O Grande Palco da Vida - Live escrita por Celso Innocente


Capítulo 32
A espera de um milagre


Notas iniciais do capítulo

Será que alguém consegue sobreviver com ferimento grave em órgão vital?



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Como a imprensa é rápida como o raio, enquanto os feridos ainda estavam em mesa de cirurgia, o Brasil inteiro já sabia do terrível acontecimento e as portas do hospital estavam rapidamente ficando tomadas pelos jornalistas, fãs e curiosos.

Afastei-me de todos seguindo até o banheiro, onde, ainda inconformado, continuei chorando bastante, pois me sentia culpado de tudo: Era culpado de Regis ser famoso, então era culpado de alguém querer sequestrá-lo; era culpado por ele ter sido sequestrado na praia; não devia tê-lo deixado sozinho; era culpado de ele ter sido esfaqueado, pois corri à delegacia, que impediram que o resgate fosse pago. Se tivesse deixado que o senhor Pedro pagasse o resgate, os homens o soltariam e tudo ficaria novamente bem. Agora, sentia culpado também, em ter retirado o punhal de seu peito, pois isto deveria ter sido feito por um médico... Regis não poderia morrer; ele era um menino muito bom, para que isto acontecesse tão cedo.

Depois de pensar e chorar bastante, acabei por decidir a tomar um banho naquele mesmo banheiro, graças a ajuda de enfermeiros que me emprestaram toalha, depois retornei à sala de espera e com os familiares de Regis, mais os músicos e o senhor João Batista, que acabaram de chegar, ficamos aguardando alguma notícia, que nunca chegava.

Porém, as vinte e três horas, um diretor do hospital se dirigiu à imprensa, onde divulgou o primeiro boletim médico:

“— Luís Marcos (era o sequestrador) acaba de sair da sala de cirurgia, sendo encaminhado a unidade de CTI. Um projétil penetrou em seu tórax, atingindo sem muita gravidade o fígado. O paciente continua em estado de coma e seu estado inspira cuidado e tempo. Sua alimentação será à base de soro e não há risco de morte”.

— E o menino Regis? — perguntou um jornalista.

— Continua em sala de cirurgia — salientou o homem.

— Qual é o estado dele? — insistiu o jornalista.

— Não tenho acesso à sala de cirurgia no momento — negou o homem. — Não tenho notícias.

— A cirurgia ainda vai demorar? — insistiu outro jornalista.

— Não tenho informação. Assim que tiver qualquer notícia, trago a vocês e aos familiares.

Somente uma hora depois, ou seja: Pouco depois das zero horas, é que saiu o primeiro boletim a respeito de Regis. O mesmo diretor do hospital nos reuniu e chamou a imprensa, onde leu:

“— Regis de Assis Moura acabou de sair da sala de cirurgia e foi encaminhado à sala de terapia intensiva. Ferido gravemente no tórax por lâmina perfurante, que atingiu gravemente órgãos vitais. O paciente continua em estado de coma e sua recuperação só deverá ocorrer em não menos que quarenta e oito horas. Neste momento o paciente recebe sangue tipo Ó, fator erre agá positivo (RH+). Sua alimentação será à base de soro... E existe alto risco de morte.”

Aquela notícia era terrível para todos, principalmente para nós. Os pais dele não se conformavam. Eu também não. Mas acima de tudo sabia que de nada adiantava protestar. O que sabíamos fazer era apenas chorar… chorar muito e sentir-se muito culpado.

Poucos minutos depois, o mesmo diretor do hospital, acompanhado pelo médico, doutor Marcio Hernandes, que foi o cirurgião cardiovascular, chefe da equipe que socorreu Regis, me convidou a entrar em seu consultório, me pediu para sentar e disse:

— Preferi chamar apenas você pra lhe dar algumas orientações, depois juntos, decidiremos se convém falar com os pais do garoto.

— Doutor, o senhor está querendo me dizer que o estado dele é muito grave? — perguntei-lhe assustado.

— Já se foi o tempo em que os médicos escondiam a verdade do paciente ou de sua família. Acho que seria pior tentarmos esconder a verdade! Não seria?

— Sim! Claro! Prefiro que nos diga a verdade, seja ela qual for!

— Pois é, nossa equipe de médicos e o hospital fizeram e continuará fazendo tudo o que estiver ao alcance da medicina moderna. O garoto está em estado gravíssimo e a sobrevivência dele… será um milagre.

— Mas doutor... Ele já não passou pela cirurgia? — apavorei-me ainda mais.

— Passou! Mas o pior ainda continua. Seus batimentos cardíacos é agora em torno de trinta pulsações por minuto. Quando ele acordar... se acontecer... será a pior fase, pois as pulsações dobrarão. Se ele sentir algum tipo de emoção, do tipo... uma visita, as pulsações triplicarão, chegando em torno de setenta a noventa pulsações por minuto.

