O Grande Palco da Vida - Live escrita por Celso Innocente


Capítulo 26
A graça feminina.




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O espetáculo daquela noite se iniciou as vinte e uma horas, onde Regis abriu à noite, cantando “Canarinho Da cidade” de seu segundo disco.

Sou menino canarinho

Deus quem me deu a você

Tenho dom de ser cantor

Nunca posso me entristecer

Canto alegre a todo o tempo

Desde o dia amanhecer

Pra ter dom de canarinho

É preciso merecer

Leva paz, leva alegria

Faz a alma engrandecer

Canta amor, canta poesia

Não tem tempo pra sofrer.

Um menino canarinho

Canta pra sobreviver

Passarinho da cidade

Canta até anoitecer

Pra alegrar a todo mundo

E também seu bem querer

Um destino de canarinho

Não se precisa escolher

Deus já grava em sua alma

Desde antes de nascer

E estarás sempre contigo

Até o dia em que morrer.

Ao final desta canção anunciou:

— Amigos de São Borja e visitantes de cidades próximas... Uruguaios, argentinos... Que felicidade cantar para amigos de outras nações. Nosso encontro já estava marcado há muito tempo, mas graças a Deus chegou. E chegou em uma noite muito bonita! Por isso, pra agradecermos a Deus por esta alegria, dando continuação a esta festa, quero trazer um convidado muito especial, o qual tenho certeza de que a maioria de vocês já conhecem. Ele é um amiguinho muito especial e trará comigo um pouquinho de meditação e louvor a Deus. Com muito orgulho apresento “Michael”.

Michael entrou e apesar de sem ensaio, cantou acompanhado pelos próprios músicos de Regis, a música “Alfaiate do Céu”. Ao final, Regis retornou dizendo:

— Obrigado Michael, por sua presença em nossa bonita festa.

Voltou-se ao público e perguntou:

— Quem gostou de Michael batam palma, por favor!

O ginásio o aplaudiu.

— Cadê os técnicos de som? — Cobrou Regis, deveras preocupado com a péssima qualidade do som, fazendo com que os instrumentos encobrissem principalmente a vozinha verde de Michael. — Deem um jeito nesses microfones, que estão horríveis.

E então, os dois meninos cantaram juntos, a faixa do primeiro long-play de Regis: “Em tudo vejo amor”. Foi uma apresentação, embora sem ensaios, muito bonita, depois Michael cantou sozinho “Dá-me tua mão Senhor”, a seguir, Regis retornou, cantando novamente juntos, “Vitrine”, do segundo long-play.

Que o senhor abençoe as famílias óh meu bom Jesus

Pra chegar até Vós todos tem que passar pela cruz

No calvário do dia-a-dia, há Judas e há Cirineus

Mas na hora do apoio recorremos aos braços Teus

Senhor, senhor

Que eu seja exemplo de luz, de carinho e de fé

Que eu seja um exemplo de paz

Que eu seja mais que um tutor

Pois aquilo que os filhos desejam é o nosso amor.

Que eu saiba viver e amar com a minha família

Que eu traga pra dentro do lar somente alegria

Que eu tenha o dom de servir

Que é o dom de se doar

E que toda família tenha pão e onde morar.

Que a verdade somente a verdade tenha seu lugar

Com amor muitas bodas eu sei que vamos comemorar

Somente quando Deus chamar haverá separação

Ficará com a herança o alicerce da paz e a união.

Ao final Regis disse:

— A próxima canção está no meu terceiro elepê, que já está prontinho e será lançado dentro de poucos dias.

Desta feita, apenas observado por Michael, que só cantava música gospel, cantou “Noite cheia de estrelas”.

Noite alta céu risonho
A quietude é quase um sonho
O luar cai sobre a mata
Qual uma chuva de prata
De raríssimo esplendor
Só tu dormes, não escutas
O teu cantor
Revelando à lua airosa
A história dolorosa desse amor
Lua...
Manda a tua luz prateada
Despertar a minha amada
Quero matar meus desejos
Sufocá-la com os meus beijos
Canto
E a mulher que eu amo tanto
Não me escuta, está dormindo
Canto e por fim
Nem a lua tem pena de mim
Pois ao ver que quem te chama sou eu
E entre a neblina se escondeu
Lá no alto a lua esquiva
Está no céu tão pensativa
As estrelas tão serenas
Qual dilúvio de falenas
Andam tontas ao luar
Todo o astral ficou silente
Para escutar
O teu nome entre as endechas
Nas dolorosas queixas

Ao luar

Ao final, Regis abraçou Michael e perguntou-lhe:

— Você gostou de participar de nossa festa?

