A mais Olimpiana escrita por telljesusthebitchisback


Capítulo 43
Eterno


Notas iniciais do capítulo

oi! esse é o ultimo capítulo, pois é. eu queria agradecer a todo mundo que acompanhou a fic e que deixa reviews, e quem não deixa, essa é a ultima chance. espero que vocês gostem do final, foi o melhor que eu pude pensar. beijos



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O acampamento estava um caos. Filhos de Hefesto entregavam armas recém forjadas e mágicas aos outros campistas. Os filhos de Deméter, liderados por Megara, criavam armadilhas ao redor da entrada para o labirinto. Filhos de Apolo preparavam suas flechas e arcos. Eu nunca vira a guerra tão presente nesse lugar. Todos estavam vestindo suas armaduras, embainhando suas espadas, polindo seus escudos. Eu via uma nuvem negra e depressiva pairando sobre nós. Todos sabiam que tinham grandes chances de morrer, já eu tinha certeza que iria. E que, de algum modo ainda desconhecido, muitos morreriam por um erro meu.

 

Aghata do Ocidente, a voz de Cronos continuava ecoando na minha mente, a desgraça.

 

 

- Aghata – a voz séria de Megara me chamou atrás de mim. Virei-me para ela.

 

Seus negros cabelos estavam presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça, sua armadura de prata ajustava-se perfeitamente ao seu corpo curvilíneo. Ela carregava seu chicote de ervas de daninhas e uma lança.

 

- A terra começou com um pequeno tremor. A tropa está perto. – seu rosto estava duro e triste.

 

- Reúna todos os campistas em 5 minutos – eu dei o comando.

 

Ela assentiu e se virou para sair do chalé.

 

- Megara- eu chamei, ela virou o rosto. – Você foi a melhor guerreira que eu já vi. E a melhor amiga. – meus olhos se encheram de lágrimas.

 

Ela deu um sorriso afetado, seus olhos verde-grama estavam encharcados. Pude perceber pelo modo como seus lábios tremiam que ela estava se segurando para não se desmanchar em lágrimas. Ela fechou o espaço entre nós me dando um abraço. O som das nossas armaduras se chocando estava ali para nos lembrar que mesmo naquele momento de paz, a guerra nos esperava.

 

 

- Aghata, estamos apenas te esperando – Quíron avisou com a cabeça dentro do chalé. – Só estamos esperando seus comandos.

 

- Eu estou indo, Quíron. – respondi, ainda olhando para o espelho.

 

Ele deu um sorriso fraco, acenou com a cabeça e fechou a enorme porta de bronze atrás de si.

 

Acabei de pintar o pequeno raio com delineador abaixo do olho esquerdo, me levantei e caminhei em direção à porta. Olhei para o chalé. Todos os videogames, computadores, livros, tudo, me faria falta no submundo. 

 

Ideia chegando!, pensei.

 

Corri na velocidade que a minha enorme barriga permitiu e peguei um papel e uma caneta na escrivaninha.

 

Os videogames ficam para Percy, escrevi, o computador para Kane, os livros para Annabeth, e...

 

Olhei para o quarto. O que agradaria Megara?

 

para Megara, todo o resto.

P.S: O Wii fica para o pirralho irritante do Chalé de Hefesto.

                                            Aghata

 

Deixei o bilhete na mesa e voltei para a porta. Respirei fundo, fechei os olhos, contei até três e até tentei imaginar lugares felizes, mas nada deu certo. Eu ainda estava nervosa como se fosse o meu ultimo dia de vida. E era.

 

Assim que eu abri a porta, todos se viraram para me olhar. Eu via tristeza, desespero e súplica no olhar de cada campista. Eles eram meus primos, sobrinhos e principalmente minha família, eu não os deixaria na mão. Caminhei até o circulo com confiança e perseverança.

 

- Prestem bastante atenção ao que lhes direi. – falei com frieza. – Cada representante de chalé ao meu lado.

 

Os mais fortes e com aparência de lutadores ficaram em pé ao meu redor.

 

- Vocês serão os comandantes. – me virei para eles. – nós teremos 11 tropas, 11 comandantes. Um filho de cada deus para cada tropa. Confuso? Por exemplo, eu vou escolher a tropa que liderarei. Posicionem-se em filas por chalé. Isso. Agora o primeiro de cada fila fique atrás de mim. Vocês serão a minha tropa. Façam isso com cada representante.

 

Eles fizeram o que eu mandei em uma velocidade inesperada.

 

- Aghata, eu não sei se isso vai funcionar... Esse plano nunca foi usado antes... – Annabeth se pronunciou.

 

- É exatamente por isso que é tão bom. Originalidade é sempre um ponto a mais. Acabei de inventar esse plano, então temos 2 pontos.

 

- Aghata, - ela insistiu. – minha mãe é a deusa da estratégia de batalha, e eu estou lhe dizendo, isso não funcionará.

 

- Porque não criamos algo ao invés de repetir o que os outros heróis fizeram?- eu respondi usando todo poder se persuasão que eu tinha por natureza. – Nenhum herói já enfrentou o perigo que estamos prestes a enfrentar, nem mesmo os argonautas.

 

Ela não pareceu convencida.

 

- Aghata...

 

- Annabeth. – eu me inclinei um pouco para ela, falando quase em um sussurro frio. – eu sou ditadora e estou prestes a enfrentar o maior exército mágico que já existiu, com a desgraça como uma dinamite na minha mão. Eu não preciso de outro inimigo tentando explodi-la. – eu virei para os outros.

