O Grande Palco da Vida - Live escrita por Celso Innocente


Capítulo 43
Mudança na equipe.




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Chegamos à capital paulista às seis horas da manhã e então, apesar de ser perto, mas devido a pouca idade do menino e sua fama, não poderia deixá-lo ir sozinho até sua casa, então resolvi acompanhá-lo.

Para nossa surpresa, apesar de ser ainda muito cedo, mas como sua família já sabia de nossa chegada à sua casa, encontramos quase toda nossa equipe de trabalho reunida.

— Oh, owh! — fez careta o menino, ao avistá-los ao longe. — O que meu pai está aprontando?

Cumprimentamos a todos e Regis abraçou seus pais e seu maninho Tony, que também já estava acordado. Então o senhor Pedro nos disse:

— Entrem! Aproveitei que vocês iriam chegar e marquei uma reunião para agora de manhã.

— Primeiro Regis e Willian irão tomar café! — insistiu dona Odete.

— A reunião é rápida! — retrucou o senhor Pedro. — Depois eles tomam café.

— Posso pelo menos ir ao banheiro? — pediu Regis.

— Que seja rápido!

Não só eu, mas também Regis e praticamente todos, já sentiam do que se trataria aquela reunião tão cedo; então aproveitei a saída do menino e também fui ao banheiro.

Pouco depois, ao nos acomodarmos na sala grande, que servia de escritório, o senhor Pedro voltou a falar:

— Esta reunião, tem o objetivo de tratarmos o futuro de trabalho, da empresa Regis Moura — fez questão de salientar forte as palavras “empresa Regis Moura”.

— Papai, precisava fazer as pessoas levantarem tão cedo pra isso? — brincou o menino, falando a verdade. — Não podia ser mais tarde?

— Mais tarde todos têm compromissos! Esta foi a melhor hora!

— O futuro de trabalho da empresa Regis Moura, é do mesmo jeito que já vínhamos fazendo até então — disse o menino ao pai.

— Não, Regis! — negou o senhor Pedro. — Nós chegamos à conclusão de que deveremos fazer algumas mudanças nas estratégias de trabalho!

— Nós quem, papai? Chegou a essa conclusão!

— Calma! — pediu o senhor Pedro, já meio nervoso. — Primeiro todos ouçam; depois escuto as perguntas.

— O senhor viajou conosco. O que o senhor viu não estava bom?

— Deixe eu falar primeiro!

Todos se calaram e o senhor Pedro prosseguiu:

— A partir de hoje, eu deixo de trabalhar na equipe de vocês. Vou cuidar apenas de meus negócios. Minha esposa também não trabalhará mais com vocês. Passará a cuidar apenas dos deveres desta casa e da família, que já é muito. Willian deixa de viajar com a equipe e assume de vez o posto de empresário, permanecendo aqui em São Paulo, pra que possa cuidar dos negócios da empresa com mais responsabilidade. Já estou providenciando a contratação de dois profissionais especializados pra cuidar da segurança de Regis…

— Não quero babá, papai! Já havia falado sobre isso!

— Não se trata de babá! — negou o senhor Pedro. — Se você quiser continuar sendo famoso, precisa ter segurança! Já lhe disse que todos os grandes artistas têm esse desconforto. Você não terá liberdade! Chega de ficar solto por aí à mercê de bandidos!

— E quem vai cuidar da coordenação dos shows? — insistiu Regis.

— Você e os músicos, cuidarão!

— Ver microfone desligado ou mal ajustado não é obrigação da gente!

— Eu já pago dois engenheiros e quatro técnicos pra cuidarem disso!

— E quem cuidará das cortinas… da plateia… do palco… do dinheiro... das visitas?

— Basta, Regis! — aumentou o tom, o senhor Pedro. — Eu falo em seu nome! Você é menor e ainda sou seu principal responsável!

— Dono? — fez micagem o menino.

— Sou dono da empresa! De você sou o pai! E quero o bem estar de ambos!

— A empresa está ótima, papai! E eu também!

— Não vamos ficar pagando um alto salário, pra Willian ficar passeando com você! Ele ficará em São Paulo cumprindo sua obrigação de empresário! Vai contratar shows, agendar entrevistas e outros assuntos relacionados à empresa.

