Fiéis Infiéis escrita por Samuel Cardeal


Capítulo 24
Capítulo 23: Todo Dia é Dia de Balada




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Minha primeira noite como solteiro foi um fracasso total. Nelson me levou em uma boate cheia de moças e rapazes que pareciam não ter mais que 19 anos. A música era um “bate estaca” ensurdecedor. Meu amigo se aproximou de duas jovens que dançavam sozinhas, e gesticulou para que eu o seguisse. Ele iniciou uma conversação, mas eu não escutava nada, apenas via seus lábios se movendo e a troca de sorrisos com a garota. A outra jovem me disse algo, mas eu não entendi.

— O que você disse? — perguntei, tentando fazê-la repetir. — Não consigo ouvir!

Ela continuou mexendo a boca por um tempo, até que perdeu a paciência comigo, por eu não entender o que dizia. Separei-me de Nelson, que já estava aos beijos com a menina bem mais jovem que nós, e caminhei pela boate. Nunca fui de dançar, e me senti um idiota quando arrisquei alguns passos junto de uma garota de cabelos tingidos de um vermelho vivo. Diante da minha falta de habilidade na dança, ela logo se afastou, dizendo algo que não entendi, mas que pela expressão em seu rosto não era nada agradável.

Ficamos por ali por volta de duas horas, sendo que na última hora e meia eu permaneci no bar, secando garrafas de cerveja. Quando saímos, Nelson trazia consigo a jovem com quem ficara durante toda a noite. Ele me ofereceu carona, mas recusei e peguei um taxi, os dois estavam bêbados, além disso estava certo de que queriam privacidade.

Cheguei em casa com uma dor de cabeça fortíssima, e só consegui adormecer depois de tomar dois analgésicos.

Pela manhã, a ressaca foi inevitável, ainda assim, levantei-me e preparei um café da manhã reforçado. Ouvi os latidos de Luke, e só então lembrei que ele também precisava comer. Ingrid havia ligado no dia seguinte à briga entre Adelaide e eu, praticamente ordenando que eu cuidasse do animal até que minha esposa mandasse buscá-lo. Eu até tentei argumentar, mas aquela “ruiva infernal” desligou o telefone na minha cara.

Dois dias depois, liguei para Nelson e o chamei para sairmos de novo, mas pedi que evitássemos aquele tipo de balada, pois aquela música barulhenta e irritante ainda ecoava no fundo dos meus ouvidos.

Meu amigo me pegou em casa e fomos a um barzinho onde tocava música sertaneja. Lá chegando, avistei vários casais dançando animados, e muitas mulheres bonitas, a maioria jovem. Pedi uma cerveja e sentei-me a um canto, apenas observando. Após alguns minutos, uma jovem loira, um pouco mais baixa que eu e muito bela, se aproximou, convidando-me para dançar. Eu não sabia dançar, mas acabei aceitando.

Adentramos a pista e começamos a dançar. Segurei sua cintura com firmeza e tentei imitar os movimentos de outros casais que já estavam por ali. A moça tinha um corpo muito atraente, e não me rejeitou quando tentei beijá-la. Ficamos cerca de meia hora no salão, nos beijando com direito a uns “amassos” mais ousados.

— Quer me levar pra um lugar mais reservado? — ela disse, surpreendendo-me.

Não esperava isso dela. Fazia tempo que não frequentava aquele tipo de lugar, mas na época em que Adelaide e eu namorávamos, as coisas não eram tão rápidas. No entanto, era isso que eu procurava ali, um relacionamento de uma noite para tentar suprir a falta que minha esposa fazia ao meu lado na cama.

Chamei um taxi e logo estávamos em minha casa. Subimos as escadas nos agarrando e, quando alcançamos o quarto, ela vestia apenas uma calcinha minúscula, enquanto eu estava livre da camisa, mas ainda usava minha calça. A garota, cujo nome eu nem mesmo perguntara, empurrou-me para a cama, saltando sobre mim como um gato.

Eu estava excitado, e minha última peça de roupa estava quase sendo despida, quando me lembrei que não tinha nenhum preservativo comigo.

— Peraí — disse a ela —, precisamos de proteção.

— Você tem alguma doença? — perguntou ela, maliciosa.

— Não, claro que não! — respondi de imediato. — Mas não podemos...

— Eu sou limpinha, querido. Cala boca e me deixa trabalhar.

Ela beijou minha boca, e senti o gosto de tequila junto com um amargor incômodo. A moça escorregou para baixo, beijando meu peito, minha barriga.

— Para! — disse, sussurrando com a voz trêmula; segurei em seus ombros e a fiz se levantar; — Não posso mesmo fazer isso, tá bom? Espera aqui, tem uma farmácia 24 horas no final da rua. Vou buscar uma camisinha e...

— Vá se ferrar, seu veado. Brocha!