— E isto é prejudicial?

— Só é! O coração dele foi ferido com o punhal!

— Mas doutor, se isto tivesse acontecido ele teria morrido na hora! Não?

— A dor que ele sentiu o fez desmaiar na hora; com isto, as pulsações e a pressão sanguínea caíram quase à zero. A rapidez com que ele foi trazido ao hospital e seu pronto atendimento salvou a vida dele. Mas a gravidade continua toda aí. Se o boletim médico disse que ele tem de vinte a trinta por cento de chance de vida, na verdade não tem nem dez.

Aquelas informações foram muito pesadas para mim e então comecei a chorar de desespero. O médico pediu por telefone um calmante, que chegou imediatamente. Alguns minutos depois, já estando mais calmo, ele continuou:

— Ouça rapaz, você precisa ser forte! Não me adianta nada dizer a você ou à família dele que ele ficará bom e ao amanhecer do dia… ele estar morto! Somente Deus poderá salvá-lo, porque a medicina não poderá fazer mais nada além do que fizemos, que foi consertar o estrago. Agora só podemos esperar.

— Eu entendo doutor. Muito obrigado por me dizer à verdade.

— A solução mais plausível... Se der tempo, seria um transplante de coração. Preciso falar com os outros médicos...

— Meu Deus!

— Mas é complicado. Primeiro porque não temos tempo hábil; depois, porque doador de coração é muito raro; existe uma enorme fila de espera. Cortaremos a fila, é lógico, devido a emergência. Mesmo assim, teríamos que encontrar um doador compatível com o menino, além de que, a família do doador tem que autorizar o transplante.

— Regis vai embora? Por que tem que ser assim?

— Outra coisa, ele continua tomando sangue e precisará de mais! O hospital pede ajuda neste caso. Sangue não se fabrica! Portanto, se alguém de sua equipe puder doar, será bom!

— Vi no boletim médico que o sangue dele é igual ao meu! Eu posso doar!

— Não importa o tipo. Se tiver outros doadores será bom. Você também pode doar. Mas é preferível que o doador vá pra casa descansar e volte no período da manhã pra poder doar.

— O senhor acha que indo pra casa eu conseguirei dormir?

— É tudo o que você poderá fazer por ele agora; dormir, acordar com o organismo mais reforçado e vir doar sangue a ele. Ou então providenciar outros doadores. Não será difícil!

— Tudo bem! Vou ver o que a gente vai fazer nesse caso. Por enquanto muito obrigado!

— Estamos apenas cumprindo nosso dever.

— Salve este garoto, por favor! Eu lhe peço! Por Tony!

— Deus é justo e sabe o que faz.

— Deus tira vidas boas e a gente não pode questioná-lo, porque Ele é o dono dela! — insinuei desanimado.

— Deus não tira vidas boas meu rapaz! — negou o médico. — Seres humanos tiram vidas boas em troca de centavos.

Já ia me retirando, quando, estando preocupado com minha atitude errônea, retornei e perguntei-lhe:

— Doutor, quando Regis estava com a faca cravada no tórax, eu... no desespero, retirei a faca sem pensar. Isso pode ter agravado a situação dele?

— Realmente não é recomendado que se faça o que você acabou fazendo, pode ferir ainda mais aquilo que já está comprometido, inclusive podendo piorar a hemorragia externa. Mas mesmo que você não tivesse feito isto, a situação dele seria a mesma. A gravidade dos fatos foi provocada ao cravar o punhal, não ao tirá-lo.

Retornei à sala de espera e convidei a família Moura, para juntos irmos para casa. Eles não concordaram, mas como praticamente os obriguei, acabei indo eu, dona Odete e Tony. O senhor Pedro, chorando muito, disse que não arredaria os pés do hospital, enquanto seu filho não estivesse completamente curado.

Na entrada do hospital, havia agora mais pessoas do que antes do boletim médico. Eram mais jornalistas e fãs de Regis, que queriam mais notícias; então aproveitei para pedir aos jornalistas e presentes, para que pedissem e doassem sangue no hospital, pela manhã.

Duas horas daquela madrugada, na casa da família Moura, fui me deitar na cama de Regis, no mesmo quarto de Tony, que já estava dormindo. Para aquele outro anjinho, o ferimento no peito do irmão, era dolorido, mas iria sarar, como acontece com todos os ferimentos que sofremos na vida. Para ele, dentro de dois ou três dias estariam novamente juntos.

Às três horas da manhã, tivera um pesadelo: começou a chorar assustado e a chamar pelo irmão. Levantei-me apressado e fui até seu leito, chamando-o:

— O que houve? Você estava com pesadelos?

— Willian, eu não quero que Regis vá embora!

— Ele não vai embora, Tony! Ele está no hospital, mas logo voltará pra casa!

— Quero ver ele! Estou com muita saudade dele!

— Fique sossegado! Você o verá logo, logo.

