Beijo Doce escrita por Machene


Capítulo 5
Beijo de Amor Verdadeiro


Notas iniciais do capítulo

A cena do pôquer aqui descrita faz parte de um trecho do episódio 5 da 5ª temporada da série "Eu, a Patroa e as Crianças". A música é do "Grupo Pixote". Se quiserem mais informações sobre fadas, embora não tenha recolhido alguma para fazer esta fic, fiz uma pesquisa e recomendo esta página: http://reinodasfadas.portaldosanjos.net/2013/05/a-vida-secreta-das-fadas.html.



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Cap. 5

Beijo de Amor Verdadeiro

Erza segue para a doceria mais próxima da casa de Jellal, determinada a comprar mais um enorme bolo de morango, quando vem à sua mente as palavras dele.

— Talvez eu devesse maneirar um pouco com os doces. – ela olha para o céu cheio de estrelas – E se eu ficar gorda? E se Jellal não gostar de garotas gordas? – a titânia vai de encontro à vitrine da loja e debruça a sua cabeça, deprimida – Mas eu não quero ficar sem meu bolo de morango... Não, não! Eu tenho que ser forte! – a moça vira de costas, batendo nas bochechas e se afastando dali rapidamente, contudo, parando no meio do caminho – E se eu comprar alguma coisa para ele também? Assim nós podemos comer juntos, e se eu engordar, ele engorda também! É, é uma ideia brilhante!

Em passos rápidos, a ruiva dá meia volta e compra um grande bolo de morango e uma torta cremosa de nozes, saindo quase saltitando da doceria. Chegando a casa, põe a sacola sobre a mesa já servida e espera a reação do colega de quarto. O mago celestial encara isto com certo receio, especialmente vendo a ansiedade dela.

— O que trouxe aí? – Erza suspira e retira de uma vez os doces.

— Visto que você estava preocupado por eu estar comendo sozinha os meus bolos, eu tomei a liberdade de comprar para você uma torta.

— “Uma”...? – ele quase repete, encarando o presente, e começa a rir.

— O que foi? Não gostou? Eu devia ter trazido outra coisa então? Talvez uma torta de limão, ou gelatina... Eu vou lá trocar! – Jellal a segura pela mão.

— Espera! – ele controla as risadas – Calma, eu não disse que não gostei. Só achei graça porque você não entendeu o que eu quis dizer.

— Eu entendi sim. Você acha ruim eu comer tanto bolo, não é?! Porque posso ficar gorda, e então... – ela se contém na sequência, mas o parceiro entende tudo.

— Não vou deixar de gostar de você se engordar. – a titânia começa a ficar da cor do seu cabelo e baixa a cabeça, enquanto o rapaz segura sua outra mão – Por mim, você poderia ganhar dez quilos e eu não me incomodaria, nem um pouco. Tudo bem se quer comer bolo também, não vou impedir; só peço para maneirar, senão vai ficar diabética.

— Entendi. – ela sorri e ambos se fitam, entrando num clima que dura, fatalmente, dez segundos, pois a casa é invadida por Natsu, Gray e Gajeel.

— E aí, Jellal! – o Salamandra chama, escandaloso como sempre – Tem um rango aí que... Ah. – os três param ao ver o casal se afastando – A gente interrompeu algo?

— Não! – os dois exclamam juntos e Erza atropela os convidados.

— Eu vou sair um pouco e ver as meninas na Fairy Hills. Tchau! – ela bate a porta.

— O que aconteceu com vocês antes da gente chegar aqui?

— Não te interessa! – o anfitrião responde bruscamente ao dragão do ferro.

— Ok... – ele dá um passo para trás – Mas não combinamos hoje nos reunir e jogar uma partida de pôquer, só para descontrair desse papo de treinamento?

— Claro, me desculpem. Vocês podem entrar. Eu vou limpar a mesa para...

— Não se incomode. A gente come, e depois joga. – o Fullbuster passa a se servir.

Passado um tempo, o jogo começa e as apostas giram em torno de uma bacia com salgadinhos para o vencedor. Gray remexe na boca um palito de dente usado há pouco, enquanto Gajeel se debruça sobre a mesa com um sorriso confiante. Jellal está recostado à cadeira, com a cabeça distante e os olhos baixos. Natsu parece não fazer ideia nem de onde está! Repentinamente, o Dragneel se aproxima do mago do gelo e o assusta.

— Ei, Gray! – o amigo coloca as cartas mais para cima do peito desnudo.

— O quê? – o Dragon Slayer encara novamente seu leque em mãos.

— Gray, se todas as cartas tiverem um coraçãozinho, isto é bom, não é?!

— Hunhum, é bom. – ele responde, mexendo nas suas opções.