— Claro! Adorei! — confirmou Michael. — Vosso público é maravilhoso!

— Disso eu sei! — riu Regis. — Mas não é apenas meu público! Na verdade são nossos amigos.

Houve muitos aplausos:

— Quem gostou da apresentação de Michael? — perguntou Regis ao público.

Os aplausos recomeçaram com o mesmo fervor.

— Obrigado Regis por convidar-me! Obrigado a todos pela ótima recepção!

©©©

No início da tarde seguinte seguimos para Santa Maria, a trezentos quilômetros de distância, onde realizaríamos à noite, outro show daquela turnê.

Já na estrada, Regis me disse:

— Willian, tá na hora da gente providenciar nosso próprio som, iluminação e nossa própria equipe.

— Jura!? Você já imaginou o preço disso?

— Sei que é caro! Mas estou cheio de pegar microfones que apita mais do que grilo e som desafinado igual à sanfona furada.

— O pior será carregar tudo isso. No micro-ônibus não vai caber! Se tivéssemos pensado antes, teríamos comprado um ônibus grande.

— Quantas pessoas teríamos que contratar?

— Nem sei! — neguei. — Pelo menos um engenheiro de som e iluminação, mais uns dois técnicos de som e dois de iluminação. Nossa equipe cresceria muito.

— É bom falarmos com papai e providenciarmos isso. A gente tem tido muitos problemas com a falta de nossos próprios equipamentos. Em São Borja o som estava horrível! A iluminação então nem se fala!

— Voltando à São Paulo falaremos com ele.

Chegamos ao hotel às dezoito horas, onde nossa equipe entrou para um banho e descansar, enquanto eu tive que esperar por Regis na entrada, pois ele, gentilmente parou para conversar com um grupo de pessoas, que sabendo de nossa chegada, nos esperavam com carinho na portaria daquele bonito hotel. Entramos na sala de espera e enquanto ele continuava conversando e dando autógrafos às garotas, meninos e até adultos, sentei-me com um senhor com pouco mais de trinta anos de idade e uma bonita garota de uns dez anos.

— O menino é bem simpático! — disse-me o homem.

— Modéstia à parte, Regis é um menino especial!

— Ele retribui com amor à recepção das pessoas!

— Ele é agradecido às pessoas! Sempre diz que elas são a razão do seu sucesso. E são!

— Se hoje não fosse sábado, teria vos convidado para nos dar uma palhinha em meu programa de rádio.

— O senhor é apresentador de programa sertanejo?

— Tenho um programa de segunda à sexta-feira, das dezoito às dezenove horas.

— Parabéns! Tem tocado Regis?

— Esta semana ele foi o mais tocado, não só em meu programa! A gente comentou muito sobre o show de hoje.

— Obrigado! A gente precisa mesmo desse apoio! Sem ele não há artista! E essa garota linda?

— É Mirian, minha caçulinha! Cantora também!

— Verdade? — perguntei e ela me sorriu.

— Já cantou até na televisão!

— Parabéns! Cantar é lindo!

Nisso Regis, que conseguiu deixar os fãs se aproximou:

— Vamos Willian! — convidou-me ele.

— Regis, esta é Mirian! — apresentei-lhe a menina, nos levantando. — E seu pai…

— Leonardo — apresentou-se o radialista.

— Ele faz um programa sertanejo na rádio. Ajudou muito na divulgação de sua festa. E Mirian é cantora.

— Verdade!? — interessou-se o menino. — Quer cantar comigo esta noite?

Ele não perdia estas oportunidades.

— Em seu show!? — admirou-se ela. — Junto a ti?

— Você não faz meu estilo? — brincou ele sorrindo.

— Eu canto inclusive músicas vossa!

— Então vamos cantar comigo esta noite! Isto é, se seu pai deixar! Ele deixa?

— Sem ensaiar? — insinuou Leonardo.

— Você sobe em meu apartamento e a gente ensaia umas duas músicas.

— Podemos papai? — perguntou ela a seu pai.

— Os artistas sois vós! — exclamou Leonardo.

Regis segurou as mãos da menina e disse, puxando-a:

— Vamos logo, que temos pouco tempo!

E assim fizeram. Subiram ao apartamento do hotel.

Eu e o pai da garota fomos até o ônibus, onde apanhei dois violões e levei para que eles ensaiassem.