— O senhor me desculpe senhor Pedro — interferi ofendido. — Mas o que faço com Regis, não é passear! A gente trabalha muito! Confesso ao senhor que é um ótimo trabalho; que gosto muito desse trabalho, mas não é passeio! E concordo também, que é um ótimo salário!

— Não é essa a questão! A questão aqui é... amizade é amizade, negócios à parte! Estamos falando de uma empresa e empresa deve sempre tentar mudar pra melhor. O que estamos discutindo não é nada pessoal. Você poderá continuar passeando com Regis, tendo amizade com Regis… Nada muda! Seu salário não muda! O que muda é a diferença na maneira de trabalharmos.

— Aqui em São Paulo não me interessa trabalhar! — neguei incisivo. — Minha função foi sempre viajar com a equipe, pra coordenar suas apresentações.

— Sinto muito! Seu trabalho está aqui em São Paulo.

— Não quero a função de atendente de telefone! — neguei. — Quando eu trabalhava na outra empresa, minha função era viajar. Passei a trabalhar em sua empresa, com a função de viajar. É este o trabalho que gosto de fazer.

— Sinto muito! Não vamos mais pagar um alto salário pra você passear.

— Tudo bem! — concordei. — O senhor manda!

— O que quer dizer essa conversa que eu não entendo? — perguntou Regis. — O que acontecerá com Willian?

Ninguém respondeu.

— Willian, você não estará fora da equipe — insistiu Regis. — Não é?

— O serviço dele é aqui em São Paulo, Regis. — disse o senhor Pedro. — Se ele topar…

— Nem ele, nem eu e nem a equipe topamos isso, papai! O lugar dele é com a equipe!

— Isso já foi decidido e não vamos voltar atrás! — negou o senhor Pedro.

— Eu encerrarei a carreira!

— Você é quem sabe! — disse o senhor Pedro, sem se preocupar.

— O senhor não se importa? — admirou-se Regis.

— Não! A carreira é sua! Você é quem quis ser artista!

— Mas, papai! — insinuou o menino com cara de choro. — Eu não acredito!

— Prefiro um filho desconhecido vivo, a um filho famoso morto!

— O senhor gosta de me ofender! Não senhor Pedro? — insinuei magoado. — Continua insistindo que eu tenho culpa do sequestro de seu filho! Saiba que eu defenderia seu filho com a minha própria vida!

— Demagogia idiota! — disse o senhor Pedro.

— Aprendi com Regis a não fazer demagogia idiota! Acho que na verdade, o senhor tem ciúmes que eu viaje com ele.

— Já foi decidido! Não se fala mais nisso!

— Apesar de ser o que mais gosto neste mundo, encerro minha carreira hoje! — ameaçou o menino, entre lágrimas.

— Não, Regis! — pedi. — Eu saio da equipe e vocês continuam! Mesmo estando afastado, continuarei torcendo por vocês.

— Jamais serei ingrato com a pessoa que mais me ajudou nessa vida! — disse ele, chorando.

— Não se preocupe — pedi. — Estou aqui e sei que você não está sendo ingrato comigo. Todos nós, batalhamos tanto pra você chegar onde está agora. Não é justo abandonar a carreira, por causa de simples bobeira.

— Deus não me deu nova chance de vida, pra me tornar uma pessoa falsa e mentirosa! — ele chorava. — Prefiro abandonar minha carreira!

— Chega de fazer draminha! — reclamou o senhor Pedro. — Vocês dois parecem obcecado um pelo outro! Vocês são homens e o que tratamos aqui é de negócio, não de amizade!

— Não se trata de negócio ou amizade, papai! Trata-se de justiça! Willian não é pedófilo e eu não sou bicha!

Regis se levantou.

— Não se esqueça de que embora você seja artista lá fora, aqui em casa eu ainda sou seu pai e se falar comigo desse jeito eu lhe prego a cinta!

— Cinta, papai! É isso o que resolve pro senhor? Porque o senhor é meu dono!

— Pode sair daqui! — ordenou seu pai, nervoso. — Depois teremos uma conversa entre nós dois!

