Nick Fury estava paralisado. Pensou em tentar fugir, mas a porta foi trancada por Ossos Cruzados e Saltador. Helmut Zemo devia o estar encarando por baixo da máscara, mas era completamente impossível saber o que passava na mente dele.

– Sabe, Nick? Sempre me senti solitário. Meu Vater não se importava comigo. Eu era apenas um... contratempo. Uma pedra no caminho dele. Mas eu aprendi a amar. Graças a ela.

– Ela?

A Víbora surgiu de algum canto da sala. Ela se aproximou de Helmut, sorrindo, e colocou as mãos em um dos ombros dele.

– Não é lindo, o amor? – perguntou Zemo.

– Vocês dois...?

Ophelia Sarkissian riu. Ela se curvou sobre Helmut e levantou um pouco a máscara dele. Eles trocaram um beijo, que fez Fury se sentir mal por estar vendo um momento tão íntimo dos dois.

– Não se preocupe, Herr Fury – disse a Víbora –, pois você não precisará ocultar isso de ninguém. Helmut está, a partir de agora, assumindo o posto de Alexander Pierce. Como um dos líderes da Hidra, ele tem todo o direito de se envolver com a Madam Hidra.

– Que seria você, eu suponho.

– Sim, Ophelia é a Madam Hidra. Tal honra só cabe a uma mulher tão bela e forte como ela.

Algo agarrou a perna de Nick. Olhou para baixo e viu o chicote verde da Víbora enrolado em sua canela. A Madame Hidra puxou, derrubando-o no chão. Onde o chicote havia encostado, marcas de queimaduras de baixo grau apareceram, junto com bolhas na pele. Fury começou a ficar tonto, enquanto sentia algo o amarrando.

Quando despertou, estava amarrado a uma cadeira. Helmut e Ophelia andavam de um lado para o outro, juntos. Fury imaginou quanto tempo o Capitão América levaria para perceber sua ausência. Antes que sequer falasse algo, o Barão Zemo percebeu que despertara.

– Nicholas, por que demorou tanto? Tenho um assunto a tratar com você. Se recorda do último dia que passou em Sokóvia?

– Sim...

– Se lembra do que eu falei para você?

– Vingança...

– Genau. Você poderia ter salvo o meu Vater, e sabe disso. Mas, ainda assim, você e George Tarleton permaneceram parados enquanto o Graviton assassinava Heinrich Zemo!

– Helmut, eu não tive culpa – para quem desmaiara, Nick já estava bem acordado. – Mesmo que eu entrasse entre eles, você realmente acha que ele ia parar?

– Não, eu não acho. Mas você sequer tentou!

Ele desembainhou a espada. Antes que pudesse atacar, o comunicador em seu bolso apitou. Ele atendeu, e todos puderam ouvir a voz do outro lado. Era Nathan Garrett.

– Barão?

– Fale.

– Duas coisas: quero reportar o status de alguém de seu interesse.

– Nome?

– Wilson Fisk.

– Codinome?

– Rei do Crime.

– Status?

– Capturado pelo Mandarim. Está sozinho para que eu prossiga?

Zemo gelou. Ele gesticulou para que Ophelia cuidasse de Fury, que nem sequer se mexeu. Dali a alguns minutos, Helmut retornou, o comunicador desligado.

– O que sabe sobre Ultron, Herr Fury?

– Ultron? O que quer saber sobre Ultron?

Ophelia encostou a arma na cabeça de Fury.

– Apenas responda. Quem faz as perguntas aqui é Helmut.

– Uma criação conjunta de Bruce Banner, Tony Stark e Hank Pym. Criado para proteger a Terra, a pedido de...

– A pedido de...? – a Víbora pressionou-o com a ponta da arma.

– A pedido da S.H.I.E.L.D., há alguns anos.

– Mais especificamente quem, da S.H.I.E.L.D.? – perguntou Zemo, pensativo.

– Peggy Carter. Foi uma das coisas que ela falou em uma de suas crises: "O mundo está em perigo! Vocês precisam protegê-lo!". Eu fiquei realmente preocupado, e pedi isso para Stark. Mas foi ideia dele criar algo tão poderoso. Pois Ultron se tornou uma ameaça. E foi roubado. Não fazemos a menor ideia.

Hemut assentiu e continuou andando em círculos. Atrás dele e de Ophelia, Ossos Cruzados e Saltador resistiam contra alguém que batia furiosamente na porta.

– Brock, Georges – chamou Zemo. – Deixem entrar.

