Um Inquieto Amor de Apartamento escrita por Leoh Ekko


Capítulo 12
Pesadelos eróticos para além de qualquer medida


Notas iniciais do capítulo

Quero mais uma vez agradecer pelos views e comentários !



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O nervosismo de Theo no minuto antes de sua apresentação começar foi latente, porém tudo correu bem. Graças aos deuses, suas mãos não tremeram durante a performance, conseguiu administrar bem o momento de cada cenário, as marionetes se movimentaram com graça e a sua voz não falhou durante as falas — ah, ele ficaria rouco durante uns dois dias por ter abusado das cordas vocais para fazer as vozes mais graves de alguns personagens.

The Rocky Horror Picture Show narrava a história de um casal de noivos que se vê obrigado, em virtude de um problema com o carro, a irem a um estranho castelo pedirem auxílio, sem saberem que ele é habitado por alienígenas do planeta Transexual e que o anfitrião é um bissexual, que exatamente naquela noite vai ver uma criatura criada — Rocky — por ele apenas para lhe dar prazer. Era uma estranha mistura de terror e comédia que impressionava e encantava visualmente — quantas vezes aquelas pessoas haviam visto uma marionete de um transexual gótico?

A músicas de Marcos casaram perfeitamente com as cenas em que eram tocadas, tanto aquelas feito pelo violino como aquelas feito eletronicamente e remixadas — na verdade, no final da apresentação, foi ele que recebeu a maior parte dos aplausos.

Era estranho dizer que um show de marionetes tinha um conteúdo ‘‘erótico’’, mas é que algumas das músicas possuíam algumas letras peculiares...

Entregue-se ao prazer absoluto

Nade nas águas quentes dos

pecados da carne.

Pesadelos eróticos para além de qualquer medida.

E devaneios sensuais

pada serem guardados para sempre.

Você não pode simplesmente enxergar isso?

Não sonhe com isso, seja isso.

Theo estava muito satisfeito com o seu trabalho, e quando acabou, e a plateia começou a aplaudir, uma lágrima de satisfação desceu pela sua bochecha.

— Você foi ótimo! — disse Marcos depois que haviam ido para os bastidores, laçando a sua cintura e lhe dando um carinhoso beijo.

— Eu não teria conseguido sem você — admitiu ele, grato por ter ido naquele maldito funeral três semanas atrás.

Marcos sorriu de maneira presunçosa.

— Isso é um fato incontestável. T

heo ergueu a sombrancelha com desdém.

— Seu metido. Mas de verdade, muito obrigado pelo o que você fez por mim. E você também foi ótimo lá em cima.

Marcos lhe respondeu com mais um beijo apaixonado.

Depois disso uma enxurrada de pessoas, colegas e professores, vieram lhe parabenizar. Elena ficou particularmente muito afetada.

— Foi a merda mais incrível que já vi! Aquela cena do Rocky acordando foi fabulosa. E quero saber como conseguiu fazer uma marionete com tanquinho!

★ ★ ★

Theo e Marcos pegaram uma carona com Elena e Diego, pois estavam muito cansados depois da sua missão impossível que fizeram naquela noite e pegar o metrô seria desgastante. Theo acabou adormecendo ainda no carro, apoiado no ombro de Marcos, que ficou com coração aquecido por aquele gesto. Ele também sentia uma vontade de enorme de fechar os olhos e dormir, mas ficou hipnotizado pelas luzes frias da noite de Buenos Aires. Essas luzes podiam provocar uma melancolia nas pessoas de almas solitárias, mas para os amantes aquelas luzes eram um lembrete simbólico da iluminação que o amor trazia aos seus corações.

— Você já comprou as alianças? — perguntou, tirando-o de seu devaneio. Ela estava com o rosto todo pintado, sua apresentação de arte corporal envolvia o tema circense, seu rosto na penumbra do carro estava um pouco assustador.

— O quê?

— É aquele anel que as pessoas usam depois se casam.

— Eu sei o que é uma aliança, só não entendi porque deveria comprar uma.

Elena suspirou e falou do modo que um adulto fala com uma criança sobre um assunto delicado.

— Sei que essa coisa de casamento em Las Vegas e tudo mais é muito cool, só que Theo possui grandes expectativas sobre isso. Todo essa história de que quer fugir dos padrões é uma máscara, ele certamente está esperando que você compre um anel e se ajoelhe para ele. Theo passou muito tempo da vida desacreditado do amor... só que na verdade ele é um romântico de carteirinha.

—Eu ainda não tinha pensado nisso. — e não tinha mesmo, havia estado distraído com toda aquela brincadeira de desafios e se esquecido sobre o objetivo daquele jogo: um futuro com Theo. E era sua responsabilidade fazer as coisas funcionarem. E ele não deixaria essa chance passar.

Avistou o prédio deles de longe. Os tijolinhos vermelhos eram fáceis de serem identificados mesmo daquela distância.

— Obrigado pela carona.

— De nada!

Decidiu não acordar Theo. O levou nos braços até o apartamento — ainda bem que não havia mais ninguém por ali àquela hora da noite, porque ele estava parecendo um serial killer carregando a sua vítima.

Colocou Theo na cama, tirou seus sapatos — apenas Theo conseguia ficar muito bem usando um tênis verde-limão — e cobriu com o edredom. Tirou os próprios sapatos e depois deitou-se ao lado dele, colando a cabeça de Theo apoiado no seu peito e adormeceu.

★ ★ ★

Theo acordou cedo no dia seguinte. Se nas primeiras vezes em que acordara junto de outra pessoa ele se sentiu estranho, — aquele emaranhar de pernas e aqueles dois braços ao seu redo eram algo tão desconfortante! — agora ele já sentia uma doce normalidade naquilo.

