Fiéis Infiéis escrita por Samuel Cardeal


Capítulo 27
Epílogo




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— Foi bonita a cerimônia — disse Anderson, beijando o rosto da esposa.

— É, mas bem que o Pastor Joaquim poderia ter falado uma meia hora a menos, e não gritado tanto; o bebê se irritou, me chutou o tempo inteiro — redarguiu a esposa.

Anderson riu e acariciou a barriga crescida de Adelaide, que já estava no nono mês de gestação.

— Eu quero saber é dos “comes e bebes”, já que aqui tá cheio de crente e não vou conseguir pegar ninguém — Nelson foi ao casamento acompanhando o casal, quase um penetra, já que não estava na lista de convidados.

— Não sei não — disse Adelaide —, tem muitas garotas bonitas na igreja, talvez uma delas te converta.

— Eu? Me converter? Ir pro céu e ficar ouvindo anjinhos tocando harpa? Obrigado, mas prefiro o inferno, lá tem dançarinas exóticas 24 horas.

— Dizem que eles também têm um ator pornô em cada cela, para castigar os internos — divertiu-se Adelaide.

— Sai fora! — Nelson não gostou do comentário.

Os três caminhavam pela grama verde lentamente, seguindo sem pressa da capela para o salão de festas, onde a maioria dos convidados já havia se instalado.

Adelaidêee, minha irmã tá na praia... Adelaidêee

Adelaide ouviu uma voz conhecida, cantando miseravelmente uma canção com seu nome. Virou-se para trás e deu de cara com uma figura inusitada; o homem vestia uma belo terno azul marinho, gravata branca e camisa da mesma cor; para completar a indumentária, uma pochete pendendo para o lado esquerdo.

— Edeval? — indagou a gestante.

— Oi, princesa! — disse Edeval, pegando a mão de Adelaide e beijando-a com suavidade. — Com todo meu respeito, amigo.

— Esse é o Edeval, amor, motoboy que presta serviço pra loja — Anderson cumprimentou secamente com um aperto firme de mãos. — O que faz aqui? — indagou ela, voltando-se para Edeval.

— Frequento a Igreja do Pastor Joaquim há muitos anos. E também faço algumas entregas para ele.

— Como esse mundo é pequeno.

— Eu vou indo, porque a comida me espera — Edeval se afastou, acelerando a marcha rumo ao salão.

— Esse cara é dos meus. E vocês dois bem que podiam andar mais rápido, né? Quando chegarmos ao salão, todos já estarão saindo.

O trio apressou um pouco o passo, mas não podiam correr, pois Adelaide já sentia o peso da barriga incomodar, e o cansaço era grande. Contudo, quando adentraram o salão de festas, as pessoas ainda se acomodavam, e a banda nem começara a tocar. Sentaram-se em uma mesa bem localizada e logo começaram a serem servidos os quitutes. A gestante, que em breve daria a luz a uma menina, vinha comendo com exagero nos últimos meses, mas ainda assim não engordara muito além do normal.

— Olha a sua mãe — Adelaide riu ao ver Dona Marieta com seu novo namorado.

— Ela parece bem feliz.

— Eu sempre achei que ela precisasse de uma boa...

— Adelaide! — repreendeu Anderson.

— Pelo menos ela parou de implicar comigo.

Marieta conhecera um homem chamado Eduardo; um velho motoqueiro membro dos Demônios do Asfalto, um grupo de motociclista existente há décadas. Agora, ela vivia viajando na garupa do novo namorado, que tinha a idade equivalente à sua, mas que ainda ostentava o charme e elegância da juventude.

Os noivos também dançavam, e pareciam muito felizes. Adelaide se sentiu bem em perceber que todos os seus planos insanos para estragar aquele relacionamento deram errado. Os pais de Emílio ainda olhavam para o casal sabotador com desconfiança, principalmente Joaquim, mesmo que o filho esclarecesse que tudo não passou de um engano, e que agora todos estavam bem.

— Chutou! — avisou Adelaide, e imediatamente seu esposo levou a mão à redonda barriga. — Acho que ela não gosta de música sertaneja — brincou ela, visto que tocava uma canção de uma das duplas preferidas de Anderson.

