Além de Irmandade escrita por Dricca


Capítulo 11
Hortelã


Notas iniciais do capítulo

Demorei muito, eu sei. E também sei que falar da faculdade nas notas iniciais já tá virando mania, mas esse último mês foi final de semestre (o meu primeiro final de semestre na faculdade) e eu quase pirei pra entregar todos os trabalhos; achei que não estaria viva pra postar esse capítulo. Mas ele está prontinho e gigantesco ;)
Também gostaria de agradecer do fundo do coração pelas recomendações do Benjamin Theodore Young e do Jun (que, socorro, criou uma conta só pra fazer isso). Muito obrigada, lindos!



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Eu estava de olhos fechados, a cabeça inclinada para o sol, sentindo a textura da grama com as mãos enquanto escutava o burburinho agitado das pessoas durante o intervalo. Madu falava muito alto e Nando falava sem parar, mas mesmo assim era como se minha mente estivesse longe dali.

Desde a sexta-feira do jogo eu me sentia assim: distante. Principalmente porque eu passava a maior parte do tempo fora de área; meus pensamentos se empilhavam todos em cima da sensação de que Daniel e eu estávamos em um momento estranho. Na verdade, eu é que estava em um momento estranho por causa de Daniel.

Quando eu tentava organizar as coisas dentro da minha cabeça, tudo o que eu tinha de concreto era o fato de que Daniel quis me beijar outra vez, e qualquer coisa além disso era um emaranhado confuso e desarrumado de incertezas. Minha mente estava uma bagunça. Eu não sabia se deveria confiar naqueles meus velhos pensamentos racionais bloqueadores-de-sentimentos — quais eu havia construído com muito esforço em cada um dos momentos em que precisei passar por um garoto bonito na rua —, ou se acreditava nas reações que Daniel causava em meu corpo toda a vez que ele se aproximava de mim.

Eu reconhecia as minhas próprias vontades e sentimentos, mas eu também era um idiota e estava tentando resistir até o último momento. Eu estava com medo. Medo de ser rejeitado, de ser diferente; de ser rejeitado por ser diferente. Mesmo sabendo que gostar de garotos deveria ser tão natural quanto gostar de garotas, eu precisava, além de simplesmente saber, sentir que era natural. Precisava transpor o preconceito que eu tinha de mim mesmo, consciente que depois disso eu precisaria conviver com o preconceito dos outros. E eu tinha muito medo desses “outros”, mais do que temia qualquer outra coisa; tinha medo dos meus novos amigos, porque eu não queria perdê-los, tinha medo do meu pai, do meu avô, de Amora. O que ela acharia de mim se soubesse que eu havia beijado e ainda queria beijar o filho dela?

Eram coisas demais para pensar, e tudo parecia fazer parte de uma linha de raciocínio infinita, já que eu não conseguia encontrar um fim para tudo isso. Pelo menos não um que fosse feliz. E para piorar, Daniel estava esquisito.

Basicamente, ele estava sendo estranhamente tolerante. Com tudo o que eu falava e com tudo o que acontecia a ele — pelo menos enquanto eu podia observá-lo. Mas não é como se fosse uma coisa boa, porque a suposta tolerância de Daniel às vezes me parecia uma grande inquietude não revelada, escondida atrás de uma indiferença muito incomum para personalidade energética dele.

Além de estar quieto e transigente, ele tem sido estranhamente gentil — claro que dentro do que se pode esperar de Daniel, mas não deixa de ser gentil. Sexta à noite, depois de chegarmos a casa, ele me acordou sem me bater, sem gritar ou me chutar para fora do carro.

No fim de semana Daniel acordou cedo para fazer o café, e me acordou mais cedo para que eu não acordasse na hora do almoço e perdesse o café dele. Nosso almoço, inclusive, (por mais que tenha sido macarrão instantâneo no sábado e no dia seguinte pizza descongelada) foi ele quem fez também. Sábado à noite, depois de encomendar nosso jantar pela internet, Daniel e eu esperamos a comida assistindo o jornal. Nenhum de nós gosta de ver o jornal, no entanto ficamos sentados um ao lado do outro no sofá, vendo as notícias ruins passando sem realmente prestar atenção. Ali eu percebi que Daniel estava tão pensativo quanto eu, mas aflitivamente eu não conseguia ler nenhuma de suas expressões ou seus gestos. Por alguns segundos, de quando em quando, eu me permitia imaginar que Daniel e eu, separadamente, estávamos tentando encontrar juntos uma desculpa para nos beijamos outra vez, e uma maneira de continuar fazendo isso sem causar nenhum alvoroço ruim.

Talvez, voltando para o presente, debaixo do mesmo do sol e em cima do mesmo gramado, Daniel poderia estar tentando reunir uma grande quantidade de prós que anulariam os contras de ficarmos juntos. Mas eu me sentia tão bobo pensando nesse tipo de coisa; eu nem ao menos sabia se Daniel estava gostando de mim tanto quanto eu estava gostando dele, mesmo que vez ou outra parecesse que sim, mesmo que essas vezes pudessem ser fruto da minha imaginação, por causa das minhas vontades secretas.

