Ao contrário do que eu pensei que ele faria, ele simplesmente passou direto por mim, apenas me lançando um sorriso fraco. Como se eu fosse só uma conhecida.

 

- Ei, psiu, gatinho. – Eu chamei apoiada nas mãos, ainda com as canelas dentro da água. – Prazer, eu sou Aghata.

 

Ele não falou nada. Apenas me lançou um olhar de desprezo, pegou uma toalha amarela em uma mesa de plástico perto da piscina e começou a bagunçar seus cabelos dourados com ela.

 

- Qual, é, Apolo? Não vai falar comigo?- Eu disse com um tom menos brincalhão.

 

Ele virou, me olhou com indiferença e disse por fim.

 

- Não.

 

Pisquei, atônita com a resposta seca.

 

Levantei-me, decidida. Andei até ele firme, batendo o pé. Puxei seu ombro para trás com uma mão, fazendo-o virar-se para mim.

 

- Não vai falar comigo?- Repeti, com meu rosto a centímetros do meu. Seu peito malhado colado ao meu corpo.

 

Ele se aproveitou da altura e virou o rosto, mordendo o lábio inferior para se controlar. Esperei. Por fim ele se rendeu, passou um braço pela minha cintura, parecendo delicada ao aperto de seu braço forte. E me beijou. Me beijou como se não houvesse amanhã. Agarrei seus cabelos da nuca e os puxei, morrendo de raiva e desejo por Apolo. 

 

Separamo-nos, procurando por algum ar.

 

- Fraco. – eu zombei e saí de seu aperto. Corri até a piscina e pulei de ponta,- de uniforme e tudo- fazendo meu mergulho silencioso.

 

Os passos calmos de Apolo até a beira da piscina pareceram mais uma dança. Ele assumiu minha posição anterior na borda da piscina, com um sorriso confiante, abobalhado e calmo no rosto. 

 

- Soube que agora é uma líder de torcida. – seu sorriso aumentou.

 

- Ajude-me a decifrar. Seu sorriso é de escárnio ou luxúria?- ergui uma sobrancelha e lutei contra a água para chegar mais perto dele.

 

- Ambos. – ele gargalhou, tombando a cabeça para trás. Seu pomo de adão ficou exposto sob a pele, me fazendo querer chegar perto dele e abraçar seu corpo divino. – Eu admito que nunca havia te imaginado em um daqueles mini vestidos rodados. – ele riu. – Mas a imagem parece tentadora. – Ele deu um meio sorriso.

 

Joguei minha cabeça para trás, tentando esconder o rubor em minhas bochechas.

 

- Quem sabe eles te deixem ser a mascote. – disse por falta de opção. – Não custa tentar.

 

- Não seria lindo, me ver como um leão?- ele entrou na água, que batia em sua cintura. – Eu ficaria um verdadeiro gato. – ele começou a caminhar na minha direção, na rapidez que a água permitia.

 

Eu coloquei três dedos como uma garra e passei sobre os olhos. (N/A: piadinha premiada pra quem lembra desse gesto nos livros.)

 

- Há-há- ele riu, chegando realmente perto de mim. – Eu nem ficaria tão feio assim.

 

- Hilário. – gargalhei.

 

- E então, como andam meus concorrentes?- Ele tinha um sorriso confiante nos lábios enquanto alisava meu rosto com um dedo.

 

- Concorrentes?- Eu franzi o cenho, tentando entender do que ele falava.

 

- Quer que eu liste?- Ele ergueu uma sobrancelha. – Tudo bem. Que tal começarmos com aquele seu novo amigo recepcionista? Como é o nome?- Ele pareceu fazer um esforço, olhando para cima. – Liam!- Ele ergueu as duas sobrancelhas pra mim.

 

- Liam?- Eu arqueei uma sobrancelha. – Ele nem mesmo é meu amigo. – Dei de ombros. – Não o conheço a mais que um dia.

 

- Kane?

 

- Meio-sangue. Mais novo. Meu amigo.

