O Grande Palco da Vida - Live escrita por Celso Innocente


Capítulo 8
Quem está mentindo?


Notas iniciais do capítulo

Que pena, ao contrário do que imaginei esta estória tem muito pouquíssimos leitores



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Na manhã seguinte, após uma noite que pareceu um século, quase sem conseguir dormir e chorar muito, levantei-me antes de papai ir trabalhar, justamente para receber algum sermão e entender o que tinha acontecido com minhas músicas; mas nada aconteceu. Entrei na cozinha quando ele ainda tomava seu café, sentado junto à mesa da copa.

— Oi papai! — cumprimentei-o, com jeito assustado.

— Oi! — respondeu-me secamente, como se eu tivesse cometido o maior de todos os crimes.

Ele tomou seu café sem mencionar nenhuma outra palavra e saiu para trabalhar sem sequer falar tchau; então fui à cozinha falar com mamãe:

— Mamãe!

— O que é Regis? — perguntou ela. — Você está preocupado!

— Papai está bravo comigo. Não vai mais me deixar voltar ao circo.

— O que houve?

— Ele disse que minha música de ontem falava bobagens!

— Que música você cantou?

— “Iniciação” e “Mãe do Mundo”.

— Não conheço essas músicas, filho!

— São de amigos de Willian!

— Cante um trechinho pra eu ouvir.

Cantei Iniciação em tom baixo e tímido, enquanto mamãe ficou prestando atenção, me deixando que cantasse inteira, depois me disse:

— Você não deveria cantar essa música.

— Por quê? O que tem de errado nela?

— Fala um pouco de besteira.

— Mas mamãe, se ela fala besteira não sei aonde!

— Você ainda é pequeno pra entender certas coisas!

— Então acho que papai deveria ver minhas músicas antes de eu cantar!

— Você tem razão — abaixou-se diante de mim, me abraçando. — Farei isso a partir de hoje. Agora vá brincar e não se preocupe.

— Mas o papai não vai mais deixar eu ir ao circo — tinha a voz embargada em um choro sentido.

— Ele deixa sim! — afirmou mamãe, compreensiva. — Eu falo com ele.

Fui brincar com meu irmãozinho que era uma cópia fiel minha em tamanho menor. Ele também já estava acordado, deitado no sofá da sala, com uma mamadeira cheia de achocolatado e um paninho velho, o qual era seu fiel companheiro na hora de mamar.

Deitei-me a seu lado e fiquei o imitando; com isto ele fazia gracinha com a mamadeira, só para ver minha reação.

Fiquei com ele por muito tempo, vendo e repetindo suas caretas, micagens... Mas continuava preocupado com o que papai poderia fazer.

Pouco depois das onze horas da manhã, quando ele retornou para o almoço, trouxe consigo um homem, aparentando vinte e cinco anos de idade. Sem nada me falar, apanhou meu violão e entregou ao visitante dizendo:

— Está novinho e é muito bom!

Foi a mesma coisa que ele tivesse usado um punhal e cravado bem forte em meu pobre coração de criança. O homem tirou o violão da capa, cruzou sobre o peito e começou a tocar. Tocar não. Fazer barulho. Ele nem sabia pegar no violão. Permaneceu uns cinco minutos fazendo barulho depois afirmou:

— É muito bom! Quero comprá-lo!

Ao ouvir aquilo não resisti, a punhalada foi repetida com maior intensidade.

— É meu! — gritei com ódio.

Corri para meu quarto chorando e pulei na cama de bruços. Tudo estava esclarecido: papai iria mesmo cumprir sua ameaça... Por causa de... Nada.

Depois que o moço se retirou, levando meu sonhado violão, mamãe que se acovardara na hora em que deveria ter protestado, lhe perguntou:

— Por que você vendeu o violão? Não era seu!

— Fui eu quem comprei o violão! E ele estava deixando o moleque perdido.

— Você comprou o violão e deu de presente ao Regis. É dele! Presente não se toma de volta!

— Enquanto ele for só uma criança, o que for dele eu controlo!

— Não estou vendo nada de mal no moleque!

— Porque você é cega! Ele não voltará mais a aquele circo.

— Por que não?

— Porque ele está ficando perdido! Já disse!

— Poderia até proibi-lo de ir ao circo, mas nem por isso precisava vender o violão.

— Vendi! Está vendido! Não tem outro jeito!

— Você sabe que o violão é o sonho do menino. Ele estuda música pra isso!

— Acabou! Ele muda de sonho!