— Ah tá. – o dragão do fogo começa a rir e todos o encaram – Desculpe. Gray!

— O que é? – o rapaz pergunta, já se aborrecendo.

— E se estiverem em sequência, também é bom, não é?!

— É, é. – Natsu dá uma risada nervosa, o que incomoda ainda mais os seus amigos, e quando ele toma fôlego, parecendo se acalmar, chama de novo – Gray!

— O QUE É? – desta vez, Gray prolonga a pergunta irritadamente.

— Peraí... Se as cartas vão assim... Ah... – ele gesticula – É um dez, um valete... – e confere de novo as cartas – Dama, rei e ás. – os outros jogam as cartas sobre a mesa – É bom também, não é?! É super bom, não é?!

— É, é, é... – o desanimado Fullbuster responde.

— Que beleza, por que nada disto eu tenho! – o Salamandra gargalha, pegando a bacia de salgadinhos – Bando de trouxas!

— Tá bom, pra mim já deu! Vamos encerrar pessoal, por que a Erza já deve estar de volta logo, e ela vai surtar se a cozinha estiver bagunçada.

— Você está mesmo bem com este negócio de morar junto dela?

— Ora Gajeel, você também está morando com a Levy, não é?!

— Sim, mas... – o dragão coça o nariz, desviando o olhar – Ela passa mais tempo lá na biblioteca, então... – neste momento, os outros paralisam e o encaram horrorizados.

— Desde quando tem uma biblioteca na sua casa? – o mago do gelo questiona.

— Qual o problema? Eu não posso gostar de ler de vez em quando?

— Então já começou... A fada Vita disse que íamos começar a nos acostumar com a presença dos nossos parceiros morando juntos, e nos contagiar pelos seus costumes.

— Gajeel vai virar o senhor traça! – Natsu ri, mas logo recebe uma martelada.

— Pra estar fazendo graça, você deve achar muito bom morar lá no apartamento da garota coelhinha! – o Dragneel massageia a cabeça e faz uma careta.

— Eu não. É muito chato ficar pagando aluguel.

— E a Lucy? É chato morar com ela? – Gray indaga, curioso.

— Não. Eu praticamente já morava com ela de qualquer jeito. Ela diz que acha bom não precisar mais brigar comigo por invadir a casa, entrando pela janela. – o sorriso tão inocente do jovem faz os demais suspirarem.

— Vocês não têm problema em fazer as coisas juntos, como tomar banho...? – Jellal cora – Ou na hora de irem dormir? – os outros o encaram com desconfiança.

— O que você faz com a Erza pelas nossas costas? – o Fullbuster estreita os olhos.

— Nada! Mas... É que ela costuma insistir para dividirmos a mesma cama, acaso eu fique com a coluna torta dormindo no sofá.

— Esta é a desculpa mais esfarrapada que eu já escutei. – Gajeel rosna – E na hora de tomar banho, este papo também cola contigo, ou é você quem se aproveita dela?

— Está sugerindo que eu pretendo molestar a Erza?

— Olha, se você não quer, tem muitos outros que adorariam estar no seu lugar. Ela não é burra igual o Natsu, para falar esse tipo de coisa sem segundas intenções.

— Pode ser que ela não tenha “segundas intenções”. – cinco segundos de silêncio e o dragão do fogo se toca de ter sido chamado de “burro”, então começa a brigar com seu colega de escamas, e logo os dois são parados pelo esbravecido dono da casa.

— Céus! Se vocês querem que a Erza me mate, podem ter a decência de avisar?

— Foi mal. – os dragões se desculpam ao mesmo tempo, ainda trocando faíscas.

— É bom que pra vocês seja fácil assim. – Gray retoma o raciocínio – A Juvia é um grude só! Ela teve que vir morar comigo pra que eu não precisasse ficar sempre olhando para o meu próprio rosto todos os dias. Ela tem pôsteres, bonecos e até uma esponja de banho com a minha cara! – seus amigos começam a rir – A Juvia é azucrinante!

— Nisto eu acho que nenhum de nós concorda com você. – o mago celestial tem a comprovação quando os outros dois confirmam com as cabeças – Gray, você tem sorte de ter a Juvia. Ela sempre demonstrou claramente o que sente, então, por que não tenta a proposta da Vitalina com sua parceira e começa a ser mais gentil? – o mago do gelo fica constrangido pelo clima tenso, contudo, logo suspira e fecha os olhos, como se tentasse fugir da situação – Eu vou ligar para a Fairy Hills e ver se a Erza já saiu.

— Uh, Jellal, podemos comer aquele doce que vimos mais cedo?

