O Grande Palco da Vida - Live escrita por Celso Innocente


Capítulo 41
História triste.




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Na terça-feira, dezesseis de Agosto à noite, devolvemos o carro que nos foi emprestado por uma empresa da cidade, a qual agradecemos com sinceridade e então, as vinte e três horas e quarenta minutos, com ônibus leito, das empresas Reunidas Paulista, retornamos para a capital.

Por mais de uma hora, Regis tentara dormir, mas só rolava no leito.

— O que há? — perguntei-lhe. — Não consegue dormir?

Ele levantou a poltrona na posição sentado e o percebi novamente nervoso.

— Tenho notado você muito nervoso — aleguei. — Não consegue dormir direito. Você tem estado sempre assim?

Então ele me disse:

— Preciso falar tudo o que passei no Rio de Janeiro. Acho que só assim vou melhorar.

— Se você realmente quiser falar sobre isso, também preciso ouvir. Foi uma surpresa muito triste o que você comentou no show, em relação à falta de banho.

— Aquilo não foi nada, Willian!

— Não dá pra acreditar no que o ser humano é capaz de fazer a uma criança como você!

— Na praia, assim que você entrou na água, não se passou nem dois minutos, dois homens, um branco de uns quarenta anos e outro ruivo de uns trinta e cinco, trajando camisa e bermudas se aproximaram, o ruivo se abaixou diante de minha cadeira, dizendo:

— Garoto, levante-se e comece a caminhar à nossa frente sem falar nada — mostrou-me às escondidas sobre a bermuda um revólver de cano curto. — Meu revólver tem o gatilho muito sensível e se ele disparar vai despedaçar sua cabeça.

— O que... es...tá a...con...tecendo? — perguntei gaguejando assustado.

— Cale a boca! Levante-se e caminhe agora!

Olhei para a água sem conseguir te avistar. Levantei-me e trêmulo, meio forçado, comecei a caminhar, orientado pelos dois homens, até a avenida beira mar, onde um outro homem, moreno, de uns trinta anos, aguardava na direção de um carro, tipo Opala preto. Entrei com o ruivo no banco traseiro e o outro, no banco dianteiro. O carro arrancou rapidamente, desaparecendo pela avenida.

O carro dos bandidos parou dentro de uma garagem, de uma casa grande, antiga e bem conservada. Eles desceram e me forçaram a descer também, levando-me para a sala da casa, jogando-me no sofá e ligando a televisão.

— Queremos ter sua companhia por algum tempo — alegou o homem branco. — Não se preocupe que nada irá lhe acontecer. Queremos apenas uma fatia daquilo que você ganha nos shows.

Deixou-me no sofá da sala e sentou-se com os demais e uma mulher jovem, branca de cabelos curtos e uns vinte anos de idade, próximo à mesa de jantar, na copa, que ficava ali no mesmo ambiente, onde passaram a discutir os planos para aquele referido sequestro.

Permaneci sentado no sofá, olhando para a televisão, mas sem prestar a atenção em nada do que era apresentado. Ao contrário, observava a porta de saída da sala e os homens, um pouco distante. Com isto, passei a criar um plano de fuga: a porta estava provavelmente trancada, mas a chave estava na fechadura; então sairia correndo, destrancaria a porta e em poucos segundos estaria na rua, que provavelmente estaria cheia de gente e ninguém ousaria atirar em mim. Nada poderia dar errado, senão minha situação poderia se complicar. Por isso, pensei muito em meu plano antes de realmente colocá-lo em prática. Realmente nada sairia errado, então, dez minutos de planejamento e mais uma vez, olhei aos bandidos e sai correndo pela curta distância, sendo perseguido imediatamente por dois daqueles homens; mas eu tinha vantagem e destranquei a porta; porém fui surpreendido por uma maldita trava de segurança que eu não havia notado, no alto da porta; com isto, fui agarrado pelo homem mais velho e colocado forçadamente sobre uma cadeira, onde o mesmo homem, gritando muito, me deu um forte murro na cara, sem medir que eu era só um menino frágil, fazendo o sangue jorrar imediatamente de minha testa. Naquele instante, me desculpe Willian, mas me lembrei da última vez que tomara um tapa na cara e foi justamente de você, no quarto de um hotel, por causa de uma candidata a prostituta de crianças.

— Moleque cretino! — gritou esse homem. — Você prefere que seja do jeito mais difícil? Então será!

