O Grande Palco da Vida - Live escrita por Celso Innocente


Capítulo 34
Entre a cruz e a espada


Notas iniciais do capítulo

Como mencionei no início da estória, ela está sendo postada em duas versões aqui no Nyah! e se tornaria diferente a partir deste capítulo. Portanto convido-o a conhecer o outro lado dela na primeira versão clicando no link que deixarei no final deste capítulo.
Lembre-se, você não precisará ler toda a estória, basta ler o capítulo do link anexo.



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Doutor Hernandes, que permanecia no CTI nos acompanhando, correu a socorrê-lo. De longe, percebeu que o aparelho indicava que seu coração continuava pulsando, então, ao examiná-lo melhor, nos disse:

— Ele desmaiou. Vocês precisam se retirar. Ele não pode se emocionar muito!

Ainda assustados, nos retiramos para a sala de espera, onde, além de nossa equipe, existiam outras pessoas, parentes de outros enfermos; e do lado de fora, dezenas de pessoas, amigos, curiosos, fãs e jornalistas, que faziam plantão para ter notícias. Estas pessoas permaneciam do lado de fora, a pedido da direção do hospital, para evitar tumulto e atrapalhar o atendimento médico hospitalar.

Dona Odete e o senhor Pedro, estavam chorando. Eu, embora quisesse ser durão, também tinha os olhos marejados de lágrimas. Os músicos correram a meu encontro.

— E aí? O que houve? — perguntou-me Daniel.

— Regis acordou. Conversamos um pouco, mas ele acabou desmaiando novamente. Pregou-nos um grande susto! Ainda bem que o doutor Hernandes estava com a gente.

— Ele está bem?

— Reclamou de muita dor no coração.

— O que você acha do estado de saúde dele?

— Tenho muito medo. Hoje foi uma prova de fogo!

— Temos que ter muita fé! Ele vai sair dessa!

Poucos minutos depois, doutor Hernandes, convidou a mim e os pais de Regis, para entrarmos em seu consultório e assim que estávamos sentados, disse:

— O menino passou por uma prova difícil com vocês! Acho que nem foi muito inteligente ter permitido essa visita! Eu precisei induzi-lo novamente ao coma e ele deverá permanecer assim pelo menos mais uns dois dias.

— E qual é a chance dele doutor? — perguntou-lhe o senhor Pedro.

— O estado dele ainda é muito grave! O transplante de coração não está descartado. Se aparecer algum doador compatível, será o melhor que temos a fazer.

Entregou um papel ao senhor Pedro dizendo:

— Vocês precisam assinar este documento. É uma autorização para que possamos fazer o transplante.

— Não queremos o transplante! — negou dona Odete, aflita.

— Talvez esta seja a única solução! — afirmou o médico. — E mesmo assim, não há garantia cem por cento. Além do mais, não é fácil se arranjar um doador compatível!

— O senhor está nos colocando entre a cruz e a espada — protestei.

— Mais que isto! Estou lhes colocando entre a morte e a quase vida! Desculpe, mas preciso fazer isto. Não querem assinar o papel agora, leve-o, converse com os demais, depois assinem e me tragam. Se não assinarem, não precisa nem trazê-lo. Mas lembrem-se, sem a assinatura eu não posso fazer o transplante. O transplante, também pode não dar certo, embora seja a melhor solução e o papel assinado, nos exume de qualquer culpa. E lembre-se, eu sou médico, mas também sou humano! Quero tanto quanto vocês a vida deste menino. E como você disse meu jovem, também estou entre a cruz e a espada.

— Eu não quero que tire o coração de Regis — pediu Tony, chorando.

— Não se preocupe meu amiguinho! — pediu o médico. — Seu maninho vai continuar o mesmo de sempre!

— Sem coração!? — choramingou o menino.

Doutor Hernandez abaixou-se diante do pequeno, passou a mão direita sobre seu rostinho e explicou:

— O coração de bondade de seu irmãozinho, é um coração de espírito sagrado e este, nem eu e nem ninguém poderá lhe tirar! Seu maninho será sempre o mesmo.

©©©

Durante todo aquele dia, praticamente todos da nossa equipe, estivemos juntos conversando, inclusive a respeito do transplante, que ninguém acreditava ser necessário.

Eu, João Batista, Jardel e o senhor Pedro, resolvemos passar a noite dormindo no ônibus, onde recebíamos muitas visitas de amigos e fãs, que vinham nos trazer apoio e palavras de conforto.

Desde o trágico incidente contra o pequeno Regis, eu e seu pai praticamente não conversávamos mais, o que me deixava muito arrasado, pois, se antes desse dia ele sempre me ofendia, me considerando o principal responsável pelo sequestro do filho, imagine onde foi parar agora minha culpa: Descuido na praia... Interferência com a polícia, evitando que se pagasse o resgate... A retirada indevida do punhal... Pensamentos idiotas passavam constantemente por meu cérebro e se um indivíduo assim, não for forte e se apegar em algo Supremo, acaba cometendo suicídio, se condenando para sempre ao fogo do inferno, pois qualquer um sabe, que quem se suicida, não pode alcançar o reino dos céus, e nem é por causa de Deus, mas sim, porque ele mesmo não se perdoa.

