Prometidas escrita por P Capuleto


Capítulo 5
ARCO I: empatia


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— Sakura, acorda. Sakura, minha filha, volta pra Terra.

A menina abriu os olhos e deu de cara com Tsunade.

— Mãe?

— Não, eu sou o papai Noel. – respondeu debochada e então cruzou os braços – Que horas a senhorita chegou em casa ontem que ninguém te viu entrar?

— Não sei. – ela respondeu se dando conta do quão aquilo era verdade. Não se lembrava de ter saído da festa, muito menos de ter chegado em casa. – Ino e Hinata chegaram bem?

— Elas estão lanchando lá embaixo. – respondeu a mãe.

— Lanchando? Que horas são?

— São quatro horas da tarde, dorminhoca. – a loira brincou, mas logo ficou séria novamente – E outra coisa: não é para deixar as janelas abertas durante a noite. A segurança da casa fica comprometida. Não moramos mais em um apartamento, então temos de ficar atentas a certas coisas.

Sakura se desculpou, mas sabia que algo estava errado. Não se lembrava de ter vindo para casa, mas com certeza se lembraria de tentar abrir a janela, já que esta estava emperrada desde que a família se mudou para a nova residência alguns anos atrás e demandaria um esforço enorme para ser levantada.

Como estava cansada e com fome, achou melhor não colocar isso em questão e levantou-se da cama. Só então percebeu que ainda usava o vestido vermelho de tiras que escolheu com tanto cuidado para a formatura. Mexeu no cabelo desgrenhado e sujo e decidiu que tomaria um banho antes de comer.

— Pode ir na frente, mãe. Já desço. – avisou e depois foi em direção ao banheiro da suíte, agradecendo mentalmente por não dividir mais o banheiro com as irmãs.

Quando Tsunade terminou seu segundo mandato na prefeitura, a família se mudou para mais longe do centro da cidade, numa área residencial bem arborizada e pacífica. Desde então, todas tem seu próprio quarto com suíte e nada poderia ser melhor para Sakura que já estava cansada de dividir o espaço com uma maníaca por maquiagem (Ino) e uma desorganizada sem conserto (Hinata).

Ao sair do banheiro, Sakura apanhou o celular de dentro da bolsa que levara para a festa de formatura e constatou, chocada, que havia dezessete chamadas perdidas de números diversos e mais quinhentas mensagens de texto no aplicativo de bate-papo.

Nove telefonemas eram de Hinata, quatro de Ino, três de Tsunade e um de Karin.

Nesse momento, suas memórias voltaram com um clique: o concurso de rei e rainha do baile, a exposição sem noção de Lee, sua fuga para o estacionamento, o porco selvagem e... E aí?

"Droga, por que não consigo me lembrar do resto?"

Ela se sentou sem roupas na cama e se forçou a pensar em como chegou em casa. Uma brisa suave vinda da janela chamou a atenção de Sakura. Ela pensou se lembrar de alguém saindo pela janela na noite anterior, mas, por mais que isso parecesse assustador, também parecia uma memória extremamente improvável, então ela não sentiu medo.

As lembranças ainda falhavam, mas mais detalhes foram sendo acrescidos sobre a noite de ontem: ela caiu da ribanceira e bateu a cabeça. Rapidamente pousou os dedos sobre a região atingida, mas não sentiu nem dor nem encontrou nenhum galo. Será que realmente havia rolado terra abaixo? Resolveu conferir seu corpo, mas não encontrou arranhões nem nada que sugerisse que a memória fosse real.

Por fim, recorreu ao vestido do baile. Ela o apanhou de volta do cesto de roupa suja e percebeu que ele estava todo sujo de terra seca e algumas partes do tecido estavam repuxados.

"OK, então eu caí mesmo. Mas o que aconteceu depois? Como não me machuquei?" Foi então que se lembrou de outro detalhe. "Tinha alguém comigo."

Ela sentiu um arrepio ao se lembrar de uma voz masculina que falava com ela, mas não conseguia lembrar de mais nada sobre a pessoa. Concluiu que esse alguém provavelmente a tirou do buraco e a ajudou a chegar em casa. Mas quem seria seu herói?

Resolveu checar as mensagens de texto em busca de dicas. A maioria das notificações eram inúteis pois vinham do grupo da turma. Todos estavam comentando sobre a festa e seu assunto principal: o showzinho de Lee.

Sakura resolveu não ler muito a fundo para não passar raiva.

As outras mensagens vinham de conversas individuais com suas irmãs. Coisas como "Onde está você?" e "Você já foi para casa?", o que deixava ainda mais evidente que ninguém de confiança sabia como ela havia voltado para casa. Nem as irmãs nem Tsunade.