 

- Outro rebelde?- lancei um olhar mortal a todos, como se estivesse próxima a destruir aquele que abrisse a boca. – Que ótimo. Temos que usar uma tática diferente, ou não teremos um destino diferente.

 

Todos continuaram petrificados me encarando com uma mistura de medo e respeito.

 

- Filhos de Ares, à frente. Preparem suas lanças, cerquem a entrada do labirinto. Atrás, os Filhos de Deméter misturados com os de Dionísio. Os Filhos de Apolo são a última camada. Entenderam?

 

Todos assentiram nervosos.

 

- Os Filhos de Ares vão atacar – eu continuei. – Matem o máximo que puderem até Clarisse gritar, ai vocês recuam. E então é a vez de Deméter e Dionísio, que vão derrubar alguns com raízes e armadilhas, se puderem matar também será bem vindo. E é ai que os de Apolo atiram suas flechas nos caídos. E então vocês se separam nas tropas em que estão. A partir daí é pancadaria.

 

Todos estremeceram.

 

- Os Filhos de Atena, Hefesto e Afrodite serão liberados, armando e guiando os outros. Vocês são minhas armas secretas. Os de Hermes ficam na floresta, escondidos. Quando a pancadaria começar, vocês correm com essa super velocidade e lutam. Muito.

 

Todos estavam assustados, mas tentavam parecer confiantes, como eu mesma fazia.

 

- Posicionem-se!

 

Em segundos eu estava sozinha, dura no meu lugar.

 

- Nico, Percy, posso falar com vocês?- chamei ainda olhando para onde os campistas estavam.

 

Os dois se viraram para e começaram a caminhar. Eu me virei e fiz um sinal para que eles me seguissem. Quando ficamos afastados o suficiente dos filhos de Atena, Afrodite e Hefesto eu disse, ainda de costa para eles:

 

- Vocês dois vão guiar essa batalha.

 

- O que?!- eles gritaram em coro, incrédulos.

 

- Vamos lá, - eu me virei. – encaremos os fatos: eu estou grávida. E além do mais, vocês são jovens e... bom, não grávidos.

 

 - Aghata, você é a alma desse acampamento. – Percy tomou a frente.

 

- Eu ainda vou lutar, eu ainda tenho minha tropa para liderar, mas quando eu tiver que fazer minha escolha a guerra é de vocês.

 

- Que escolha?- Nico franziu o cenho.

 

- Eu recebi uma profecia, quando Percy chegou ao acampamento, e eu acho que ela se concretizará hoje.

 

- Mas... – Percy continuou.

 

- Apenas, me orgulhem. – eu interrompi.

 

- Pode deixar. – eles sorriram, felizes.

 

- Oooooooooun, meus menininhos. – eu abri os braços, quase chorando.

 

- Ah, não. – eles reclamaram quando eu os apertei em um abraço forte, mas logo eles me abraçaram de volta.

 

- Ok, agora vocês podem me soltar, estão apertando meus bebês. – eu ri. Nós nos separamos, os garotos preocupados.

 

- Vamos lá. Está na hora de ensinar aos Três Grandes, nossos pais, como é trabalhar entre irmãos.

 

 

Primeiro foi um pequeno tremor, todos se olharam espantados. Depois foi um tremor de verdade, todos correram para as posições. E então foi como um terremoto, e todos nós soubemos que estava na hora.

 

- Filhos de Apolo, preparar flechas!- Lee Fletcher gritou, tomando a frente da grossa camada da maioria de crianças loiras e lindas atrás dos de Deméter e Dionísio. Todos puxaram suas flechas e apontaram o arco para cima. E então o portal abriu.

 

Foi realmente estranho ver uma rocha se partindo, revelando um enorme buraco na terra, e de dentro dele sair todo o tipo de monstro mitológico. Logo atrás dos lestrigões e das dracnaes, os meio-sangues traidores se encontravam. Eu mal conseguia olhar para eles, quando vi entre eles Carl Cole, um garoto de Hermes que havia me trago ao acampamento pela primeira vez, minha visão ficou vermelha de ódio.

 

Matar. Era tudo que a minha mente processava.

 

- Atacaaaaaaar!- Clarisse ergueu sua lança elétrica. Então começou o barulho de espadas se chocando. Os Filhos de Ares fizeram uma espessa barreira, lutando contra os monstros, mas alguns conseguiram perfurar. Então as armadilhas de plantas e fogo grego começaram a explodir e enrolar os pés dos fugitivos, que caíram no chão.

 

- Atiraaaaaaar!- Lee Fletcher gritou. Uma saraivada de flechas acertou pelo menos 2 dúzias de monstros que se debatiam evitando as videiras que os puxavam para baixo.

 

- Tropaaaaaaaaaas!- eu gritei, erguendo Alexis. Abri Aegis e corri para o centro do exército inimigo, guiando os outros campistas que me seguiam.

 

Golpe lateral; decapitação; quebra de joelhos; prender braços atrás das costas; perfurar troncos; puxar cabelos. Eu não sei quanto tempo se passou ali, enquanto eu derrotava semideuses traidores sem parar. Olhei ao meu redor, um círculo de corpos ensangüentados me rodeava. Eu era uma maquina mortífera.

 

- Aaaaaaaaaaah!- ouvi atrás de mim. Olhei e vi uma garota de no máximo 16 correndo com a espada apontada para mim. Pulei para o lado, desviando da espada. A garota grunhiu e me mostrou as presas.

 

Espera! Presas?