O que me fazia ser forte, era que, conhecendo o pequeno Regis, como o conhecia muito bem, sabia que para ele eu já estava perdoado.

Na manhã de quarta feira, o senhor Pedro havia decidido assinar o documento que autorizava o transplante e então o entregou ao enfermeiro da recepção, para que fosse encaminhado ao doutor Hernandes, depois fomos substituídos pelos demais membros da equipe e resolvemos ir para casa, tomar banho e descansar um pouco.

Só retornei ao hospital às quinze horas de quinta feira santa, passando pelo ônibus, que não tinha ninguém e seguindo para a recepção, onde não havia quaisquer novidades, no quadro clínico de Regis. Ele continuava em coma induzido.

Assim que cheguei, seus pais e irmão, que teriam vindo de manhã, resolveram ir embora.

Às dezenove horas e trinta minutos, Marcos César foi até o ônibus. Eu estava sozinho, deitado em duas poltronas, pensando milhões de bobagens sobre culpa e perdão.

— Onde estão os pais de Regis? — perguntou-me ele.

— Foram pra casa — respondi. — Iam dar banho em Tony e devem voltar agora à noite.

— O médico disse que Regis está acordado e se você quiser ir vê-lo, seria bom!

Dei um salto das poltronas reclinadas do ônibus.

— Verdade!? — animei-me.

Quase correndo, fomos para o hospital e acompanhado por um enfermeiro e Marcos César corri para o CTI.

Realmente ele havia acordado, mas permanecia muito abatido e quieto. Mesmo ao chegarmos ele não se manifestou. Peguei em sua mãozinha e disse:

— Oi!

— Você está com medo — Disse ele em voz baixa. — Marcos também!

As lágrimas chegaram até o canto inferior dos olhos, mas o médico havia dito para sermos fortes, pois Regis não podia sofrer emoções.

— Hei garotão! — insinuou Marcos. — Estamos bem!

— Não precisam ter mais medo — disse Regis. — Não irei mais embora!

— Claro que não! — apavorei. — Você sairá daqui rapidinho.

— Eu já estive lá, Willian! Um anjo me mandou voltar! Tenho muito o que fazer por aqui.

— Claro, Regis! — exclamei. — Temos muito por fazer aqui!

— Ele disse que vai curar meu coração e em sete dias deixarei o hospital.

Não dava para compreender muito o que ele queria dizer, mas ele insistia:

— Vocês não estão felizes?

— Claro! — exclamou Marcos. — É ótima notícia!

— Agora preciso descansar. Meu coração continua doendo.

— Está certo, Regis — concordei. — É melhor você dormir um pouco. A gente volta depois.

A família Moura retornou ao hospital naquela noite. Tony, logo dormiu no ônibus, coisa que ele adorava. O senhor Pedro e dona Odete chegaram a visitar o filho na CTI, mas ele estava dormindo. João Batista também esteve no hospital naquela noite. Os músicos foram embora para descansar, permanecendo conosco apenas Marcos César. Eu permaneci no hospital até as vinte e três horas, depois resolvi ir para casa.

Naquela noite, meditei muito sobre o que Regis dissera e acreditei: “um anjo irá curar meu coração”. Ele dissera que já estivera do outro lado e que esse anjo de Deus lhe mandara retornar. Eu já havia ouvido muitas vezes, falar em jornais e pessoalmente, de pessoas, que em estado de coma, contam que morreram e retornaram. Com tudo aquilo, eu praticamente só consegui dormir às quatro horas da manhã e com isto, acordei às nove horas, tomei um banho, preparei um café com o que consegui encontrar no armário e na geladeira.

Cheguei de volta ao hospital, quase onze horas e na sala de estar encontrei Daniel.

— Onde está todo mundo? — perguntei-lhe.

— Os pais de Regis estão no ônibus, os demais foram embora e disseram que voltam à tarde.

— Tem notícias de Regis?

— O doutor Hernandes chegou agora a pouco e me disse que iria vê-lo, depois nos dará notícias.

— E você, dormiu por aqui?

— Dormi no ônibus. Vou esperar notícias de Regis, depois irei pra casa.

Era quase meio dia, sexta feira santa, quando o doutor Hernandes nos procurou na sala de espera e nos disse:

— Regis está acordado. Acabamos de levá-lo a um apartamento e a partir de agora vocês poderão ficar com ele. Por favor, não quero que ele fique sozinho nenhum minuto. E também não quero tumulto no apartamento! Ou seja, no máximo, máximo mesmo, quatro pessoas! Tudo bem?

— Podemos entrar?

— Devem entrar.

Já íamos entrando, quando ele ainda nos disse:

— Outra coisa, O pequenino não deve entrar!

— Quem? Tony? — admirei.

— É proibida a entrada de crianças pequenas em hospitais!

— Mas ele está com muita saudade do irmão!

— Posso permitir que ele entre acompanhado pelos pais, por apenas dois minutos.

