Fiéis Infiéis escrita por Samuel Cardeal


Capítulo 19
Capítulo 18: Cartas na Mesa




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Depois de mentir descaradamente para um casal religioso, fomos para casa e tivemos uma noite quente. Pela manhã, Anderson já me acordou com péssimas intenções, e repetimos a dose, acho que foi até melhor, pois com a luz do sol batendo em nossos corpos tudo fica mais gostoso. No entanto, depois que o êxtase do sexo passou, ouvi o latido de Luke vindo da cozinha. O pobrezinho havia ficado sem comida desde o dia anterior. Mas logo que descobri isso, tratei de alimentá-lo e acarinhá-lo muito.

Mais tarde, talvez eu viesse a sentir um pouco de culpa, mas me esqueci totalmente do meu filhotinho assim que o telefone tocou. Reconheci o número de Emílio e a excitação tomou conta de mim. O plano havia dado certo! Foi mais rápido do eu imaginava. Atendi apressada ao telefone, ansiosa por saber como nossa ação do dia anterior havia repercutido.

— Alô.

— Adelaide, sou eu — mesmo que eu não soubesse seu número, a voz de Emílio era clara e inconfundível.

— Eu quem?

— Emílio. Precisamos conversar, agora!

— O que foi? Pode falar — achei que seria inteligente dar uma de difícil, evitaria que ele desconfiasse.

— Não por telefone. Pode me encontrar no lugar de sempre?

— Se é urgente, tudo bem. Daqui a uma hora?

— Te espero lá.

Ele parecia nervoso; quase senti pena. Provavelmente os pais o confrontaram, questionaram a reputação de Aliane, e com sorte o noivado já havia terminado. Eu torcia para que ele não descobrisse que eu estava por trás disso, e me procurasse apenas para se consolar. Claro que não pretendia apenas consolá-lo, eu iria pegar meu amante de volta.

Voltei para a cozinha e disse a Anderson que precisava sair e que cuidasse de Luke. Subi correndo para o quarto, tomei um banho rápido, mas sem desleixo. Vesti minha mais provocante lingerie e me perfumei com uma fragrância bem sensual. Era agora ou nunca. Ou eu conseguia trazer Emílio de volta para o meu casamento — sei que soou estranho —, ou tudo estava perdido.

*

Apesar de termos marcado em 1 hora, levei apenas 30 minutos para chegar ao local. O quarto de motel onde nos encontrávamos habitualmente era em um lugar discreto, mas aconchegante. Passei meu cartão de cliente pela cancela eletrônica e fui direto para a garagem da suíte. A motocicleta de Emílio já estava lá, então abri dois botões da blusa e me apressei a retocar o batom.

Subi as escadas devagar, respirando pausadamente; não podia deixar transparecer minha ansiedade. Tentei manter meu semblante austero, pois também não queria demonstrar minha satisfação de estar ali. Abri a porta lentamente, Emílio estava sentado na beirada da cama, segurando as chaves da moto.

— Oi — falei com uma falsa frieza.

— No que é que você estava pensando? — disse ele, em um tom de irritação; eu não estava gostando daquilo.

— Do que está falando?

— Por que fizeram aquilo?

— Calma, Emílio! Não estou entendendo do que...

— Não se faça de desentendida, Adelaide. Você é uma das mulheres mais inteligentes que eu conheço, mas, por favor, não subestime a minha inteligência. Achou que eu não descobriria da visita que fizeram aos meus pais?

Emílio se levantou, aumentando o tom de voz e caminhando de um lado para o outro do quarto.

— Não sei do que está falando, mas...

— Pare de negar, por Jesus Cristo! Meu pai me disse tudo. O que pensou que iria conseguir enchendo os ouvidos dos meus pais de mentiras?

Negar não estava dando certo. Como ele dissera, era subestimar sua inteligência. Minha cabeça doía, latejante. Por um momento, me vi perdida, não sabia como reagir. Então, decidi abrir o jogo, botar as cartas na mesa de uma vez.

— Tá bom! Nós fomos, sim, à sua casa. Eu disse algumas coisas que não são exatamente verdade. Mas você não pode me julgar por isso. Estou tentando salvar o meu casamento!

— Destruindo o meu? O que uma coisa tem a ver com a outra? Você enlouqueceu!

— Você sabe muito bem por que Anderson e eu optamos por um casamento aberto. Sabe muito bem que isso salvou nosso casamento. Agora, de uma hora pra outra, você e aquela menininha decidiram se transformar em puritanos, tirando de nós o que salvou nossa relação! Dois hipócritas!

Bem, não era isso que eu tinha em mente, mas quando as emoções afloram a razão muitas vezes é perdida. Quando o sangue esquenta, difícil fazê-lo esfriar sem dar vazão àquilo que está reprimido.

— Então é disso que se trata! Agora entendo porque ele procurou Aliane no outro dia. Pensei que você não soubesse.

— Como é que é?

— Pare com o teatro, por favor! Você deve tê-lo mandado conversar com Aliane, pedindo pra voltar. Como não deu certo, partiu pra esse plano estapafúrdio!

Filho da puta!, gritei no meu íntimo. Anderson procurou a vagabunda! E sem falar nada comigo! Desgraçado!

— Você está tomando a decisão errada — eu estava transtornada com a revelação, mas não queria que ele percebesse. Além do mais, eu tinha um objetivo ali. — Agora estão apaixonados, achando que tudo que precisam é um do outro para serem felizes para sempre, que a paixão durará para sempre. Foi assim comigo, quando me casei. Mas o tempo passa, e as coisas mudam. A crise veio para nós, e pode ter certeza que vai vir pra vocês também. Deixe as coisas como estão, e não precisará passar pelo que passamos.

— Adelaide, não faça isso. Eu vou me casar com Aliane, e nada que disser vai mudar isso. Não podemos mais ser amantes. Nunca mais!

Emílio sentou novamente na beirada da cama, ofegante pela discussão. Eu via raiva em seus olhos, ele estava mesmo furioso. O plano genial que tive não adiantou de nada, só o fez me detestar e descobrir que estava tramando contra seu casamento.

— Pense bem no que eu te disse. O tempo passa, Emílio, para todos nós. Um casamento nunca é um mar de rosas.

Ele se levantou, pegou as chaves que deixara cair no chão. Tirou o cartão de cliente do motel da carteira e deixou sobre a mesa. Aproximou-se de mim e fitou meus olhos profundamente, de um jeito tão intenso — não de uma forma positiva — que fiquei sem fala.

— Adelaide, em nome dos bons momentos que vivemos juntos, deixe-nos em paz.

E foi dessa forma cruel e seca que Emílio me deu as costas e saiu do quarto. Sentei-me na cama, ainda sem saber como agir, e ouvi o ronco da motocicleta partindo e levando meu ex-amante para nunca mais voltar.

Fiquei ali por cerca de meia hora, processando tudo o que acontecera. Eu havia perdido, tudo dera errado. Enxuguei as lágrimas que amargaram a derrota em minha garganta e me levantei para sair. Enquanto ligava o carro para ir embora, meus pensamentos voltavam a ser racionais, e me lembrei do que acabara de descobrir sobre meu esposo. Ele havia me enganado, e agora ia ter que se ver comigo.


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