Antes mesmo de abrir os olhos ele deu um sorriso. Mas o seu sorriso se desfez quando percebeu que ainda estava visualmente excitado por causa de seu sonho "excêntrico". Ele de fato havia se perdido em pesadelos eróticos para além de qualquer medida. Seus quatro meses de abatimento sexual começavam a transparecer. Desconfia que a culpa daquela situação era Marcos e seu cheiro de almíscar que despertava um desejo em Theo que se fazia acontecer até quando ele estava inconsciente.

Marcos roncava baixinho a seu lado, e apesar de sua boca entreaberta ser bastante convidativa para um beijo, ele decidiu não fazer isso com medo de acordá-lo.

Levantou para ir no banheiro, percebendo que não se lembrava de como ele havia chegado ali à noite. Sua última lembrança era estar olhando pela janela do carro do Diego.

Terminou de escovar o dentes e decidiu ir até a padaria da esquina. Uma das piadas que ele e Marcos faziam um com o outro sobre a história do casamento era que eles não seriam uma daquelas pessoas que levavam café na cama para o seu amor. Mas le decidiu fazer isso, só para ver qual seria a reação de Marcos.

Ele sorria ao andar pela rua — até escutava uma música pop animada, para variar. Realmente ele estava de bom humor.

— Você parece diferente — a disse a jovem que trabalhava na padaria. Ela daquelas pessoas semi desconhecidas de quem não se sabe o nome, mas que se comprimenta quando vê na rua.

— Diferente de um jeito bom ou ruim? — quis saber Theo.

— De um jeito bom. Sei lá, parece mais feliz.

E ele estava mesmo feliz. Havia conseguido apresentar seu trabalho, estava namorando uma pessoa maravilhosa e finalmente receberia aquelas economias que seu pai lhe prometera para depois que se formasse.

★ ★ ★

Mas Theo descobriria mais tarde, que nunca se deve de gabar da felicidade. Pois ela se esvai com a mesma facilidade que a fumaça em um campo aberto.

★ ★ ★

Comprou pães franceses, doce de leite e dois pedaços grandes de um bolo de chocolate — que ele, provavelmente, comeria sozinho, Marcos ainda insistia que precisava manter a sua dieta.

Quando voltou, passou na caixa de correios para checar a correspondência. Havia algumas contas para pagar, um folheto de informações sobre um cartão de crédito e... ... uma carta.

Carta?

Olhou para ela e leu que nela estava marcado a data daquele dia — o que era bastante estranho, ainda era muito cedo, os correios nem devia ter aberto ainda. Quem entregou aquela carta devia ter ido pessoalmente ali. E então. Percebeu que não se tratava de "quem", mas sim de "o quê". Havia um selo nos versos da carta.

University of Toronto.

Theo abriu a carta logo, nem se importando em rasgar o papel. E, após ler o conteúdo onda carta — que na verdade era um convite — ele sentiu ao mesmo tempo um emaranhado de emoções: surpresa, satisfação, alegria e... tristeza.

★ ★ ★

Naquele mesmo momento, exatos seis andares acima de onde um garoto de cabelo azul lia um convite que mudaria toda a sua vida, um outro garoto despertava de um pesadelo. Um daqueles que parecem tão reais que o desespero e a angústia também tornam-se reais.

Ele não havia sonhado com monstros, com a queda de uma grande adulta ou com uma morte iminemte. Ele havia sonhado com abandono.

Marcos sentou-se na cama. Seu coração estava acelerado, tornando difícil respirar e ele sentia aquela leve tremedeira que precedia um ataque de choro.

Levantou-se e foi até a cozinha tomar um copo dágua.

Quando passou pela porta encontrou Theo entrando no apartamento. Ele parecia... abalado?

— Bom dia — disse Marcos.

Theo sorriu, mas pareceu um dos seus sorrisos genuínos.

— O que você está fazendo fora da cama? Era para eu te surpreender com comida — ele foi até a mesa da cozinha e colocou suas sacolas em cima da mesa. Marcos estava abalado demais para pensar em comida.

— Desculpa, é que eu tive um sonho ruim e quis levantar para fazer outras coisas para esquecer.

Theo foi até ele e o abraçou.

— Eu sinto muito. — ele parecia genuínamente preocupado desta vez— Quer falar sobre isso?

Queria?

Decidiu contar.

Marcos havia sonhado que ele e Theo estavam fazendo amor em uma praia deserta, um sonho que pareceu bem clichê, como qualquer outro sonho erótico que já tivera sonhado. Mas as coisas mudaram. No sonho, depois do êxtase, ele percebia que Theo não estava mais na praia com ele. Theo o havia abandonado lá. Contou sobre como foi desesperador ficar correndo pela praia chamando por Theo, sem conseguir encontrá-lo em lugar nenhum.

Depois que acabou de falar. Notou que Theo não havia feito nenhum comentário e ainda permanecia em silêncio. Ele soltou-se do abraço e foi até a cozinha. Só veio a falar quase um minuto depois.

— Eu não tenho mais sorvete de pesadelo, então vamos ter que nos contentar com bolo de chocolate — não havia emoção em sua voz, parecia uma voz robótica falando através dele.

Theo estava com aquela expressão que as pessoas usam quando querem esconder suas verdadeiras emoções.

Aquela máscara de indiferença assustou Marcos. Ele sentia-se como os habitantes de Hiroshima sentiram-se antes do momento da bomba nuclear cair. Era um sentimento horrível de... vazio. Uma impressão de alguma coisa ruim estava prestes a acontecer.


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