Às vezes eu simplesmente sentia que estava caindo em um buraco negro chamado gostar-do-Daniel, junto da maioria das garotas do Apus e mais aquele amigo esquisito do Daniel que sempre me encarava feio.

Suspirei. Pensar tanto assim estava acabando com minha sanidade. Decidi que era melhor focar no presente, e me concentrei na cor alaranjada que ficavam as minhas pálpebras fechadas contra a luz do sol, sentindo as maçãs do rosto quentes.

— Oi, azeitona — ouvi enquanto sentia a luz do sol ser bloqueada e, surpreendentemente, o calor aumentar.

Abri os olhos e encontrei Daniel me encarando de cima com seus cinzazuis, as mãos nos bolsos da calça do uniforme e o famoso sorriso de canto. Encarei-o por um tempo, em expectativa, notando o silêncio automático dos outros, provavelmente tentando imaginar o porquê de “azeitona”, e, principalmente, o porquê de Daniel estar ali.

— Oi, tomate — respondi.

— Qual é a dos apelidos? — Nando perguntou, fazendo com que meu olhar fosse involuntariamente até ele.

O fato de eu ter ficado muito tempo debaixo do sol havia me deixado meio letárgico, e antes que eu pudesse pensar em uma resposta, Daniel se pronunciou, dirigindo-se a mim.

— Hoje não tem Wanda.

Volvi o olhar para Daniel depressa.

— Por que não?

— Quem é Wanda? — Nando quis saber.

— A orientadora — Madu respondeu por mim enquanto todos nós a observávamos lutando contra um pacote de gomas de ursinho que não queria abrir de jeito nenhum.

— Madu, deixa que eu abr... — Cadu tentou se voluntariar para abrir o pacote, mas Madu conseguiu estourá-lo antes disso, fazendo com que ursinhos de gelatina voassem para todos os lados, aterrissando no gramado.

— Merda — Madu fez careta enquanto Vitor e Cadu riam.

— Não sobrou nenhum? — Nando tentou pegar, quase em desespero, o pacote das mãos de Madu, mas ela o tirou de seu alcance um segundo antes de ele conseguir pegá-lo.

— Não! — ela disse irritada. — Aposto que foi seu olho gordo na minha comida, como sempre.

Vitor pegou um dos ursinhos de gelatina do chão e tentou enfiar na boca de Nando.

— Você tá maluco? — Nando tentou empurrar Vitor, que ainda tentava forçar o urso de goma goela de Nando abaixo enquanto dava risada. — Um monte de gente coloca a bunda nessa grama — ele disse enquanto estapeava o outro. —, eu não vou comer isso!

— O problema nem é esse, idiota — Madu revirou os olhos, falando daquele jeito irritado-engraçado que ela tinha.

Enquanto eles desenvolviam uma discussão sem fundamento sobre os micróbios da grama, suspirei com um sorriso e voltei a olhar para Daniel, que observa a cena com a mesma expressão de quando assistia Animal Planet em casa. Soltei uma risada enquanto me levantava, aproveitando a bagunça geral para começar uma conversa com Daniel sem que houvesse plateia para isso.

— Aconteceu alguma coisa com a Wanda? — perguntei enquanto desamassava a calça.

Daniel tirou os olhos do pessoal e me encarou pensativo por alguns segundos, como se estivesse tentando se lembrar do motivo de estar ali.

— Ah — ele sacudiu a cabeça em negação. — Não aconteceu nada com ela, não se preocupe — Daniel olhou ao redor por alguns segundos até encontrar um banco desocupado e fez sinal com a cabeça para que eu o seguisse até lá.

— O que foi, então? — perguntei enquanto me apressava para alcançar o ritmo dos passos largos de Daniel conforme ele caminhava em direção ao banco.

— Nós fomos liberados porque a diretora pediu.

Franzi o cenho, inclinando a cabeça em dúvida.

— E por que a diretora pediria uma coisa dessas?

Daniel exalou forte o ar.

— Adivinha — ele disse desanimado enquanto se jogava no banco de madeira e olhava para algum lugar aleatório; ele parecia exausto, tinha ficado a madrugada gravando seus vídeos de novo.

— Não gosto de adivinhar — franzi o nariz, sentando-me ao lado dele. — Diga de uma vez.

— Trabalho voluntário obrigatório.

— Droga, tinha me esquecido disso — suspirei, tentando aceitar a ideia. — Tem que ser hoje?

— Se não tivesse que ser hoje a diretora não ia nos liberar da Wanda — Daniel me olhou com aquela expressão corriqueira de irritação, depois voltou a encarar o gramado e as pessoas conversando a nossa volta enquanto eu continuava a olhar para ele.

— Pelo menos nós fomos liberados de uma coisa, ao invés de fazer as duas — tentei pesar pelo lado positivo da coisa.

— Continua uma merda.