— Sim Natsu, podem se servir. Só não façam mais bagunça. – Jellal vai até a sala, liga pra Levy, e após confirmar a breve chegada da ruiva, volta à cozinha, aguentando a dor no peito, que pensa ser um infarto, ao se deparar com a seguinte cena – Não... – ele se agarra ao batente da entrada e põe a mão no coração – O QUE ESTÃO FAZENDO?

— Comendo ué. Você disse que a gente podia se servir. – responde o Salamandra.

— SIM, MAS NÃO DO BOLO DA ERZA! – automaticamente, todos paralisam e deixam as sobras do doce caírem sobre a bandeja, bem quando a titânia entra em casa.

As cenas seguintes são bem comuns: Erza encara a todos ameaçadoramente, o trio de amigos é expulso da casa à base de socos e pontapés, e seu parceiro se vê obrigado a sair atrás de outro bolo de morango, mesmo sabendo que não vai encontrar uma doceria aberta depois da meia-noite. Mas ele faz isto mesmo assim, por amar a sua Scarlet... E porque ela não o deixará entrar na sua própria casa sem o doce nas mãos.

...

Quarta lição: seja gentil com quem mais ama.

{Gajeel e Levy}

— Ei baixinha, o que está fazendo? – a garota levanta a cabeça e sorri.

— Ah, oi Gajeel! – o sorriso dela o faz estremecer, mas ele procura disfarçar – Lily e eu estamos preparando a lista de entretenimentos durante o evento da guilda.

— Que evento? – o dragão senta ao seu lado e se debruça para ler o papel na mesa – “Dia do Beijo”? Nós temos datas como esta no calendário?

— Temos sim. – o gato negro responde, sentado em frente à maga – O mestre disse que quer fazer uma comemoração, e se nós vamos festejar, precisamos de uma lista com atividades para os convidados. Agora falta pouco para terminar.

— Todo mundo concordou com isto? – estranha o Dragon Slayer.

— Mira e a Primeira disseram que faríamos bem em celebrar, e isto pode aumentar a proximidade dos membros das guildas, para alcançarem a magia suprema. – o dragão do ferro acena, compreendendo depressa o plano das duas – Claro que não é possível contar sobre nosso treinamento, salvo que tivemos permissão pra falar pra Happy e Lily, mas desde que nós dissemos a todos o conceito da magia, essas ideias brotam do nada!

— Bom, sem dúvida elas estão vindo de algum lugar. – ele pensa em Mavis e Mira.

— Ei Gajeel, se você quiser, nós ainda temos vaga para um cantor.

— Uou, sério? Estou dentro! – o jovem sorri, fazendo a parceira rir.

— Mas nem sabe a música que planejamos para o evento.

— Eu canto qualquer coisa! Tem a letra aí? – ela entrega uma folha das separadas e ele lê com calma, as pupilas crescendo conforme passa as palavras.

Beijo Doce:

Namorar aonde o sol se esconde

E te dar um novo beijo doce

Com sabor de mel, fruta de conde

Não há nada melhor nessa vida

Entre o céu e o mar um horizonte

Pra você e eu nosso romance

Vejo o outro lado dessa ponte

O teu olhar me seduz mais ainda

Ando louco pra ficar contigo

Eu prometo te amar

Te dar meu paraíso

Poder te dizer

Que tudo o que eu mais sonhava nessa vida aconteceu

Foi te conhecer

E agora que estamos juntos, nem pensar em te perder

Só quero saber

Se estar ao meu lado irá te fazer feliz

Eu só sei dizer

Que estou apaixonado e é tudo que eu sempre quis

— Isso não é muito constrangedor de se cantar, é? – o Redfox ri nervosamente.

— Parece uma coisa que alguém diria num momento de loucura! É... Ridículo! – a maga das runas fecha a cara e lhe toma o papel.

— Não é “ridículo”! É romântico e muito original! – ela dobra a folha e enfia entre as outras em mãos, balançando a pena perto do queixo – E deu um trabalhão achar uma música para combinar com a data, aí você chega e diz isto? – o dragão começa a bater o pé, recebendo o olhar repreensivo de Pantherlily e emburrando o rosto.

— Você é muito sensível, baixinha. – a garota bate na mesa, assustando os dois.

— Pare de me chamar assim! Eu não sou baixa porque eu quero, sabia?!

— Qual o seu problema? Eu só falo a verdade!

— E isto é verdade mesmo, Gajeel? – o exceed arqueia a sobrancelha.

— Cale a boca! – o gato suspira e se resigna a escutar a briga – Eu vou embora!

— Ótimo, fuja, como você sempre faz! – Gajeel para no meio do caminho e se vira.

— Como é que é? Eu nunca fugi de coisa alguma na vida!