Exausta com a falta de respostas, jogou o aparelho no colchão e saiu do quarto, indo em direção às escadas para comer alguma coisa. Quando ficasse à sós com suas irmãs, iria expor sua confusão e juntas tentariam desvendar o mistério.

 

**********

 

— Sasuke, para de se fazer de machão. Nós vimos tudo – Naruto ficava pulando de um lado para o outro tentando derrubar o corvo que estava no ganho mais alto da árvore mais alta do bosque próximo à clareira em que moravam. Nessas horas, Sasuke agradecia por ter nascido na forma de um animal voador.

— Ele não vai falar com a gente, Naruto. Desista. – Sai se juntou aos dois – Estou indo ver a Ino. Quer vir?

— Opa, vamos! – o loiro se empolgou e logo se esqueceu do corvo. Este, por sua vez, não conseguiu ficar calado e se transformou em humano, mas permaneceu em seu galho:

— Vocês vão continuar vivendo para vigiá-las? Fala sério. – gritou lá de cima.

Sai perdeu a paciência.

— Sasuke, isso faz parte da nossa missão. Prometemos protege-las e, mesmo que você prefira viver seus dias escolhendo missões e descansando em galhos de árvore, nós temos obrigações em tempo integral. Então com licença.

— Exatamente. – ele revidou – Eu não tenho obrigação nenhuma com ninguém fixo e por isso sou livre para fazer o que eu quiser.

— Inclusive dividir sua Energia com uma humana, né? – Naruto provocou mais uma vez.

Sasuke agarrou seu pingente e o observou de perto. A esfera parecia menos brilhante e ele sentiu raiva de si mesmo por ter agido de forma tão inconsequente.

Quando viu a menina rolando ribanceira abaixo, não conseguiu se controlar e foi direto ao seu encontro. Sem pensar, acabou usando parte de sua Energia acumulada na esfera em seu cordão para ficar invisível e ajuda-la a se manter de pé e acordada.  Durante o treinamento, havia aprendido que pancadas na cabeça poderiam trazer sérias consequências, mas que manter o humano acordado era extremamente importante para minimizar os danos. O tempo que Sasuke usou se mantendo invisível com certeza gastou mais Energia do que ele gostaria que tivesse gastado...

Leva-la em casa, ele agora percebia, foi um exagero. No entanto, o guardião não conseguiu pensar direito e apenas agiu. Ele sabia de cor o endereço das três garotas graças às visitas constantes de Naruto e Sai para vigiar suas protegidas, então encontrar a janela de seu quarto não foi problema.

Talvez a parte da qual Sasuke mais se arrependeu tenha sido essa: logo depois de deixa-la na cama, resolveu cura-la de seus arranhões e deu uma ajuda com a pancada na cabeça. Isso sim lhe custou muita Energia Gratificante acumulada...

— O que você fez quando a levou para casa, garanhão? – Naruto não conseguia deixa-lo em paz. – Será que se beijaram?

— Eu vou acabar com sua raça se não calar essa boca. – ameaçou o moreno que já estava bastante irritado.

— Quanto rancor... – Sai se meteu para passar os braços em torno do loiro implicante – Vamos, Naruto. Ele precisa de um tempo pra perceber que não odeia tanto os humanos quanto pensa.

Sasuke ameaçou avançar para cima do guardião pálido, que tomou a forma de uma pantera, sendo seguido por Naruto que também assumiu a forma original. Os dois correram em direção à cidade, onde voltariam à forma humana quando julgassem perigoso demais continuar vagando como animais selvagens e usariam uma pequena parcela de sua Energia acumulada para ficarem invisíveis e escalar a residência das meninas. Por lá ficariam meditando durante o resto do dia.

O moreno que foi deixado para trás mal conseguia se manter na forma humana, tamanha a raiva que sentia. Não só de Sai e Naruto por serem implicantes, mas dele mesmo por ter feito tantas coisas fora do padrão na noite anterior.

Olhou para a clareira vazia e suspirou alto.

As três entidades, ele Sai e Naruto, sempre viveram por lá como animais e só saíram pela primeira vez quando certo dia acordaram na forma humana. Muito confusos, teriam entrado em pânico se não tivessem sido imediatamente visitados por Vovó Chiyo (a entidade de maior grau hierárquico). Ela os guiou para uma dimensão diferente, chamada de Plano Astral, onde encontraram mais animais metamorfos como eles e enfim entenderam que não eram como animais normais: eram entidade protetoras que precisavam de treinamento antes de começar seus dias como guardiões.