— Ele me disse que é por causa das músicas. Mas ele é pequeno e nem sabe o que significa a letra que canta. Você tinha a obrigação de verificar a letra da música antes dele cantar.

— Por que você não faz isso? — gritou papai.

— Porque eu deixo pra você fazer! Só que você também não faz e deixa pra mim! Quando acontece algo que não gosta, a gente, ao invés de ajudá-lo resolve punir, porque é mais simples.

— Não tem volta! Já vendi o violão!

— Foi um presente! Você sabia que o sonho dele é ser artista.

— Muda de sonho. Já disse!

— O que vai dizer pro Willian?

— Willian não tem nada a ver com minha vida e de minha família!

— Você tem ciúmes dele cuidar de Regis. Mas você já parou pra pensar, o quanto que você sendo pai ajuda seu filho? Você quer e concorda que ele seja artista. Mas só isso! Mais nada! Quando você sentou com ele pra lhe aconselhar ou ajudá-lo em seus ensaios? O menino escolhe suas músicas e as ensaia sozinho! Ele precisa de apoio. Só crítica e repreensão não ajudam! Só destrói o que poderia ser uma linda carreira.

— Não entendo nada de música!

— Engraçado! Pelo que eu saiba Willian também não entende nada e o ajuda muito!

— Ajudava! Precisa ter cuidado com estranhos! Ele está fissurado pelo seu filho.

— Pensei que fosse “nosso filho”.

— Pois é! Cuidado com essa amizade entre nosso filho e um adulto estranho. Não seria ela que está deixando nosso filho perdido?

— Pois então, você não deveria tomar pra você a responsabilidade que está deixando pro tal estranho?

— Eu tenho que trabalhar!

— Eu vou cuidar melhor dos ensaios de Regis.

— Não tem mais o violão. Vendi e não tem volta!

Papai almoçou rapidamente e retornou ao trabalho mais cedo do que o horário de costume. Continuei deitado, chorando sentido por muito tempo e com concordância de mamãe nem sequer fui à escola. O violão e o circo era toda minha alegria. Gostava imensamente dos dois; faziam parte de mim. Willian tinha certeza absoluta de que eu me tornaria um grande artista. Mas agora parecia que estaria tudo acabado.

À tarde, papai voltou do trabalho e continuou calado a meu respeito. Eu continuava magoado, calado e até mesmo em estado febril.

À noite, o carro de Luís Lauro e Marcelo buzinou em frente de casa. Triste, sequer saí do sofá da sala.

Papai saiu no portão e disse:

— Ele não vai mais se apresentar no circo.

— Por que não? — perguntou Marcelo.

— Porque eu não quero! Só isso!

— Ele precisa ir! — insistiu Luís Lauro. — O circo precisa dele!

— E eu o quero aqui em casa!

— Mas senhor Pedro... A gente vai pagar pra ele! — insistiu Luis. — O Carlos já disse a ele.

— Já disse que não vai!

E entrou em casa.

Então os dois se foram.

Meu coração de criança, apertado, batia forte e assustado. Estava tudo acabado. Não seria mais artista: nem cantor... e nem trapezista.

No dia seguinte, acordei adoentado e sequer queria me levantar da cama. Passei todo o dia a poder de remédios e novamente não fui à escola e sequer na aula de canto.

Torcia para que ficasse ainda pior e então morresse abandonado, só para que papai sofresse por ter me perdido para sempre. Mas como nosso corpo é mais forte do que queremos e nosso organismo cria anticorpos para travar uma verdadeira guerra contra os males que nos afligem, no final da tarde, apesar de muito triste, estava bem.

Às vinte horas, Luís Lauro e Marcelo retornaram à minha casa. Como sempre, fui atendê-los acompanhado por papai.

— Senhor Pedro, o menino precisa ir ao circo — pediu Marcelo. — O povo quer vê-lo. O circo precisa dele.

— Sabe moço, eu não costumo voltar atrás em uma palavra dada — retrucou papai. — Por isso, desista!

— Senhor Pedro — insistiu Luís Lauro. — Sem ele vai ser o nosso fracasso nessa cidade.

— Pois mude de cidade! Acho que já ficaram muito por aqui!

— O espetáculo de hoje precisa acontecer e o público insiste na presença de Regis — insistiu Marcelo.

— Coloque um aviso na entrada que ele não vai, assim quem for para vê-lo não entra.

— Assim não entra ninguém!

— Isso não é problema meu!

— Mas é de Regis! — insistiu Marcelo. — Se ele não se envolvesse com Lucia, nada disso teria acontecido.

— Problema dele ou seu, ele não vai! Não adianta insistir!

