esperaria algo assim. Saiu tão de dentro de mim que era como se outra pessoa tivesse dito.

— Você acha mesmo, Luca? — ela questionou, seus olhos azuis transbordando expectativa.

— Claro. Eu vejo no modo como ele trata as pessoas. Ele gosta da atenção. Mas eu acho que ele dá muita mais atenção do que recebe, e é por isso que todo mundo gosta tanto dele. Ele faz as pessoas se sentirem importantes.

Amora sorriu.

— Eu acho que o Daniel estava certo quando disse que o relacionamento de vocês melhorou.

Ela e meu pai deram risada enquanto eu só sabia me sentir envergonhado.

— Obrigada, Luca — Amora se inclinou para me abraçar e, logo depois, meu pai pulou sobre nós e nos apertou (esmagou) em um abraço de urso.

Me permiti fechar os olhos e aproveitar aquele quentinho que vinha dos braços deles entorno de mim, acertando em cheio o meu peito. A sensação de estar em família. De ser amado. Eu não me lembrava de um dia ter me sentido assim.

...

Cecília foi embora perto das onze, mas eu tinha perdido o sono e não quis voltar para o quarto. Eu estava sozinho na sala, depois de passar um tempo conversando com  Amora e meu pai. Coloquei qualquer coisa na televisão para assistir, mas minha mente não me permitia relaxar, e todos os meus pensamentos acabavam indo para a conversa que tive com Daniel na madrugada anterior, principalmente no que envolvia a Cecília. Parecia um buraco negro, sugando minha vitalidade.

Quando finalmente consegui me distrair um pouco com a série na televisão, senti meu celular vibrar no bolso do meu short de moletom. Depois de alcançar o celular e ver o apelido de Vitor na tela bloqueada, fiquei curioso. Apesar de sermos próximos, não costumávamos conversar fora do colégio. Era com Nando que eu costumava trocar a maioria das mensagens que eu me dispunha a responder (quando eu respondia).

Vico:

“Luca, meu irmão esqueceu a carteira dele na sua casa ontem”

“Fomos buscar de tarde, mas você tinha saído”

“Aí eu falei com o Daniel mesmo, mas ele tava estranho”

“Vocês conversaram sobre o que aconteceu na festa?”

“Conversamos, sim. Depois te conto”

“E como assim o Daniel tava meio estranho?” 

Vico:

“Ele foi meio idiota comigo”

“Mas acho que foi culpa minha” 

“Você fez alguma coisa?”

 Vico:

“Quando eu cheguei na sua casa e perguntei aonde você tinha ido, ele disse que não era da minha conta”

“E, tipo, eu já tava puto com o que ele fez com você na festa”

“Aí falei umas verdades pra ele”

“Eu sei que eu não deveria me meter nos assuntos de vocês, mas...” 

“Ai, Deus”

“O que você disse pra ele?”

Vico:

“Ah”

“Que ele não devia te machucar e... esse tipo de coisa”

“Eu só tô te falando isso porque talvez ele tente fazer minha caveira pra você e não quero que a gente fique mal” 

“Ok, não se preocupe com isso” 

Vico:

“Beleza”

“Mas, e aí, pra onde você tinha ido aquela hora?”   

“Eu saí com o Matheus pra tomar café/almoçar”

“E depois o Daniel apareceu com a menina da festa aqui em casa”

“Jantamos todos juntos”

Vico:

“Credo, como isso foi acontecer?”

“Você tá bem?” 

“Sim, tá tudo ok”

“Na medida do possível”

“Eu já me entendi com o Daniel”

 Vico:

“Que bom então”

“Só espero que você não esteja caindo na dele de novo...” 