— Quem passou vinte dias no inferno não tem medo de cinta!

Na porta de saída, ele ainda disse:

— O senhor não se esqueceu de que o ônibus que transporta os equipamentos e os técnicos pertence a Willian não! Não é?

— Isso é apenas um detalhe — disse o senhor Pedro.

— Papai, eu aceito que o senhor contrate os seguranças... Mas deixe a equipe como está.

— Minha conversa com você é separada — Alegou o senhor Pedro. — Pode ir.

Ao sair da sala, ainda com lágrimas pediu:

— Me dão licença!

Assim que o menino se retirou, Lucas, pela primeira vez resolveu falar:

— Pelo que eu vi, o senhor marcou uma reunião de madrugada indevida conosco. Eu estaria melhor em minha cama! Esse assunto o senhor trataria melhor com Willian e Regis. Ou o senhor quer mostrar pra gente quem é que manda?

— Quem não estiver contente pode se retirar! — ironizou o senhor Pedro.

— Eu não estou contente, mas vou continuar! — foi convicto Lucas. — Já levantei de madrugada.

— Willian não viaja conosco a passeio, senhor Pedro! — negou Pinduca. — Uma equipe de shows precisa de um coordenador de palco. Como Regis já disse, precisa de alguém pra se responsabilizar por horários, microfones, palco, plateia, contratos, dinheiro, hotéis e tantos outros itens, que nem sei relatar.

— Willian não passeia conosco — emendou Lucas. — Na verdade, ele trabalha mais do que a gente.

— O senhor falou em entrevistas! — continuou Daniel. — Em todas as cidades que a gente vai, as emissoras de rádio e até televisão, procuram entrevistar e às vezes até apresentar Regis em sua programação. É preciso dizer quem cuida disso?

— Contrato outra pessoa pra fazer essa função! — disse o senhor Pedro. — Willian fica em São Paulo!

— Não basta outra pessoa! — negou Pinduca. — Precisa de alguém com experiência e referências. Eu se fosse o senhor, pensaria muito antes de colocar um estranho pra conviver e orientar seu filho.

— Posso deixar essa função com o professor João Alberto. A gente paga um adicional a mais por esta atividade.

É claro que o professor aceitaria uma proposta destas. Ele já viajava mesmo com a equipe e sua função era apenas de dar aulas a nosso pequeno artista. Um salário adicional seria muito bem vindo em seu orçamento. Porém, ele nos surpreendeu, negando:

— Obrigado senhor Pedro! Não tenho experiência como empresário de artistas! Adoro seu filho, ele é um garoto extraordinário, mas prefiro continuar apenas com minha atividade normal. O senhor disse que Willian só passeia! O senhor nunca está presente e não sabe nada! Os músicos trabalham apenas durante os shows e raros ensaios à tarde. A equipe de montagem prepara tudo e só no outro dia vão desfazer o que fizeram. Eu dou aulas ao menino durante a viagem no ônibus. Regis, realmente trabalha até demais pra sua pouca idade! Além do show e de ensaios, tem entrevistas, acolher seus fãs, esteja ele cansado ou não, participar de eventos diversos e quando ele pensa que vai descansar durante a viagem, estuda comigo. Nem sei onde ele ainda arranja pique pra brincar com outros meninos!

— Espera professor... — interrompeu o senhor Pedro.

— Deixe eu só completar! — insistiu o professor. — Regis realmente trabalha muito! E Willian, só trabalha vinte e quatro horas por dia!

— Vocês misturam as coisas! — reclamou o senhor Pedro.

— A questão de eu sair da equipe é uma coisa, senhor Pedro. — emendei. — O senhor me condena por ser responsável pelo sequestro, mas tenho algo muito mais importante do que isto pra conversarmos.

— Eu não acho que apenas você seja culpado pelo sequestro de meu filho. Seria cruel demais, culpar apenas você! Todos somos culpados pelo sequestro, inclusive eu! Todos nós, tínhamos que ter percebido há muito tempo, que ele precisava de seguranças.