— Está bem, doutor! Depois irei buscá-lo!

Acompanhado por um enfermeiro, já íamos novamente entrando em direção ao apartamento de Regis, quando o doutor, novamente me chamou:

— Willian!

Retornei ao seu encontro.

— Por enquanto, a hipótese de transplante está descartada.

— Isso é bom... ou ruim!? — não entendia nada.

— Por enquanto é muito bom!

Cheguei a sorrir e já ia me retirando, quando ele ainda me disse admirado e até emocionado:

— Pode agradecer muito a Deus. Parecia impossível, mas este menino vai sobreviver.

— Obrigado doutor! — agradeci imensamente feliz.

— Não é a mim que você deve agradecer! Eu disse pra você agradecer a Deus!

Realmente, saltitante de felicidade, pois era a melhor notícia do mundo, acompanhado pelo enfermeiro e pelo músico Daniel, segui até o apartamento de Regis. Ele estava acordado e apesar de nos ver chegar, não esboçou nenhuma reação, então segurei em sua mão e ele correspondeu, apertando-a.

— Como está? — perguntou-lhe Daniel.

— Com dor… — disse ele, pausadamente em voz baixa. — no peito… acho que é meu coração…

— Mas você ficará bem — disse-lhe.

— Eu sei!

— Agora a gente vai ficar com você! — disse-lhe Daniel. — Não vamos mais deixá-lo sozinho!

— Só vocês dois estão aqui?

— Os outros virão depois — aleguei.

— Onde estão meus pais?

— Eu vou buscá-los! — prontificou-se Daniel, se retirando.

— Willian, por que eu continuo pelado?

— Não se preocupe! Assim que chegar alguém, irei até o ônibus buscar uma roupa pra você.

— O que aconteceu comigo?

— Como assim?

— Não consigo me lembrar! Sei que Luís Marcos estava muito nervoso, porque papai não levou o dinheiro do resgate. Não lembro mais nada!

— Fique calmo. Depois a gente fala sobre isso.

— Quantos dias faz que estou aqui?

— Oito! Você não deve falar muito, Regis! — pedi preocupado. — São ordens médicas.

— Por que eu me sinto tão cansado? Tão fraco?

— Não se preocupe com isso! Devido seu ferimento, é normal que seja assim. Você ficará bem!

— O que aconteceu em meu peito?

— Depois você saberá melhor — eu estava perdido. — Você se feriu, mas agora está melhor!

— Quem está aí fora? Alguém veio me ver?

— Todo pessoal está esperando pra te ver!

Poucos minutos depois seus pais entraram. Dona Odete trouxera roupas e se aproximou do filho, que perguntou:

— Onde está Tony?

— Está ali fora. Ele virá logo!

Retirei-me, seguindo até a sala de espera, onde encontrei Tony, Felipe e Daniel, sentados ao lado de João Batista e Pinduca, que haviam acabado de chegar.

— Como está o canarinho? — perguntou-me João Batista.

— Está fraco, mas segundo o médico não corre mais risco de morte.

— Graças a Deus! — disse ele com certo alívio.

Voltei até o segurança, na entrada do corredor e disse:

— O doutor Hernandes disse que autorizaria o menino entrar pra visitar o irmão. É possível ele entrar agora, ou só quando o doutor estiver no hospital?

— O doutor autorizou?

— Com certeza!

— Então pode levá-lo! Mas seja breve, pois é proibido criança pequena fazer visitas.

— Não irei demorar!

Quando já seguia pelo corredor, o segurança nos chamou, entregou uma máscara de feltro a Tony e disse:

— Use esta máscara. É bom pra você!

Poucos segundos depois, entrávamos no quarto de Regis. Tony, usando a máscara, se aproximou do irmão, que deu um leve sorriso e disse:

— Você também é doutor?

— É pra não pegar vírus! — insinuou o pequeno. — Disse o homem da portaria!

— Vou voltar pra casa.

— Você não viajará mais? — perguntou Tony.

— Não sei!

— Não quero que você viaje mais! — pediu Tony.

— Devo deixar de ser cantor?

— Gosto que você seja artista; mas tenho medo que aconteça alguma coisa!

— Nunca abandonarei você! — insinuou Regis, em leve sorriso dolorido.

Tony sentou-se numa poltrona, no lado esquerdo do apartamento e por alguns segundos todos permanecemos calados, parecia que a gente tinha medo de conversar naquele quarto de hospital, então resolvi me retirar para a sala de espera. Assim que abri a porta, ouvi Regis, em voz baixa insinuar:

— Papai, o senhor continua com raiva de Willian!

— Está tudo bem, filho! — disse ele.

Fui até a sala de estar, apanhei a chave do ônibus com Daniel e resolvi ir descansar um pouco.

CLICK para ler o último capítulo da versão 1 desta estória


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Notas finais do capítulo

LEMBRETE:-
Leia o capítulo com link acima da versão 1 "O Grande Palco da Vida" e depois continue acompanhando este drama do pequeno Regis, aqui nesta versão.



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