— Pense bem senhor Pedro — continuou Marcelo. — A apresentação de Regis no circo, o está deixando conhecido e isso vai ajudá-lo no futuro. É o sonho dele!

— Não vai! Até logo!

Papai se retirou para dentro de casa. Marcelo ainda insistiu comigo:

— Garoto, você precisa ir.

— Não posso. Papai não quer.

— Pois vá falar com ele! — ordenou Luís Lauro em tom ameaçador. — Você tem que ir!

Era meu desejo ir ao circo, mas não diante de ameaças.

— Quer saber — decidi nervoso. — Não vou mesmo!

— Nesse caso vamos levá-lo de qualquer maneira — exagerou tal gerente. — Se você for inteligente e não quiser morrer, aconselho a não gritar, ficar quietinho e entrar no carro.

Enquanto falava, abriu a porta do carro e já estava com um revólver apontado para meu rosto. Olhei assustado para ele, depois rindo meio sem jeito, duvidei:

— O senhor está brincando! Não é?

— Nem um pouco — disse sério, tal homem.

Muito assustado ainda neguei:

— Não posso ir! Eu não posso desobedecer ao papai.

— Luis, pare com essa brincadeira! — pediu desorientado Marcelo. —Tá assustando o menino!

— Tadinho, não pode desobedecer ao papai! Se você não entrar no carro agora, jamais irá ver seu papai.

— Entre pra sua casa, Regis! O Luis está só brincando.

— Isso aqui não parece um brinquedo! — riu nervoso o homem. — Parece?

Olhei para a porta de minha casa, estava fechada, olhei para o revólver apontado para meu rosto, pensei em gritar, mas tive medo. Não havia outro jeito; entrei no carro, a porta se fechou bruscamente e o carro partiu também bruscamente. Mesmo assustado ainda insinuei:

— Vocês podem me obrigar a ir até lá, mas não me farão cantar!

— Não se preocupe Regis. A presença já é válida — afirmou Marcelo, embora também surpreso, com tal atitude covarde do chefe. — Te trago de volta rapidinho.

— O senhor não vai me machucar. Vai?

— Não seja bobo menino! — riu Luís Lauro. — Jamais faria mal a uma mosca! Foi só pra você entrar no carro.

No circo, nem me deixaram me vestir; eles fizeram isso pra mim, alegando eu como “um artista principal”, precisar de alguém me vestir. Não me deixaram falar ou ver Lucia. Nem sei se queria mesmo. Permaneci praticamente preso ao reboque de Luis Lauro, até quase o final das apresentações dos cantores.

Na hora de minha apresentação, Carlos, talvez sem saber de nada direito, me anunciou. Entrei guiado por quase empurrão e ele explicou:

— Hoje Regis não poderá se apresentar cantando. Ele está doente e não tem condições. Esperamos que o público nos compreenda.

Então me abraçou perguntando:

— Quer falar alguma coisa?

— Não senhor!

Poderia ter gritado no microfone que estava sendo vítima de torturas, mas por Lucia e sua família preferi me calar.

Com isso o senhor Carlos me deixou sair. Por trás das cortinas, Luís Lauro me segurou pelos braços e me levou a seu reboque onde ficava o escritório. Despiu-me; entregou minha roupa e disse:

— Agora pode se vestir que irei levá-lo pra casa. Não preciso mais de você!

Enquanto me vestia ele me entregou uma quantia em dinheiro, a qual não peguei. Lucia bateu na porta perguntando:

— Senhor Luís, Regis está aí?

— Não! — Negou ele me mostrando o revólver. — Eu não vi Regis após a apresentação dele.

A menina se retirou.

— Vamos rápido que vou levá-lo pra sua casa!

— Não quero! Vou a pé!

— Você é quem sabe! — ironizou o homem.

Abri a porta do reboque, desci as escadas e me retirei, seguindo o caminho de casa praticamente correndo, com medo de tudo e de qualquer pessoa que via. Era mais de dez horas da noite. Horário impróprio para uma criança estar sozinha nas ruas.

Eu até ficava na rua à noite para brincar, mas sempre acompanhado por dezenas de amiguinhos de minha faixa etária. Jamais sozinho. Por sorte, o caminho, sendo uma avenida principal, era movimentado e cheguei à minha casa por volta das dez e meia.

Forcei a maçaneta e tive uma surpresa: a porta estava trancada por dentro.

— Ma...mãe! — Chamei apavorado, porém, em tom quase inaudível.

Alguns segundos se passaram sem eu ninguém respondesse ou aparecesse.