A menina me deu as costas e saiu do quarto. Fui atrás dela, vendo-a apanhar as roupas que faziam uma trilha da escada até a porta. Havia deixado a entrada aberta, então ela simplesmente saiu, ainda se vestindo. Só então percebi seu andar cambaleante; ela estava muito bêbada. Tranquei a porta e me joguei no sofá. A noite fora um fracasso, e agora que estava sozinho, só conseguia pensar em Adelaide. Mas ela havia me abandonado, e eu precisava seguir em frente.

*

Adormeci no sofá e acordei com os latidos de Luke. Eu tinha um gosto amargo na boca, e ainda vestia parte das roupas que usara ontem. Alimentei o cachorro e só então preparei meu café. Enquanto comia, pensei sobre tudo o que acontecera desde que Adelaide se fora. Minhas tentativas de ser um solteiro ativo haviam sido todas desastrosas. No entanto, não estava disposto a desistir.

Antes de minha esposa, namorei poucas garotas, e nunca fui muito habilidoso na arte da conquista. Contudo, já fui melhor nisso do que tenho sido atualmente.

Os dias se passaram, e outras baladas vieram. Troquei alguns beijos com outras mulheres, mas nada além disso. Sentia-me vazio, e parecia que nenhuma mulher era boa o suficiente. A memória de Adelaide ainda me assombrava, e a cada vez que eu pensava em ousar com uma garota, eu pensava nela e tudo ia por água abaixo.

Em um desses dias, resolvi ir mais adiante. Uma mulher que devia ter a minha idade, bonita, pele branca, cabelos negros cacheados. Ela gostava de música sertaneja, e dançamos por quase uma hora, quando eu me atrevi a convida-la para ir à minha casa. Mas, antes que ela conseguisse tirar uma peça de roupa, vomitou em mim, sujando minha camisa e minha calça. Depois disso, chamei um taxi e pedi que a levasse para sua casa.

O que havia de errado comigo? Será que eu tinha um imã para mulheres bêbadas?

Estava quase desistindo de ter uma vida boêmia de farra e prazeres carnais, quando Nelson me convidou para uma festa.

— Não sei, Nelson. Festa à fantasia? Isso não é coisa de adolescente?

— Claro que não, brow. Vai estar cheio de gatinhas! Gente da nossa idade, também. E o melhor, no dia seguinte elas nem saberão quem somos, por causa das fantasias! Não era isso que você queria, sexo sem compromisso, uma garota por noite?

— Nem sei mais o que eu quero. Estou cansado de tudo isso, só tenho vontade de ficar em casa; ver um filme, beber umas cervejas... Só eu e o Luke

— Daqui a pouco chamando o cachorrinho de filhinho — disse Nelson, debochando de mim.

— Cala a boca — rebati, mas rindo do que ele dissera. Por isso era tão difícil brigar com Nelson, ele dizia um monte de besteiras, mas nunca tinha maldade no que falava.

— Então, vamos na festa?

certo, eu vou. Mas se chegarmos lá e estiver cheio de crianças, te deixo com elas e vou pra casa.

*

No dia marcado, Nelson passou em minha casa no horário marcado, e eu até estranhei tamanha pontualidade de sua parte. Ele estava fantasiado de Chapolin Colorado, eu havia me vestido de Zorro, com uma fantasia que meu amigo conseguiu emprestada com “Deus sabe quem”.

— Vamos, Don Diego, não queremos nos atrasar.

— Bela fantasia de formiga atômica — disse, só para provocá-lo.

— Eu sou o Chapolin, cara! Será que você não teve infância!?

Eu apenas ri, não respondendo. A noite estava agradável, e o vento que entrava pela janela do carro era fresco. Não demoramos chegar ao local, e logo na entrada dei de cara com um segurança vestido de Rambo.

— Este pessoal leva essa coisa de fantasia a sério, mesmo — comentei com meu amigo.

O nome de Nelson estava na lista, e logo estávamos atravessando o salão. Havia muitas pessoas por ali, com as mais variadas fantasias. Entre as mulheres, as mais frequentes eram as de odalisca e colegial. Já os homens, em sua maioria, vestiam-se de forma pateticamente engraçada, muitos de “homem das cavernas”, ou guerreiros com pouca roupa, como naquele filme que trezentos soldados fortões matam milhares do outro lado.

Para meu alívio, a música era razoavelmente agradável; ainda que eu preferisse um bom sertanejo, a seleção anos 80 que tocava era infinitamente melhor que aquele bate-estaca das boates. Nelson estava animado, como sempre, e logo começou a dançar e flertar com várias garotas. Eu estava sem nenhum ânimo, e começava a me perguntar por que havia concordado em ir àquela festa.