 

- Kelli! Quando é que você vai me deixar em paz?- eu reclamei, suspirando.

 

- Ta gorda hein. – ela riu sarcástica, jogando seus cabelos para trás.

 

- E você continua... – olhei para suas pernas anormais, com desgosto óbvio no rosto. – meio burro.

 

Quando ela ficou sem fala e semicerrou os olhos para mim, eu dei um sorriso triunfante. Ela repuxou seus lábios e rosnou de novo, só que dessa vez foi além de um aviso, ela me atacou de verdade. De repente eu vi um par de caninos a centímetros do meu pescoço, por trás. Ergui meu cotovelo e bati com força em seu nariz, ela recuou. Aproveitei e passei seus dois pulsos cruzados pelas suas costas.

 

- Oi, Kelli. – sussurrei em seu ouvido, girando Alexis na mão. – Adeus, Kelli.

 

Ela gritou, caiu no chão e se rompeu em chamas, deixando apenas minha adaga ali. Abaixei pra pegá-la com dificuldade, mantendo uma mão nas costas. Uma mão fria agarrou a minha e quebrou meu pulso. Gritei de dor, o monstro me chutou nas costas antes que eu me virasse para ver seu rosto, me fazendo cair de barriga em cima de um ex-campista que eu havia matado. De repente o pé não estava mais nas minhas costas, e eu parecia totalmente livre para me levantar.

 

Girei meu rosto para ver o que acontecera, e vi Percy lutando com um filho de Ares que havia me derrubado.

 

- Aghata, vá. – ele disse com dificuldade, empurrando a espada contra a do campista a centímetros do seu nariz. – Você está machucada, saia desse campo de batalha.

 

- Não, não. Eu tenho que ficar. – eu me levantei, limpando meus joelhos ralados.

 

- Vá!

 

- Não!

 

- Vamos, Aghata. – um braço passou pela minha cintura e me puxou. Vi Percy nocautear o Filho de Ares com facilidade enquanto me afastava contrariada.

 

- Quem é você?- eu perguntei, tentando não ser arrastada pelo braço para longe da luta.

 

- Você está machucada!- a voz de Megara disse no meu ouvido. – Tem que sair daqui!

 

- Não, eu tenho que ajudar!- me debati mais. Os gritos e barulhos de espadas se chocando ficavam cada vez mais distante.

 

Megara continuou me arrastando, me ignorando totalmente.

 

- Kane, leve-a para a floresta. – ela passou minha cintura para um braço mais forte e mais comprido. – Não a deixe sair de lá, mesmo que tenha que amarrá-la. Entendeu?- e saiu.

 

Kane começou a me arrastar mais rápido que Megara, e eu não tinha chance alguma contra os braços musculosos do meu amigo, então era inútil me debater.

 

- Garota levada. – ele riu, olhando para baixo. Bem, me olhando.

 

- Kane, vamos lá, me solte. Eu tenho que lutar.

 

- Ordens restritas da Sra. Dansley para levá-la direto para o seu cativeiro. – ele sorriu.

 

- Capacho. – eu resmunguei.

 

- O que você disse?

 

- Sim, você é um capacho da Megara!- eu rolei os olhos. - Você gosta dela. – acrescentei sorrindo, vendo a arma que tinha em minhas mãos.

 

- Não gosto não!- ele corou, olhando para os lados.

 

- Gosta sim, qual é, admite. Eu sou sua amiga.

 

- Eu não gosto da Meg. – ele rolou os olhos, tentando disfarçar o rubor cada vez mais forte em suas bochechas.

 

- Kane, você é ruivo, não adianta, as suas bochechas te entregam. – eu ri. – E você também. “Meg?”

 

- Você é muito mais bonita quando está calada. – ele disse zangado.

 

- Ah, não, eu sou bonita até grávida. Essa não cola. – eu dei um sorriso irritante.

 

- Cala a boca, Aghata.

 

- Pelos nossos anos de amizade.

 

- Aghata, eu te conheço há um ano. – ele me encarou.

 

- É, mas eu já salvei a sua vida.

 

- É exatamente isso que eu estou fazendo. – ele sorriu.

 

- Kane, eu te amo!- eu supliquei.

 

- Eu também. – ele olhou para frente, sem emoção.

 

- Me solta ou eu conto pra Megara que você gosta dela.

 

- Você me faria um grande favor.

 

- KANE!

 

- Eu vou ter que te bater pra você calar a boca?

 

- Kane!

 

- Não vou falar de novo.

 

- Por favor! AI!

 

 

Acordei sentada no topo da colina, amarrada ao pinheiro de Thalia. Vi Kane descendo correndo a colina, sua espada empunhada.

 

- TRAIDOR!- eu gritei.

 

Fiquei alguns minutos amaldiçoando Kane e Megara e resmungando, até que ouvi um farfalhar de folhas atrás de mim.

 

- Por favor, que seja humano, por favor, que seja humano, por favor, que seja humano. – sussurrei apressada aos deuses. O farfalhar ficava cada vez mais perto. – por favor, que seja humano. Pelo menos meio humano!

 

Senti as cordas ao meu redor cederem, mas sem nem mesmo um esforço meu. O que quer que estivesse atrás de mim havia me visto.

 

Crack! Dei um salto com a perna direita quando um espinho de meio metro apareceu ao lado dela. Crack! A outra perna. Nem ao menos quis esperar para ver onde o próximo espinho se fincaria, mas eu não precisaria me preocupar com aquilo, a cabeça de dragão que surgiu ao lado da minha cabeça cuspindo fogo era um problema muito maior.