— Ma...mãe... — tornei a chamar com o coração apertado.

Fiquei com medo de continuar chamando, então me sentei na varanda e me sentindo o menino mais infeliz deste mundo, permaneci chorando em silêncio. A noite não estava quente nem fria.

Aproximadamente meia noite, acordei assustado com o barulho da porta que se abria e papai a me ver, falou calmamente:

— Você está aí! Passa já pra dentro, cachorro!

Enquanto falava, seguiu para seu quarto, apanhou uma cinta de couro e voltou a mim, dizendo:

— Não disse que não era pra você ir lá?

— Eu não queria ir! — neguei assustado. — Eles me obrigaram.

— Ninguém obriga ninguém a fazer o que não quer!

Enquanto falava gritado, me surrou com aquela cinta. Surrou-me como nunca havia feito antes, com muita força, violência e covardia.

— Vê se aprende a não me desobedecer nunca mais! — gritava ele com ódio. — Quem você pensa que é? Dono de seu nariz? Saiba que você ainda tem quem te manda seu moleque irresponsável!

Papai me bateu tanto com aquela cinta de couro, que me deixou vergões por todo meu corpo, principalmente braços e pernas nuas, devido estar usando camiseta e short e o pior: devido minha bexiga de moleque pequeno, que se esquece de ir ao banheiro, estar cheia... pelas dores das cintadas acabou se soltando, fazendo com que o xixi molhasse todo meu short e se escorresse pelas pernas até o chão, além de que, uma das cintadas pegou bem forte em meu rosto, pois papai me batia como louco, sem prestar atenção onde a cinta acertava.

— Basta! — gritou mamãe segurando seu braço. — Não precisa matar o menino!

Quando ele parou de me surrar, chorando muito, com o short todo molhado, ainda tentei explicar:

— Eles me obrigaram a ir lá. Eles usaram um revólver...

— Além de desobediente e safado, ainda é mentiroso! Vá dormir!

Tirei a camiseta, o short e a cueca molhados e usando-os como toalha, enxuguei meu corpo de urina, vesti apenas uma cueca, deitei-me de bruços e continuei chorando inconsolável. Meu corpo todo marcado, doía muito.

— Regis, quando eu ficar grande vou bater no papai — insinuou inocentemente Tony, que tentava dormir na outra cama a meu lado.

Apesar destas dores, da revolta e das lágrimas, em pouco tempo estava dormindo.

Na manhã seguinte, papai chegou a meu leito, puxou meu cobertor e gritou:

— Levanta logo daí seu moleque sem vergonha! Vamos resolver esse negócio de ontem.

Parecia que ainda não estava terminado. Parecia que eu ainda iria acabar apanhando mais.

Levantei-me, fui ao banheiro, escovei os dentes e lavei o rosto. Papai ordenou:

— Toma logo seu café!

— Não quero! — neguei em baixo tom.

— Por que não?

— Não tenho vontade! — disse de cabeça baixa.

— Muito bem, então pegue sua bicicleta e venha comigo.

— Posso tomar um banho?

— Não!

— Estou fedendo xixi.

— Problema seu! Venha logo!

Com os olhos marejados olhei para mamãe, que me mediu dos pés à cabeça e foi incisiva:

— Meu filho não vai a lugar nenhum fedendo urina! Vá já pro banho, Regis!

Ela mesma desligou a chave seletora do chuveiro para que eu tomasse banho frio alegando que seria melhor para não arder minhas feridas.

Depois do banho, ainda com o coração batendo forte, vesti um short e uma camiseta, peguei minha bicicleta pequena e quase nova e o acompanhei que seguia com a sua, de tamanho normal, seguindo em direção ao circo.

No grande aclive que existe para chegarmos à garagem do Expresso São João, fomos empurrando a bicicleta, pois ninguém consegue subir aquilo pedalando. Os outros duzentos metros seguimos montado.

Ao chegarmos, papai perguntou a José Carlos:

— Onde está Luís Lauro?

— Venha comigo — chamou-nos o rapaz.

Deixamos as bicicletas encostadas em um trailer e o seguimos até o reboque do gerente, onde ele bateu na porta chamando:

— Senhor Luís, tem gente querendo falar com o senhor.

— Já estou indo — afirmou o gerente de dentro do reboque.

O rapaz se retirou nos deixando a sós. Segundos depois a porta se abriu e antes de sermos convidados a entrar, papai subiu os dois degraus de escadas metálicas e entrou puxando-me pelo braço. Luís Lauro ficou nervoso e assustado.