Durante muito tempo, os três aprenderam tudo o que precisavam saber sobre o mundo humano e sobre o novo ofício: quando o primeiro contrato entre humano e entidade é selado, o guardião recebe sua esfera acumuladora de Energia Gratificante, que ele deve preencher durante as missões. A ajuda que ofereceriam aos humanos seria convertida em gratidão, que, como todas as entidades sabiam, é a força mais poderosa do mundo (ou melhor, a mais poderosa e que é de fácil controle. Outras forças grandiosas como amor e ódio são de dificílima manipulação e não poderiam ser contidas numa pequena esfera de vidro).

Em algum momento da vida imortal do guardião, a esfera fica tão cheia que a Vovó Chiyo aparece para dar a notícia que Sasuke tanto quer ouvir: "Obrigada pelos seus serviços. Agora você é livre." Nesse momento, o pingente se solta do cordão e vai em direção à estranha senhorinha, que fica responsável por redistribuir toda essa energia pela Terra, tornando o planeta um lugar melhor – ou pelo menos é o que sempre lhe foi ensinado – E então o guardião pode voltar a viver sua vida como um animal metamorfo sem ser forçado a lidar com humanos, a não ser que assim deseje.

O tempo no Plano Astral passa de forma diferente em relação ao tempo na Terra e, por isso, quando os rapazes terminaram seu treinamento e estavam prontos para começar seus serviços, viram que, ao lado de sua clareira de nascença havia uma cidade bem desenvolvida onde antes só havia floresta. Sasuke, que já estava desgostoso pelo tipo de vida que teria de viver por tantos anos, acabou transferindo o sentimento para os humanos e, desde então, tem gostado cada vez menos deles. Para ele, toda a sua condição de existência era um fardo.

Seu desgosto ficou mais explícito doze anos atrás, quando os rapazes receberam seu primeiro chamado de missão. Diferentemente dos outros dois, Sasuke não estava empolgado para começar sua vida como entidade protetora e muito menos desejaria gastar sua aposentadoria vivendo como um humano, mas a raposa e a pantera aceitaram a missão, deixando-o sozinho na clareira. Sasuke não entendia como aqueles dois podiam abrir mão de sua imortalidade e de sua vida como animais livres, para se tornarem humanos comuns.

Sasuke suspirou pensando em quantas missões teria que acrescentar no seu futuro já que gastou Energia atoa com uma humana qualquer.

"Garota maldita." Lamentou, mesmo sabendo que a culpa não era dela.

Sasuke conheceu Sakura da mesma forma que os outros guardiões: elas costumavam frequentar a clareira com sua mãe quando eram pequenas. Quando eles foram chamados para protegê-las, foi uma surpresa. Se não fosse uma missão tão longa e uma recompensa tão degradante ele teria cuidado da menininha de cabelos róseos.

Apesar de não ter selado o contrato, foi inevitável que ele acompanhasse o crescimento das três. Mesmo que sem querer, ele testemunhou uma conquista ou outra durante a trajetória das meninas órfãs, pois quando estava se sentindo entediado ou solitário, buscava a companhia de Naruto e Sai. Eles, por sua vez, quase sempre estavam observando suas protegidas, então Sasuke não tinha escolha a não ser conhece-las indiretamente também.

Como nunca criou nenhum tipo de laço com nenhum dos humanos com quem selou contratos ao longo dos anos, aquelas três garotas eram o mais próximo que ele tinha de um "contato" mais longínquo com humanos.

Não que ele almejasse isso, é claro. Inclusive, muito do que sabia sobre as três meninas era contado à ele contra sua vontade: nas poucas vezes em que Naruto e Sai passavam a noite na clareira, não calavam a boca e se empolgavam a falar de suas protegidas. Sasuke já estava de saco cheio de ouvir sobre Ino e de Hinata, então quando os dois começavam seus monólogos, o moreno desfocava completamente e tentava prestar atenção em qualquer outro detalhe que aparecesse nas histórias. Fosse um animal, uma pessoa nova etc. E muitas vezes esse detalhe era Sakura, que não tinha tanto destaque nos relatos.

Durante seu treinamento, Sasuke aprendeu que eles, como entidade protetoras, já tinham inato dentro de si uma vontade grande de ajudar e proteger, além de um enorme senso de empatia. Sasuke nunca acreditou muito nessa história, por isso, quanto ao seu episódio de heroísmo sem sentido na noite passada, ele atribuiu a um descuido que os anos de "convivência" com a menina de cabelos cor de rosa causaram.


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Notas finais do capítulo

— Agora vcs sabem um pouquinho mais sobre como funciona o trabalho de um guardião.
— O próximo capítulo sai dia 28 (já que não existe 30 de fevereiro). Até lá!!



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