 

Soltei um berro apavorado quando uma descomunal pata peluda branca bateu em mim, me fazendo voar para dentro da floresta. Minha cabeça bateu com força no chão quando aterrissei, mas o chão estava fofo demais para me desacordar. 

 

- Socorro!- eu gritei, tentando me levantar. Aquele era o limite para o meu corpo danificado de grávida. – Alguma ninfa! Por favor!

 

O farfalhar das folhas sob a calda do monstro ficava mais perto a cada segundo. Escutei um baixo gritinho agudo e vi um par de olhos me encarando cansados, suas escleras estavam esverdeadas, como se ela tivesse chorando, por trás de uma árvore.

 

- Ei, você!- eu gritei, apontando para ela, que soltou uma exclamação de surpresa. – Eu te conheço! Você é a namorada do amigo sátiro de Percy. Grover, certo?- ela assentiu de olhos arregalados, saindo lentamente de trás da árvore. – Você é uma dríade, né? Seu nome é Juniper!

 

Ela soltou mais uma exclamação e saiu de trás de sua árvore, correndo até mim e se agachando ao meu lado. Seus olhos se fixavam em mim com atenção, e suas mãos pareciam hesitantes em me tocar. 

 

- Vá chamar ajuda, por favor. O que vem por ai é muito pior do que qualquer coisa que você já viu. E ele está perto! Chame campistas e tire as ninfas daqui, entendeu?- ela assentiu desesperada. – Vai!- eu disse quando o passo do monstro tremeu a terra.

 

Ela saiu correndo desesperada.

 

Pow! Pow! Pow! Os passos desconcertantes do monstro ficavam mais perto. Levantei-me com dificuldade e saí correndo mais adentro na floresta.

 

Quando não ouvi mais gritinhos desesperados das ninfas percebi que minha ordem à Juniper era desnecessária, elas estavam lutando na orla da floresta.

 

Continuei correndo, esperando. Mas nenhum campista apareceu, e o monstro ficava cada vez mais perto de mim e dos chalés. Parei derrapando. Eu teria de enfrentá-lo. Passei a mão nos meus cabelos, mas Alexis não estava ali, teria de improvisar.

 

Corri na direção do monstro, preparando um raio e joguei nele. Ele apenas rugiu e sibilou, não o fez mal. Peguei uma lança quebrada ao meio e enfiei em sua pata, mas era inútil, a ponta de bronze celestial da arma esmagou contra a grossa pele.

 

Depois de lançar outro raio no monstro, sua enorme boca de tigre albino agarrou minha cintura, me sacudindo no ar. Lutei contra o cansaço para manter meus olhos abertos. Forcei minha mente a pensar em uma solução para o monstro. Ele era anti-deuses, o que significava que qualquer poder de semideusa era inútil contra ele.

 

Você vive entre dois mundos. As palavras que Quíron me dissera quando eu cheguei ao acampamento pela primeira vez ecoaram na minha mente. Pode ser ferida por uma faca de metal e uma de bronze celestial. A conexão entre os dois mundos. A mediadora dos mortais e dos deuses.

 

A mediadora...

 

Procurei Alexis ao meu redor, até que a vi jogada ao pé do pinheiro de Thalia. O tigre me sacudiu de novo, jogando minha cabeça para trás. Meu braço estendido passou perto da copa da árvore, mas não perto o suficiente. Ele jogou a cabeça para o outro lado. Senti seus caninos afiados rasgando a pele da minha cintura. Gritei de dor, o sangue escorrendo pela língua do animal pareceu deixá-lo ainda mais apressado para me engolir.

 

Bati a mão eu seu bigode.

 

- Carne de semideusa é amarga, é sério. – gritei.

 

Deu certo. Ele me sacudiu mais uma vez, e dessa vez chegou perto o suficiente para Alexis ser atraída à minha mão.

 

Tentei uma coisa totalmente inusitada, enquanto rezava para Ares ser sanguinário o bastante para dar essa forma à minha arma. E ele era. Em um segundo eu estava segurando uma vara mágica, no outro, um revólver.

 

- Sim! Sim!- eu sorri, enquanto o tigre brincava de pega-a-semideusa.

 

- Como mortais usam essa coisa?- eu analisei a arma. Tentei me lembrar dos filmes de ação.

 

- Primeiro, balas. – abri o tambor e olhei os compartimentos, apenas uma bala. Fechei o tambor e o girei. – É, amigão, parece que vamos brincar de roleta russa.

 

Apontei a arma para a garganta do felino e puxei o gatilho. Houve um enorme estrondo seco, meu corpo foi jogado para trás e depois para o chão, e um rugido. Bati a coluna sangrando no gramado. A cabeça de tigre estava jogada no chão, aparte das outras. 

 

Minha chance fora desperdiçada. Eu tinha uma bala, e ela não havia nocauteado o monstro totalmente.

 

Outra maneira de matar o monstro, pense, pense, Aghata, pense.

 

- Olhe, é Aghata, a guerreira. Ajudem-na, porque da morte ela está na beira!- uma filha de Ares gritou, apontando para mim. Havia alguns dias, os Filhos de Ares falavam tudo em rima, uma maldição que recebera dos filhos de Afrodite.

 

Maldições!

 

Eu nunca havia lançado uma maldição antes, mas imaginei que falar grego era um bom jeito de começar.

 

- Oq7;, theoí tou Olýmpou, proséfq7;chontai katára mou. Afq7;tó to téras, iq7; opoía tha lávei pollés zoq7;és, prépei na pethánei.