— Ah fugiu sim, você sempre foge! – Levy levanta da cadeira, com as mãos sobre a mesa – Basta começar uma briga comigo e você dá meia volta e vai embora, como está fazendo agora! Por que nunca consegue me dizer tudo o que quer? – ele cora, só não se sabe se de raiva ou vergonha mesmo, e volta para perto dela, encarando-a de frente.

— Então tá certo, vamos falar tudo de uma vez! O que você quer me dizer agora?

— Você é cabeça dura, resmungão, violento, nervoso e insuportável!

— Ah é? Tranquilo, é a minha vez então. Você é uma nerd, tão cabeça dura quanto eu, é traça livros, mandona, sensível, baixinha— a maga bufa, provocando nele o amplo sorriso de vitória – e completamente dependente de mim!

— Ei, você disse sete coisas! – ela bate o pé, com as mãos fechadas em punhos.

— “Cabeça dura” foi um complemento, e a última... – o Redfox ri – Foi de graça.

Levy recolhe suas coisas, pega o papel com a letra da música, amassa e joga nele, saindo a passos largos e pesados para fora da biblioteca da guilda. Lily balança a cabeça em desaprovação enquanto o Dragon Slayer olha entristecido pra folha torta em mãos.

...

— Bem... É triste dizer isto, mas vocês todos são uma decepção. – Vitalina afirma, voando acima da lareira do salão de sua casa, onde pinta na parede algo quase pronto de uma distância na qual os convidados não conseguem enxergar – Passaram quatro dias se envolvendo em brigas sem sentido, e nos outros três ajudando a montar um festival que poderia, por si só, explicar o motivo de tão poucas pessoas terem a magia suprema ao alcance das mãos. – a fada olha de banda para o grupo – O nome da celebração é uma dica bem grande do destino para vocês, uma ironia de fato. Conseguiram captar?

— Primeiro estávamos falando de um poder pra vencer Zeref, e aí de repente você é a favor da comemoração do “Dia do Beijo”? Claro que não estamos entendendo!

— Então, permita-me soletrar bem devagarzinho para você, meu querido dragão. – ela solta a paleta sobre a lareira e fica a um palmo de distância de Natsu – Sabe qual é a maneira mais fácil de liberar a magia suprema? Pelos lábios. – os presentes ruborizam enquanto ela se afasta de leve e cruza os braços, ainda flutuando – Em outras palavras, o beijo de amor verdadeiro é capaz de quebrar qualquer maldição.

— Então, alguém vai ter que beijar o Zeref? – Vita faz uma careta de irritação.

— ESCUTE AQUI, SUA SALAMANDRA DESMIOLADA: EU ESTOU, MUITO CLARAMENTE, DIZENDO QUE VOCÊS SÃO FRACOS! – ela toma ar e expira bem devagar, colocando a mão sobre o rosto ao apoiar o cotovelo sobre o outro braço – Você e todos os outros são fracos, porque Zeref valoriza uma coisa e vocês não: amor.

— “Amor”? – as garotas questionam surpresas e confusas.

— Sim. Eu já perguntei antes, vou perguntar só mais uma vez: como acham que age a maldição de Ancselam? – o octeto se entreolha – É bem simples: quanto mais alguém amar as vidas dos seres vivos, mais essa pessoa emitirá energia da morte. Mas, se não se amar a vida, nenhuma energia mortal será emitida. Pode-se concluir então que Zeref só destrói tudo por culpa do poder descontrolado em suas mãos. Ele mata, mas ele ama.

— Sim, sabemos disto. – Erza fala – Como você sugeriu naquele dia, perguntamos à Primeira como ela o conheceu, e a maldição foi citada. Embora, ela não disse tudo.

— Pois bem... – Vitalina pega a paleta e volta a pintar – Faltava só dez dias para a criação da Fairy Tail, e um encontro predestinado uniu duas almas. Quando eu digo que, dentre qualquer outro, sua quase falecida mestra Mavis é a única capaz de salvá-lo, não é por ela ser um espírito. Estou pensando na forma mais inesperada de amor, que nasce de um simples encontro num dia qualquer, onde os olhares se cruzam magneticamente e seu primeiro desejo é ver aquela outra pessoa sorrir. Esta é a forma mais pura do amor, e é, por isto mesmo, verdadeiro. – o Dragneel rosna de leve e cruza os braços.

— Que seja. Se eu bem me lembro, você disse que se seu treinamento não servisse, nos contaria como localizar o Zeref. Pode ir falando!

— Natsu, tenha modos! – Lucy pede, constrangida e aborrecida.

— Tudo bem. Delicadeza não é o forte dele mesmo... – o dragão se aborrece com a resposta – Se eu prometi, está prometido. Cumpro minha palavra, então lá vai... O jeito, tão infalível, de encontrar seu mago das trevas é... – ela fala sem nem se dignar a olhar o grupo – Descobrindo quem é seu demônio mais forte já criado.