“Eu não tô caindo em nada, juro”

“Você vai entender melhor quando eu te explicar o que houve”

“Te conto tudo no colégio”

 Vico:

“Ok”

“Não esquece da lição de casa pra amanhã” 

“Já tá feita, Deus me livre fazer dever essa hora”

“Mas obrigado por lembrar, às vezes tenho relapsos”

 Vico:

“Deve ser porque você dorme demais” 

“Na verdade, seria pior se eu não dormisse”

Vico:

“Essa conversa tá me deixando com sono” 

“Obrigado”

Vico:

“kkkkkk”

“É sério, você já viu a hora?” 

“Vi, mas tô sem sono”

 Vico:

“Mas eu sim”

“Então vou dormir”

“Você deveria tentar também, amanhã tem aula” 

“Eu já vou, prometo”

 Vico:

“Tá legal”

“Até amanhã, Luca” 

“Até amanhã”

“Boa noite”

Bloqueei meu celular e levei um susto quando percebi que Daniel estava sentado bem ao meu lado. Quase caí do sofá enquanto ele dava risada.

— Eu juro que vou te bater se você fizer isso de novo — ameacei, com a mão sobre o peito, sentindo meu coração batendo rápido. Era o dia que todos tinham tirado para me assustar.

— Vai me bater com esses bracinhos? — Daniel provocou.

— Olha só, não são bracinhos — protestei, emburrado. — Eu não tenho esse monte de músculo, mas pode apostar que tenho bastante raiva.

Daniel deu risada. Toda vez que ele sorria, como sempre, qualquer sentimento ruim que estivesse dentro de mim ia embora. Por que ele ficava tão bonito sorrindo, Deus?

— Luca — ele chegou mais perto e senti cheiro de shampoo. Ele tinha acabado de tomar banho e os cabelos ainda estavam meio úmidos, caídos sobre a testa.

— O que foi? — perguntei, tímido com aquela aproximação. Ele estava chegando cada vez mais perto e eu não conseguia olhá-lo diretamente.

— Será que você pode... — ele me encurralou contra as almofadas do sofá. Comecei a respirar irregularmente. Meu Deus, eu não estava preparado.

— Posso o quê? — sussurrei, alternando meu olhar entre seus lábios e seus olhos.

— Me deixar te beijar — Daniel tocou o nariz no meu, e eu senti meu rosto esquentar como se estivesse com febre.

Eu queria muito. Naquele momento, beijar Daniel era coisa que eu mais queria. Mas a cena em que ele beijava a Cecília na festa apareceu como um flash na minha mente. As risadas dela ecoaram na minha cabeça, como se ele ainda estivesse no quarto de Daniel, esperando ele voltar.

— Você não tava com a Cecília agora? — questionei, contrariado.

— Nós já conversamos sobre isso — Daniel se afastou minimamente, para conseguir olhar nos meus olhos.

Sim, nós tínhamos conversado. Mas ainda era difícil.

— Vocês... Ela te beijou hoje? No seu quarto.

Daniel suspirou, assentindo. Afastou-se um pouco mais.

— Ela queria tirar a droga de uma foto da gente se beijando.

— Eu sinto muito, mas eu não consigo... sabendo que vocês...

Tentei explicar que eu não conseguiria beijá-lo, sendo que a Cecília tinha feito isso há algumas horas. Parecia estranho. Errado de várias formas.

— Tá legal, já entendi — Daniel se desaproximou de vez e apenas largou o corpo ao meu lado no sofá, fazendo uma expressão de derrota. Comprimi os lábios, me sentido a pior pessoa da face da Terra.

— Com quem você tava falando no celular? — Daniel perguntou, depois de alguns instantes de silêncio.

— Ah, era o Vitor.

Daniel franziu o cenho, fazendo uma careta.

— Não gosto dele.

— Ele já me disse o que aconteceu entre vocês, não adianta falar mal dele.

Daniel me encarou com uma das sobrancelhas erguidas.

— Ah, ele te disse? — Daniel soou cem por cento sarcástico.

— Disse... — respondi, achando aquele jeito do Daniel bem esquisito. — Por que você tá falando desse jeito?

Daniel apenas bufou, como se não achasse que valia a pena me contar.

