Enfurecida - Até onde você iria por uma mentira? escrita por Evelyn Andrade


Capítulo 22
Indispensável




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/604993/chapter/22

Passaram segundos incontáveis até que Dimitri pigarreasse chamando minha atenção, não que ele precisasse fazer algo do tipo, já que meus olhos nunca haviam deixado de observar ser rosto. Ele passou as mãos pelos cabelos e seus olhos se focaram no teto, pelo simples gesto algo se agitou dentro de mim, minha mente processou diversas falas possíveis para Dimitri, menos a que ele pronunciou:

–Temos que nos separar.

Aquilo doeu mais que tudo. Eu estava frágil, vulnerável e aquelas palavras só serviram para soprar o fino pó que havia restando de meus ossos. De repente me senti doente, ao pensar que nunca mais veria Dimitri fez meu corpo tremer. Quantas pessoas eu teria que perder, até as coisas se tornarem normais novamente?

–Não entendo. –Murmuro. – Tudo acabou, podemos ficar juntos agora.

Dimitri negou com a cabeça, pude identificar pesar em seus olhos.

–Não acabou Roza. Somos pessoas diferentes agora.

–Diferentes no que? Eu continuo sendo a mesma pessoa de duas semanas a trás. –Minha voz soando um pouco mais alta.

Ele nega com a cabeça e eu de repente entendo.

As mortes, a luta, eu definitivamente não era a mesma garota de duas semanas a trás. Uma coisa era você saber que era uma invocadora, outra completamente diferente era você aceitar esse tipo de coisa e usar como arma. Era exatamente nisso que eu havia me transformado. Parte de mim não queria aceitar a realidade que estendia diante de meus olhos, mas eu não tinha escolha no momento, Dimitri estava me rejeitando por eu ter me tornado quem eu era. Se ele não podia me aceitar, então ele não servia para mim.

–Você está certo. –Admiti.

Estava na hora de pensar em mim. Eu precisava voltar a minha vida normal, respirar novos ares.

– Pode sair daqui, por favor?

–Roza...

–Não quero ouvir mais nada Dimitri, é o fim da linha, não é?

Ele não respondeu, me lançou um olhar desolado. Deu alguns passos em minha direção, por alguns milésimos de segundo pensei que ele vinhece me abraçar, que diria que tudo isso era uma grande mentira e que não poderia jamais viver sem mim, que me amava do mesmo jeito que aprendi a ama-lo: livre e incondicionalmente, mas isso infelizmente não aconteceu.

Assim que a porta bateu, as lágrimas desceram desenfreadas por meu rosto. Alguns soluços baixos escaparam, mas eu me manti firme para não desabar completamente, eu já havia passado por tanto, por que coisas assim continuavam acontecendo?

Algumas baixas batidinhas na janela me tiraram de meu estupor, fazendo eu levantar os olhos e identificar um conhecido tufo de cabelos loiros se remexendo através na janela. A janela se abriu sem permissão.

–O que está fazendo aqui? Pensei que tivesse ido embora.

Lissa não sorriu, ela correu para o meu lado e me abraçou forte e carinhosamente. Algo nesse ato me trouxe a familiaridade de um lar a muito tempo não visitado.

–Eu ouvi tudo. –Ela murmurou. –Não acho que ele esteja fazendo isso de propósito, pelo contrário, acho que ele te ama.

Essa constatação me fez chorar ainda mais.

–Quem ama, não abandona. –Eu sussurro.

–Está certa. –Ela concorda. –Mas quem ama, protege.

Meus olhos se levantaram em sua direção e um mínimo sorriso surgiu em sua face.

–Maratona de Glee com sorvete? – Ela perguntou.

–Como nos velhos tempos.

Lissa suspirou.

–Tem um lugar...um pouco longe daqui. – Ela começou.

–Do que está falando?

–Estou indo para lá, talvez você queira ir comigo? – Ela pergunta. – É um internato aparentemente normal, mas eles aceitam alunos especiais, como eu e você.

– A caça E o caçador.

–Qual é, isso já ficou para trás. – Lissa disse brincando enquanto eu secava o rosto com as palmas da mão. – Você pode aprender mais coisas, ou simplesmente viver como uma humana normal. Nós poderemos viver juntar novamente.

–Minha mãe...

–Ela já concordou com tudo. Tivemos muito tempo para conversar no cativeiro, diga-se de passagem, é uma ótima escapatória. Ninguém saberá quem é você, e então ninguém lhe procurará, você poderá ter tudo o que sempre quis, um futuro brilhante como empresária ou advogada, o que você quiser ser.

–E sua família? –Eu perguntei.

Ela deu de ombros.

–Não sabem para onde estou indo, não é como se fizesse muita diferença para mim, mas ainda mantemos contato.

–Isso não incomoda você? Quer dizer, ficar se escondendo?

–Não. Quando se tem uma oportunidade de continuar viva, você não questiona, você a agarra.

–Certo, onde fica essa tal escola?

–É um internato, fora do pais. – Vendo meu espanto ela acrescentou. –Não se preocupe, eles falam português.

–Quando vamos?

Não parei para pensar muito no que estava deixando para trás, pois eu só queria seguir em frente. As vezes esquecer é o melhor remédio para um coração partido, no meu caso, era fugir.

Eu não estava somente abandonando parte de mim, eu estava abandonando uma vida inteira, mas que logo seria restaurada.

–Podemos nos encontrar amanhã cedo ás 6:00 na rodoviária. Não leve roupas ou coisas pesadas, apenas o essencial, daremos um jeito em tudo isso depois. –Ela disse.

Eu concordei prontamente.

Lissa me deu um longo abraço antes de se levantar a caminhar em direção a janela.

–Por que a janela? –Perguntei

Um sorriso se formou em sua face.

–Não acho que invocadores gostariam de ter uma caçadora invadindo território deles.

–Esqueceu eu também sou uma invocadora?

–Corta essa garota nerd, você é uma exceção.

Eu sorri verdadeiramente alegre, como se meus últimos problemas não estivessem naquele exato momento me fazendo querer chorar.

Assim que Lissa saiu, minha mãe adentrou o quarto.

–Sabia que ela não ficaria muito tempo longe. –Minha mãe comentou enquanto fechava a porta. – Vocês sempre foram muito melhores juntas.

Os olhos de minha mãe estavam completamente inchados e vermelhos, claro, ela acabara de perder a filha pela segunda vez, não conseguia nem mesmo imaginar o que era a dor de uma perda nessas tamanhas proporções. Me senti mal por estar tão triste e chateada, pois no final, aqui estava eu, respirando e com pessoas que gostam de mim. Mas pensar em deixa-la para fugir me deixou desconcertada, eu não deveria fazer isso, ela precisava de mim e no entanto fui egoísta o suficiente para tomar tal decisão sem pensar.

–Não se preocupe comigo. –Ela disse parecendo ler meus pensamentos. – Sua segurança está no topo de minhas prioridades.

–Mas você... – Eu comecei, mas ela se aproximou de mim barrando uma continuação.

–Você passou por tantas coisas Rose, não precisa e não deve se manter presa a mim até a morte, sou sua mãe, mas não serei responsável por sua vida ser completamente isolada. Vá com Lissa, nunca perderemos contato.

Eu levantei e a peguei em um longo abraço.

–Eu te amo mãe.

–Sabe que também te amo, minha filha. – Ela disse. – Seu futuro não é aqui.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Estamos na RETA FINAL! mas eu tive algumas ideia para uma "possivel" 3 temporada! quem topa?