— É muito fácil ser positivo do seu lado — murmurei para ele.

Daniel me encarou, lançando-me um meio sorriso fingido.

— O que nós temos que fazer? — perguntei sobre o trabalho pseudo voluntário.

— Eu não sei — Daniel deu de ombros. — Ajudar a corrigir provas? Sei lá.

Suspirei, olhando em volta, cansado só com a ideia de ser ajudante de professor. Meu olhar estacionou sem querer em um grupo de meninas que olhava na direção de Daniel, cochichando e apontando sem parar. Aquele tipo de coisa me irritava cada vez mais. Daniel, provavelmente, nem chegava a perceber, ou já estava acostumado com isso e nem ligava mais. Mas eu não conseguia ser indiferente o suficiente para não ver ou para não me incomodar com isso, afinal eu nunca gostei de chamar atenção, e estar com Daniel era sinônimo disso.

— Tudo bem? — Daniel de repente perguntou, me encarando.

Pisquei, sem saber direito se aquele tipo de pergunta fazia sentido quando saia da boca de Daniel. — Acho que sim, por quê?

— Seu pai queria saber — ele respondeu.

— Meu pai? — franzi o cenho para ele, meio decepcionado, meio surpreso.

Daniel assentiu.

— Minha mãe tem conversado comigo, e disse que você não tá atendendo o celular nem respondendo os e-mails que seu pai manda.

Olhei ao redor, me sentindo estranho.

— O que foi?

— Eu simplesmente me esqueci de responder meu pai.

— Depois eu que não presto.

— Você não presta mesmo.

Daniel, então, me deu um peteleco doído na testa enquanto murmurava algo sobre eu ser inconveniente.

Esfreguei, com uma careta, onde ele tinha batido enquanto notava que as pessoas ao redor começavam a se levantar para voltar às aulas; o intervalo deveria estar quase no fim.

— E você, tudo bem? — perguntei.

— Por que tá perguntando? — ele olhou para mim.

— Porque você parece cansado — expliquei. — Você não deveria gravar todas as noites, vai virar um zumbi.

Daniel suspirou. — Eu precisava; desde a mudança não deu pra gravar tanto, e por isso meu estoque de vídeos prontos foi se esgotando.

— Você deveria dormir um pouco então — dei de ombros. —, pra aguentar seja lá o que nós vamos ter que fazer de tarde.

Você me falando pra dormir no horário de aula? — Daniel ergueu as sobrancelhas.

— Pra você ter noção do tamanho dessas suas olheiras — disse a primeira desculpa que me veio à cabeça; não queria dizer com todas as palavras que eu estava preocupado.

Daniel me lançou um sorriso — É, talvez eu durma um pouco mesmo.

...

— Corrigir umas provas? — repeti o que Daniel havia suposto que nós dois faríamos como trabalho voluntário enquanto encarava as criancinhas correndo e sujando a sala com cola, massinha de modelar e giz de cera.

Por enquanto, Daniel e eu estávamos apenas esperando a assistente da professora chegar. Uma das funcionárias havia nos empurrado para dentro da sala de aula e nos deixado alguns minutos sozinhos com as crianças, dizendo que a estagiária-assistente havia saído para buscar algumas provas de outra classe que ela estava encarregada de corrigir, e, também, o documento com o objetivo geral da aula que Daniel e eu teríamos que dar às crianças.

— Eu tava falando hipoteticamente — Daniel resmungou sobre sua tentativa prévia falha de adivinhar o que faríamos.

— E se hipoteticamente eu te chutasse? — olhei para ele com desdém.

— Por que você quer me chutar agora? — ele franziu o cenho e me encarou com superioridade, indignado. — Qual é a acusação dessa vez?

— Isso aqui — apontei para as crianças em pleno alvoroço. — É culpa sua, você sabe.

— Achei que nós tínhamos parado com esse negócio de colocar a culpa um no outro — ele cruzou os braços com um ar de afrontamento.

— Eu não consigo ser compreensível olhando essas crianças vandalizando a própria sala de aula — desabafei. — Ainda mais sabendo que elas são nossa responsabilidade pelo resto da tarde.

— Talvez por várias tardes.

— Fica quieto — empurrei Daniel de leve com o ombro.

Daniel soltou um riso suave; tentei encará-lo seriamente, mas com ele sorrindo para mim ficava um pouco difícil.

De repente, enquanto tentava não me perder no sorriso de Daniel, senti alguém puxando a barra da minha camiseta.

— Tio? — ouvi e, imediatamente, olhei para baixo, de onde a voz vinha; era um garotinho de olhos castanhos muito grandes. — Cadê a professora?

— Ela tá de folga — respondi o mais amigável que pude parecer. — Nós dois é que vamos ficar com vocês hoje — apontei para Daniel e para mim mesmo, sorrindo para o menino.

— O que é uma folga? — ele questionou.

— É um dia que você não precisa vir pra escola — Daniel explicou. — A professora foi passear.