— Só tenta não deixar ele te enrolar, tá bom? Ele não é quem você pensa que é.

— Daniel, você não precisa ficar com ciúmes do Vitor.

— Não é ciúme — Daniel me olhou, quieto por um segundo, depois continuou. — Tá, é um pouco, sim. Mas não é por isso que tô te alertando sobre ele.

— Não? — meu olhar para ele se tornou desconfiado.

— Claro que não! Se eu não gostasse de todo mundo que me faz sentir ciúmes, eu não ia gostar de nenhum amigo seu.

Tentei segurar o sorriso que queria aparecer, mas não consegui.

— Luca, não é pra achar legal.

— Desculpe — dei risada.

Daniel revirou os olhos, mas ele mesmo tinha um sorrisinho nos lábios.

— Mas é sério, nanico. Toma cuidado com esse cara.

— Ele é meu amigo e tem me ajudado muito. Por que eu deveria tomar cuidado com ele?

— Você não vai acreditar em mim se eu começar a falar mal dele, né?

Neguei, balançando a cabeça.

— Não vou perder meu tempo, então — Daniel respirou fundo, olhando para mim como se estivesse preocupado. — Você confia em mim?

— É claro que sim — franzi o cenho, achando aquela insistência toda bem estranha e fora de hora.

— E promete que sempre vai confiar em mim?

Assenti uma porção de vezes, concordando. Eu não conseguia compreender o motivo para ele parecer tão... inseguro?

— Prometo.

— É tudo o que eu preciso, então.

— Daniel, tá tudo bem? — perguntei, me aproximando, tentando encontrar alguma pista em sua expressão que denunciasse algo que estava passando despercebido por mim.

— Tá, sim — ele assentiu, sorrindo, mas não era um sorriso tão espontâneo como costumava ser. — Vamos dormir? Tá tarde. Passei todo esse tempo editando o vídeo da festa e tô morto.

— Tô sem sono.

— Mas amanhã tem aula, mocinho — Daniel abraçou minha cintura e enterrou o rosto na curvatura do meu pescoço. Meu corpo todo reagiu, arrepiando.

Eu, definitivamente, não estava preparado para esse Daniel, que de repente queria me beijar ou me abraçar. Suspirei. Queria que ele fosse sempre assim. E talvez ele tivesse realmente mudado depois daquela festa, da nossa conversa.

— Que preguiça — murmurei, tombando a cabeça por sobre a de Daniel. O cheiro do shampoo invadiu meu olfato. Fechei os olhos.

Ficamos um tempinho ali, aconchegados um no outro. Era tão bom que eu pedi ao universo que congelasse o tempo ou, ao menos, fizesse o relógio ir mais devagar. O sono começou a tomar conta de mim. Eu acreditaria se Daniel me dissesse que pode controlar todos os meus sentimentos, até mesmo aqueles primitivos como sono, frio ou fome. Ele estava, aos poucos, se tornando dono de todas as reações do meu corpo.

Daniel se remexeu e se levantou do sofá, meu corpo sentiu falta dele no mesmo instante. Resmunguei algum tipo de reclamação que nem eu mesmo entendi e Daniel deu risada.

— Tá sem sono, é, preguicinha? — ele alcançou minhas mãos e tentou me puxar para fora do sofá. — Vamos, vou te levar pro seu quarto.

Protestei para sair e estiquei os braços, em um pedido mudo para que ele me levasse no colo.

Daniel riu e, então, me fez montar em suas costas. Ele me carregou escadas a cima e me levou até a cama. Eu estava muito sonolento quando finalmente me deitei sobre meus lençóis. Comecei a puxar Daniel para dormir ali comigo.

— Não posso dormir aqui — ele sussurrou na escuridão para mim; meus braços estavam firmes ao redor do seu pescoço, enquanto ele tentava se desvencilhar de mim, tentando segurar um riso que não queria se conter.

— Por que não? — eu quis soar bravo, mas minha voz saiu manhosa.

