–Hey, há algo errado?

Meus olhos voam na direção de Felicity e eu a vejo piscar algumas vezes de forma confusa.

–Minha irmã está viva, não é mesmo?

Felicity perde o ar. Momentaneamente vejo-a ficar roxa e seus olhos se esbugalharem de forma estranha, ela não esperava isso vindo de mim, não esperava que eu soubesse, posso ver a estranheza da surpresa em seu olhar e pelo que posso identificar ela está apavorada.

–Não minta para mim. –Digo. –Me conte a verdade.

Felicity engole em seco.

–Como você descobriu?

–Isso não importa agora. – Eu respiro profundamente de forma prazerosa. – Ela tem algo a ver com os sumiços, não é?

–O quanto você sabe sobre tudo isso? –Ela pergunta.

–Sei o suficiente para constatar que você e Dimitri veem mentindo para mim á muito tempo.

Felicity morde o lábio nervosa.

–Sinto muito, eu queria lhe contar, juro que queria! Mas meu irmão é extremamente protetor, não queria que você sofresse antecipadamente, nós não tínhamos certeza, tínhamos que confirmar. – Felicity meche suas mãos nervosamente. –E então ela apareceu.

–O que?

–Na escola, não sabemos porque ela estava lá, Dimitri estava meio possesso, ficou doido quando a viu, tentou falar com ela, você sabe... ele ainda se culpa pela sua não morte.

–E o que aconteceu?

–Lissa á atacou novamente, Dimitri tentou para-la, mas não foi o suficiente, e então...

–Então o que Felicity?

–Raquel está diferente, ela não é a mesma.

–O que você quer dizer com “Ela não é a mesma”?

–Ela tem poderes malignos Rose, ela não deveria, mas tem. Acredito que ela firmou pactos com o ser debaixo.

–Ser debaixo? Você quer dizer o diabo? –Digo meio desacreditada.

–Somos invocadores Rose, não humanos, apenas projetos de seres com poderes sobrenaturais, comece a acreditar em coisas que antes julgava impossível.

–Minha irmã fez algum pacto?

–Não só um, vários, e creio que ela não é a única.

–Como assim?

O sonho me volta a mente e a maneira como Raquel falava no plural atiçou minha imaginação de forma sem igual, poderia a vida ter pregado uma peça tão macabra quanto essa? Eu era uma garota normal há algum tempo atrás, no entanto, agora não passava de alguém confusa demais para até mesmo se identificar. Minha mãe estava desaparecida, minha irmã voltará dos mortos, e a confusão continuava.

–Ela levou Lissa. –Diz Felicity enquanto me encara de forma penosa.

A observo e me recordo de que ela não faz a menor ideia que sei sobre Lissa, tendo em mente forço uma face surpresa e espanto enquanto o sonho retorna a minha mente.

–Lissa está viva? –Pergunto surpresa.

Pisco meus olhos tentando ser mais realista, algumas lágrimas se acumulam nos olhos e me sinto péssima por mentir para Felicity.

–Sim. –Felicity segura minha mão. –Sinto muito por tudo, Raquel está sequestrando pessoas, mas ainda não fazemos ideia do “ por que” ou onde ela está.

Eu balanço a cabeça afirmando como numa forma de aderir melhor a questão, no entanto, minhas lembranças se voltavam para o sonho esquisito a todo momento e eu sabia que de alguma forma aquilo fora real, minha pequena irmã encrenqueira viraria uma assassina muito em breve, logo eu matasse Lissa, eu estava sem chão.

A porta foi aberta de forma lenta, mas mesmo assim o suficiente para eu e Felicity escutarmos no silencioso quarto. Dimitri colocou a cabeça dentro do quarto e seus olhos voaram instantaneamente em minha direção.

–Você está bem? –Ele pergunta.

Eu assinto afirmando, não estava completamente pronta para conversar com ele após nossa última discussão, mas Felicity levantou e seguiu em direção a porta de forma silenciosa, eu imploraria para que ela permanece se fosse possível, tinha certeza que ela poderia sentir a tensão no ar, no entanto, saiu com um último olhar de desculpas penando em minha direção.

–Como está se sentindo? –Dimitri perguntou enquanto fechava a porta e se aproximava de mim.

Eu fiquei em silencio, não queria conversar com ele, de alguma forma não me sentia à vontade naquele momento em especial.

–Você não quer conversar? –Perguntou Dimitri me analisando atentamente.

Eu balancei a cabeça em negativa, sabia que estava sendo dramática e infantil, mas não me importava no momento, eu só queria paz e espaço para poder pensar meu próximo passo.

–Raquel está viva. – Dimitri diz

Eu assinto com a cabeça.

–Felicity já te contou?

Eu balanço a cabeça afirmando.

Dimitri passa a mãos pelos seus cabelos de forma nervosa.

–Estamos tentando descobrir o que ela tem com tudo isso.

Eu balanço a cabeça novamente e Dimitri se aproxima ainda mais de mim.

–Por favor Rose, diga algo! Me xingue, me bata, mas não me faça refém do seu silencio.- Implora ele de forma desesperada.

–Eu só preciso de tempo. –Digo aos sussurros. –Você mentiu para mim.

–Não queria que soubesse dessa forma.

–Eu não sou uma criança Dimitri, talvez eu realmente não saiba me cuidar sozinha, talvez eu continue sendo uma inútil aos seus olhos, mas pelo menos a verdade eu mereço saber.

–Você não é uma inútil.

–Sim, eu sou, além de tudo estou tão ferrada na vida real quanto na minha própria cabeça.

–Suas alucinações não são culpa sua Rose, seu poder se desenvolveu de forma descontrolada dentro de você afetando um pouco sua mente, mas com o treino certo e com seu autocontrole, conseguirá superar isso da melhor forma. Quanto a vida real, farei com que dê certo.

–Você não tem esse poder Dimitri. –Digo. –Apenas eu tenho, tenho minha parcela de culpa nisso tudo.

Dimitri balança a cabeça parecendo desacreditado enquanto pesca minha mão, e eu deixo, sinto sua pele quente acariciar a minha e sou tomada por uma ilustre sensação boa que faz com que me sinta bem.

–Iremos dar um jeito, acharemos as respostas.

–E Lissa?

Dimitri engole em seco.

–Iremos acha-la também, fizemos um novo contrato com os caçadores da região.

–Um contrato?

–Eles não querem perder um dos seus.

Eu balanço a cabeça afirmando, Dimitri segura meu queixo de forma carinhosa.

–Quando tudo isso acabar, terá sua vida normal de volta. –Ele sussurra, no entanto, não sorri, pelo contrário, seus olhos carregam um pesar e tristeza enorme.