 

- Nico?

 

- Como um irmão mais novo. Eu o treino. E filho do meu amado tio.

 

- Bryan?

 

- Me odeia, provavelmente.

 

- Ora, por favor né, Aghata. Quem te odeia? Você tem essa aura, que faz todos gostarem de você. – Ele bufou.

 

- Que pena. Eu não gosto de você. – Eu brinquei, com um enorme sorriso infantil no rosto.

 

- Ora, sua mortal. – Apolo semicerrou os olhos para mim, de brincadeira. A água ao seu redor começou a borbulhar.

 

- Ai! Está quente!- Eu gritei, rindo ao perceber que ele estava fazendo a água ferver na minha pele.

 

Coloquei as mãos sobre a água e descarreguei um pouco de energia.

 

- Ai! Você me deu um choque. – Ele gritou também.

 

- HAHAHA. Bem feito. – Eu dei língua pra ele, morrendo de rir com a minha idiotice.

 

Ele semicerrou de novo os olhos para mim, como ameaça. Saí correndo da piscina, correndo na grama.

 

- Eu te pego!- Ele correu até mim.

 

Ele me seguiu até a metade do gramado, pulou na minha cintura e nos fazendo cair. Nós dois morríamos de rir, rolando na grama. Quando nós paramos, Apolo estava com o corpo em cima do meu, nossos lábios quase tocando.

 

- Acho que a achamos. – Ouvi uma voz acima de nós.

 

Olhei para cima, reconhecendo a voz. Liam nos encarava deitados, meio confuso, meio chateado. Candy nos olhava com um sorriso de triunfo nos lábios com gloss, analisando cada músculo das costas de Apolo.  Tirei Apolo de cima de mim, atirando-o na grama. Os olhos de Candy ficaram ainda mais brilhantes, secando o abdômen de Apolo.

 

Levantei-me na defensiva, com meus olhos semicerrados fuzilando Candy. Apolo se levantou também e ficou ao meu lado. Posicionei-me a sua frente, tampando seu corpo dos olhos famintos de Candy.

 

- O que você quer?- Falei pra ela.

 

- Seu amigo. – Um sorriso malicioso dominou seu rosto.

 

Cheguei mais perto dela, ameaçando. Vi os pequenos raios começando a saltar de meus olhos.

 

- Aghata...- Apolo passou um braço pela minha cintura, me impedindo de atacar Candy.

 

Vi os olhos de Liam acompanhar a mão de Apolo até a minha cintura. Se seus olhos pudessem queimar, Apolo não teria mais mão.

 

- Quem é você?- Liam praticamente rosnou para Apolo.

 

- Apolo, namorado da Aghata. Quem é você?- Ele respondeu com um tom de repulsa.

 

- Namorado?- Candy ergueu suas sobrancelhas graciosas. – Que pena! O que você está fazendo com ela? Ah, se eu tivesse encontrado primeiro.

 

Nessa hora eu pulei nela, com uma mão cheia de energia estendida para seu rosto bronzeado. Só que Apolo me prendeu ao seu corpo, de modo que a eletricidade ficou só perto de seus olhos.

 

- O que é isso? Eletricidade?- Ela arregalou os olhos, recuando.

 

- Não. – Apolo puxou meu braço e o colocou ao lado do meu corpo. – É só um pequeno truque que Aghata faz.

 

- Vou enfiar o pequeno truque na fuça dessa oxigenada. – Eu bufei, rolando os olhos e me rendendo à força dos braços de Apolo.

 

- Você também é loira, querida. – Ela me olhou com desprezo.

 

- Graças a uma coisa chamada genética. Cuja não foi muito generosa com você, amigona. – Eu olhei para o seu corpo com desprezo.

 

É claro que Candy era magra e tinha o corpo perfeito, mas eu não ia simplesmente chegar para a garota que acabou de dar em cima do meu namorado: Hey, você é linda.

 

- Escuta aqui...

 

- Eu sou Liam. – Liam respondeu, cortando Candy. – Amigo da Aghata.