— Porque você vai começar a roncar e não vai me deixar dormir.

— Chato — larguei Daniel no mesmo instante, envergonhado, e me virei para o outro lado, dando as costas para ele.

Daniel se apoiou com um dos joelhos no colchão e chegou perto, deixando um beijo na minha bochecha.

— A verdade é que seria muito difícil ficar aqui e não te beijar.

Suspirei, despertando um pouco do sono por causa da culpa misturada ao coração se acelerando. Por um segundo, cogitei a possibilidade de estar sonhando tudo aquilo.

— Desculpa, Dan — olhei para ele, mas era difícil enxergar algo naquele breu. Mesmo assim, eu pude ver o contorno que fazia o sorriso dele.

— Desculpo só porque você nunca tinha me chamado assim antes.

Dei risada, um tanto constrangido, e ele me acompanhou.

— Boa noite, Luca — ele disse, raspando o nariz na minha bochecha, e se afastou logo depois.

— Boa noite — murmurei, fechando os olhos. Eu estava sorrindo.

Eu me sentia tão exausto que não ouvi nem o barulho da porta se fechando, me entreguei ao sono antes disso. O cansaço de toda a bagunça emocional da festa e daquele dia tinha chegado, e eu finalmente estava na minha cama. O cheiro de Daniel tinha se impregnado nas minhas roupas, e isso pareceu me garantir uma ótima noite de sono.


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Notas finais do capítulo

Eu gosto mais de Coca Zero, como o Matheus. Mas eu troco Coca se tiver Pepsi. E vocês?
Outra coisa que eu queria saber de vocês, bem mais relevante do que falar de refrigerante, é: vocês, se colocando no lugar de fãs do canal do Youtube do Daniel, teriam alguma pergunta pra ele & pro Luca? Sim, eles vão fazer um vídeo juntos estilo FAQ e eu quero que vocês participem da história como se fossem personagens de verdade.
Vocês podem fazer uma pergunta nos comentários desse capítulo com o @seunome que vocês querem que eu use na história. Pode ser o seu nome mesmo aqui no Nyah! ou algum outro que vocês gostariam que estivesse eternizado pra sempre em Além de Irmandade. Vocês podem também mandar no meu Twitter (@wtfapus), que eu criei a pouquíssimo tempo, exclusivamente pra tentar ser uma autora que compartilha o status e pra me auto-incentivar a não sumir mais hehe (vão encher meu saco lá).
Lembrem-se de se colocarem no lugar de pessoas que são apenas fãs do Dan e que não sabem de muita coisa que rola entre o Luca e Daniel. Quer dizer, é como se vocês tivessem visto uma aparição do Luca numa live e no vídeo da festa, nada mais.
E como vai ser uma cena quase independente do plot principal, as perguntas podem ser variadas e piradas. Aproveitem pra falar de Luciel ou constranger um pouquinho esses dois, hein? Huhuhuhuhu. E façam quantas perguntas quiserem, quanto mais, melhor.
Eu quero que vocês considerem isso como um presente. Por causa do meu sumiço de antes e também porque colocando vocês dentro da história, isso tornaria a nossa relação com Luciel mais real e acho que fortalece nossa conexão de leitorautor também.
E sobre esse capítulo, perdão por ficar de mistério sobre a conversa dos meninos do capítulo passado. Mas eu tenho certeza que não é difícil de adivinhar a situação, né? Muita gente já tinha adivinhado o que tá rolando desde o capítulo 14. Deixei muitas aberturas pra vocês fazerem suas próprias teorias e não compliquei nada, nadinha. Tá easy demais.
E só uma coisa sobre o título: as cobras-cegas são conhecidas como cecílias. E eu queria uma personagem que fosse uma cobrinha então o nome dela ficou esse. Aí usei isso no título porque tava sem ideias meu deus por que escolher nome de título é tão difícil????????
É isso, irmandade. Até o próximo!



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