 

Oh, deuses do olimpo, roguem minha praga. Esse monstro, cujo várias vidas tirarão, deve morrer.

 

Esperei. Mas nada aconteceu.

 

- Ah, fala sério.

 

Os deuses não jogam maldições por seus filhos, Quíron me ensinou durante uma aula sobre maldições, quando eu ainda era uma criança, eles mesmos podem fazer isso. Um dos poderes que os semideuses herdam de seus pais é o de maldição.

 

-Ah, tá, e porque não está funcionando?- reclamei, enquanto desviava de um ataque da cabeça de serpente.

 

Pragas simples podem ser feitas apenas com palavras. – Quíron havia dito.

 

- E as pragas fortes? Como as de morte?- reconheci minha própria voz fininha de criança perguntando na minha memória.

 

- Essas são proibidas a semideuses.

 

- Como se faz?- eu perguntei com severidade. Demonstrando comando de Zeus desde pequena.

 

- Precisam de sacrifícios. Essas são fortes demais para apenas semideuses. Os mortais gostavam de dar sacrifício aos deuses quando queriam algo, principalmente maldições.

 

Olhei em volta, procurando algo para sacrificar. Nada. Avistei os campistas ainda lutando, alguns caídos, mortos. Os que lutavam gritavam, desesperados, sangrando. Monstros não paravam de sair do labirinto. Eu não podia deixá-los na mão.

 

E no final, seu presente escolherá.

 

A última frase da linha ecoou na minha mente. Não era bem um presente, mas era uma escolha. Meu aniversário de 16 anos seria dali a algumas horas. Essa era a decisão, a grande profecia. Mas eu não tinha 16 ainda.

 

 Não podia deixá-los na mão.

 

- apodechthoún tiq7;n prosforá, theoí mou. apodéchontai katára mou. apodechthoún tiq7;n prosforá, theoí mou. apodéchontai katára mou. apodechthoún tiq7;n prosforá, theoí mou. apodéchontai katára mou. – repeti sem parar, até que o sol começou a ficar mais forte. Eles haviam aceitado minha oferenda.

 

- O monstro deve morrer. – murmurei por último.

 

- Não, Aghata!- Luke apareceu gritando a minha frente. – Não faça isso. – seus olhos estavam molhados me olhando.

 

- to téras prépei na pethánei – repeti.

 

Enfiei Alexis no meu coração, derramando sangue nas minhas mãos.

 

- Não!- Luke correu até mim e segurou meus braços.

 

- Ambos monstros devem morrer. – disse com dificuldade e enfiei a faca em sua barriga, mas não houve efeito, ela se entortou e Luke não sentiu dor. Ele olhou para a faca torta e em seguida para mim, com uma expressão culpada e assustada, como se eu nunca devesse saber daquilo.

 

- NÃO!- ele pegou meu tronco mole nos braços.

 

- O. que. é. Você?- meus olhos se fecharam.

 

 

Ela deve voltar ao submundo.

 

Ela se sacrificou, Hades, dê algum desconto à ela!

 

Atena sempre protegendo os heróis.

 

A filha é minha, vocês não acham que eu devia decidir?

 

Não!

 

Não mesmo!

 

Enlouqueceu, Zeus?

 

Calem a boca! Ela está acordando.

 

Resmunguei e abri os olhos ainda embaçados.

 

- Onde eu estou?- resmunguei.

 

Uma luz forte entrava pelas minhas pálpebras semi-abertas, me deixando praticamente cega.

 

- No Olimpo. – uma voz reconfortante disse ao meu lado. Virei a cabeça de leve para onde a voz vinha e me deparei com um par de olhos amarelos me analisando atentamente de perto.

 

- O que eu estou fazendo aqui?

 

- Eu também não sei!- disse uma voz um pouco mais longe, enchendo todo o espaço em que eu estava. – Você morreu, devia estar no meu reino!

 

- Ah, cala a boca, Hades. Eu sou a protetora dos heróis, eu devo decidir. – Uma voz mais poderosa e feminina retrucou em tom de tédio.

 

- Eu sou o pai dela!- uma terceira voz estremeceu o chão.

 

- Eu sou o deus dos mortos! Ela está morta!

 

- Calem a boca!- Apolo gritou. – Ela ainda nem recobrou a consciência direito e vocês já estão discutindo!

 

Levantei meu tronco e tentei me apoiar sobre um braço, mas eu caí. Olhei para o meu braço. Ele estava metade enterrada no chão de mármore, metade translúcida. Eu soltei um grito assustado.

 

- Sim, é isso mesmo que você está vendo. – Dionísio revirou os olhos.

 

- Eu sou um fantasma!- eu soltei um gritinho agudo, ainda sem tirar os olhos do braço.

 

- Você esperava o que depois de enfiar uma faca no seu estômago?- Apolo me olhou com censura.

 

- Oh, eu me sacrifiquei. – eu me lembrei da dor aguda e dos gritos de Luke. – O acampamento! Eu tenho que ajudá-los!- eu tentei me levantar, mas Apolo colocou a mão no meu ombro para que eu me deitasse de novo, só que ele só conseguiu me deixar mais apavorada quando sua mão passou direto pelo meu peito.

 

- Bom, podemos começar a decidir logo?- Deméter disse, olhando a minha cara de espanto para o meu corpo gasoso.

 

- Ah, sim, bem, vamos. – Apolo tirou a mão de dentro de mim e foi se sentar em seu trono.