— Calma, Paulo! — pediu o homem moreno. — Não há porque machucar o menino!

Enquanto eu soluçava, portanto sem chorar, o ruivo se aproximou com uma corda e juntos me amarraram naquela cadeira, na sala de jantar, deixando-me imobilizado. Paulo apanhou uma câmera fotográfica e me fotografou amarrado; depois, o homem moreno se aproximou com remédios e uma faixa, fazendo um curativo no ferimento de minha...

— “Fronte — completei”.

— Não tenha medo — pediu ele. — Procure colaborar com a gente que tudo correrá bem! Sua estadia será bem curta conosco. A gente vai agilizar tudo e bem loguinho você voltará pra sua equipe.

— Por que fazem isso comigo? — perguntei, com jeito choroso.

— Realmente a gente quer dinheiro. Mas não pretendemos te maltratar.

— Não pretendem me maltratar?! — retruquei. — Um murro é carinho? Amarrar-me é carinho?...

Ali pelas três horas daquela tarde, de almoço me deram uma marmita, mas acha que eu conseguiria comer?

Pouco depois das oito horas da noite, eu, ainda amarrado na cadeira e os quatros sequestradores, assistiam na sala, embora sem muito interesse, o mais famoso telejornal do Brasil. De repente, assistiram o que menos esperavam:

“Desapareceu hoje pela manhã da praia das Pedrinhas em São Gonçalo, no Rio de Janeiro o garoto cantor, Regis Moura. Regis aproveitava para visitar a praia com sua equipe, enquanto aguardava para realização de um show naquela cidade carioca hoje à noite. Segundo seu empresário, houve apenas um momento de descuido e o menino desapareceu misteriosamente. A polícia já iniciou as buscas, mas até o momento nada foi encontrado”.

Uma repórter lhe fizera algumas perguntas:

— “Regis já desapareceu alguma vez durante suas viagens”?

— “Nunca! Ele jamais me causou qualquer tipo de problemas”!

— “Você tem alguma ideia do que possa ter acontecido”?

— “Sequestro! Só pode ter sido isto”!

— “Em plena praia? Cheia de banhistas”?

— “Não sei como foi! Mas só pode ter sido sequestro”.

— Cara idiota! — gritou o sequestrador, Paulo. — Só pode ter sido sequestro!

Aproximou-se de onde eu estava e disse muito bravo:

— Assim, este cara metido a besta está assinando sua pena de morte, moleque!

— Calma, Paulo! — pediu a moça. — Não é bem assim!

O telejornal continuava falando:

— “Qual seria a intenção dos sequestradores? — perguntou-lhe o repórter. — Dinheiro”!

— “Creio que sim”!

— “E quanto ao show de hoje? Já foi cancelado”?

— “Era a única coisa que poderíamos ter feito”!

— “Há a hipótese de algum acidente no mar”?

— “Não! Essa hipótese já foi descartada pelos bombeiros”!

A repórter voltou-se para a câmera e prosseguiu:

— O show já cancelado, a equipe toda preocupada e a polícia de São Gonçalo e grande Rio, toda mobilizada, à procura de um dos mais famosos garotos de onze anos de idade de nossa atualidade.

— Garoto mais famoso de nossa atualidade! — repetiu nervoso, Paulo. — Bela porcaria! De que adianta sua fama aqui, moleque?

— Me deixe ir embora, por favor! — gritei, tentando me soltar da cadeira.

— Cale a boca! — gritou o homem ruivo.

— O senhor não manda em mim! Quero ir embora daqui!

— Você que não controla essa língua não, que assim que eu cortá-la você verá se mando ou não em você! — Gritou o ruivo, mostrando-me uma faca afiada.

O homem moreno se aproximou e me desamarrou. Eu já tinha os dois pulsos esfolados, devido às tentativas sem sucesso de me soltar.

— Calma menino — pediu ele. — Já lhe disse que tudo ficará bem! Infelizmente vai demorar um pouco mais; pois os idiotas de seus parceiros tiveram a burrice de avisar a polícia e a imprensa.

— Eu odeio vocês! Odeio a todos! — gritava nervoso. — Me deixe ir embora!

— Você não odeia ninguém! — disse calmamente o homem moreno. — Eu te conheço e sei que em seu coração não há lugar pra ódio.

— Claro que odeio! A polícia vai prender a todos vocês! E eu vou dar risada!

— Ninguém vai prender ninguém, menino!