Fitei Daniel por um segundo. Ele nem sabia o motivo pelo qual a professora havia pedido um dia de folga, e já estava inventando coisas. Quando voltei os olhos para o garotinho, percebi que ele estava internamente lutando com supressa e decepção ao mesmo tempo.

— Por que ela não chamou ninguém? — o pequeno choramingou.

— Quando você sai pra passear — Daniel olhou sério para ele. —, você chama a professora pra ir junto?

— Não — o menino sacudiu a cabeça em negação.

— Então por que ela deveria te chamar?

O menino olhou feio para Daniel e saiu correndo.

— Você pode ser mais gentil a partir de agora, de preferência — briguei. — Eles são só criancinhas.

— O que importa pra uma criança é que faça sentido — Daniel retrucou. — Eu tô usando a lógica; é assim que se lida com crianças.

— Desde quando você sabe disso? — indaguei desdenhoso.

— Desde que eu precisei aprender a lidar com você.

— Tch — olhei feio pra Daniel, que me fitava como se estivesse se divertindo muito.

Antes que eu pudesse protestar, entretanto, a ajudante da professora entrou na sala repentinamente, abrindo a porta como se, na verdade, estivesse a arrombando, toda afobada. Ela prensava uma pasta grossa contra o peito; os cabelos ruivos e cheios estavam bagunçados de vento. Seus olhos faziam lembrar olhos de gato, daqueles briguentos de rua.

— Aqui, meninos — a assistente, que deveria ser apenas poucos anos mais velha que Daniel, entregou-me um papel e depois colocou a pasta firmemente entre os joelhos para que pudesse ter as mãos livres para amarrar os cabelos. — Esse é o objetivo geral, vocês precisam cumprir isso hoje ou chegar o mais próximo possível disso, não precisa forçar as crianças a nada, ok? Apenas incentivem e façam com que as atividades sejam interessantes pra elas.

Ela terminou de fazer o rabo no cabelo e pegou a pasta outra vez, apertando-a novamente contra o peito enquanto nos encarava. Depois de um tempo, ela pareceu tomar um susto sozinha, e estendeu a mão.

— Eu me chamo Olívia.

— Luca — apertei a mão dela.

Daniel, em seguida, também se apresentou enquanto cumprimentava Olívia.

— Obrigatoriamente eu tinha que ficar aqui com vocês, porque sou eu quem tem autorização pra dar aulas e vocês são só alunos, não podem ficar aqui sem ninguém... — ela contou, olhando ao redor, para as crianças. — Mas eu não vou conseguir me concentrar pra corrigir esse monte de provas — ela ergueu de leve a pasta para nos mostrar que as provas estavam ali. — com essa gritaria; espero que vocês não contem isso pra ninguém.

— Nós podemos trocar — Daniel sugeriu. — Você fica com as crianças e nós dois com as provas.

Olhei para Olívia, esperando um assentimento, mas ela apenas nos lançou um sorriso sarcástico como quem diria “jamais trocaria qualquer coisa por esses demônios”. E com aqueles olhos de gato briguento de Olívia, eu é que não insistiria na ideia.

— Eu vou deixar meu número com vocês, e se houver algum problema do tipo muito grave, podem me chamar — a ruiva disse tirando uma caneta do bolso do jaleco; ela colocou a pasta de provas debaixo do braço, me puxou pelo pulso e começou a anotar o número dela na palma da minha mão, tudo muito rapidamente. — Espero que vocês saibam o que significa “muito grave”.

Assenti para a ruiva um pouco assustado enquanto olhava o número de celular anotado em minha mão. Embaixo dele estava escrito o nome dela e letras maiúsculas.

— Até depois, meninos — ela enfiou a caneta de volta ao bolso e sorriu, provavelmente feliz por estar deixando aquele manicômio infantil. — Cuidem direitinho deles.

Enquanto Olívia nos deixava ali, olhei para a folha que ela tinha nos entregado. Havia algumas atividades para serem realizadas com objetivo final de “desenvolver o trabalho em equipe das crianças”.

— Quantos anos eles têm? — Daniel perguntou enquanto analisava a lista de atividades ao meu lado, com o rosto quase colado ao meu.

— Só sei que eles ainda não são do fundamental... — falei distraído, observando o perfil de Daniel enquanto ele ainda olhava para o papel em minhas mãos; ele tinha um conjunto de pintinhas no pescoço que se parecia com a constelação do Cruzeiro do Sul.

Daniel virou seu rosto para mim, provavelmente porque tinha me notado o encarando, e sorriu. Pisquei depressa e desviei o olhar, colocando-me em uma distancia segura dele enquanto pigarreava, fazendo-o rir.

— Vamos começar — eu disse, lendo outra vez a primeira atividade impressa no sulfite. — Diga pra eles formarem um círculo, nós temos que montar uma historinha em conjunto.

— Eles vão saber fazer isso direito? — Daniel encarou em dúvida os pestinhas fazendo bagunça.

— O círculo ou a história? — questionei.