— Ele não vai morrer?

— Quem falou isso, menino? Ele ficará bom! A pessoa só morre quando chega à hora! Quando Deus quer!

— E se Deus quiser que Regis morra?

— Não fale assim! Ninguém sabe! Agora durma! Nada de pesadelos ou ficar pensando bobagens!

— Você me leva pra ver ele?

— Claro que levo! Agora durma, se não você ficará cansado.

Em poucos minutos ele estava novamente dormindo; então voltei a me deitar.

A noite foi muito longa e não consegui dormir. Passei as horas “eu” pensando bobagens, me recordando de tudo o que tinha acontecido em minha vida, desde o dia em que conheci o pequeno Regis na porta da loja de materiais de construção, até aquele momento.

Se eu pudesse voltar o relógio para aquele dia na praia, nunca o deixaria sozinho. Não podia ser verdade que meu amiguinho, tão jovem e inocente, estivesse no leito de um hospital, entre a vida e a morte, com seu coraçãozinho cheio de amor que ele sempre teve, agora partido pelo punhal de um monstro cruel. É claro que seu coraçãozinho de amor, não é o mesmo de músculo e sim, da índole em que foi criado.

Levantei-me às seis horas da manhã e encontrei dona Odete na sala, ainda sem se conformar com o ocorrido. Todo seu sofrimento, ela se manifestava de forma totalmente oposta ao marido. Permanecia sempre quase calada, sem culpar ninguém e com o semblante muito abatido e triste.

Às sete horas, ela explicou o ocorrido à empregada que acabara de chegar e pediu que cuidasse de Tony, que continuava dormindo. Então seguimos novamente ao hospital.

Ao chegarmos, tivemos conhecimento do segundo boletim médico sobre Regis, que fora divulgado às seis horas daquela manhã, onde dizia:

“Regis continua no centro de terapia intensiva; continua em estado de coma, se alimenta à base de soro e continua recebendo sangue. Seu estado de saúde inspira muito cuidado”.

Luís Marcos também tomava soro e sangue, mas seu estado de saúde era otimista e não corria risco de morte.

Às oito horas da manhã, juntamente com Daniel, Marcos César e Pinduca, estava no banco de sangue, mas devido o pedido dos jornalistas, havia uma grande fila para doação, então aproveitamos para agradecer a todos pelo gesto de solidariedade e resolvemos deixar nossa doação para o dia seguinte, para repor ao hospital o que estava sendo usado em Regis.

O número de pessoas na porta do hospital aumentava a cada minuto que passava. Muitos passaram a noite por lá, outros chegaram pela manhã, a fim de terem notícias objetivas sobre a saúde de nosso pequeno artista. Todos os jornais mostravam em destaque em sua primeira página o trágico acontecimento e a televisão mantinha repórteres de plantão no hospital, para atualizar a todo o momento as notícias.

Com intuito de dar alguma satisfação aos fãs, que Regis insistia em chamar de amigos, parei na porta do hospital e nem sei se estava fazendo o certo, mas ousei dizer, inclusive para os repórteres de plantão:

— Sei que todos têm um carinho especial por Regis; se não nem estariam aqui. O estado de saúde dele é muito sério e o que ele mais precisa agora é de doadores de sangue. Quem estiver em jejum e puder doar, nós e o hospital agradecemos de coração. Se não puderem doar hoje, mesmo porque tem uma fila até grande no hemocentro, pode ser amanhã.

Durante todo aquele dia passamos no hospital, acompanhando todos os boletins médicos, que eram divulgados a cada duas ou três horas, mas sem nos trazer nenhuma novidade.

Às dezoito horas, o doutor Marcio Hernandes deu notícias através de entrevista coletiva à imprensa, sempre alertando que a medicina já fizera tudo o que podia pelo menino e que seu restabelecimento só seria possível por um milagre.

As vinte e duas horas, orientado pelo doutor Marcio, dizendo que o pequeno não acordaria e nem poderia mesmo, em menos de vinte e quatro horas; que se ele acordasse teria que ser induzido ao coma; então resolvemos voltar para a casa da família Moura, aonde jantamos um pouco, ouvindo os protestos de Tony, que queria ter ido ao hospital.

As vinte e três horas, já havia me deitado e apesar da tristeza que sentia, o cansaço me fez adormecer rápido, só acordando às três horas da manhã, devido um terrível pesadelo. Com isto, levantei-me, indo ao leito de Tony e sentando-me a seu lado, me surpreendendo com sua pergunta:

— Você não consegue dormir?

— O que você está fazendo acordado, menino?

— Também não consigo dormir. Tenho saudades de Regis!

— Pois eu acho bom você dormir pra descansar! Logo, logo, Regis estará de volta!

— Posso dormir com você?

— Você não acha que fica muito apertado?

— Nós juntamos as camas!

— Está certo! Mas não precisa se levantar. Eu puxo a outra pra cá.


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