Os dois saíram da frente, e a porta se abriu. Para a surpresa de todos, porém, quem entrou não foi O Capitão América. Nem um dos X-Men. Foi um homem de roupa e máscara preta, com linhas brancas e um alvo branco estampado na testa. O Mercenário.

– Olá, senhores. Vim pedir para que vocês, gentilmente, me entreguem o senhor Fury.

– Nicholas? Ele está meio ocupado no momento. Volte mais tarde, pode ser?

O Mercenário tirou um baralho de cartas do bolso. Ele escolheu uma e se aproximou de Zemo.

– Esta é a sua carta?

O Barão Zemo de um salto para trás, no exato momento em que o Mercenário jogou a carta. Ele cortou a carta em pleno ar. As duas metades do Ás de Paus caíram no chão, fazendo barulho na sala silenciosa. Sem pensar duas vezes, Fury pegou um canivete suíço no bolso e cortou as cordas que o prendiam à cadeira, se aproveitando da confusão.

Georges Batroc saltou para o lado e ficou em frente às portas fechadas do elevador. Era apenas uma questão de tempo para que o Capitão América viesse, junto dos X-Men.

– Como pensa que vai sair agora, Mercenário? – perguntou Ossos Cruzados.

Parando um pouco de arremessar cartas no Barão Zemo em vão, o Mercenário olhou para a parede de vidro.

– Vidro quebra, sabia?

Cuidadosamente, ele pegou o elástico que prendia as cartas e o prendeu aos dedos, como se fosse um estilingue. O Mercenário puxou o elástico para trás e soltou. Passando por cima do ombro do Barão Zemo, o elástico acertou o vidro com força. Aquele vidro, que todos pensavam ser aprova de balas, trincou.

– Ainda não foi dessa vez, liebe – disse a Víbora, se deliciando com a expressão surpresa no rosto do Mercenário. Ele sorriu.

A pequena rachadura feita no vidro começou a aumentar. Todos pararam o que estavam fazendo, surpresos. Então, um disparo se fez ouvir. Ninguém viu de onde veio a bala. O tiro cruzou a sala e acertou o Barão Zemo no peito.

– Helmut! – gritou Ophelia.

– Todos viram: não fui eu – disse o Mercenário.

A Víbora se virou para Fury, que ainda estava com a arma em mãos.

– Você!

Ela simplesmente surtou. Ophelia Sarkissian correu na direção de Fury e pulou em cima dele. Os dois caíram, atravessando o vidro quebrado da sala que um dia pertencera a Alexander Pierce. Mas ela não caiu. Quando Fury olhou para o lado, viu o chicote verde da Víbora se prendendo na borda da sala. E a levando de volta para o piso. Nick continuou caindo, até que algo o agarrou e o levantou no ar. Era um homem, com enorme asas brancas.

Lá em cima, o Mercenário xingava a Víbora.

– Eu precisava levá-lo, Víbora! Eu nunca, repito, eu nunca falhei em um trabalho sequer. Agora, se me dá licença, tenho que ir atrás dele.

O Mercenário empurrou o Saltador para o lado e chamou o elevador. As portas e abriram em alguns segundos, revelando Capitão América, Tempestade, Fera e Lince Negra. Por um momento, ele pareceu ficar sem palavras.

– Quem é você, mesmo? – perguntou o Capitão.

– Meu nome é... Lester.

– Tem certeza? – perguntou o Fera. – Pois não parece.

Ororo Munroe e Kitty Pride passaram direto por ele e se prepararam para enfrentar Ossos Cruzados e Víbora. Seguindo a orientação de Rogers, o Fera pulou no Saltador, que estava no chão. Steve permaneceu frente a frente com o Mercenário.

– Eu ainda vou me arrepender – disse Lester, pulando em cima do Capitão.

Os dois caíram dentro do elevador, e a porta se fechou. As paredes do elevador, de vidro, permitiam que todos embaixo, agentes da Hidra que lutavam contra o Ciclope e o Homem de Gelo, vissem os dois lutando no elevador. Uma das paredes se quebrou quando Rogers jogou o Mercenário por ela.

Lester caiu, mas não gritou. Sabia que era uma testemunha importante demais para que Steve, que não vira quando o Mercenário se segurara na borda do elevador. Pelo menos ele pensava assim, até que o Capitão América apoiou um de seus pés na mão de Lester.

– Você não ousaria me derrubar, Capitão Rogers. Sou a única testemunha que, você acha, realmente te contará algo sobre o ocorrido na sala do secretário-geral.