— Tanto faz — Daniel deu de ombros sem tirar os olhos das crianças. —Eles parecem muito pequenos pra fazerem qualquer coisa além de correr e gritar.

Revirei os olhos. — Só faça com que eles deem as mãos pra formar o círculo — mandei. — Minha professora do fundamental fazia assim; depois nós pensamos no resto.

Daniel suspirou, depois, sem falar nada, usou os dedos mindinhos para assoviar alto, fazendo com que todas as crianças parassem assustadas com o barulho, as mãozinhas tapado as orelhas.

— Como é que você fez isso?! — um garoto do fundo da sala gritou para Daniel.

— Querem que eu ensine vocês como faz? — a maioria das crianças assentiu em euforia, e Daniel continuou: — Então deem as mãos e façam uma roda, aí eu conto pra vocês.

Todos eles rapidamente foram pegando as mãos uns dos outros, formando um círculo um tanto torto. Olhei para Daniel com completa admiração; ele tinha controlado toda a turma em menos de trinta segundos.

Ou quase. Um garoto começou a gritar com outro, causando uma pequena comoção entre as crianças, que olhavam atentas para o menino ou, alguns mais nervosos, chamavam-no de idiota e falavam para que calasse a boca porque queriam aprender a assoviar com os dedos.

— O que aconteceu? — perguntei depois de chegar até os dois meninos que estavam se olhando feio.

— Eu não posso dar minha mão pra ele! — um dos garotos disse; ele tinha os cabelos terrivelmente bagunçados e o uniforme todo sujo do que aprecia ser lama e evidências óbvias que ele havia comido cachorro-quente com bastante molho.

— Por que não? — perguntei.

— Porque ele é um menino! — ele respondeu irritado, cruzando os braços.

Franzi o cenho, um tanto chocado. Geralmente, quando pequenos, os garotos costumam não querer dar a mão para as meninas, assim como as meninas costumam achar que garotos são nojentos e toda essa coisa infantil de separação por sexo. Mas o fato de ele ter rejeitado o toque de outro garoto me fez ficar sem saber o que dizer ou fazer.

Daniel pareceu perceber minha falta de reação, porque logo chegou ao meu lado e encarou o garotinho de uniforme de lama e molho de tomate.

— Qual o problema em ele ser um menino? Você também é.

— Meu pai e minha mãe me disseram que meninos não podem dar a mão um pro outro.

Olhei chocado para Daniel, que me encarou enquanto respirava fundo e murmurava algo do tipo “é por isso que a sociedade tá uma merda”, e, em seguida, se agachou para ficar do mesmo tamanho que o molequinho.

— Mas qual a diferença, hein? — Daniel questionou o garoto, sem parecer bravo nem nada, só estava perguntando. — Veja só — ele disse assim que percebeu que não haveria resposta do menor. —, você tem quantos braços?

Daniel descruzou os braços do pequeno, erguendo-os e sacudindo-os no ar. O garoto fitou Daniel segurando um riso.

— Dois — ele respondeu meio desconfiado.

— E ele? — Daniel fez igual com os braços do outro garoto, um loirinho com cara de filhote, fazendo-o rir.

As crianças ao redor, que estavam prestando atenção desde o início da conversa, também deram risada.

— Dois, ué — respondeu o garotinho dos cabelos bagunçados, dando de ombros.

— E ela? — Daniel escolheu uma garota, que deu risada e ficou corada quando Daniel chacoalhou seus braços.

— Dois também! — o garoto parecia estar ficando impaciente de responder sempre a mesma coisa, mas parecia estar achando engraçado também.

— E o resto do pessoal aqui? — Daniel perguntou afastando-se, vendo que tinha chamado a atenção de todas as outras crianças. — Todo mundo levante os braços e façam assim.

Daniel levantou os próprios braços e começou a chacoalhá-los sem parar, fazendo a turma rir conforme o imitavam. Daniel olhou para mim.

— Você também, nanico! — ele olhou para as crianças. — Digam pra ele fazer também!

Eles começaram a gritar para que eu também imitasse Daniel, e, por mais que fosse vergonhoso, fiz como eles me pediam enquanto dava risada.

— Gente, respondam: — Daniel parou de se sacudir e disse em voz alta, tentando fazer a voz sobressair às risadas. — Quantos braços cada um de vocês têm?

— Dois! — todos responderam juntos.

— E quantos olhos vocês têm?

— Dois!

— Quantas bocas?

— Uma!

Alguns deles responderam “duas”, e a sala caiu na risada outra vez.

— Tem gente que nasce sem braço, professor! — exclamou uma das meninas; era uma garotinha de cabelos nos ombros que usava óculos de lentes gigantescos, a armação em vermelho chamativo.

A turma riu e olhou para Daniel, esperando uma resposta para aquilo.

— É verdade — Daniel encarou a garotinha, com um sorriso bonito. —, mas ainda existem muitas coisas que fazem com que essas pessoas sejam iguais a gente. Somos todos iguais, mesmo que cada um possa gostar de coisas diferentes.