Aquele homem moreno até parecia ser uma pessoa boa...

— Se vocês querem dinheiro, que ligue agora pro meu pai e peça logo!

— Que gracinha! — riu a moça. — A gente quer ficar um pouquinho com você. Somos seus fãs!

— Não quero! Não quero! Bandido não pode ser meu fã! Quero ir embora!

— Isso vai ser impossível! — riu Paulo.

— Eu tenho show ainda hoje!

— Seu empresário cancelou seu show! — insinuou o homem moreno.

— Quero ir embora daqui! — gritei nervoso, tentando me levantar da cadeira.

— Cale a boca, monstrinho! — gritou Paulo.

— Não calo! Ninguém manda em mim!

Naquele instante, nervoso, Paulo me deu outro tapa no rosto, me fazendo cair no chão e rolar pelo carpete. O homem moreno puxou o braço de Paulo e o advertiu:

— Não quero que isso se repita nunca mais, seu cavalão safado! Já é a segunda vez que você bate no menino sem necessidade! Se quiser bater em crianças, por que não bate em seu filho?

— Tenho que mostrar pra esse moleque que ele é meu e farei com ele o que quiser!

O homem moreno ajudou-me a levantar e me levou para um quarto, colocando-me na cama, dizendo:

— É melhor você procurar dormir porque amanhã será outro dia.

— O senhor parece tão bom; por que não me deixa ir embora?

— Não vou deixar lhe acontecer nada, menino! Isso vai se resolver rapidamente! Só quero que você colabore.

— Por favor, pare com esse negócio de sequestro! O senhor será preso com seus amigos!

— Ninguém será preso, garoto! Procure dormir pra descansar. Quero ser seu amigo! Meu nome é Luís Marcos.

— Luís, você tem consciência do mal que está me fazendo?

— Já lhe disse que não deixarei que lhe façam qualquer mal!

— Depois dessa experiência, eu jamais serei a mesma pessoa!

©©©

Passei à noite só de sunga apertada e sem conseguir dormir praticamente nada.

De manhã, me deram leite com café e um pedaço de pão com manteiga. Eu comi tudo, pois no dia anterior não tinha comido nada.

Cerca de três horas da tarde, a moça, usando apenas um roupão, apareceu no quarto em que eu estava deitado sozinho. Fiquei a observando e não sabia como uma mulher tão linda como ela, estava fazendo com bandidos.

— Como você está? — perguntou-me ela, sentando-se na cama.

— Quero ir embora.

Ela se deitou a meu lado e disse:

— Você só sabe falar, quero ir embora? Vou descansar um pouco aqui com você.

— Por quê?

— Só estamos nós dois e alguém precisa vigiá-lo.

— Você não tem uma roupa pra me arranjar? Esta sunga está muito apertada!

— Por que você não tira ela? — disse ela calmamente.

— Não! — assustei-me.

— Deixe de ser tolinho — pediu ela. — Tire.

— Não! — neguei decidido.

“Sabe Willian, eu tive um problema sério com aquela mulher. Mas não vou lhe falar sobre isso. Se eu fosse um pouco mais velho e estivesse em outro ambiente talvez não fosse problema. Mas você não acha que ainda sou quase criança? Você sabia que ela me machucou”?

— Estou sabendo de alguma coisa — interferi em seu comentário. — O delegado me contou. Realmente, o que aconteceu com você... Digo... Ter se machucado com ela... Foi porque você nasceu com um pequeno probleminha, com o qual a maioria dos meninos nasce. Eu também nasci com o mesmo problema. Os judeus resolvem isso fazendo a circuncisão, o resto do mundo faz uma pequena cirurgia nas crianças antes da puberdade, no máximo até os dez anos. Você acabou fazendo um tipo de cirurgia forçada com aquela mulher. Não se preocupe, que a partir de agora isso jamais vai acontecer. Nunca mais vai sangrar de novo. Mas o que aconteceu, deveria mesmo acontecer a qualquer momento, em sua primeira relação de sexo. Quando chegar sua verdadeira hora, lá pelos dezoito anos, você verá de maneira diferente. Pode acreditar.

— Tenho nojo! — fez careta, meu amigo.

— As coisas não podem acontecer antes da hora certa! — tentei justificar. — No sítio tem um dito popular que diz, “não se deve passar os cavalos na frente dos bois”!

Na manhã seguinte, quando Luís Marcos me serviu uma bandeja de café com leite e pão, resolvi lhe perguntar:

— Quando eu vou embora?