 

Levantei-me com o pensamente (ato ridículo e humilhante) e não fiquei de pé, flutuei.

 

- Com mais algumas centenas de anos você se acostuma com apenas um espectro. – Hades disse normalmente.

 

- Ela não vai permanecer morta!- Apolo rugiu.

 

- Ela mesma tirou sua vida!- Hera rosnou.

 

- Foi um sacrifício!- eu protestei.

 

- Mesmo assim, você sabia das consequências!- Ares bateu uma mão forte no braço do seu trono, arrancando um pedaço.

 

- Mas ela estava salvando nossos filhos!- Deméter se pronunciou.

 

- Sacrifícios são sacrifícios, não deve haver opções para eles!- Hermes disse calmamente.

 

- Devo lembrar, - a voz de Atena ecoou pela sala, fazendo todos se calarem para lhe dar atenção. – que ela não apenas livrou nossos filhos, como nos livrou. – todos ficaram tensos.

 

- Ah, cale a boca, Atena. Você só está assim porque ela salvou sua filha!- Poseidon revirou os olhos, acompanhado de alguns murmúrios de concordância. 

 

- Ela – Atena o ignorou, fazendo todos se calarem novamente. – salvou os deuses e seus descendentes de uma maneira muito astuta.

 

- Você sempre a privilegiou por causa de sua inteligência, Atena. – Hefesto disse. E eu não pude acreditar, eu havia salvado seu filho!- E a protegeu também. Isso não é desconhecido de ninguém.

 

- Que eu saiba, ela salvou seu filho de Cronos, não, marido?- Afrodite ergueu uma sobrancelha ruiva e perfeita para ele. Ele se calou na hora.

 

- E maltratou outro. – A voz de Hera encheu o lugar. – Jogou-o à morte, com tão pouca experiência!

 

- Joguei-o a um – fiz aspas com os dedos. – monstro que você mesma enviou a mim, Hera. Então, você também colocou a morte à minha cara.

 

- Você não é experiente, garota!- Ares desdenhou.

 

- Você pode dizer isso por experiência própria, não, Ares?- Apolo soltou um riso de triunfo. Sorri para ele, que retribuiu com uma piscadela.

 

- Cheio de orgulho da sua garota, não, Apolo?- Hades deu um riso falso. Apolo se conteve em acenar que sim com a cabeça educadamente.

 

- O fato – Hera cortou. – é que ela castigou um garoto que não merecia.

 

- Como você pode ser tão sínica?- eu gritei. – Eu não havia lhe feito nada! Absolutamente nada! E você colocou o meu maior medo ali, no meu chalé!

 

- Ora, era só um grilo gigante. – ela bufou.

 

- Eu não havia lhe feito nada! – a ignorei, continuando a gritar de raiva a plenos pulmões. – Não se escolhe família, Hera! Eu não tenho culpa se sou filha de quem sou! Se você quisesse evitar ser traída, arranjasse outro marido! Eu cansei de ser castigada por você por uma coisa que eu nunca fiz! Você é uma velha rancorosa! E se existe alguém que merece a imortalidade carregando um belo par de chifres é você!

 

Quando parei para procurar ar, todos me olhavam espantados, Hera quase espumava.

 

- Como. Você. Ousa?!- ela explodiu, seu rosto ficava cada vez mais vermelho. – Me ofender assim?! Sua bastarda!- ela bateu o punho no braço do trono, e o chão tremeu.

 

- Velha!

 

- Bastarda! Fruto da traição! Indesejada!- ela bateu novamente o punho e várias videiras pularam em minha direção rápido, tentando me prender, mas passou direto por mim. – Hahaha! – ela riu da minha expressão. – Morta! E assim para sempre permanecerá!

 

Minha visão ficou vermelha.

 

- HAHAHA! CORNA! E ASSIM PARA SEMPRE PERMANECERÁ!

 

- Cale a boca! Eu mando aqui!

 

- Meu pai é o Senhor! Ele é quem manda! Você não teria direito algum sobre os seus iguais se não houvesse escolhido o pretendente a dedo!- continuei a gritar. – Você não merece um pingo do meu respeito!

 

- Bem lembrado. – A voz tonante do meu pai me despertou do acesso de raiva. – Eu sou o Senhor, eu devo decidir.

 

Até aquele momento ele só estava calado, nos observando, mas quando ele falou, todas as cabeças se viraram para ele. Olhei para ele esperançosa, esperando que por um milagre algum sentimento paternal despertasse nele.

 

Ele olhou para todos na sala do trono, menos para mim. Por alguma razão, seus olhos elétricos evitaram seus iguais. Quando ele finalmente falou – com certa indiferença-, eu já estava tremendo.

 

- Pesemos as mortes e os salvamentos causados por ela.

 

Todos começaram a murmurar.

 

- Primeiro – Atena impôs respeito. – as vidas que foram salvas.

 

- Meu filho Kane. – Hefesto disse.

 

- Minha filha Sunny. – Apolo sorriu de novo para mim, eu retribuí.

 

- Minha filha Annabeth. – Atena disse.

 

- Meu filho Nico. – Hades admitiu. – Não só salvou como treinou.

 

- Minha filha Megara. – Deméter deu um sorriso tranquilo.

 

- Meu filho Percy. – Poseidon não parecia gostar de ter que admitir que eu houvesse lhe feito um favor.

 

- Meu filho Luke. – Hermes disse com tristeza. Todos enrugaram o rosto com isso. Eu senti uma pontada no coração.