Encarei perplexo à turma toda assentindo em concordância a Daniel. Eu me senti um idiota por não ter dito nada ao garoto quando o problema apareceu, mas, mais do que isso, me senti orgulhoso por Daniel ter resolvido isso descentemente.

— O que mais vocês têm de igual com os outros? — Daniel incentivou as crianças a continuarem na brincadeira.

— Cabelo? — uma garotinha ponderou.

— Uniforme! — outra disse com convicção.

E depois disso houve uma enxurrada de outras coisas que todos tinham em comum. Demorou um pouco para que conseguíssemos acalmá-los, e, quando estávamos quase lá, Daniel aproveitou para finalizar o assunto, para que pudéssemos voltar à atividade:

— A coisa mais importante que vocês não podem esquecer, é que todos nós somos pessoas; todo mundo, do mundo inteiro, e isso faz com que todos nós sejamos iguais. — Daniel falava, olhando atentamente para cada um deles, recebendo olhares ainda mais atentos em troca. — É por isso que não tem diferença nenhuma dar as mãos pra meninos ou meninas, entenderam isso, galera?

Enquanto todos gritavam um “sim” coletivo, Daniel passou a mãos pelos cabelos bagunçados do garotinho que tinha instaurado o preconceito, e lhe laçou um sorriso.

— Tá, agora todo mundo faz o círculo, ou vocês desistiram de aprender como assoviar?

Então as crianças deram as mãos mais que depressa, formando o mesmo círculo torto e implorando para Daniel ensiná-los a assoviar. Quando nos acomodamos com as crianças, sentados no chão, Daniel apenas explicou que havia levado muito tempo para aprender a assoviar com os mindinhos, e que o segredo era treinar muito e então um dia eles conseguiriam também. A maioria ficou irritada com essa explicação enganosa, já que, geralmente, crianças gostam de coisas rápidas. Mas como Daniel já tinha os conquistado, foi fácil desviar a atenção deles para que pudéssemos conduzir as atividades. Daniel fazia com que tudo fosse escandaloso e divertido, e o tempo passou voando.

No intervalo das aulas, Daniel e eu nos sentamos sobre mesa da professora enquanto observávamos, através da janela, os pequenos brincando no gramado em frente à sala de aula.

— Foi tão legal o que você fez — eu disse, balançando as pernas para frente e para trás enquanto encarava os cadarços soltos do meu tênis.

Daniel apenas sorriu anasalado e não disse nada.

— Você já pensou em ser professor? — quando perguntei, ele me encarou como se aquilo fosse um absurdo.

— Deus me livre dessas pestes todos os dias. — Daniel fez uma careta engraçada e então nós dois rimos.

Nesse momento, um grupo de garotinhas passou pela porta, gritando sala adentro. Assim que estacionaram a nossa frente ficaram quietas, encarando-nos com olhar de expectativa.

— Oi — uma das garotinhas, a que estava em frente às outras, disse.

— Oi — eu e Daniel respondemos juntos.

— O seu cabelo é muito legal — ela disse para mim, e todas as outras meninas concordaram com a cabeça.

— Obrigado — falei meio tímido.

— Eu nunca tinha visto um menino com cabelo maior que o meu — comentou uma das meninas; ela tinha o cabelo extremamente curto comparado aos das outras, era um corte um tanto masculino; talvez a mãe dela não tivesse paciência ou tempo para pentear cabelos.

— Nós podemos tocar nele? — a garota da frente se pronunciou outra vez.

— Hã — levei instintivamente minha mão à cabeça; eu definitivamente não queria um monte de mãos puxando o meu cabelo.

— Claro que podem! — Daniel disse a elas, encorajador, e, no mesmo instante, eu o encarei bravo.

Daniel deu risada enquanto as meninas comemoravam, e logo saiu de cima da mesa para buscar uma das pequenas cadeiras coloridas, fazendo-me sentar quase à força enquanto incentivava as garotinhas, dizendo que elas poderiam trançar meu cabelo todo se quisessem.

— Só não puxem com força, por favor — choraminguei, fazendo Daniel gargalhar.

No final do processo, Daniel não parava de rir. Ele tirou o celular do bolso e aproveitou para fotografar a cena. As garotinhas sorriram e fizeram pose enquanto eu, naquela cadeira pequena demais para mim, olhava sério para a expressão de divertimento de Daniel ao tirar a foto.

Assim que as meninas saíram, logo em seguida, fui até Daniel, que ainda estava sentado sobre a mesa, e peguei seu celular para verificar a minha situação.

— Eu tô ridículo — confirmei, olhando, na foto, àquelas tranças desproporcionais em meu cabelo.

— Eu sei — Daniel deu risada enquanto eu devolvia o celular para ele.

— Me ajuda a desfazer essas tranças.

— Tá maluco? — Daniel segurou meus braços antes que eu começasse a desmanchar. — As meninas vão ficar tristes se virem que você desmanchou as trancinhas que elas demoraram tanto pra fazer.

Tentei me livrar do aperto de Daniel, sacudindo os meus braços, mas ele era mais forte que eu.