– O que te faz pensar isso?

– Conheço pessoas como você. Mas, enfim, eu não vou te contar nada mesmo – enquanto eles falavam, o elevador descia. – Eu NUNCA vou falar com alguém da S.H.I.E.L.D., pois vocês todos são iguais. Não se importam com ninguém. Só com vocês mesmos.

Ao perceber que ele estava enrolando para falar, Steve quebrou o painel do elevador, fazendo a máquina parar.

– Muito tolo, você. Acha que pode me fazer falar com o medo. Mas eu não tenho medo.

O Mercenário lançou uma carta na direção do cabo que suspendia o elevador. Assim que acertou o cabo, que se rompeu, o Mercenário se soltou da borda do elevador. E caiu de pé.

– Foi muito bom conversar com você, Capitão. É uma pena que não possamos falar mais.

Ele correu na direção da porta, e Ciclope tentou ir atrás dele.

– Deixe-o ir, Scott. Não há nada que possamos fazer para impedi-lo.

O Homem de Gelo fez uma rampa para Steve descer do elevador.

– Não vai dar, Bobby. Se eu me mexer, o cabo vai se romper por completo. Você vai ter que revesti-lo com gelo.

Bobby Drake subiu até o cabo do elevador e o congelou. O Capitão, ainda relutante, escorregou pela ponte de gelo.

– Espere, por que você simplesmente não pulou? – perguntou o Ciclope.

– Não ia dar tempo. Assim que eu me mexesse, o elevador ia cair em cima de mim, e poderia pegar uma perna ou um braço. Agora venham. Temos que subir do jeito que fazíamos na minha época.

– Como? – perguntou o Homem de Gelo.

– De escadas.

– Ah, está bem. Pensei que íamos ter que escalar o prédio por fora ou coisa do tipo.

– Até que não é uma má ideia, soldado. Mas acho que escadas são mais práticas para vocês dois.

Um dos agentes da Hidra que ainda estava acordado se levantou.

– Se me permitem, senhores, tenho uma declaração a fazer. O Triskelion não tem escadas.

– Qual o seu nome, soldado?

– Zeb.

– Me diga então, soldado Zeb: por que o Triskelion não tem escadas?

– Ah, é que elas são muito inúteis. Qualquer um pode te encurralar em uma escadaria.

– Muito obrigado por seus serviços.

Rogers já ia sair pela porta da frente.

– Espere, é só isso? Vai deixá-lo ir? – perguntou o Ciclope.

– É, acho que não deveria. Soldado Bobby, por favor?

– Essa é a gratidão que têm para comigo? Eu poderia muito bem ter pegado minha arma e atirado em vocês enquanto estavam vulneráveis. Acho que devem pelo menos me levar junto com vocês.

– Está bem. Pode vir conosco.

Estranhamente, ninguém mais protestou. Eles apenas seguiram até o lado de fora e deram a volta. Olhavam para cima, tentando achar uma maneira de escalar aquelas paredes lisas de vidro.

Lá em cima, Víbora, Ossos Cruzados e Saltador foram enquadrados na parede. Tempestade estava agindo como uma líder nata.

– Onde aprendeu a agir assim? – perguntou o Fera.

– Passei um tempo com uma tribo de uma região da África chamada Wakanda. Eu era esposa do líder deles, T'Challa. Aprendi a liderar com ele.

Ela não parecia muito à vontade falando disso, portanto ele resolveu não perguntar mais.

– E então, Kitty? Alguma ideia de onde Fury possa estar?

– Ele foi pego por algo enquanto caía e levado na direção do Queens.

– Certeza?

– Sim.

– Então já sei quem foi.

– Quem?

– Falo depois. Quando não tivermos três agentes do alto-escalão da Hidra nos olhando.

Ela assentiu com a cabeça. Se eles tivessem prestado mais atenção, a Víbora deixara um estranho objeto cair no chão. E agora uma luz vermelha piscava nele.

Capitão América, Ciclope, Homem de Gelo e o tal "Zeb" ainda estavam olhando para cima quando a sala que um dia fora do secretário-geral da S.H.I.E.L.D. começou a ficar cheia de fumaça. Era um gás verde e estranho, que, temiam eles, era venenoso.

Dentro do Capitólio, três homens conversavam. Seus nomes eram Arthur Parks, Nathan Garrett e Bucky Barnes.

– Precisamos chegar até os cofres – disse Arthur.

– Acha que eu não sei? – perguntou Nathan, irritado.