— Como é? – alguns balbuciam, tentando assimilar a informação.

— Meu Criador, como são lentos! – Vita, enfim, os encara – E.N.D.; já ouviram seu nome, certo?! Pois bem. Este demônio supremo foi criado por Zeref pra que, algum dia, pudesse mata-lo com suas próprias mãos, e assim livrá-lo de sua dor. Bem, muito bom, a coisa é linda demais até de se imaginar; só tem um problema...! Quando E.N.D. matar o seu criador, o próprio demônio jamais conseguirá voltar a ser o que era.

— “Voltar a”... – Levy começa e sacode a cabeça – Espera aí! Então o demônio não está na sua forma real? – a fada balança a mão.

— Mais ou menos. “Forma real”, quase. Ele parece humano agora. Mesmo assim, não me referia ao estado físico e sim ao espiritual. E.N.D., enquanto sofre experiências humanas e tendo convivido com outros tipos de criaturas, tem atualmente um fortíssimo coração, cheio de bondade. Se ele cumprir a tarefa para a qual foi destinado, isto sumirá para sempre. Apenas um beijo de amor verdadeiro poderá salvá-lo, e se vocês imaginam o tamanho da dificuldade para deter Zeref com isto, redobrem o nível com esse aí!

— Então você sabe quem é E.N.D. – Jellal procura confirmar.

— Sei, mas não vou contar, porque isto é um detalhe de fora da promessa. – todos a olham inconformados e Vitalina dá de ombros – Agora fica a cargo de vocês se querem, de fato, descobrir a real identidade dele. A minha sugestão é a de deixar o coitado em paz; será melhor para todos. Ao invés de procura-lo só pra caçar Zeref, deviam planejar como fazer para impedir o mago antes de ele achar o demônio, o que também é uma das possibilidades, considerando o quanto ele parece determinado a morrer. E eu não vejo a hora desta agonia alheia passar! Me atormenta, sendo um ser da luz!...

— E acredita mesmo que a mestra Mavis pode salvá-lo? – Juvia indaga.

— Se Mavis disser que o ama, como eu sei que ama, ele se renderá aos seus pés. Se ela conseguisse beijá-lo, porém, o efeito seria mais eficaz e sua maldição sumiria em um piscar de olhos. Felizmente, se seu corpo for libertado deste sono profundo no qual está, ainda há chance. Deviam correr atrás disto.

— Epa, espera aí, parou tudo, um instante! – Gray levanta as mãos – Você tinha nos dito da primeira vez que não conhecia a história da Primeira, então como sabe de todos esses detalhes? – a fada molha o pincel na tinta e retoca mais um detalhe na parede.

— Bem, não são informações exatamente minhas. Agradeça aos meus pais por isto.

— Seus pais? Por que eles saberiam dessas coisas? – a maga das runas questiona.

— Se nós formos falar de uma questão técnica, fadas não vivem tanto tempo quanto sua espécie pode pensar. As fadas menores, que, como eu já disse, dependem muito dos seres humanos, perduram por quase tanto tempo quanto eles. As maiores, bem como eu, levam um bom centenário para envelhecer. Estou ainda na minha melhor forma. – Vita ri – Enfim, depois dos acontecimentos na Ilha Tenrou, nosso rei e nossa rainha acharam, por bem, espiar a vida da Fairy Tail, e garantir seu amadurecimento. Meus pais ficaram responsáveis por isto, e o trabalho deles é o meu, como a sua sucessora.

— Então foi por isto que nos deu tantos conselhos? – a maga da água pergunta.

— A sério, eu propus ajuda-los de bom grado pela satisfação pessoal e por ser meu trabalho, embora deteste chamar assim. Sou monitora e conselheira da terceira geração da sua guilda, traduzindo isto: de vocês. – os ouvintes arregalam os olhos em surpresa, fazendo-a rir – Meus pais monitoraram cada um uma geração e, claro, para me manter informada, disseram o que sei hoje a respeito da sua primeira mestra. Simples assim.

— E por que as fadas querem nos ajudar? – a mulher chuva volta a questionar.

— Porque, como eu já falei várias vezes, vocês são promissores. Não chegam perto de uma maré de sutileza, nem mesmo uma onda numa piscina, e o nível de gentileza faz o termômetro quase congelar, como já deu para comprovar durante essa semana... – ela os encara com reprovação e o octeto se constrange – Mas, são todos unidos e se apoiam, como uma verdadeira família. O fato de se importarem uns com os outros, destacando o grupo aqui presente, definiu nossa decisão de ajuda-los. E, como me cabe orientar seus membros atuais, eu tomei a liberdade de pedir a colaboração dos casais mais evidentes a quilômetros da guilda, e vocês-estragaram-tudo! – a fada diz devagar, em tom irritado.