 

- Ela também salvou meu filho Ethan. – Todos olharam para o canto da sala. Junto a uma pira estava uma garotinha brincando com o fogo. - E, Hades, você não pode negar que ela salvou Nico.

 

- Sim, Héstia. – Hades suspirou mal-humorado. – É verdade. Não só salvou como treinou.

 

- Chega de adornar essa garota, - Hera rolou os olhos. – agora vamos pesar as mortes. – um sorriso maligno se abriu.

 

- Sim, você era uma maquina mortífera lá embaixo. – Ares imitou o sorriso da mãe.

 

- Os assassinatos nem se comparam. – Hades assentiu. – Você me dá um trabalhão quando entra em uma batalha, garota.

 

Considerei como um elogio.

 

- Mas eu tinha que matar. Ou você acha que eu estava matando por tédio?Eles fariam o mesmo comigo.

 

- Você matou mais que qualquer outro campista em batalha. – Dionísio disse.

 

- Não tenho culpa se eu sou mais habilidosa com uma espada que os outros. – dei um sorriso convencido.

 

- Rainha da prepotência. – Poseidon rolou os olhos, apoiando o queixo na mão.

 

- Arma brilhante a sua, - Hefesto sorriu. – não sei se você sabe, mas eu mesmo a forjei.

 

- Obrigada. – lhe lancei um sorriso. Todos pareceram começar a gostar mais de mim. – É uma arma muito útil.

 

- Ah, para de puxar saco, bastarda. – Hera rolou os olhos também, se levantando. – Você está morta e assim continuará. Não importa quantos elogios e sorrisos doces você nos dê.

 

- Acho – Todos olharam para a jovem deusa de cabelos ruivos que se levantou de repente, de onde estivera apenas nos observando. – que vocês estão esquecendo um mínimo detalhe.

 

- E qual seria esse, Ártemis?- Ares rolou os olhos.

 

- Até eu – Ártemis ignorou o meio irmão. – que sou contra os homens, e que lamento que ela tenha escolhido logo meu irmão entre tantos – Apolo deu um sorriso charmoso para sua gêmea. -, devo lembrar-lhes que ela carrega não apenas um, mas dois semideuses.

 

Todos pareceram inquietos, pesando a questão. Eu quis correr até ela e lhe dar um beijo estalado na bochecha. Eu havia me recusado a juntar à sua Caçada e lá estava ela, me defendendo.

 

- Que morram juntos. – Ares protestou. Todos olharam feio para ele.

 

- Independente dos erros de Aghata, eles não são responsáveis por nenhum deles. Eles devem ter a chance de cometer seus próprios erros.

– Apolo bateu o punho no trono e se levantou. Ele ficava cada vez mais vermelho e quente. E gostoso, pensei.

 

Hera abriu a boca para falar, mas a minha cunhada foi mais rápida.

 

- Tenho certeza, - disse com calma e autoridade para Hera. – que você, deusa da maternidade, não pode contestar este fato, não, madrasta?

 

Hera ficou sem palavras. Sua boca se fechou. Seu rosto primeiro passou de arrogância a choque, de choque à petulância, depois pensativa e então humilhação.

 

- Sim, Ártemis, não posso contestar. – cuspiu as palavras de nariz empinado. Cada palavra doía em seu enorme ego.

 

Nota mental: fazer oferenda à Ártemis a cada nova fase da lua.

 

- Perfeito, então. Acho que chegamos a uma decisão. – Atena deu um sorriso conclusivo.

 

- Acho que não. – A voz tonante de Zeus encheu o lugar. – Minha opinião é a que conta.

 

- Seu absolutismo ainda vai te condenar, irmão. – Poseidon rogou.

 

- Anda profetizando, Pocotó do mar?- Atena bufou.

 

Contive o riso, mas eu estava quase tremendo. Meu avô ficou roxo.

 

- Eu acho que você não negaria a imortalidade à sua filha, certo, pai?- Apolo afirmou, mas ainda havia um tom duvidoso em sua voz.

 

Zeus não respondeu, mas os cantos de seus lábios se repuxaram.

 

- Vocês estão esquecendo um pequeno detalhe. – Hades interveio.

 

- Qual?

 

- Ela agora pertence a mim. Está morta, eu sou o deus dos mortos.

 

- Ah, tio, qual é?- eu resmunguei.

 

Ele me lançou um olhar mortal. Mas eu já estava morta.

 

- Eu esperei muito para ter a sua alma. Eu lembro que você me disse um dia que eu nunca teria sua alma. – ele arqueou uma sobrancelha negra.

 

- Tio, você sabe que eu gosto de você.

 

- Senhor.

 

- Que seja. Eu não gosto é do seu bajulador-oficial, Tânatos. Ele é muito chato.

 

As bochechas do meu tio ficaram um pouco rosa por trás da pele pálida. Todos concordaram.

 

- Eu quero te castigar.

 

- Você não pode me castigar. – eu respondi calmamente. – Que eu bem me lembre, eu seria julgada por Minos, que é meu tatatara e lá vai porrada avô, Éaco e Radamanto. E você não pode interferir na decisão deles.

 

- Garota inteligente, Atena. – Hefesto comentou com ela. Ela me olhava com um sorriso orgulhoso.

 

- E, que eu saiba, eu não fiz nada demais para reencarnar direto, apesar de todos os que matei em batalha. Eu também sou heroína, Hades, mereço tanto quanto os outros uma chance.

 

Hades parecia mudo.

 

- Quem cala consente. – Meu pai disse antes que Hades negasse. – Bem vinda à imortalidade, filha.

