Fiéis Infiéis escrita por Samuel Cardeal


Capítulo 26
Capítulo 25: Tudo Bem Quando Termina Bem




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Depois de uma noite que me deixou cheio de hematomas, Adelaide e eu conversamos e resolvemos reatar. Na verdade, começaríamos novamente. Adiantamos nossas férias para podermos coroar nosso novo casamento com uma lua de mel apropriada. Na primeira semana, ficamos entocados em casa, a maior parte do tempo na cama. Isso não significa que fizemos sexo até não aguentar; aproveitamos nosso tempo com sabedoria. Evidentemente fizemos muito sexo, já que tínhamos acendido um novo fogo em nós, mas também passamos bons momentos assistindo a filmes, conversando, lendo. Nunca fui muito de ler, mas Adelaide me recomendou alguns livros que até me agradaram.

Marcamos a viagem para a semana seguinte; Adelaide sempre quis conhecer Fernando de Noronha, então não hesitei, propus fazermos uso de parte de nossas reservas econômicas; ela aceitou de bom grado. Porém, antes de partir para o início de uma nova vida, precisávamos consertar alguns estragos. Marcamos um encontro com Emílio e Aliane; foi a primeira vez que nos encontrávamos, os quatro ao mesmo tempo. Pedimos desculpas por tudo que fizemos, e explicamos que estávamos bem novamente, e que não tentaríamos mais sabotar seu casamento.

Os dois foram muito gentis, e aceitaram nossas desculpas com sorrisos no rosto. O Emílio era um cara bem bonitão, e confesso que senti uma ponta de ciúme, pensando em tudo o que acontecera entre ele e minha esposa no passado. Mas esse sentimento não durou muito, e assim que nos despedimos, um alívio me tomou; minha consciência voltou a ficar leve como pluma.

Passamos duas semanas maravilhosas em Fernando de Noronha, e, em certo ponto, foi como se voltássemos a ser adolescentes. Toda aquela paixão juvenil que sentíamos nos primeiros encontros voltou com mais intensidade que nunca. Quando voltamos, sugeri a Adelaide que comprássemos uma cadelinha, então Luke ganhou uma namorada; foi batizada como Leia. Minha esposa disse que o nome era uma piada, mas eu nunca entendi. Desde então, o rabinho do nosso cãozinho não parou mais de balançar.

*

Após um mês, voltamos ao trabalho; contudo, estávamos revigorados. Nossa vida ficou mais leve, e passamos a nos preocupar mais em sermos felizes do que racionalizarmos os problemas, que muitas vezes eram bem menores que pensávamos. Decidi abandonar o cigarro, e logo percebi os efeitos a não ficar ofegante depois de subir as escadas com pressa. Adelaide continuou com a maconha, e algumas vezes eu também experimentava e ficávamos os dois a contemplar o horizonte do quintal de casa.

Dois meses depois de voltarmos a trabalhar, comecei a notar que minha esposa apresentava um comportamento diferente do normal. Adelaide parecia mais cansada com as tarefas do dia a dia, além de seu apetite ter se alterado, tanto em qualidade quanto em quantidade.

— Vamos marcar uma consulta, você anda muito diferente — disse a ela, preocupado com sua saúde.

— Tá tudo bem, amor — respondeu, tentando me acalmar. — Depois da nossa segunda lua de mel, acabei perdendo o ritmo, e este mês o movimento da loja parece ter triplicado por causa do natal que já está chegando.

— Tem certeza? Porque isso não me parece apenas cansaço.

— Talvez seja a “gripe do rato”! — disse ela, gargalhando ao se lembrar da mentira que contamos para mamãe. Aqueles dias pareciam tão distantes, e fazia apenas alguns meses que tudo acontecera.

— Tô com fome. Vamos comer um sanduíche? — propôs minha esposa.

— Nós jantamos a menos de meia hora, não é possível que você já esteja...

Não pude terminar de falar, pois me assustei com Adelaide se levantando do sofá em um salto e, com as mãos sobre a boca, correndo para o banheiro. Eu a segui, e ela já estava com a cabeça abaixada, vomitando todo o jantar que acabara de comer.

— Tudo bem? — perguntei, tentando não parecer um idiota.