 

- Não foi isso que ela me disse agorinha. – Apolo olhou para cima, falando baixinho, como se para Liam não ouvir. Mas era claro que ele queria que ouvisse.

 

Dei uma cotovelada forte no estômago de Apolo.

 

- Ai!

 

- Ah, Liam, querido. – Candy disse com um tom doce, enlaçando seu braço ao de Liam. – Vamos embora daqui.

 

Eles se viraram, e começaram a andar para fora de nossa visão. Candy meio que arrastou Liam, que ainda fuzilava Apolo, reciprocamente. Ela virou o rosto enquanto rebolava ao lado de Liam, olhou para Apolo com um sorriso e piscou para ele. PISCOU! NA MINHA FRENTE.

 

- Piranha!- Ergui a mão e já ia lançar um raio nas costas dela quando Apolo me segurou. - Ah, por favor. Você viu aquilo? Só um raiozinho de nada. – implorei.

 

- Acredite, eu adoraria fritar aquele garoto. Mas nós não devemos ferir mortais.

 

- Sem graça. – suspirei triste e abaixei a mão.

 

O deus soltou meu pulso, andou até a mesa de piscina no gramado. Pegou uma blusa pólo, chinelos e óculos Ray-Ban de aviador.

 

- Aonde você vai?- Perguntei quando ele se vestia.

 

- Trabalhar. – Ele deu um sorriso irônico.

 

- Apolo, você ficou bravinho por causa daquilo? – apontei para trás com o polegar, andando até ele.

 

- “Bravinho”?- Ele repetiu incrédulo, erguendo uma sobrancelha. – Você acha que eu estou “bravinho”?

 

Eu ri um pouco, pegando seus ombros musculosos com as minhas mãos.

 

- Apolo... - Eu tentei falar, mas não conseguia parar de rir da cara dele.

 

- Pare de rir!- Ele reclamou, meio que fazendo beicinho.

 

Tentei parar de rir, peguei seu rosto com as mãos e falei com voz de bebê:

 

- Ô meus deuses, o bebê tá tlistinho, tá?- Fiz um beicinho, imitando sua cara. Comecei a rir ainda mais.

 

- Você é impossível!- Ele bufou, rolando os olhos. Ele saiu andando, todo bravo. Dava para ver os músculos de suas costas trabalhando enquanto ele andava.

 

- Tá. – Eu rebati, toda rabugenta, e saí na direção oposta. A direção de Liam e Candy.

 

- Vai para o dormitório?- Ele perguntou, aparecendo ao meu lado, me acompanhando na caminhada.

 

- Sim. – Respondi sem olhar para ele.

 

- Posso te acompanhar?- Vi que ele estava engolindo seu orgulho, e aquilo doía nele.

 

- Se quiser. – dei de ombros.

 

Ele segurou minha mão, sorrindo para mim. Percebi que nossas roupas e nossos cabelos não estavam mais molhados, graças a Apolo.

 

Enquanto nós andávamos pelo campus, as pessoas olhavam, maravilhadas. Eu estava me sentindo, mostrando meu troféu para a escola inteira. Estava quase sentindo o vento batendo em nossos cabelos e a música de fundo.

 

- É aqui. – Eu disse, apontando para o castelo.

 

- Credo, que lugar escuro!- Ele reclamou, exatamente como eu imaginei que ele faria.

 

Puxei seu braço até o corredor dos esportistas. Apolo apontou para uma enorme faixa de prêmio na parede do corredor.

 

- “Ala dos campeões”?

 

- Atletas são superestimados. – Eu dei de ombros. – Esse é o meu quarto. – Apontei para a porta de madeira.

 

- Aghata?- Ele puxou minha mão, me fazendo ficar de frente para ele.

 

- Sim?- Me perdi em seus olhos amarelos.

 

- Tenho uma pergunta para te fazer. – Ele colocou uma mão no meu rosto.

 

- À vontade.

 

- Quer casar comigo?

 

Gelei.