Regis e Mirian sentaram-se na cama, afinaram os violões e passaram pelo menos uns quarenta minutos ensaiando algumas canções, inclusive dos discos de Regis. Eu e Leonardo ficamos à distância, observando e conversando.

O show iniciou-se as vinte e uma horas, com a apresentação de Mirian, que cantou sozinha três músicas. Depois, sem seu violão e já acompanhada pelos músicos de Regis, cantou “Amar como Jesus amou”, de Padre Zezinho:

Um dia uma criança me parou

Olhou-me nos meus olhos a sorrir

Caneta e papel na sua mão

Tarefa escolar para cumprir

E perguntou no meio de um sorriso,

O que é preciso para ser feliz?

Regis, com microfone sem fio, entrou, cantando o coro com ela.

Amar como Jesus amou

Sonhar como Jesus sonhou

Pensar como Jesus pensou

Viver como Jesus viveu

Bis Sentir o que Jesus sentia

Sorrir como Jesus sorria

E ao chegar o fim do dia

Eu seu que eu dormiria muito mais feliz.

Regis canta só

Ouvindo o que eu falei ela me olhou

E disse que era lindo o que eu falei

Pediu que eu repetisse, por favor,

Mas não dissesse tudo de uma vez

E perguntou de novo num sorriso

O que é preciso para ser feliz

Os dois cantam o coro Amar como Jesus amou…

Mirian canta só

Depois que eu terminei de repetir

Seus olhos não saiam do papel

Toquei no seu rostinho e a sorrir

Pedi que ao transmitir fosse fiel

E ela deu-me um beijo demorado

E a meu lado foi dizendo assim.

Os dois cantam o coro Amar como Jesus amou…

Ao final daquela canção, que foram muito aplaudidos, eles cantaram ainda juntos: “Vitrine” e “Canarinho da Cidade”, depois:

Índia:- de Assuncion Flores (versão José Fortuna)

Regis canta só - Índia, seus cabelos nos ombros caídos,
Negros como a noite que não tem luar;
Seus lábios de rosa para mim sorrindo
E a doce meiguice desse seu olhar.

Índia da pele morena,
Sua boca pequena
Eu quero beijar.
Índia, sangue tupi,
Tem o cheiro da flor.
Vem, que eu quero te dar
Todo meu grande amor!

Mirian canta só - Quando eu for embora para bem distante
E chegar a hora de dizer adeus,
Fica nos meus braços só mais um instante;
Deixa os meus lábios se unirem aos seus.

Os dois Índia, levarei saudade
Da felicidade que você me deu.
Índia, a sua imagem
Sempre comigo vai
Dentro do meu coração,
Flor do meu Paraguai.

Ao final, como sempre, ele gentilmente agradeceu a garota:

— Obrigado princesinha pela honra de cantar consigo. Obrigado a seus pais Leonardo e Luciana pela presença e pela permissão deste privilegio. Obrigado Leonardo pelo apoio, levando ao povo gaúcho nossas vozes, através de seu programa de rádio, com a boa música popular sertaneja.

Ao final do show dormimos naquela cidade e só às oito horas da manhã seguinte, seguimos para outra aventura, em Campo Largo no Paraná, a mais de oitocentos quilômetros. A vantagem era que estávamos no caminho de volta para casa.

©©©

De volta à São Paulo, negociei com o senhor Pedro e depois de uma semana, acompanhado por dois engenheiros especializados em som e iluminação, pesquisando e comprando, acabamos por montar quase por completo, nossos próprios equipamentos de som e iluminação.

O especialista Regis nos acompanhou e exigiu escolher pessoalmente seus próprios microfones, tanto com quanto sem fio; os quais custaram quase o preço de uma guitarra. No total um investimento muito alto. Mas valeria a pena, pois Regis estava rico e famoso. Além de que, ele tinha razão: muitas vezes, os equipamentos que eram alugados por nós na cidade onde ele fazia shows, eram de má qualidade e os técnicos que cuidavam dessa parte, muitas vezes também, pessoas inexperientes e isso acabava por prejudicar a qualidade da apresentação.

Só que então, o dinheiro que investimos no micro-ônibus acabara sendo em vão, pois com a contratação dos dois engenheiros: Samuel, de som e Jorge Mateus, de iluminação, mais quatro técnicos: Juan Carlos, Charles, Israel e Marcelo, seria impossível viajarmos juntos. Com isto, com meu dinheiro (não da empresa Regis Moura), adquiri um ônibus grande, para ser transportada esta nova equipe, além de todo o equipamento, inclusive instrumentos musicais.


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