— Mas... O que exatamente nós poderíamos provar fazendo esse treinamento?

— Talvez um mundo de oportunidades àqueles que se rendem ao amor. Quem sabe, querida Levy. – Vitalina sorri ironicamente – Eu não queria que falassem do treino para os outros pois, assim, ficariam longe de interferências, e esperava poder mostrar vastos progressos da humanidade com simples gestos de afeição. Pensei: “se mesmo eles, da maneira mais grosseira com a qual se relacionam hoje, conseguirem se unir, os outros se sujeitarão ao meu conselho”. De certa forma, acho que só queria provar a mim mesma... – ela para de pincelar e encara a pintura quase terminada – Que a minha irmã não veio a morrer em vão. – o silêncio preenche o lugar, então a fada retorna ao seu trabalho – Não estou dizendo que é culpa de vocês... Mas hoje, quando celebrarem com os seus amigos, tenham em mente minhas palavras: o amor, na sua forma mais pura, se torna um escudo e uma espada, mas só você pode escolher qual dos dois prefere usar.

— Certo... Obrigada por seus ensinamentos, Vita. Nós já vamos. – Erza informa.

— Está bem. Eu estarei de olho! – a garota avisa, fazendo-os rir, e quando estão nos passos iniciais em direção à porta, ela os chama de novo – Uma última coisa: o beijo é a maior expressão de amor que existe. Por isto beijos de amor verdadeiro são poderosos e descritivamente poéticos em romances. Melhor tomarem cuidado com isto, e, no caso, podem avisar também à sua mestra Mavis e a quem mais quiserem. Assim, de repente as pessoas valorizam mais as ocasiões íntimas e não ficam desperdiçando beijos por aí.

— Ok. Nós nos vemos por aí! – Gray diz e acena junto aos demais, saindo um a um e deixando Lucy no salão, então ela caminha até a lareira.

— Vita, você não está frustrada por não termos terminado como casais? – a fada se afasta para admirar sua última pintura, por fim, finalizada, onde Vivienne, ainda com as asas, abraça o pescoço do dragão amado enquanto este leva o rosto de encontro ao dela, ambos sorrindo com os olhos fechados e uma felicidade quase palpável.

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— A questão não é se eu estou frustrada, e sim vocês. – a maga abaixa um pouco a cabeça, tentando disfarçar o rubor das bochechas, e não consegue – Sabe... Amor é, sem sombra de dúvida, o mais belo de todos os dons. Não importa como se apresente, ele vai sempre além das nossas expectativas, e encanta a qualquer criatura, mesmo sem tocá-la. Em alguns segundos, pode transformar um ser vivo abatido numa poderosa besta, acima de todas as outras, embora também seja capaz de fragiliza-lo, pois quanto mais valioso o tesouro, maior o medo de perdê-lo. O veneno ou o antídoto, o problema ou a solução; depende da interpretação. Você não acha que “magia suprema” é um título adequado?

— Sim. – a loira ri – Sem sombra de dúvida, ele merece o título! Mas... – o sorriso se torna triste – As coisas nem sempre saem do jeito que a gente quer. Mesmo quando a nossa vida sofre mudanças que não gostaríamos de ver acontecerem, muitas vezes é até para o melhor, certo?! – Vita suspira, fechando seus olhos – Talvez fosse melhor desta forma... Acho que eu não sou digna de sentir essa magia... – a garota leva a maga estelar para duas cadeiras em frente ao fogo e senta-se ao seu lado.

— Deixe-me contar uma coisa, Lucy... A minha irmã tinha asas magníficas, rosadas e meio azuis, com a luz da manhã e o brilho das estrelas nelas. Mesmo tendo um grande orgulho delas, Vivienne sacrificou-as pra salvar o amor da sua vida. Ele não conseguiria proteger qualquer um naquele estado, nem a si mesmo, e ela não pensou duas vezes em dar parte de si pra vê-lo como era antes, aquele por quem se apaixonou à primeira vista. As asas de uma fada se quebraram, e as de um dragão se ergueram.

— O que está tentando me dizer? – a fada sorri gentilmente.

— O amor não é seletivo, querida. Ele não escolhe as pessoas por hierarquia, raça, cultura, poder ou algo do tipo. É uma emoção pura, que pode vir a agregar sentimentos negativos, mas isto depende de como lida com ela. Quando se ama, vários percursos se apresentam na nossa vida. Para escolher um caminho, basta dar o primeiro passo. Se for o errado, tome outro, sem se conformar! Vivienne escolheu o seu e não se arrependeu.