— Daniel — parei de me movimentar e apenas o encarei. — Me solta.

— Só se você não desmanchar as tranças.

— Eu não posso ficar assim, é humilhante.

— Ah, você pode — ele riu. — E você vai.

— Daniel, me larga.

Ele estalou a língua e negou com a cabeça.

— Me larga! — tentei me soltar novamente, sem sucesso.

— Já disse que não — Daniel puxou meus braços na direção dele, como se fosse me puxar para um abraço, só que com a intenção de me fazer desiquilibrar.

Para não tropeçar para cima de Daniel, tive que apoiar, por reflexo, minhas mãos sobre a mesa, uma de cada lado dele. Quase caí de cara em seu colo, e foi duplamente constrangedor porque, quando me virei para o lado, para evitar olhar para o meio das pernas de Daniel, Olívia estava parada nos encarando.

— O que tá acontecendo? — ela semicerrou os olhos de gato.

Daniel afrouxou o aperto nos meus braços e eu me desvencilhei dele, saindo daquela posição constrangedora enquanto encarava Olívia; minhas orelhas começaram a esquentar.

— Não é exatamente... sabe... — gaguejei.

— Tô tentando impedir o Luca de desmanchar a obra de arte que as meninas fizeram no cabelo dele — Daniel disse com um sorriso, olhando para mim.

Olívia olhou para o meu cabelo, como se só naquele momento tivesse notado as tranças, e comprimiu os lábios, segurando o riso.

— Você deveria escutar o Daniel e deixar assim mesmo — ela aconselhou.

Bufei olhando para os dois e cruzei os braços.

— E então? — Olívia disse. — Como foi até agora?

— Todos apaixonados pelo Daniel. — contei.

— Você também? — ela perguntou com um sorriso de canto.

Prendi a respiração enquanto a encarava, sem conseguir dizer nada.

— Perdidamente — Daniel respondeu por mim enquanto passava um dos braços ao redor dos meus ombros, me puxando para perto. — Ele não vive sem mim.

— Tch — empurrei Daniel para me livrar dele, e depois dei mais um empurrão por motivos de raiva, fazendo-o resmungar.

A ruiva deu risada.

— Bom, meninos, eu não iria falar, mas... — ela suspirou. — O trabalho de vocês já acabou; era só meio período de aulas, ou seja, até o recreio das crianças.

— Então nós podemos ir pra casa? — perguntei aliviado.

— Sim, senhor — ela assentiu com um sorriso. — Obrigada pelo trabalho.

Então Olívia conferiu o relógio de pulso.

— Vocês dois deveriam comprar alguma coisa pra comer e ir pra casa agora — ela colocou uma das mãos, a que ela não estava usando para segurar sua pasta, no bolso do jaleco. —, eu cuido deles a partir daqui; o recreio tá quase acabando.

— Nós podemos ficar pra dizer tchau? — perguntei.

— É uma boa ideia, eles podem ficar tristes se vocês forem embora sem avisar, ainda bem que você lembrou — ela sorriu, largando a pasta em cima da mesa, ao lado de Daniel. — Vocês precisam estar de bem com eles, porque vão precisar voltar essa semana ainda.

Franzi o nariz, sem ânimo, e olhei para Daniel. Ele apenas deu de ombros com um sorriso cansado, e mesmo depois de um dia cheio como aquele, Daniel conseguia sorrir do jeito mais bonito.

...

Mesmo depois de nos despedirmos da turma, Daniel não me deixou desfazer as trancinhas, e eu tive de andar pelo colégio todo, até o estacionamento, recebendo encaradas e ouvindo risadas.

Quando entrei no carro, imediatamente comecei a destrançar o cabelo, e Daniel não impediu, já que ninguém mais nos veria de qualquer forma.

Assim que chegamos até em casa e eu atravessei a porta de entrada na frente de Daniel, ele começou a rir e disse que a parte de trás dos meus cabelos ainda estava cheio de trancinhas pequenas, e falou que me ajudaria com isso.

Fomos até a sala e, então, eu me sentei no braço do sofá enquanto Daniel, em pé atrás de mim, desmanchava as tranças. Eu já estava morrendo de cansaço, e o cuidado com que Daniel mexia no meu cabelo fazia com que eu tivesse que lutar contra as minhas próprias pálpebras para não se fecharem.

— Daniel — chamei, um tanto sonolento.

— O quê?

— No dia do jogo... — fiz uma pausa para pensar se realmente deveria tocar naquele assunto. — Você deixou de ir a algum lugar pra me trazer pra casa?

— Quem te disse isso?

— Ninguém — dei de ombros. — Foi meio óbvio.

— Você é meio lento, não achei que você fosse perceber.

Bufei. — Muito obrigado pela parte que me toca.

Daniel riu, e eu acabei rindo também.

— Você me deve uma por isso — ele disse.

— Devo uma o cacete, você fez isso porque quis.