— Quando seus pais nos derem um valor por você!

— Eles já estão sabendo?

— Ainda não fizemos contato!

— Por quê?

— Estamos esperando a imprensa parar de falar de você.

Realmente, a imprensa falava muito em meu desaparecimento, o que deixava aqueles homens muito nervosos, principalmente Paulo, que era o pior de todos. Toda vez que ouvia meu nome na televisão, soltava faíscas de ódio e gritava que iria me matar. Por minha salvação, Luís Marcos, que parecia mais um anjo do que bandido, nunca deixava que tal monstro se aproximasse de mim. Sabe Willian, acho que foi Deus quem colocou ele naquele cativeiro comigo.

— Pra enfiar uma faca em seu peito depois?

Dia dezessete à noite, cinco dias após o sequestro, já estava deitado em meu quarto de hóspede forçado que era, quando Paulo entrou para fiscalizar-me, antes de trocar de posto com outro companheiro, na tarefa de vigiar-me. Ele não disse nada e já iria se retirar, quando resolvi pedir:

— Por favor, senhor Paulo, eu preciso tomar um banho. Estou grudando e fedendo.

— Ah! O garotinho quer um banho!? Se aqueles cretinos não tivessem colocado a imprensa e a polícia neste assunto, tudo já teria se resolvido…

— O senhor não pode ser tão mau! Estou grudando…

— É banho que você quer?! Espere que darei um jeito!

E se retirou resmungando.

Continuei na cama.

Realmente estava me sentindo muito mal, pois já fazia cinco dias que estava ali, apenas de sunga apertada, com o pinto machucado, doendo e sujo, sem tomar banho ou escovar os dentes. Era certo, que ao ir ao banheiro que nem tinha chuveiro, lavava a boca na pia, mas o pessoal me proibia de me molhar, mesmo em torneira e a fiscalização era acirrada. Davam-me privacidade apenas pra minhas necessidades, onde fazer xixi, era um sacrifício muito dolorido e mesmo assim, alguém sempre ficava grudado na porta.

Poucos minutos depois, Paulo retornou com um balde cheio de água e antes mesmo que alguém pudesse imaginar, de curta distância, jogou toda a água sobre eu deitado na cama. Levei um tremendo susto, me molhando todo, juntamente com a cama e senti imenso frio, pois junto com a água, vieram também dezenas de pedras de gelo. Com o susto, saltei na cama tentando me levantar, mas um revólver já apontado pra minha cara me fez se aquietar.

— Se você se levantar dessa cama lhe dou um tiro na cabeça, seu moleque mimado!

Sentou-se em uma cadeira próximo e gracejou:

— Você queria um banho! Eu lhe dei um banho! Agora durma!

— Por que faz isso? Não te ofereço nenhum perigo!

— Porque você é meu ídolo favorito!

Apanhou a câmera e rindo me fotografou novamente.

Passei a noite naquela cama inundada. Senti muito frio e de novo não consegui dormir.

De manhã, a mulher, que se chamava Laura, entrou com uma bandeja de café com pão, leite e queijo. Ao perceber como eu estava, me mandou levantar, que ela trocaria toda a cama.

Enquanto tomava aquele café, ela tirou toda a roupa da cama, depois se retirou, voltando em poucos segundos, com roupa de cama, uma calça Jeans e uma camiseta, me mandando tirar aquela sunga apertada, o que fiz imediatamente, mesmo na frente dela e com isto vesti aquelas roupas, mesmo sem cueca, que nem me importava tanto, pois confesso, me senti mais confortável, pois a sunga apertava muito minhas coisinhas, que ainda doía muito devido o ferimento.

Ela iria estender o lençol na cama, mas percebendo o colchão molhado, resolveu tirá-lo, deixando-o de pé para que secasse um pouco.

— Quando vão me deixar ir embora? — perguntei triste.

— Estamos esperando que a imprensa pare de falar no caso pra pedirmos resgate — explicou-me ela.

— Não pediram o resgate ainda!?

— Não faremos isso enquanto a imprensa não parar de falar no caso!

— Eles não vão parar nunca! — exclamei.

— Devagar eles esquecem.

— Deixe-me ligar em casa! — pedi. — Assim eu peço a meu pai, pra pedir à imprensa pra não falar mais nada.

— Isso quem resolve é o Paulo! — insinuou ela.