— E... Você não ficou aborrecida por ela ter se sacrificado?

— Eu tenho orgulho dela, assim como todos que conhecem sua história, mas... Não vou negar que preferia tê-la conosco ainda. Infelizmente, ela estava numa posição onde todas as rotas de fuga estavam bloqueadas, e só havia uma saída disponível. Tomara que você nunca passe pelo mesmo desgosto da minha irmã. Não falo apenas de desistir das asas, mas também pela sensação de ver seu amado num estado sem salvação, sabendo que, de certa forma, é sua a responsabilidade pelo que ocorreu. Mesmo sem querer, ele lutou pra protegê-la, e a adrenalina de matar ou morrer quase o fez se perder totalmente.

— Se fosse comigo, sei que não pensaria duas vezes, mas não quero chegar a isto.

— Espero realmente que não precise, porque sabe... Olhando pra você, lembra a ela em tudo, desde a aparência até o comportamento. E eu nunca erro quando vejo um casal destinado. Estou falando do Natsu. – Lucy ri nervosamente e desvia o olhar.

— Do que está falando? Eu gosto do Natsu sim, mas nós somos amigos, nakamas!

— É claro... Então, agora que todos se foram, deixe-me te mostrar uma coisa. – elas se encaminham para o segundo andar, onde há uma segunda sala, semelhante à anterior, e outra lareira com cortinas grandes acima – Quando meus pais estavam decorando este cômodo, me pediram para pintar alguma coisa inspiradora. Sei que os dois têm orgulho da Vivi tanto quanto eu, então... – ela voa ao topo da lareira e abre as cortinas brancas.

— Vita...! – a maga ofega, dando alguns passos pra frente ao vislumbrar sua própria imagem usando um lindo vestido, roxo no busto e lilás em grande parte, e sentada sobre o tronco de uma árvore, cercada de lírios brancos, enquanto olha ternamente o rosto de um dragão vermelho sorridente – Essa sou...? Não, espere...!

— Essa é a minha irmã, Vivienne. E antes que me pergunte o motivo, o símbolo da Fairy Tail, a cauda de fada, era uma marca conhecida muito antes de a sua guilda usa-la. Por isto Vivi a tem na mão direita, assim como você. Viu? – Vita aponta o local – Você também conhece a magia pela qual ela sacrificou a vida pra usar, a “Magia Suprema das Estrelas”: Urano Metria. – a moça abre a boca, surpresa e pensativa – Agora entende o porquê de eu achar vocês duas a cara uma da outra? Eu não brinco em serviço.

— E... Esse dragão é o amado dela? – Vitalina confirma, balançando a cabeça – Ele me parece tão familiar... Espere aí! Ele é...? Será que é? Igneel?!

— Igneel, pai adotivo do cabeção rosa? Bom, eu não saberia dizer. Nunca soube da origem dele, nem seu nome, nada. E como você suspeita disto se também nunca o viu?

— Eu juro que não sei! É só que... Os olhos dele... Não consigo explicar direito. Ele parece muito com o Natsu, de alguma forma. Mas Vita, essa pintura não se parece em absoluto com as outras que você fez no primeiro andar. Por que esta diferença?

— Ora, e de quê me adiantaria expor a verdadeira imagem do amor pra todos, se os seus corações não estão preparados ainda? – ela sorri triste, suspirando desconsolada e voltando para o chão – Esse afresco relata o real momento de despedida entre Vivi e seu dragão. Eles sorriram até o final, tentando não se abaterem. E sabe qual a graça nisto? – a ouvinte nega com um aceno – O lírio é um sinal de fertilidade e vida pura, usado em épocas remotas como oferenda para apaziguar os deuses. Lírios são o símbolo perfeito do verão, e significam “amor eterno”. Na cor branca, representam discrição.

— Sim, as flores são lindas, mas eu ainda não entendi o que quer dizer.

— Você não acha irônico ver um dragão do fogo num ambiente desses, tranquilo e próspero? Imagine o Natsu, aquela criança ativa, sendo calmo e carinhoso. – a loira logo franze o cenho ao imaginar a cena e ambas riem – Mesmo parecendo impossível e bobo agora, como eu já disse, o amor pode provocar grandes transformações em alguém. Só é preciso acreditar, que a magia simplesmente voa. Você é minha última esperança, Lucy.

— Como assim? Você espera que o Natsu e eu fiquemos juntos, realmente?