 

 

 

 

Eu não sei quantos dias haviam se passado desde o conselho no Olimpo, mas eu me sentia cansadíssima.

 

Abri os olhos lentamente, e percebi que eu estava no palácio do sol, mas estava deitada em uma cama de casal em um quarto monumental. Eu tinha um corpo de novo. Senti uma pressão no estômago, e estranhei que pudesse ver meus pés novamente. Senti um sopro de ar na barriga que fez a barra da minha blusa levantar suavemente, uma respiração. A cabeça de Apolo estava apoiada na minha barriga. Seus olhos estavam fechados e um sorriso bobo estava em seu rosto divino.

 

Dei um sorriso ao ver a cena e passei meu polegar de leve em suas covinhas. Ele começou a rir de cócegas e eu parei imediatamente, com medo de acordá-lo de um sono tão gostoso, mas já era tarde. Sua mão rapidamente agarrou a minha e a segurou junto ao peito.

 

- Eu tenho tanta sorte de te ter. – ele murmurou, ainda de olhos fechados. – E agora é pra sempre.

 

Sorri novamente para ele.

 

- Venha! – ele abriu os olhos, de uma vez só, e me puxou pelo pulso para fora da cama. – Você tem que vê-los! São lindos!

 

Apolo estava radiante. Mais feliz do que jamais havia visto. Era até duvidoso que coubesse tanta felicidade em uma pessoa só.

 

Ele me conduziu para fora do quarto, passando pelo corredor dourado e chegando à Sala do Trono. Percebi como meu corpo estava mais leve e percebi que eu não estava mais grávida. Meu sonho tinha se realizado, eu era mãe. Assim que passamos pelo portal de ouro na entrada da Sala percebi que ao lado do trono de ouro, havia um de prata elétrico, como se estivesse ligado à tomada. Eu olhei para Apolo estupefata.

 

- Sim. – ele sorriu. – é seu. Espero que tenha gostado, pedi igual ao do seu sonho.

 

- Como você sabe do meu sonho?

 

- eu sei de tudo. – ele deu um sorriso convencido.

 

- Nossos filhos vão ser realmente prepotentes. O ego dessa família nem vai caber nesse palácio. – eu ri para mim. E logo percebi que eu havia citado família.

 

Apolo assentiu com a cabeça e deu mais um risinho. Puxou meu pulso de novo em direção ao trono elétrico, me sentou nele e apontou para o mini raio mestre ao meu lado.

 

- É Alexis. Achei uma boa ideia colocar esse pequeno detalhe. – deu de ombros. – E como você se sente sendo a deusa da Energia e da Luz?

 

Fiquei boquiaberta. Poucos deuses menores tinham poderes assim, tinha até deusa do cálice, eu presumia que ser deusa da energia e da luz era grande para uma deusa menor.

 

- Obrigada, Apolo. – sorri quando ele se sentou ao meu lado. Nós ficamos nos olhando como idiotas por um momento, até que uma voz feminina poderosa tomou o salão.

 

- Desculpe interromper, mas eles já vêm.

 

Uma ruiva garota da minha idade estava andando até nós, tão graciosamente que parecia uma bailarina.

 

- Ártemis!- eu me levantei em um pulo e corri até ela. Ela apenas deu um sorrisinho. – Olhe, obrigada mesmo por me defender lá no Olimpo. E pela oferta. – corei.

 

- Não se preocupe com isso, foi um prazer para mim. – ela lançou um olhar sobre o meu ombro, olhei também. Apolo fingia que não ouvia, olhando para o lado. – Eu nunca o vi tão feliz há milênios. E apesar das nossas brigas eternas, eu o amo. E se ele está feliz, eu também estou.

 

Eu não pude deixar de sorrir mais ainda.

 

- Bem, - ela se soltou do momento carinhoso, - eles estão vindo. E eu devo lhe dar parabéns, pelo seu aniversário e...

 

- Meus deuses! Meu aniversário de 16!- eu fiquei surpresa.

 

- Sim, foi ontem. – ela sorriu. – E também porque são as crianças mais lindas que eu já vi.

 

- Você ajudou no parto?- eu sorri.

 

- Sim.

 

- Eu tenho uma dívida eterna com você. – a abracei antes que ela pudesse recusar.

 

 Separei-me de Ártemis e sentei novamente no trono.

 

- Minha deusa?- uma Caçadora de cabelos castanhos apareceu carregando um pacote de pano em cada braço. – Aqui estão.

 

- Dê-lhes à mãe. – Ártemis respondeu. – A menina dos olhos de Apolo é deusa da mentira e da sorte. O menininho de olhos elétricos é deus da verdade e do azar. Perfeitos juntos. 

 

A Caçadora veio caminhando lentamente até mim, olhando para os pacotes como se fossem se quebrar a qualquer momento. Quando pude ver as mãozinhas gordinhas brincado com os longos cabelos dela meu coração deu um salto. Eu estava como Apolo, mal conseguia me conter de tanta felicidade e amor.

 

- Olá. - eu sorri para os bebês minúsculos e gordinhos à minha frente, iluminando mais ainda apenas com o sorriso a sala. Fiquei espantada com a minha voz, estava melhorada, mais doce e poderosa.

 

Percebi que era o sonho que eu tive dois anos atrás se realizando. 

 


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Notas finais do capítulo

ah, eu tive uma certa ideia, sobre uma continuação... se vocês gostarem do final e quiserem, me falem por review, porque eu não tenho muita certeza se vai ser bem aceita. ok? obrigada