Caminhei até o bar e pedi um copo grande de chope. Eu observava a multidão se divertindo e não sentia nada, era como se eu estivesse em outro mundo, vendo tudo aquilo por uma tela de TV. Depois de quase uma hora bebendo e achando tudo muito chato, decidi sair daquele lugar. Já estava me levantando quando dei de cara com ela.

Senti algo diferente ao avistar uma mulher do outro lado da pista. Não conseguia entender o porquê, visto que ela tinha uma fantasia bem comportada. Vestida de stormtrooper, mas com a roupa colada, ressaltando cada curva do seu corpo. Eu fiquei paralisado, queria me aproximar, como se eu pudesse ver os olhos por trás da máscara. Caminhei em sua direção, e ao ficar mais próximo, notei que segurava um drink transparente, provavelmente algo forte. Só esperava que não estivesse totalmente bêbada, como as jovens com quem eu saíra nos últimos dias.

Não conseguia parar de encará-la, e acho que ela percebeu, pois também veio em minha direção. Arrisquei alguns passos na pista, tentando imitar os outros, pois não queria parecer um deslocado. Não dissemos nada, e era difícil manter uma conversa com a música tão alta. Começamos a dançar, e logo eu estava com as mãos em sua cintura. Eu queria beijá-la, mas a máscara cobria todo seu rosto. No entanto, seu pescoço estava à mostra, e não hesitei em acaricia-lo com os meus lábios, para depois cobri-lo com beijos quentes.

Sua pele era macia e perfumada, e tocá-la fazia todo meu corpo arrepiar. Eu estava suado, com um calor anormal. Jamais sentira isso com garota alguma com quem estive nos últimos dias. Ela não falava nada, mas podia ouvir seu murmurar quando lhe beijava e deixava minha mão passear por seu corpo. Antes que fôssemos expulsos dali por atentado ao pudor, aproximei meus lábios de onde deveria estar seu ouvido e gritei:

— Quer ir pra outro lugar?

— O que? — respondeu ela, não entendendo o que eu dissera.

— QUER IR PRA OUTRO LUGAR?

— Vamos!

Peguei em sua mão e nos conduzi até a saída. Por sorte, passava um taxi no exato momento. Entramos apressados, indiquei o endereço ao motorista e, sem nos importar com a companhia do taxista, voltamos a nos agarrar com urgência.

— Esse seu perfume não me é estranho — disse ela, me afastando por um instante.

Aquela voz era familiar. Mesmo abafada sob a máscara da fantasia eu tinha uma forte impressão de que conhecia bem aquele timbre, aquele jeito de falar, ainda que um pouco embriagada. Fiquei alguns minutos olhando-a, enquanto ela alisava meu peito. Então, em um estalo, soube exatamente quem estava por trás daquela fantasia.

Tirei sua mão de meu peito e retirei a máscara.

— Adelaide? — disse, surpreso, mesmo já sabendo que era ela. Tirei minha própria máscara e deixei-a ver meu rosto.

— Olha, você é a cara do meu marido, aquele desgraçado — falou ela, com a voz arrastada. — Isso não importa, vem aqui.

Adelaide me puxou pelo pescoço e envolveu-me em um beijo quente. Tentei evitar, pois ainda estava desorientado com a descoberta, mas meu corpo queria aquilo e a razão foi derrotada na batalha interna que eu travava. Abracei-a com força, puxando seus cabelos e empurrando sua cabeça em minha direção. Ela cravou as unhas nas minhas costas e mordeu meu lábio inferior, fazendo um corte pequeno, mas que, no calor do desejo, não trouxe dor alguma.

Interrompemos nossa atividade quando ouvi o taxista pigarrear, só então percebi que já havíamos chegado em casa. Paguei a corrida e entramos afoitos; assim que passamos pela porta, não houve tempo sequer para acender as luzes. Seguimos em direção às escadas, tirando nossas roupas e trombando com os móveis e objetos no caminho. Subimos os degraus como loucos, nos beijando e nos tocando ardentemente. Quando chegamos no quarto, Adelaide me empurrou na cama e subiu em mim, como quem cavalga um cavalo bravo. O gosto de sangue do meu lábio misturado ao gosto dela formavam uma mistura que me excitava cada vez mais.

Em pouco tempo, estávamos embolados um no outro, como se fôssemos uma só pessoa. As roupas ficaram para trás e agora nossos corpos se completavam. A sensação das unhas dela nas minhas costas, pressionando a pele e quase penetrando a carne, fazia meu corpo estremecer e aquecer. Tudo em mim pulsava freneticamente e eu sentia que era correspondido.

Adelaide beijava cada parte do meu corpo, deixando a boca passear lentamente por mim. Cada toque era como uma grande descarga elétrica, e o êxtase do prazer era cada vez mais intenso.

Naquele momento, quando nos completávamos e nos amávamos como animais ferozes, eu tive certeza: não havia outra mulher em todo mundo com quem eu queria estar.


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