— Sua alma e a dele se completam, ainda que pareçam tão diferentes um do outro. Por isto, eu desejo aos dois um final feliz que minha irmã não pôde ter. – a fada junta suas mãos as de Lucy – Corra atrás do seu amor, Lucy; siga em frente e nunca desista! Se fizer isto, jamais verá a luz da magia. Não passe o resto da vida na dúvida; dê a si e a ele uma chance! As coisas fluirão por si só. Bem... Agora é a hora de nos despedirmos.

— Espere, Vita! Não quero me resignar pensando “e se”. Quero me lembrar do meu passado feliz, por ter proporcionado meu futuro, mas como farei isto se ainda agora não enxergo algo? – Vitalina abre um majestoso sorriso ao bater suas asas e ganhar altitude.

— Assim sendo... Vou lhe contar um segredo, que ajudará você a passar por todas as provações que a vida apresentar. Tenha coragem e seja gentil. – a jovem a encara de olhos semicerrados, tentando compreender cada palavra – Lucy, você tem mais bondade em seu dedo mindinho do que muitas pessoas têm no corpo inteiro. Se algum dia retiver dúvidas quanto a isto, sobre você ou qualquer outro, basta se lembrar do que eu já disse a vocês uma vez. Lembra-se? – a maga estelar sorri e recita junto a ela.

— Onde existe gentileza, existe bondade. E onde existe bondade, existe magia.

— Lembre-se. Seja alguém que acredita. Todos vocês serão felizes para sempre.

Dito isto, um vento repentino cerca as duas, separando-as por inúmeras pétalas de cerejeira que obrigam Lucy a fechar os olhos. Quando ela os abre de novo, Vita e o belo salão desapareceram, como se nunca tivessem existido. A loira encara as mãos com um calor ainda presente e sorri, percebendo que está na frente da sua guilda. Ela suspira, vai de encontro aos seus amigos, e não nota que a cada saltitar de alegria deixa um rastro de brilho para trás, feito por asas translúcidas e o aroma doce de uma verdadeira fada.

Naquela mesma tarde, durante o pôr do sol, Jellal tomou a iniciativa de chamar os amigos para dialogar sobre a ideia do beijo de amor verdadeiro. Um a um, eles foram se aproximando das parceiras e beijaram-nas nos locais onde antes estavam as respectivas marcas da guilda. Num passe de mágica, os sinais reapareceram. A felicidade, contudo, durou pouco, pois todos os membros da guilda estavam observando maliciosamente.

 

Fim

 


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal! Esta fanfic deveria ter sido a primeira a ser criada, considerando que marca o começo da sequência de histórias da minha série de Fairy Tail, Believe, mas os leitores que me acompanham sabem bem, ela só veio a ser criada após cinco outras terem sido publicadas inicialmente. Mesmo assim, eu acredito que não haveria um momento melhor para lança-la, pois estreou ontem nos cinemas o filme Cinderela.
Claro, não é uma história nova, mas a Disney sempre tem um jeitinho muito especial de contar a mesma história diversas vezes sem nos fazer perder o interesse por ela. E assim, eu dedico especialmente esta fanfic ao clássico de Cinderela, que entrou em cena nesta quinta, 26/03/15. Obrigada por lerem até o fim e lembrem-se:

"Onde existe gentileza, existe bondade. E onde existe bondade, existe magia."

Walt Disney Studios

http://4.bp.blogspot.com/-RUA4B8_4hdk/VW09KlnAqoI/AAAAAAAAExE/L_saD4g0U88/s1600/cinderela-ella-e-o-principe-poster.jpg

https://www.youtube.com/watch?v=KsnlU2y-Lz0
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Na quarta-feira, dia 25, curiosamente um dia antes da estréia de Cinderela nos cinemas, eu estava com o encerramento do último capítulo da fanfic quase pronto, e pensava o que mais poderia transmitir nela; algo banalizado talvez, como o amor verdadeiro. E então eu me lembrei do quanto os contos de fadas sempre trazem à tona o poder de um beijo de amor verdadeiro. "Isto, sem dúvida, é um assunto banalizado", pensei comigo mesma. E aí eu vi, no programa "Encontro com Fátima Bernardes", a história de um casal que decidiu dar o seu primeiro beijo apenas no altar.
Aquela, certamente, foi uma notícia e tanto, e quando o vídeo do casamento deles foi mostrado ao vivo, eu pensei: "nossa, é realmente muito bom que ainda existam casais como esse". Não é que todos precisem desistir de beijar, ou fazer outras coisas, antes de casar, mas da mesma forma que o conceito de "perder a virgindade só depois do casamento" ficou de lado, hoje as pessoas se atracam umas com as outras sem se preocuparem nem em saber o nome uma da outra! Então, o último conselho da fada Vitalina para o grupo de protagonistas da Fairy Tail (e para os leitores) é o de valorizar cada pequena forma de amor verdadeiro. Obrigada pelo carinho.



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