— Ou talvez ela já esteja dançando — rebateu ele, piscando alegremente para Adelaide. — Eu senti!

Toda vez que Anderson sentia o chute da filhinha, era tomado de uma grande emoção. Nunca havia pensado em ser pai, mas agora que isso era uma realidade, e que seu bebê estava quase chegando, ele só conseguia pensar nisso. O futuro papai chegava a sair sozinho para comprar roupas e brinquedos para sua herdeira, e passava horas conversando com a barriga de Adelaide.

De repente, Adelaide se sobressaltou; havia um casal, na extremidade oposta do salão, que os fitava fixamente. A gestante os encarou de volta, com Anderson ainda a apalpar sua barriga. Contudo, os dois não paravam de olhá-los.

— Amor, você conhece aquele casal?

— Onde? — perguntou Anderson, retirando temporariamente sua atenção do bebê.

— Ali, no fim do salão. Aqueles dois que não param de nos olhar.

Anderson olhou atentamente para os dois. Pareciam turistas estrangeiros, ambos de pele muito branca e cabelos loiríssimos. Contudo, possuíam grande beleza. Ela, magra porém de curvas bem moldadas, um rosto bem desenhando, com olhos verdes vibrantes, nariz delicado e lábios nem muito carnudos, nem muito finos. O homem, por sua vez, carregava um porte de ator de hollywood, com ombros largos sob o termo alinhado, o rosto ligeiramente quadrado, mas harmonioso no conjunto, seus olhos eram de um azul cristalino, um pouco puxados, o que lhe dava um ar misterioso.

— Nunca vi aqueles dois — respondeu Anderson, após um longo período analisando o casal.

— Então, por que diabos eles não param de olhar para nós? — irritou-se Adelaide. — Se não pararem, vou até lá!

— Para, amor, não deve se irritar. Esqueça os dois, devem estar apenas encantados por verem a grávida mais bonita de toda a história.

Ela sorriu, colando seus lábios de modo terno aos do esposo. Contudo, permaneceu devolvendo o olhar dos estranhos, demonstrando seu desagrado com a atenção excessiva vinda deles. Farta daquele jogo de olhares, Adelaide balançou a cabeça para o casal, como quem pergunta “o que estão olhando?”. O homem sorriu, e imediatamente os dois se levantaram, pondo-se a caminhar até a mesa onde Anderson e a esposa estavam.

— Estão vindo pra cá! — avisou Adelaide.

Ainda que o casal caminhasse rápido, a espera, para Adelaide, pareceu morosa, já que estava deveras intrigada com as intenções daqueles dois. Assim que chegaram, o homem deu a primeira palavra, e a voz que saiu de sua boca era suave e firme.

— Com licença, desculpe incomodar vocês, mas é que estávamos observando e...

— Observando bastante pro meu gosto! — interrompeu Adelaide, nada receptiva à abordagem dos estranhos.

— Eu sou professor do Emílio, na faculdade, e ele me contou sobre a natureza do relacionamento que tiveram, vocês e eles.

— Contou? Por que ele faria isso? Por acaso são grandes amigos? — Adelaide não gostou nada daquilo.

— Na verdade, tornamo-nos grandes amigos, sim. Mas não é por isso que estamos aqui.

— Então o que é? — Anderson permanecia em silêncio, apenas observando, enquanto sua esposa tratava com rispidez o casal.

— Sabendo que são um casal de mente aberta, queríamos apenas fazer um convite. Eu e minha esposa nos agradamos muito de vocês, são ambos muito atraentes.

Adelaide arregalou os olhos, os rumos daquela conversa estavam cada vez mais estranhos. Até mesmo Anderson, que até então dava pouca importância ao que aqueles dois tinham para dizer, voltou sua atenção integralmente à fala do professor.

— Vocês já estiveram em uma casa de swing?

A pergunta os pegou de surpresa, mas, depois do primeiro susto, sorriram um para o outro. O semblante de Adelaide, antes carrancudo, agora ostentava curiosidade, deixando de lado a hostilidade que demonstrara até então.

— Não gostariam de se sentar? — convidou Adelaide, trocando sorrisos não muito inocentes com o marido. — Acho que temos muito a conversar.

FIM


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