— Desde quando você tá tão respondão? — Daniel curvou-se até que seu rosto estivesse ao lado do meu, para que pudesse me encarar.

— Desde que fiquei com sono — falei enquanto o empurrava para que ele voltasse a desmanchar as tranças de uma vez.

— Achei que você tinha parado de ser irritadinho comigo.

— Achei que você tinha parado de ser aproveitador comigo — retruquei. —, sendo legal só pra pedir favor depois.

— Querendo ou não você me deve uma — Daniel insistiu.

— O que tanto você quer de mim, hein?

Daniel riu.

Dessa vez eu quero ajuda com a lista de compras da festa — ele respondeu. —, porque eu não sou muito organizado pra esse tipo de coisa, e você é.

— Como assim “dessa vez”? — virei-me de frente para Daniel, que ficou com as mãos paradas no ar na posição em que estava mexendo em meu cabelo. — Você acha que eu sou seu escravo?

— Não é isso — ele sorriu, relaxando as mãos ao lado do corpo. — É só que tem várias coisas que eu quero de você.

Eu me virei rapidamente de costas para ele outra vez, porque eu realmente comecei a pensar besteira e a ficar vermelho.

— Luca?

— Hm?

— Você não vai falar nada?

Apenas fiz que não com a cabeça.

— Que chato você — ele suspirou e voltou a lidar com as tranças. — Achei que com sono você falasse mais sem pensar.

— Por isso mesmo que eu não deveria falar nada.

Daniel deu risada.

— Você tá demorando com essas tranças. — falei.

— Faltam só duas — Daniel informou. — Essas meninas não fizeram tranças, elas fizeram um monte de nós no seu cabelo.

— A culpa foi sua.

— A culpa é sempre minha — ele reclamou debochado.

— Claro, foi você quem disse que... — Daniel me interrompeu.

— Sim, ok, minha culpa.

Suspirei e fiquei quieto.

— O cheiro do seu cabelo é tão bom — Daniel falou de repente. — Não consigo identificar o que é.

— Hortelã — falei em voz baixa, tímido.

— Só hortelã? — questionou ele pensativo. — Parece que...

— Menta — interrompi, revelando o outro componente do meu shampoo, achando aquela conversa extremamente embaraçosa.

— Ah, é — ele exclamou como quando alguém consegue se lembrar de alguma coisa depois de muito tempo pensando. — É bom.

— Obrigado — respondi; minha voz diminuindo o volume.

— Terminei — Daniel falou e tirou as mãos dos meus cabelos.

— Valeu.

Escorreguei do braço do sofá, jogando-me de bruços sobre as almofadas.

— Não durma! — Daniel mandou. — Você tem que me ajudar com a lista de compras pra festa.

— Tô cansado — resmunguei.

— A coisa que você mais faz é dormir — ele disse em tom de reclamação.

— Não tenho culpa de sentir tanto sono — retruquei.

— Vou começar a te chamar de preguiça.

Virei-me de costas para as almofadas e encarei Daniel.

— Você não acha que já tá de bom tamanho “nanico” e “azeitona”?

Ele riu. — Nunca é suficiente.

— Ok — fechei os olhos, morrendo de sono, pronto para tirar um cochilo.

— Levanta daí, preguiça — senti o sofá afundando quando Daniel sentou-se ao meu lado. — Eu vou tomar um banho agora, e você também vai, porque depois você tem que me ajudar com as coisas da festa — ele apertou minhas bochechas, fazendo-me resmungar irritado. — Entendeu?

Pensei um pouco no que Daniel havia acabado de dizer e abri os olhos, começando a rir.

— O que foi? — ele ainda apertava minhas bochechas.

— Nada.

— Fala — ele apertou com mais força.

— O jeito que você disse... — minha voz saiu engraçada pelo fato de minhas bochechas estarem espremidas daquele jeito, mas eu estava com muito sono para tentar me livrar do aperto de Daniel, então apenas continuei a falar. — Pareceu que você tava me convidando pra tomar banho com você.

Daniel riu.

— Não sei lidar com você com sono.

— Tá, tá — aproveitei que ele havia afrouxado o aperto e empurrei o braço de Daniel para longe, me virando de costas para ele.

— Se eu voltar e você estiver dormindo, vou te acordar no chute — ele ameaçou.

— Vai tomar banho — resmunguei.

Ouvi Daniel bufar e depois levantar do sofá, me deixando sozinho na sala. Enquanto ouvia seus passos conforme subia as escadas, sorri me aconchegando mais entre as almofadas, e adormeci com um sentimento quente dentro do peito.


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Notas finais do capítulo

Eu sinto que fiz diálogos demais, comparado aos outro capítulos que geralmente têm grandes partes de pensamentos internos do Luca. Mas como ele esteve ocupado o dia todo, aconteceu de ficar assim, sem tempo pra pensar em muita coisa ;p
Não vou demorar muito para postar o próximo, já que entrei de férias na última sexta. Vou ter quase um mês pra escrever livremente e, espero, poder postar mais frequentemente :))
Até o próximo xxxx