©©©

Após nove dias de cativeiro, sem que houvesse lhes dado qualquer notícia; depois de tanto insistir, eles me mandaram ligar e foi Tony quem atendeu.

— Alô! — disse ele.

— É Tony quem está falando? — perguntei.

— É sim! É você quem está falando, Regis?

— Sou! Tony; estou com muita saudade de você! Mas preciso falar com papai!

— Espere um pouco.

— É você, Regis? — perguntou-me papai, com voz de certo alívio.

— Sou eu, papai! Por favor, estou com muita saudade!

— Calma, filho! Você vai sair daí! Quem está com você?

— São quatro pessoas. Eles querem dinheiro pra me deixar ir embora.

— Quanto dinheiro eles querem, filho? A gente paga!

— Ainda não sei! Eles vão telefonar novamente!

— Por que demoraram tanto pra ligar?

— Eles falaram que não tem pressa! Estão esperando os jornais pararem de falar tanto! Mas estou com muito medo!

— Onde você está, meu filho?

— Ainda estou em São Gonçalo…

O telefone foi bruscamente desligado por Paulo, que nervoso como sempre, me deu outro forte tapa na cara, dizendo:

— Você quer nos denunciar, seu vagabundo!

— Não precisa bater no garoto! — gritou Luís Marcos. — São Gonçalo é grande! Quem vai nos descobrir aqui?

— Eu sei quem pode nos descobrir! — advertiu Paulo. — Amanhã cedo, a gente vai embora daqui!

Voltou-se para mim, dizendo furioso:

— Quanto a você, darei um jeito pra educar sua língua!

Saiu me arrastando pelas mãos.

— O que vai fazer com ele? — perguntou-lhe a mulher.

— Levá-lo pra dormir!

Levou-me até o quarto, jogando-me na cama e se retirou. Voltou em seguida com a mulher, duas algemas e um pedaço de corda, que entregou para a mulher e sem nada falar, segurou-me pelos braços e começou a me prender na cama.

— O que o senhor está fazendo? — perguntei assustado.

— Um pequeno castigo pra você aprender a educar sua língua! — virou-se para a mulher. — Laura, amarre os pés dele!

— Ao invés do senhor me machucar, por que não me deixa ir pra casa?

— Que gracinha, ele quer ir embora! Só depois que eu ver vinte milhões em minhas mãos!

Enquanto acabavam de prender-me apertado na cama, supliquei para Laura:

— Por favor, Laura, não deixe ele fazer isso comigo! A polícia vai prender vocês!

— Deixe de ser bobo, moleque! — continuou Paulo. — A polícia só prende trouxa! Além do mais, mesmo que eu solte você agora, já estou encrencado com a polícia!

— Se me soltarem agora, prometo não contar nada pra ninguém!

— Gracinha! A polícia irá especulá-lo e você contará até como são os pelos de meu braço!

— Juro que não conto! Digo que vocês usavam máscara!

— Nada feito, moleque! Quero você conosco! E por falar em máscara...

Apanhou um pedaço de fita adesiva e colou em meus olhos, me deixando como cego.

— Pra que isso? — reclamei ofegante.

— Se não calar a boca, será a próxima que vou colar!

Antes de saírem, apesar de nada enxergar, por várias vezes, ouvi o barulho do clique da câmera fotográfica,.

— Por que tiram foto? — quis saber.

— Porque acho você lindo! — gracejou Paulo.

— O senhor sabe o trauma que está me causando?

— O quê?! — gracejou Paulo.

— A minha vida nunca mais será a mesma.

— Posso acabar com seu trauma em dois segundos!

— É divertido fazer uma criança sofrer?

— Você está se fazendo de herói? Não estou brincando, moleque! Se sua família não colabora, você paga! É assim que funciona!

— Eles não estão vendo!

— Mas verão! Ah se verão!

— Por quê? — soluçava, sem, contudo chorar. — Já não basta me ter preso, por que me maltrata? Acha bonito?

— Se você falasse menos, sofreria menos! — justificou Paulo. — Se a imprensa falasse menos, você sofreria menos...

— Tenho culpa do que a imprensa faz?

— Pra mim você tem!

Durante toda aquela noite, passei amarrado e de olhos vendados; o que me fez sofrer muito e sem conseguir dormir relutei a noite inteira, tentando em vão escapar.


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Notas finais do capítulo

Como este capítulo era muito longo ele foi dividido em dois.



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