, acho que a comida não me caiu bem.

— Eu vou ligar.

— Ligar pra quem?

— Vou marcar uma consulta, precisamos ver o que é isso.

— Não precisa, vou tomar um sal de frutas e já melhoro.

Adelaide era teimosa, apesar de todas as suas qualidades, um grande defeito seu era não cuidar como devia de sua saúde. Certa vez foi internada com pneumonia, por não tratar devidamente um mal estar que teve. Eu não era muito de tomar a iniciativa, mas agora, depois de tudo o que vivemos, não deixaria de cuidar da mulher da minha vida.

— Não tem conversa — afirmei, sem margem para protestos. — Vamos ao médico.

*

Mesmo possuindo um bom plano de saúde, só consegui marcar uma consulta para uma semana mais tarde. Tirei o dia de folga e fomos até o consultório. Depois de 12 pessoas serem atendidas, finalmente chegou a nossa vez. Em poucos minutos o médico examinou Adelaide, e solicitou alguns exames.

— Seu ciclo menstrual está normal? — perguntou o médico.

— Bem, está atrasado algumas semanas, mas meu ciclo nunca foi linear.

— Usa algum contraceptivo?

— Eu tomo pílula, não falho um dia!

— As pílulas são eficazes, mas não são 100%. A senhora vai fazer esses exames de sangue, mas provavelmente está esperando um bebê.

— O quê? — dissemos, ao mesmo tempo.

— O resultado do exame é em alguns dias, mas pode fazer o teste de farmácia, caso não queira esperar.

— Mas... Mas... — Adelaide perdeu a fala.

Eu também não sabia o que dizer. Claro que queríamos filhos, mas ainda não havíamos planejado, era algo tão inesperado. O médico receitou alguns medicamentos para o enjoo e logo chamou o próximo paciente. Saímos do consultório meio abobalhados, mas Adelaide não demorou a recobrar a razão.

— Vamos à farmácia, agora!

*

— Conseguiu? — perguntei, à porta do banheiro.

— Com você me pressionando, o xixi não vai sair.

Adelaide estava há meia hora tentando urinar para o teste de gravidez que compramos na farmácia. Na verdade eram 3 testes, pois ela queria opiniões diferentes, então pegamos um de cada marca. Ainda bem que só tinha 3 marcas naquela farmácia.

— Tenta relaxar! — falei, elevando a voz para que ela ouvisse do outro lado.

— Isso não está ajudando, fique quieto; quando conseguir, te aviso.

Aquilo podia durar o dia todo, então peguei uma cadeira e me sentei, esperando pelo resultado. No entanto, depois de alguns minutos em silêncio, ouvi um som característico de água corrente; esperei mais um pouco e bati na porta duas vezes.

— Pode entrar.

Abri a porta lentamente e entrei. Adelaide estava sentada sobre a tampa fechada do vaso sanitário, segurando os três testes.

— E aí? — perguntei, ansioso pela resposta.

— Os três deram o mesmo resultado. Você vai ser papai.

— Oh, meu Deus! — eu não sabia como reagir, meu coração disparou e comecei a suar, ainda que o tempo estivesse frio.

— Decepcionado? — perguntou ela.

— Não... É que... É que... Eu só não esperava por isso. Mas, pensando bem — disse, ajoelhando-me à sua frente e segurando seu rosto com as duas mãos —, já estava na hora de aumentar a família, né?

— Não está com medo?

— Um pouco, e você?

— Apavorada.

— Não se preocupe, você será uma ótima mãe. Veja só como você cuida do Luke!

— Nosso bebê não vai ser um cachorrinho.

— Claro que não, será um pouco mais esperto, mas, no geral, é quase a mesma coisa: limpar, alimentar e amar.

— Só espero que você não dê ração pro bebê.

Nós rimos e, mesmo que estivéssemos com medo dessa nova fase da vida, estávamos muito felizes, agora com um motivo a mais. Saímos do banheiro de mãos dadas, e fomos para o nosso quarto tirar um cochilo. Aquele filho era o que faltava para marcar o nosso novo começo, e eu tinha certeza que seríamos felizes para sempre.

Ou, pelo menos, pelos próximos 6 ou 7 anos.


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