— Aproveitando que Regis não está, queria dizer, que todos nós continuamos sendo covardes, em não perceber que ele, agora mais do que nunca, precisa de nós. Ele passou por situação traumática e ninguém deu bola pra isso! O recebemos como se ele tivesse chegado de um passeio! Acho que realmente, só estamos querendo que ele ganhe dinheiro pra nós!

— O que você quer dizer? — duvidou o senhor Pedro. — Eu conheço muito bem meu filho e percebo que ele está muito bem!

— Eu também conheço muito bem seu filho e acreditava que ele estivesse muito bem, até viajarmos juntos e perceber, que na verdade ele está muito nervoso, não quer mais brincar, não dorme direito, fica variando a noite toda na cama, chora, não tem mais felicidade... — eu me emocionara. — O sequestro acabou com o menino!

— Você sempre procura um jeitinho…

— Eu, praticamente, nunca tinha visto ele chorar na minha vida! Esta noite, por exemplo, ele não dormiu e chorou durante a metade de viagem!

— Não se preocupe que eu sempre o vi chorar. Ele é criança e chora mesmo! Você quer que ele seja adulto antes da hora!

— Não, senhor Pedro! Eu quero que ele continue criança! Já que o senhor insiste, eu me desligo da equipe. Mas quero uma promessa sua e da equipe. Regis precisa de vocês! De mim também! Mas como o senhor não deixa, prometa-me que vai levá-lo urgente a um psicólogo!

— Tudo bem! Faço isso ainda hoje se der!

— Mais uma vez... não sou gay! Nem seu filho é!

— Nunca disse isso! — negou secamente.

— Disse mais de uma vez, que sou obcecado pelo menino.

— E é! Fissurado!

— Quando a gente adota uma criança, a gente aprende a amá-la, como se fosse sangue da gente! Acho que a gente passa a amá-la, mais do que a um verdadeiro filho...

— Blá, blá, blá... Você não adotou meu filho!

— Passo mais tempo com ele, do que o senhor...

— Por isso estou cortando isto! Quero meu filho pra mim! Vivo! Famoso ou não!

— Só mais uma coisinha, sei tudo o que se passou no cativeiro — estava com lágrimas. — E foi bem pior do que o senhor, ou qualquer um possa imaginar.

— Como você nunca me contou?

— Porque a nossa covardia, só me deixou ficar ciente disso esta noite.

A reunião continuou por mais meia hora, debatendo o mesmo assunto já decidido pelo pai de Regis, sem, contudo mudar nada. O fato era que eu não fazia mais parte daquela equipe e a punhalada em meu peito, foi tão dolorida quanto a que Regis levara em seu peito. Não consigo relatar corretamente neste livro, mas Regis era para mim, um menino tão especial, que embora ainda não tivesse filhos, o amava como tal e era igualmente correspondido.

Ao final da reunião, ficou decidido que eles usariam meu ônibus, alugado por um período, até que a empresa conseguisse comprá-lo de mim; então tomamos um bom café, preparado por dona Odete, depois, com lágrimas me despedi de todos os membros da equipe, que foram dispensados e então, ainda pedi a seu pai:

— Regis não precisa de cintada, senhor Pedro! Pelo menos isso faça por todos nós. Não espanque o menino. O senhor sabe que ele já sofreu demais.

— Não se preocupe. Jamais baterei nele! Sei o quanto ele é bom e compreendo sua revolta. Só iremos conversar! De pai pra filho!

— Será uma conversa nervosa. Ele é hiperativo! Não o machuque mais!

— Eu amo meu filho!

Ainda com consentimento de seu pai, fui ao seu quarto para me despedir, mas ele estava dormindo, então, com o coração apertado, ousei dar-lhe um beijo em sua face e fui embora.

Na saída, porém, ainda aconselhei o professor, a aceitar a proposta do senhor Pedro, de cuidar de meu jovem amigo; pelo menos ele estaria aos cuidados de pessoas conhecidas. Ele me agradeceu e disse que pensaria com carinho; mas com certeza acabaria aceitando e para me incentivar, também emocionado, me disse:

— Não se preocupe meu amigo, as pessoas só atiram pedras em árvores que dão bons frutos. O menino me disse esta frase.


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