— O que vocês querem? — Perguntou ele.

— Ontem vocês trouxeram meu filho ao circo contra minha vontade.

— Ora senhor Pedro, ele disse que queria vir.

— Mentira! — Gritei.

— Isso mesmo — insistiu papai. — Ele me disse que vocês o obrigaram a vir até aqui.

— Senhor Pedro, acha que iríamos obrigá-lo a vir até aqui se ele dissesse que não queria vir?

— Acho sim!

— Eu seria incapaz! Nós o trouxemos porque ele insistiu em vir. Eu ainda lhe disse que o senhor não queria.

— É mentira! — neguei.

— Mas trouxe! — retrucou meu pai. — Vocês sabiam que não era pra ele vir.

— Porque ele insistiu! Disse que depois o senhor o entenderia.

— Eu não acredito, moço. Meu filho nunca mentiu pra mim!

— Pois está mentindo agora! Você vai me complicar assim, garoto.

— Essa sua tese não me convence e eu vou acabar levando-o à delegacia — ameaçou-o papai.

— Delegacia? — Se espantou Luís. — O senhor está exagerando!

— Como o senhor leva uma criança a qualquer lugar, sem o consentimento dos pais?

— Já disse que ele pediu! — Insistiu Luís Lauro.

— Ele é menor. E quem manda nele sou eu!

— Mas o senhor tem ciência de que ele estaria no circo.

— Pois ele me disse também que o senhor usou uma arma para obrigá-lo a vir.

— Que absurdo!

— Eu não acho! — ficou nervoso papai.

— O senhor não vai acreditar nisso!

— É verdade — afirmei chorando. — Ele usou um revólver preto.

— Isso é mentira! Criança tem muita imaginação. Com certeza ficou com medo de apanhar e inventou essa história! Garoto, isso não se faz. Acusar os outros só pra encobrir seu medo. Isso é crime!

— Eu vou mostrar pro senhor o que é um crime! Meu filho não costuma viver mentindo!

— Mas está mentindo agora. Criança fantasia as coisas. Não percebe que ele inventou esse absurdo por medo de apanhar?

— Ele apanhou e vai apanhar ainda mais por mentir pra mim!

— Papai, é verdade! Marcelo estava junto!

— Isso mesmo, estava! — concordou Luís Lauro. — Eu vou chamá-lo.

— Não o senhor! — negou papai. — Mande alguém chamá-lo.

— Naturalmente.

Levantou de sua cadeira, abriu a porta e de longe avistou o almejado a uns vinte metros; então ele mesmo o chamou. Marcelo chegou, entrou no reboque e perguntou com cinismo:

— O que foi?

— O que vocês fizeram com meu filho ontem à noite?

— O que fizemos? — olhou para Luís Lauro. — Só o trouxemos até o circo!

— Por que vocês o trouxeram sabendo que eu não queria?

— Ele quis vir com a gente. Por isso!

— Vocês me obrigaram! — insisti. — Usaram um revólver!

— Revólver, garoto?! Eu nem tenho arma de fogo!

— Quem usou o revólver foi o senhor Luís.

— Você usou revólver Luis? — admirou-se cinicamente Marcelo.

— Usou! — Tornei a afirmar. — Você ainda disse pra mim que ele estava só brincando! Mas eu tive muito medo!

— Garoto, você está imaginando coisas! — articulou Luís Lauro.

— Papai, ele está querendo que o senhor judie de mim!

Sem piedade papai me deu um tapa no rosto que eu quase caí. Abriu a porta e me fez descer primeiro dando-me um empurrão. Em seguida voltou-se para os homens e disse:

— Ouça aqui, meu filho nunca mentiu pra mim, se estiver fazendo agora é porque aprendeu com vocês. Eu vou embora, mas ele vai ter que me explicar essa história direito. Ai de vocês se eu descobrir que ele está dizendo a verdade.

Desceu do reboque e me fez acompanhá-lo. Caminhou alguns passos e resolveu voltar.

— Vocês terão sorte se eu ainda não resolver ir à polícia — falou nervoso. — porque vocês sabiam que não era pra ele vir e mesmo assim o trouxeram, mesmo ele sendo menor de idade. E que Deus ajude que seja realmente mentira dele, que vocês tenha ao menos, mesmo que por brincadeira ter mostrado um revólver pra ele.

Pegamos nossas bicicletas e retornamos à nossa casa.


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Notas finais do capítulo

Obrigado Dyan por ler esta estória pela segunda vez.
Obrigado Gabriel Lucena por ler a todas as minhas estórias.



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